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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Professor saudável é vantajoso para todos

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Mariana Cruz
 
O trágico acidente com o Airbus A320 que partiu de Barcelona, na Espanha, com destino a Dusseldorf, na Alemanha, ocorrido em março último, foi causado pelo copiloto, que, segundo foi apurado, sofria de depressão e síndrome de burnout, que é definida como "um fenômeno psicossocial, caracterizado por esgotamento físico e mental intenso, que se desenvolve como resposta a pressões prolongadas que uma pessoa sofre a partir de fatores emocionais estressantes e interpessoais relacionados com o trabalho". Essa definição deixa claro por que tantos professores (e bancários, enfermeiros, médicos, policiais, agentes penitenciários, atendentes de telemarketing e outras profissões que exigem contato direto com as pessoas) são acometidos por ela.
 
No caso dos professores, a questão se intensifica, uma vez que tal contato se dá com muitas pessoas (alunos, diretores, pais de alunos, colegas de trabalho etc.), às vezes centenas delas em algumas horas. É só fazer os cálculos: um professor que dá aula diariamente para seis turmas de 35 alunos lida com nada menos com 210 alunos por dia. Além disso, há a pressão indireta: se o aluno não vai bem, o professor é, muitas vezes, tido como o culpado. Mesmo que o aluno não tenha o menor interesse pela matéria, dizem que o professor é quem não sabe torná-la interessante. Isso até pode ocorrer em determinados casos, mas não é regra. Muitas vezes é o aluno que não se identifica com aquele conteúdo. E, no caso de um aluno bagunceiro, indisciplinado, quem lida diretamente com ele é o professor. Para tantas demandas, haja estofo psicológico.
 
Quando se trata de uma instituição privada, o aluno é visto como "cliente", e, como diz o ditado, "o cliente tem sempre razão". Quando se trata de escola pública, apesar de o aluno ser também um cliente, não é tratado como tal. Nesse caso, quem as direções buscam agradar são as secretarias de Educação. O irônico é que, se os resultados da escola forem positivos, os louros vão para os diretores, mas se for um fracasso a culpa é do professor.
 
Mas nem tudo é negativo na vida do docente. A lida com crianças e jovens é geralmente muito rica, além de ser motivo de orgulho para qualquer professor ver o aluno aprender, se transformar, conhecer coisas novas, ir construindo um corpus de pensamento próprio. Isso não tem preço.
 
A despeito dessas dificuldades, o grande problema do magistério talvez seja o baixo salário, que obriga o professor a trabalhar em diversos lugares. Quem não trabalha com educação pode considerar que um docente que tenha uma matrícula de 30 horas semanais trabalha pouco. De fato, comparado com os outros trabalhos que são de no mínimo 40 horas semanais, parece vantajoso. Acontece que nessa comparação de carga horária se está levando em conta apenas a quantidade, e não a qualidade. Diferente de muitos trabalhos, o tempo que o professor está em sala ele não pode fazer nada que não seja dar aula. Não vai ao banheiro, não come, não fala ao telefone, não checa os e-mails, não sai para tomar um ar, não pode relaxar por cinco minutos. Trata-se de um trabalho físico e vocal árduo, no qual há que se ter domínio da turma, certa moral para silenciar aqueles alunos que estão papeando alto, bom jogo de cintura para prender a atenção da turma, habilidade para fazer com que entendam o que está sendo dito e, quiçá, estimular os estudantes a participar e interagir.
 
Infelizmente não há receita pronta sobre como lidar com uma turma de 40 alunos, até porque são várias turmas por dia, cada uma com um perfil. Como fazer os alunos ficarem interessados full time? Como lidar com eventuais conflitos que venham a surgir? Tais demandas, somadas ao excesso de aulas que o professor é levado a ministrar a fim de obter melhoria salarial, podem vir a comprometer a qualidade das aulas, da didática, dos conteúdos, da atenção que deveria ser dispensada a cada aluno. Além disso, dificultam conhecer cada um deles pelo nome e saber de suas dificuldades e talentos.
 
Não precisa ser gênio para concluir que um professor com poucas turmas pode dedicar mais tempo na elaboração e correção de trabalhos, solicitar tarefas mais profundas e elaboradas, enfim, explorar mais as potencialidades de cada aluno. Infelizmente, isso é uma utopia para alguém que dá aula das sete da manhã às seis da tarde (muitos professores estendem até o horário noturno). Trata-se de uma rotina exaustiva, tanto assim que muitas vezes já na hora do almoço alguns professores estão roucos e exaustos.
 
