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domingo, 26 de agosto de 2012

Calamidade pública

 
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Por Tostão
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Envio minha solidariedade à família do querido goleiro Félix, companheiro na Copa do Mundo de 1970, que morreu nesta sexta-feira.
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O pênalti marcado a favor do Grêmio, contra o Coritiba, que ajudou a classificar o time gaúcho, na Copa Sul-Americana, foi mais um absurdo erro. Kleber, mais uma vez, enganou o árbitro e o comentarista de TV.
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Hoje é dia de clássicos regionais. Ontem, jogariam Santos x Palmeiras e Vasco x Fluminense, este último, paixão de Nelson Rodrigues, que faria, nessa quinta-feira, 100 anos. Em uma entrevista, o maior e mais politicamente incorreto cronista esportivo disse: "O pior cego é o míope. E pior que o míope é o que enxerga bem, mas não entende o que enxerga. Há pessoas, sobretudo jornalistas esportivos, que não têm inteligência visual".
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É cada dia mais comum no Brasil clássicos regionais com apenas uma torcida, como o de hoje, entre Cruzeiro e Atlético, no Independência. A polícia de Minas reconhece a incapacidade de dar segurança aos torcedores. Muito mais que isso, mostra a incapacidade do governo federal, em todo o país. A atual violência social é uma calamidade pública. Os ricos blindam os carros, contratam seguranças, e os pobres não podem passear nem assistir a seus times jogarem. Ficam sitiados, vendo, diariamente, pela TV, tanta violência e tantos crimes. É o inferno!
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A mesma violência social está em volta dos estádios, nas arquibancadas e nos gramados. Ela sempre existiu, mas não era de rotina. Os jogadores, pressionados e até ameaçados, com a obrigação de ganhar de qualquer jeito, como se fosse uma guerra, dão pontapés, trombadas, para mostrar que têm raça. Além disso, são mal-educados, desde as categorias de base. Os treinadores são, no mínimo, omissos. Gritam e reclamam, na lateral do campo, para mostrar que "jogam com o time".
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Quando era menino e adolescente, ia muito com meu pai ao Independência, de ônibus, lotado, com torcedores dos dois times. Outros caminhavam até o estádio, cada um com sua bandeira. Gostava de ficar na fileira de baixo da arquibancada. Via de perto os jogadores, seus gestos, palavras e expressões de alegria, tristeza, medo, raiva. Aprendia que o futebol era muito mais que detalhes técnicos e táticos. "A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana" (Nelson Rodrigues).
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Em uma decisão do título mineiro, entre Siderúrgica e América, Noventa caiu e gritou de dor. O médico do Siderúrgica disse que poderia ser uma fratura, e que ele teria de sair. O truculento técnico Yustrich mandou-o ficar. Noventa, com uma tipoia, fez um dos gols do título. No outro dia, a imprensa só falava nisso. Testemunhei tudo de perto. Deveriam ter me entrevistado.
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Fonte: O Tempo (MG)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Chuva e mortes. Desgraça anunciada.


Desmoronamentos, desastres, tragédias, sofrimento, solidariedade são eventos anunciados e esperados a cada Janeiro. A inovação está nos números que, assustadoramente, crescem. Somente não são novos os fatores causais.

Passada a tormenta e diminuída a lama, quando já não há corpos e choro para alimentar o noticiário, o esquecimento vai tomando a forma de rotina. A dor vai se perpetuar, apenas, no coração daqueles, diretamente, atingidos. Quando chega o Carnaval, o assunto é outro. A partir daí, ninguém sabe e ninguém cobra as ações de dever do poder público. Não há demonstração de resultados. Silêncio! E, o pior de tudo é que novos empreendimentos imobiliários, novas construções e novas vias vão rasgar áreas de risco ou de preservação, vão subir montanhas e vão continuar trocando grana por vidas na cidade que crescerá desordenada e ameaçadora.

No resto do ano, onde estará o poder público? Onde estarão engenheiros, geólogos, agrimensores, topógrafos, empreiteiros, investidores, construtores e tantos outros especialistas que, verdadeiramente, conhecem as causas da picareta da morte? Onde estarão? Silenciados e vivendo as suas vidas como se nada tivessem a ver com a previsibilidade das desgraças alheias. São alheias!

Ah, a culpa é das chuvas. Fácil desculpa!

Célia Maria Corrêa Pereira é professora e mestre em administração de empresas