sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Docente deve voltar a ser importante na sociedade, diz diretor da Unesco

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Marcelle Souza do UOL, no Rio de Janeiro
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Uma das chaves para melhorar a educação na América Latina é retomar o valor social da carreira docente. É nisso que acredita o diretor da Secretaria de Educação para a América Latina e Caribe da Unesco no Chile, Jorge Sequeira. Em entrevista ao UOL durante o Bett Latin America Leadership Summit, Sequeira disse que o papel do professor deve ser reconhecido com valorização social e salarial.
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"Quando eu era criança, o docente tinha muito valor social, tinha muita importância na sociedade, na comunidade, assim como os diretores de escola. Hoje em dia, essa valorização social foi perdida. Temos que recuperá-la, mas isso implica em melhores condições de vida, melhores salários, valorização social, mais importância e reconhecimento [da profissão] na sociedade", afirma.
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Segundo o diretor da Unesco, alguns países da região fizeram importantes avanços em educação, entre eles Colômbia e Brasil, mesmo que o grupo latino-americano ainda apresente desempenho abaixo da média no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
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"É preciso seguir adiante, manter-se sempre crescendo, formar e dar apoio aos docentes, porque são eles que realmente mudam a qualidade da educação na sala de aula. Se existe ganho de aprendizagem, o fator fundamental para melhorar a qualidade da educação são os docentes", afirma.
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Foco nos anos inciais
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Sequeira defende que os países da região concentrem seus investimentos na pré-escola e nos primeiros anos do ensino fundamental. "Os países devem desenvolver políticas públicas que apontem para os mais desfavorecidos, para fortalecer a educação pública, e não necessariamente começar [o investimento] nas universidades. É preciso investir onde está a raiz da desigualdade, que é a educação pré-primária e primária", diz.
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O diretor da Unesco também destaca países como Argentina, Uruguai, México, Chile, Costa Rica, que têm procurado diversificar os seus investimentos e feito reformas nos sus sistemas educativos. Para ele, há uma tendência regional de focar os investimentos nos iniciais de ensino. Ainda sobre dinheiro, Sequeira diz que a solução para os problemas educacionais na América Latina não está necessariamente no aumento dos recursos para o setor. Ele defende que é preciso repensar e investir melhor em áreas estratégicas.
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"Muitos países não podem necessariamente colocar mais recursos, mas podem colocar melhores recursos, ou seja, direcionar o investimento para onde mais se necessita. A porcentagem do PIB [para a educação] em países como México e Argentina é de cerca de 6%, é muito recurso. Então é preciso utilizar esses recursos onde mais se necessita, que é na educação básica, sem prejudicar a educação superior".
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Mas as mudanças, diz Sequeira, não dependem apenas da mobilização do governo. "É possível [investir melhor na educação], mas requer políticas públicas a longo prazo, com continuidade, com apoio e, sobretudo, com participação de todos --jornalistas, pais, crianças, professores, funcionários, parlamentares --, porque a educação é um assunto que compete a todos, não só ao Ministério da Educação e aos docentes", diz.
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Educadores entregam ao MEC publicação com demandas para o setor

Yara Aquino - Repórter da Agência Brasil
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Um livro com propostas para aprimorar a educação pública brasileira foi entregue hoje (27) por integrantes do Movimento Educação em Nossas Mãos ao ministro da Educação, Henrique Paim. Financiamento, gestão, formação continuada dos profissionais e garantia de continuidade das políticas públicas de educação exitosas estão entre os itens propostos pelo movimento na publicação,   elaborada com a participação de docentes de 15 estados.
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Com o livro Vozes de Educadores Brasileiros, a intenção é sugerir melhorias aos governantes eleitos. A falta de continuidade das políticas de educação motivada pela troca de governos é um dos itens presentes no livro e, na avaliação da representante do Educação em Nossas Mãos, Cybele Amado, é um fator prejudicial para a educação pública. “Quando muda prefeito, governador, até presidente, há uma descontinuidade técnica. Quando vamos mudar isso? Há programas que realmente são efetivos e somem de uma hora para outra. É preciso ter algo que garanta a continuidade do que tem qualidade”, afirma Cybele.
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Entre as demandas dos docentes destacam-se a construção de um plano de carreira para o magistério da educação básica e melhor remuneração para os professores de todos os níveis de ensino. A infraestrutura é citada com o pedido de garantia de material pedagógico de qualidade e ambiente físico adequado. A formação inicial e continuada é outra demanda.
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A publicação destaca ainda a necessidade de adequação do currículo escolar,com a adoção de conteúdos que dialoguem com a realidade social e cultural dos alunos, contribuindo assim para a permanência dos jovens na escola. No campo da gestão, estão entre as propostas a instituição de eleição para diretor escolar e a garantia de participação dos professores na elaboração das políticas públicas do setor.
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“É preciso que o professor seja um protagonista e tenha seu lugar valorizado. Quem vai transformar a educação no Brasil são os professores. Todas as políticas e lutas que temos são importantíssimas, mas quem vai fazer as transformações são esses profissionais que estão em sala da aula”, disse a representante do Movimento Educação em Nossas Mãos.
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Quatro integrantes do movimento participaram da reunião com o ministro Henrique Paim e, segundo eles, pediram que o livro seja entregue à presidenta Dilma Rousseff. 
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Educação e sociedade


Pesquisa sobre a qualidade da educação no Brasil revela que menos de 1/6 da população brasileira pensa em ser professor

Seg, 24 de Novembro 2014 - 14:44
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Por: Portal CNTE - 22/11/2014
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A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em parceria com a APEOESP, divulgou estudo realizado pelo Instituto DataPopular e que revela a opinião da população sobre a educação e os profissionais de educação. A pesquisa foi lançada durante a segunda Conferência Nacional de Educação (CONAE), na sexta-feira (21), em Brasília.
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 De acordo com o levantamento, segurança é o fator mais importante para que a escola seja de qualidade, seguida de valorização dos professores e funcionários. A falta de perspectiva na carreira é outro ponto a ser analisado: a população considera a profissão de professor o ofício mais importante para que o país tenha um bom futuro, mas apenas 15% gostariam de virar educador.
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 Para o presidente da CNTE, professor Roberto Franklin de Leão, os números refletem a triste realidade da escola pública brasileira: "Consideramos fundamental ter um instituto de pesquisa qualificado comprovando as informações que os trabalhadores em educação vivenciam no dia a dia da escola. Esse documento revela dados que há tempos a CNTE aponta para a sociedade".
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 A pesquisa também levou em consideração aspectos relacionados à valorização, formação (capacitação) e remuneração dos professores e dos profissionais da educação. O estudo mostra também que 99% dos brasileiros acreditam que a educação é muito importante para o futuro do Brasil.
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 Na avaliação do coordenador do Fórum Nacional de Educação e da CONAE, Francisco das Chagas Fernandes, a valorização dos profissionais de educação passa por três caminhos: salário (ganho real do Piso), Diretrizes Nacionais de Carreira e a formação inicial e continuada. "Esse tripé é necessário para garantir um sistema de formação de professores no país", resumiu o coordenador.
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Valorização do professor
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Os entrevistados também entram em consenso quando o assunto é valorização dos professores, já que 98% avaliam que a profissão deveria ser mais valorizada. Na opinião dos brasileiros, oferecer uma educação de qualidade está ligada diretamente à valorização do professor. Por isso, boa parte dos entrevistados acredita que a saída para uma educação de qualidade é ter professores qualificados, bem preparados e com melhores salários. Para 76%, os professores são menos valorizados do que deveriam pela população, enquanto 85% acham que os professores são menos valorizados do que deveriam pelo governo.
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Melhores salários
 O salário oferecido aos professores da rede pública é considerado ruim ou péssimo para 66% dos consultados. Apenas 8% disseram que é bom. Quando questionados sobre os salários dos professores das escolas privadas, 49% disseram que a remuneração é ótima ou boa. Sendo assim, 98% consideram importante que professores e funcionários das escolas tenham bons salário para que a escola seja de qualidade.
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 Os entrevistados também reconhecem que o professor deveria ser a profissão com a melhor remuneração. Por outro lado, a maioria acredita que são os médicos, engenheiros e advogados que recebem os salários mais altos. Como forma de valorização, 85% dos brasileiros acreditam que os profissionais da educação deveriam ter um piso salarial nacional que valorize o salário.
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Educação de qualidade
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Entre os principais benefícios que a educação pública de qualidade pode trazer para a sociedade brasileira, os entrevistados destacaram: redução da violência, combate à pobreza, melhores empregos e formação de bons profissionais. E a maioria (59%) avalia que as escolas públicas estão longe de ter uma educação de qualidade. Outro aspecto abordado no estudo está relacionado ao futuro profissional. Para 48%, os alunos de escolas particulares têm mais chances de ter um bom emprego do que alunosque estudaram na rede pública. Como forma de melhorar a qualidade da educação, 94% são a favor da educação em tempo integral.
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Papel dos governos
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A responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal também alvo da pesquisa. Para 43%, o governo federal é responsável pela educação pública em geral, enquanto 27% atribuem a responsabilidade ao governo municipal. Para melhorar a educação, 87% são favoráveis ao governo destinar 10% do PIB para educação. Hoje, são 6,5%. O tema educação também é levado em consideração na hora de escolher o candidato, já que 72% dos brasileiros se informar sobre educação antes de votar.
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Metodologia da pesquisa
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A pesquisa foi realizada em setembro de 2014, com 3 mil pessoas com mais de 16 anos, em 100 municípios, nas cinco regiões do País.
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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ENEM


Para professores, Enem está cada vez mais ‘conteudista’, e não tão intuitivo quanto antes

RIO - Ano após ano, o Enem vem se aprofundando no conteúdo das disciplinas que compõem o último segmento da educação básica. Desde 2010, quando foi reformulada, a prova passou a cobrar temas e tópicos específicos de cada matéria, com questões consideradas “conteudistas”, e não mais tão intuitivas e interpretativas quanto antes. Nesta edição, os candidatos tinham de conhecer temas como genética, leis de Newton, Guerra do Paraguai e o estilo literário dos pré-modernistas.
 
Para especialistas, o exame mudou e se assemelhou aos antigos vestibulares a fim de recepcionar as universidades federais. De acordo com Márcio Branco, professor de História do curso on-line QG do Enem, a parte de Ciências Humanas atingiu um “ponto ótimo” entre “conteudismo” e interpretação:
 
— Eu acreditava que viria mais difícil, mas o Enem é uma prova nacional. Então o Inep (órgão organizador do exame) optou por não aprofundar mais
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INTERPRETAÇÃO AINDA PREVALECE NO TESTE DE LINGUAGENS
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O equilíbrio descrito por ele variou conforme as disciplinas. Em Ciências da Natureza, que engloba Química, Física e Biologia, ficou a percepção de que as questões vieram sem a mesma contextualização, valorizando conteúdos específicos.
 
— Este ano foram 20 perguntas só de Química, um número bem maior do que o das provas anteriores. Em Química o aluno não pode ser muito intuitivo ou resolver a questão apenas com interpretação. Se não estudou, não vai saber fazer — afirmou Jonas Stanley, professor de Química, Física e Matemática do Curso Pensi.
 
Em Matemática, uma das partes mais temidas, professores perceberam que a prova perdeu um pouco a característica de contextualização, preferindo cobrar conceitos “crus” como cálculo de volume, porcentagem ou probabilidade. As questões que buscaram conciliar conteúdo com a realidade do aluno foram elogiadas:
 
— Destaco a questão do cone de trânsito e do corrimão que faz o movimento em espiral. Foram modos de trabalhar a matemática de um jeito bem mais factível — ressaltou Márcio Cohen, do QG do Enem.
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Se existe uma área onde o Enem mantém a tradição é a prova de Linguagens. Nela, sempre se cobrou mais a interpretação do que tópicos gramaticais frios e distantes, dizem professores.
 
Na prova de redação, os candidatos foram instados a discorrer sobre publicidade para crianças. O assunto, em alta no noticiário devido à publicação, em abril, de uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) considerando abusivo esse tipo de propaganda, ganhou elogio do coordenador de Português e Redação do Colégio e Curso pH, Felipe Couto:
 
— O Enem tem esta característica de cobrar uma reflexão de ordem político-social. E esse tema é um aspecto muito importante da contemporaneidade.
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MÚSICA VOLTA A APARECER COM FORÇA
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Nos últimos anos o Enem tem mostrado apreço especial pela música. Este ano não foi diferente. O folk do cantor e compositor americano Bob Dylan apareceu na prova de inglês, com a música “Master of war”. O candidato tinha que identificar quais eram as críticas feitas pela letra, que questiona os interesses por trás de uma guerra.
 
Já a canção “Óia eu aqui de de novo”, do compositor e cantor Antônio Barros, foi utilizada para discutir o repertório linguístico e cultural brasileiro. Dentre versos como “Diz que eu tou aqui com alegria” e “Vou mostrar pr'esses cabras”, o candidato tinha que apontar qual deles singularizava uma forma característica do falar popular regional.
 
Outro item trazia um texto do maestro Henrique Cazes que discutia como grande parte da música popular desenvolvida nos países colonizados por Portugal compartilham um instrumental marcado por cavaquinho e violão. Os candidatos deveriam, então, mostrar quais exemplos da música popular brasileira utilizam esses instrumentos.
 
As origens do funk e do hip hop brasileiro também foram abordadas. O tópico citava os famosos bailes black, que reuniram legiões de jovens nas periferias dos grandes centros urbanos embalados pela black music americana, e pedia ao estudante que identificasse as características da cultura hip-hop no Brasil.
Outro tópico trazia um texto que enumerava as preferências musicais do brasileiro, destacando como o sertanejo caiu no gosto popular, segundo pesquisas.