Talvez o ideal para o professor fosse cumprir uma carga mínima de horas semanais (quem sabe  uma matricula de 16 horas) e no tempo restante exercer outra atividade que não tivesse a ver com a docência. Algo em que ele não tivesse que lidar com tantas pessoas, não tivesse que gastar tanto a voz, resolver conflitos, explicar incontáveis vezes a mesma coisa. Algo relacionado à pesquisa, à teoria, enfim alguma coisa que o tirasse dessa obrigação de matar um leão por dia.
 
Esse excesso de aulas muitas vezes faz o professor adoecer, ficar semanas de licença médica afastado do trabalho; sendo assim, não é algo bom para a instituição de ensino, nem para o governo, nem para o país.
 
Outro dia fui parada em uma blitz e, enquanto aguardava a checagem de meus documentos, comecei a conversar com um motorista de uma companhia de seguros de automóveis. Percebi, ao ver a forma como a empresa dele agia, como é obtusa essa lógica de explorar o professor a ponto de fazê-lo adoecer. Explico: a tal companhia enviava um motorista gratuitamente para buscar pessoas que vão para a balada de carro, consomem álcool e depois não podem voltar dirigindo o veículo. Achei a mordomia um tanto exagerada e perguntei ao moço se isso não acarretava prejuízo para a seguradora. Ele disse-me que, ao contrário, a empresa ganhava duas vezes: além de atrair mais clientes com tal cortesia, era muito mais econômico para ela fazer isso do que arcar com possíveis acidentes em que uma pessoa alcoolizada pudesse se envolver. Assim deveriam pensar os governantes sobre seus docentes: professores ganhando pouco e com excesso de trabalho adoecem. É muito melhor termos professores saudáveis, dispostos e estimulados; mas para isso é preciso lhes dar melhores condições salariais e trabalhistas.
 
Se até uma empresa de seguros cujo interesse maior é o lucro conseguiu perceber isso, como nossos governantes não percebem?
 
Publicado em
 
Fonte: Revista Educação Pública - http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/cultura/professor-saudavel-e-vantajoso-para-todos

sábado, 11 de janeiro de 2014

Escolas também terão vacinação contra o HPV

Prevista para ser iniciada em março, a vacinação gratuita de meninas entre 11 e 13 anos contra o vírus HPV, que protege contra o câncer de colo de útero, deverá ser feita prioritariamente em escolas, disse nesta sexta-feira, 10, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O anúncio foi feito durante evento no Instituto Butantan, em São Paulo, no qual o laboratório responsável pela produção do item entregou o primeiro lote de vacinas, com 4 milhões de doses.
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 “Cada município vai poder ter uma estratégia específica de vacinação. Alguns vão utilizar um espaço dentro da escola, outros vão concentrar nos postos de saúde. Nós daremos as duas opções, mas vamos reforçar nos municípios que as ações na escola devem ser priorizadas”, disse Padilha. A vacina só será aplicada com autorização dos pais ou responsáveis.
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A expectativa do ministério é imunizar 5 milhões de meninas ainda neste ano, o que equivale a 80% da população dessa faixa etária. Para isso, o governo federal comprou 15 milhões de doses, já que cada jovem deve receber três delas para estar imunizada. Após a aplicação da primeira, a segunda é ministrada em dois meses e a terceira, em seis.
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Segundo o Ministério da Saúde, foram investidos R$ 465 milhões na compra desses lotes. Uma parceria entre o laboratório Merck Sharp & Dohme (MSD) e o Instituto Butantan vai permitir que, em cinco anos, a fabricação do produto seja 100% nacional. Até agora, a vacina estava disponível apenas na rede particular, ao custo de R$ 1 mil as três doses.
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Ampliação. Segundo o Ministério, a partir do ano que vem, a oferta da vacina será ampliada para meninas a partir dos 9 anos. “É muito importante que as doses da vacina sejam dadas antes de qualquer atividade sexual realizada”, disse Padilha.
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O câncer de colo de útero é o segundo tipo de tumor mais comum entre as brasileiras. Mais de 5 mil mulheres morreram em decorrência da doença em 2011, último dado disponível.
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A vacina que será distribuída na rede pública protege a mulher contra quatro tipos de vírus HPV. Dois deles (16 e 18) são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero.
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Fonte: O Estadão

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Esforço nas aulas faz professora ser afastada por problemas na voz

