Escola no Barreiro proíbe reprovação dos estudantes
CAROLINA COUTINHO E RAFAEL ROCHA
Revolta. Professores dizem que exigência de relatório é manobra para evitar a reprovação
Docentes da Escola Estadual Professora Maria Belmira Trindade, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, foram proibidos de reprovar os alunos que não alcançarem o mínimo de 60 pontos por disciplina até o final deste ano letivo. A denúncia partiu dos próprios professores, que afirmam ter recebido a ordem do diretor da instituição, durante reunião no último sábado. O diretor Neviton Abreu, por sua vez, disse ter apenas transmitido ao corpo docente uma determinação dada Secretaria de Estado de Educação (SEE).
Professor de história e sociologia da escola, Bruno Dutra está indignado. "Com uma ordem desse tipo, perde-se todo o sentido realizar um bom trabalho. A escola virou, agora, um espaço de contenção de pessoas. O propósito formativo, educacional acabou. Qual a intenção de fazer provas, corrigí-las, preparar aulas e projetos, se nada disso terá valor? Estamos indo na escola somente pra vigiar meninos?", questionou. Segundo ele, a única alternativa aplicar a reprovação seria por meio de um relatório descritivo do desempenho do aluno, contendo todos os documentos, trabalhos e provas realizados pelo estudante. Porém, o documento, na visão dos docentes, é muito difícil de ser elaborado e ainda pode ser invalidado pelos superiores.
"A diretoria diz que os relatórios não estão bons, que têm que explicar detalhadamente o que o professor fez para ajudar o aluno a melhorar, especificar e apresentar as atividades realizadas durante o ano todo (provas e trabalhos) que justifiquem a reprovação, além de mandar tudo isso documentado para a secretaria. No entanto, a maior parte dos alunos está em situação grave de desempenho. Muitos simplesmente não fazem as atividades, não frequentam as aulas. Assim, não temos como documentar", explicou.
A professora de biologia Amanda Lage confirma a ordem. Ela se diz abismada com a situação. "Temos alunos no ensino médio sem saber ler e escrever direito. Alguns professores conseguem fazer o relatório e, mesmo assim, não conseguem reprovar. Já houve casos de sumiço de relatórios e a aprovação do aluno em questão".
Sindicalistas
Estratégia. A presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores do Ensino (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, disse que essa é uma estratégia do governo de maquiar os índices da educação no Estado.
MEDIDA...
Secretaria diz que regra foi definida por colégio
A Secretaria de Estado de Educação (SEE), por meio da assessoria de imprensa, negou ter dado a ordem de proibir a reprovação na Escola Estadual Professora Maria Belmira Trindade. Ainda conforme a SEE, a exigência do relatório foi uma medida escolhida pela direção da escola. Neste caso, o documento, mais do que as notas, é determinante para aprovar ou não os alunos. Ainda conforme a assessoria, a SEE afirmou que devem ser ofertadas aos alunos todas as condições de aprendizado e recuperação. Aos estudantes que apresentam baixo desempenho ou não demonstram condições mínimas de aprendizado, a escola deve ofertar diferentes estratégias para ampliar as oportunidades de aprendizagem.
O diretor Neviton Abreu se defendeu. "Estamos cumprindo uma determinação da secretaria. Há, sim, a reprovação, mas com o relatório de cada aluno, provando que ele não teve a desenvoltura para ser aprovado". (CCo)
Publicado no Jornal OTEMPO - 27 out. 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário