Por Luiza Muzzi
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Reduções de quase 90% na procura por cursos de licenciatura da UFMG revelam um cenário nada promissor: mantida a atual tendência, não haverá, nos próximos cinco anos, candidatos a se formarem professores em uma das maiores universidades do país. Quando se avalia quem ingressou na última década em licenciaturas, a situação também preocupa. Enquanto o número de formandos diminui ano a ano, os abandonos crescem, com índices que ultrapassam 50% em alguns cursos.
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Segundo especialistas, a queda na concorrência é indício do crescente desinteresse pela docência. Para agravar a situação, entre os que se formam, são poucos os que realmente desejam a sala de aula como destino profissional. Seja apenas para obter um diploma de nível superior, seja para acessar outras ocupações, estudantes de licenciatura têm se interessado cada vez menos por dar aulas.
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Salários abaixo da média e condições de trabalho muitas vezes precárias parecem repelir da universidade quem teoricamente seria o primeiro interessado: o professor. “A explicação está no baixo valor do diploma. Quanto mais baixo esse valor, menor a atratividade que o curso exerce nas novas gerações”, explica o professor de sociologia da educação da UFMG João Valdir Alves de Souza. “O que acontece é que, no caso da docência na educação básica, há a combinação de baixo valor econômico, traduzido em salário, e baixo valor simbólico, que diz respeito ao prestígio”.
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Souza ressalta que a UFMG forma hoje metade dos professores que formava há dez anos. “É difícil prever, mas eu diria que, continuando da forma como está, a realidade aponta para o apagão de professores”, completa o professor Juarez Dayrell, da Faculdade de Educação.
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Pró-reitor de Graduação da UFMG, o professor Ricardo Takahashi reconhece o índice de sucesso menor que o desejável nas licenciaturas e explica que a década de 90 vivenciou um cenário de desemprego em que a opção de se formar licenciado garantia acesso a empregos em uma época em que não existiam oportunidades de outra natureza. No entanto, a partir do momento em que a economia se aqueceu, passaram a existir alternativas de formação que garantiam empregos melhores. “Isso parece ter levado as pessoas a migrarem para outras profissões, o que fragiliza o Brasil, porque a educação é o mecanismo pelo qual a gente forma as futuras gerações. É claro que desejamos ter pessoas com as mais diversas formações, mas não podemos esquecer que um requisito para isso é formar o professor. Esse é um gargalo estrutural do Brasil hoje e algo que põe em risco o futuro”.
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Se a crise na licenciatura já perdura há décadas, ela se agrava à medida que a profissão é desvalorizada, desestimulando ainda mais os candidatos à docência. Cursos que há 15 anos tinham demanda de 20 candidatos por vaga, hoje não passam de cinco. Em 2000, entre os dez cursos mais procurados da UFMG, quatro eram de formação de professores – e hoje nenhum deles aparece no ranking.
Coordenador do curso de história, que teve queda de quase 80% na procura entre 2000 e 2013, o professor André Miatello conta que por vezes os próprios pais e professores da rede básica desestimulam alunos em relação à carreira. “A educação perdeu seu status, mas não sua responsabilidade. O Estado exige que o professor seja o salvador da pátria, mas não oferece contrapartidas”.
Outro indicador diz respeito à idade média dos professores da educação básica, em torno de 35 a 40 anos, revelando que as novas gerações não são atraídas para a sala de aula. “Talvez a dificuldade para convencer os alunos esteja na diferença de oportunidades e de padrão de vida. Há oferta de emprego, mas normalmente implica remuneração abaixo da obtida em outras carreiras”, explica o pró-reitor Ricardo Takahashi.
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Sisu. A adoção do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) pela UFMG em 2014 gerou um novo fenômeno de mobilidade dos estudantes. Se antes a evasão ocorria entre o quarto e o quinto semestres, com o Sisu percebe-se o processo de migração de alunos entre os cursos ainda no primeiro período.
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Licenciaturas. Nesse contexto, as licenciaturas foram afetadas, registrando altos índices de saída de alunos. O curso de matemá- tica diurno, por exemplo, te- ve 43 matrículas no primeiro semestre de 2014 e chegou ao segundo com apenas 35.
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Fonte: Jornal O TEMPO (MG)
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