Por Vanessa Fajardo - Do G1, em São Paulo
 
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A professora Solange Aparecida de Oliveira, de 49 anos, está há três anos afastada da sala de aula e trabalha no setor administrativo da Escola Municipal de Educação Infantil Cecília Meireles, em São Matheus, na Zona Leste de São Paulo. Há pelo menos oito anos sentiu os primeiros problemas na voz, resultado de mais de duas décadas dando aulas na educação infantil. Ficava rouca, com a voz áspera, muitas vezes, totalmente afônica. Chegou a dar aulas fazendo mímica.
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“É mais difícil lidar com criança pequena, elas exigem, há uma rotina a ser cumprida: roda de leitura, de conversa, aula de música, parque, jogos, atividades externas. Perdia a voz com muita frequência, sentia dores na garganta, minha diretora falava: você não pode ficar assim. Perder a voz mexe com o emocional da gente”, afirma.
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Solange simboliza uma pequena amostra de um cenário bem mais complexo que atinge a categoria dos docentes. Estudo feito pelo Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro SP), mostra que 63% dos professores entrevistados (1651 docentes da rede básica de ensino) já tiveram problema na voz, sendo que 11% apresentava alguma alteração no momento da pesquisa. Entre 14 sintomas listados que denotam problemas como rouquidão, pigarro, garganta seca, entre outros, cada pessoa respondeu que tinha, em média, 3,7 sintomas.
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DICAS PARA O PROFESSOR NÃO PERDER A VOZ
- Beba água regularmente
- Fique atento ao volume de voz. Perceba em quais momentos você pode falar mais baixo
- Articule bem as palavras
- Evite pigarrear em excesso
-Mantenha uma alimentação regular e saudável
- Após um período de uso excessivo da voz, tente descansá-la
- Ao dar uma informação longa aos alunos, fique de frente para a classe olhando para os alunos
- Evite falar muito tempo virado para a lousa
- Com orientação fonoaudiológica, faça exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal
- Ao perceber sintomas como rouquidão, dor na garganta, cansaço vocal, falhas na voz, excesso de pigarro, desconforto ao falar, procure um médico otorrinolaringologista e um fonoaudiólogo
Fonte: Fabiana Zambon – Sinpro SP
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A fonoaudióloga especialista em voz do Sinpro SP, Fabiana Zambon, diz que o grande problema é que o professor não tem na formação conhecimento para cuidar e prevenir a voz. "Quando percebe que está com problema é porque já precisa de tratamento. O professor usa a voz de forma diferente das outras pessoas, concorre com ruído de fora, da classe, tem de falar mais forte porque tem um número de alunos para atingir. Mesmo os que não apresentam problema, teriam de passar por uma avaliação."
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Foi assim com Solange. Quando ela buscou ajuda médica há oito anos, recebeu o diagnóstico de nódulo e fendas nas cordas vocais, e a indicação para se afastar da sala de aula. Demorou mais cinco anos para que seguisse a recomendação médica e fosse readaptada para outras funções. "Tinha um receio grande, porque a readaptação é mal vista. Morria de medo desse tabu, mas aos poucos, fui vendo que não tinha mais condições."
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Para Solange, a lotação das salas, e ter de lecionar, muitas vezes, paralelamente às reformas que ocorrem nas escolas, sem a acústica adequada, são fatores que contribuem para o desgaste da voz. “A reforma é uma questão que precisa ser pensada. Poeira, ruído e tinta causam alergia. Os professores estão adoecendo.”
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Alunos em sala de aula (Foto: TV Globo/Reprodução)
Professor deve evitar falar virado para a lousa
(Foto: TV Globo/Reprodução)
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Projetar a voz ou gritar?
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Outro fator que pode comprometer a voz do professor é se ele grita muito durante a aula. Segundo a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, existe uma grande diferença entre "projetar a voz" e "falar alto" em classe. "Projetar é falar alto com controle de qualidade da voz, sem sobrecarregar as cordas vocais; já falar alto pode ser sinônimo de gritar, com esforço excessivo, que pode ser prejudicial", define a entidade em um manual sobre problemas de voz. "O grito faz com que ocorra um forte atrito entre as pregas vocais e, se usado constantemente, pode prejudicar a saúde vocal e contribuir para o aparecimento de lesões na laringe como os calos nas cordas vocais."
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Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou que o departamento de saúde oferece um programa voltado à saúde vocal, com caráter preventivo, aos professores da rede de ensino, além de oficinas nas escolas resultado de uma parceria feita com a PUC-SP. Sobre o número de alunos em sala de aula, a Prefeitura diz que respeita o que prevê a legislação municipal e atende, no máximo, 30 crianças por sala na educação infantil.
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Solange deve encerrar a carreira no setor administrativo. No ano que vem ela completa 50 anos de vida, 30 deles como funcionária da Prefeitura de São Paulo e vai se aposentar. Apesar do problema adquirido, vai guardar boas lembranças da docência.  "A sala de aula é o lugar onde eu me encontrei profissionalmente, foi uma escolha ser professora, ninguém me mandou ser, sempre gostei muito do que eu fiz. Valeu a pena a carreira longa, fui feliz enquanto estive lá."
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Cisto na prega vocal e cirurgia
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O problema vocal da professora Eulina Fernandes Pereira Caldin, de 49 anos, terminou em cirurgia. Ela dá aulas há 23 para o ensino fundamental em uma escola da rede particular de São Paulo. Logo no início da carreira perdia a voz, foi buscar orientação médica, “mas achou uma bobagem, não levou a sério e abandonou o tratamento.” A atitude não passou ilesa: Eulina adquiriu um cisto do lado esquerdo da prega vocal, e teve de operar. Nos últimos cinco anos, não tinha nenhum período com a voz boa, nem mesmo nas férias.
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“Ficava rouca, não sentia nenhuma dor, mas a voz sumia, faltava volume. Quando procurei ajuda médica, já era um caso cirúrgico. Minha vontade era parar de trabalhar dando aula, não tinha mais qualidade dos anos anteriores e comecei a me cobrar.”
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A professora afirma que o cisto adquirido na corda vocal era como uma 'bexiguinha que poderia se romper.' "Após a cirurgia, o som da voz era péssimo, parecia uma senhora de 80 anos, vinha em duplicidade. Passei três dias incomunicável, só escrevia, mas a recuperação foi simples, não tive dor, com um mês de fono minha voz já estava boa."
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Eulina se arrepende de não ter dado atenção ao problema vocal antes de ele se agravar. Hoje a professora aprendeu a respirar corretamente, usar o diafragma e fazer exercícios para aquecer e desaquecer a voz. Ela diz que o microfone na sala poderia ser um grande aliado, mas admite que nunca precisou se afastar porque conta com ajuda de professor auxiliar na sala de aula, e nos momentos de crise, tinha o apoio desse profissional. 
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"Hoje me sinto ótima, minhas aulas são de maior qualidade. Alunos aprendem, são motivados. A voz é fundamental para a emoção da aula. Eu já tive outras profissões, mas escolhi porque educação está no sangue, parece que você nasce com isso. Adoro o que eu faço, faço com amor."
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Fonte: G1 (on line)

domingo, 9 de setembro de 2012

Desvio de verbas da educação e saúde pode se tornar crime hediondo

Da agência Senado
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No momento em que o país acompanha o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de graves denúncias de corrupção feitas há seis anos dentro do episódio que ficou conhecido como mensalão, os senadores se preparam para votar um projeto destinado a punir com rigor desvios de recursos públicos. Trata-se do projeto de lei (PLS 676/2011) do senador Lobão Filho (PMDB-MA) que considera crime hediondo o que envolve desvio de verbas destinadas a programas de educação e saúde.
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O projeto deverá constar da pauta da próxima reunião da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), prevista para a terça-feira (11). Em seguida, será enviado à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde receberá decisão terminativa.
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A proposta altera a Lei 8072/90, que define os crimes considerados hediondos. Caso venha a converter-se em lei, passarão a ser considerados hediondos crimes de corrupção já previstos na Lei 8666/93 (Lei das Licitações), “quando a prática estiver relacionada a licitações, contratos, programas e ações nas áreas da saúde pública ou educação pública”. Os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça, indulto ou fiança.
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Em sua exposição de motivos, Lobão observa que, recentemente, o Departamento de Patrimônio e Probidade da Advocacia Geral da União (AGU) divulgou que cerca de 70% dos recursos públicos desviados no país são das áreas de educação e saúde. A Controladoria Geral da União (CGU), segundo o senador, informou ainda que, entre 2007 e 2010, foram desviados, por prefeitos ou ex-prefeitos, R$ 662,2 milhões nesses dois setores. Essas verbas, como comentou o senador, seriam destinadas para a reforma de escolas e hospitais, compra de merenda escolar e remédios, e procedimentos do SUS.
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O projeto conta com voto favorável do relator, senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Em seu relatório, ele diz que, além dos mecanismos de controle já existentes e da fiscalização para combater os desvios de recursos públicos, “cabe tornar a legislação ainda mais rígida, na tentativa de coibir essas práticas nefastas”.
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Fonte: Hoje em Dia

sábado, 14 de janeiro de 2012

O papel da imprensa na construção de uma sociedade sustentável

Por José Paulo Grasso em 10/01/2012 na edição 676
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O ano de 2011 terminou. Num breve balanço, a atuação da mídia derrubou em um ano seis ministros pelos mais variados escândalos, sendo que ninguém foi punido, outros ficaram em situação altamente constrangedora e, incrivelmente, não aconteceu rigorosamente nada. Num quadro desses, chegou a hora de discutirmos o importante papel dos meios de comunicação na construção de uma sociedade sustentável e socialmente justa.
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Será que algum país no mundo tem vinte e sete partidos, recebendo generosos recursos públicos do Fundo Partidário? Se as ideologias desapareceram com a crise de 2007, quando passou a ser priorizada a tal de “qualidade de vida”, como se justifica a existência de tantos partidos, já que essas legendas são “supostamente” de aluguel e negociam descaradamente desde minutos no horário político até a governabilidade para quem der a melhor oferta cash, sem falar dos caixa dois?
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A partir dessa constatação podemos entender por que a corrupção anual é estimada em cerca de R$ 80 bilhões. Com um botim desse tamanho e a impunidade reinante, num ambiente em que os valores e a ética são desprezados e a mídia surpreendentemente não cobra punições, não causa surpresa já termos mais 30 legendas em processo de organização. Nove delas já conseguiram se oficializar para entrar nessa “boquinha”, faltando apenas o registro nacional. No Facebook, por exemplo, quase todos têm postura de futuros candidatos. A realidade é essa e inexplicavelmente há uma apatia coletiva bovina com relação aos nossos direitos civis, quando, com a indignação atual, todos deveriam estar se unindo e lutando para reverter esta situação que acabará nos levando à uma falência vexatória.
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O abismo social do neoliberalismo
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Por que não discutir este problema, já que somos motivo de chacotas mundiais por permitirmos que nossos representantes eleitos “democraticamente” se associem para “supostamente” assaltar os cofres públicos conforme somos obrigados a constatar diariamente? Todos observaram que os ministros caíram e que não aconteceu nenhuma mudança para inibir os fatos que levaram a estas quedas. Que democracia é esta na qual a sociedade não participa ativamente e não há uma mídia consciente da importância de sua participação?
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Algo precisa ser feito e a imprensa da área econômica não está interessada nisto. Renomada comentarista de economia começou recentemente sua coluna diária dizendo que nem mesmo a caudalosa cachoeira de sete quedas, se ainda existisse, seria capaz de lavar a corrupção no Brasil, quando na verdade a luz do sol é o maior detergente que existe para acabar com o malfeito e temos todo um arcabouço legal para colocar em prática uma transparência total das contas públicas que inibiria imediatamente tais práticas. Basta que a sociedade exija e dê suporte à presidente para executar uma faxina de verdade. Além de escrever uma bobagem como esta, ainda deu provas do autoritarismo que permeia na área econômica ao, no dia seguinte, questionar como uma pessoa da importância que ela acha que tem, ao nível de um Gerdau ou de um Eike, ter que comparecer pessoalmente a uma repartição pública para receber as senhas pessoais e intransferíveis de sua certificação digital, exigida pela receita federal como os outros mortais comuns fazem.
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Isto num ambiente mundial onde, inacreditavelmente, estudantes abandonaram as aulas do economista Greg Mankiw na conceituada Harvard University, protestando contra o fato de que “o curso propaga ideologia conservadora disfarçada de ciência econômica e ajuda a perpetuar a desigualdade social”. Os alunos pegaram até leve com tal teoria econômica ortodoxa: poderiam ter acrescentado que fomenta a instabilidade financeira, a corrupção e ainda causa baixo crescimento. Estes estudos usam a teoria econômica neoclássica para justificar “cientificamente” o neoliberalismo, uma ideologia reacionária que entre 1979 e 2008 promoveu o atraso e a desigualdade em todos os países que a aceitaram. E que, ao mesmo tempo, “pressiona” os cidadãos dessas nações a ficarem calados, já que não dominam o “conhecimento” matemático e técnico, favorecendo com isso um abismo social aliado a uma concentração de renda absurda na mão de 2% da população. Não é espetacular? Adivinhe qual é o modelo praticado no Brasil e, consequentemente, no Rio de Janeiro?
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Privilégios, corrupção e impunidade
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A economia mundial tem necessariamente que se reinventar, porque este conceito de privatizar os lucros e democratizar os prejuízos atirou a parte do mundo dita mais “avançada” socialmente num abismo socioeconômico, detonando a famigerada Primavera Árabe, a atual onda de Occupy Wall Street e revelou que o que importa mesmo é manter a tal de “qualidade de vida” ameaçada pela crise mundial; e os economistas ainda não entendem direito o que é que hoje em dia se quer exprimir até no PIB.
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E pensar que tudo isso começou no Butão, quando este reinado resolveu medir o índice de felicidade dos seus habitantes, sendo, inicialmente, motivo de chacotas. Com o detalhe que hoje naquela parte do mundo que está em crise qualquer investimento, até mesmo no social, tem sido questionado quanto ao seu retorno, pois já passou a época em que se desperdiçava dinheiro para se eleger políticos como predomina na economia brasileira. Quando vamos acordar para o fato de que a hora de mudanças socioeconômicas está passando? E que se a perdermos, a crise que nos atingirá terá consequências ainda piores do que a americana ou a europeia? Alguém lembra como terminou o nosso milagre econômico? Das exigências absurdas do FMI?
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O ministro da Fazenda se ufana de que a economia brasileira, medida de forma irracional pelo PIB, ultrapassou a do Reino Unido e assumiu a sexta posição no ranking mundial. Na verdade a Inglaterra produz aquele valor de bens e serviços com pouco mais de 60 milhões de habitantes, enquanto o Brasil produz o seu com quase 200 milhões. É obvio que a produção per capita dos brasileiros ainda é bem menor do que a dos ingleses e logicamente isso é muito mais importante que o valor absoluto do PIB. Basta olhar ao redor e ver a miséria, as favelas, a criminalidade, a infraestrutura caótica, os serviços prestados à população, a concentração ilegítima de renda graças a privilégios escusos, a corrupção, a impunidade, para notar que a situação nos dois países é completamente diferente.
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Sangrias sucessivas e impunes
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Para piorar ele arremata que em 20 anos estaremos no mesmo patamar dos ingleses, o que só se concretizará se reformas profundas fossem pensadas em curto, médio e longo prazos, coisa normalíssima, mas que aqui ninguém quer fazer, porque do jeito que está é que deve ficar para assegurar os “direitos” que uma parte das “elites” acha que tem, inclusive a dos meios de comunicação. Se temos uma inflação controlada há mais de 15 anos, por que não se planejar em curto, médio e longo prazos, como todos fazem? Por que estranhamente os economistas não tocam neste assunto? E muito menos os colunistas da área econômica? Todas as economias que emergiram foram pensadas assim, como a alemã, a japonesa, a coreana, a chinesa, entre muitas outras. A Austrália, por exemplo, está fazendo um planejamento para os próximos 40 anos!
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Aliás, economistas e assessores financeiros, a partir de 1971, passaram a se achar os donos da verdade quando o presidente Nixon suspendeu a obrigatoriedade da conversão do dólar em ouro e, com isso, o dinheiro perdeu sua referência com a economia real. Assim a criação de “jogadas”, a especulação desenfreada e a destruição criminosa de moedas passaram a ocorrer com grande facilidade, pois o endividamento do setor privado saiu de controle e, na falta de uma âncora sólida para a economia, as crises financeiras se tornaram muito mais frequentes e profundas. Eles pensaram ter um papel estratégico: seriam os mandantes desse novo ajuste monetário e financeiro da economia mundial. Mas, passados 40 anos, está constatado que eles falharam, que em sua ganância por lucros cada vez maiores atiraram o planeta numa crise sem precedentes, devendo ser fiscalizados com lupa, porque mesmo depois dessa lambança, continuaram agindo como se o mundo fosse um cassino de onde eles tirariam lucros fantásticos para dar aos seus investidores e continuar impondo seu estilo de vida nababesco, o que não combina com a realidade atual onde trabalhadores honrados foram atirados literalmente na rua com suas famílias, pelos seus erros. Por que a imprensa brasileira não mostra que isto ainda está se repetindo aqui, onde muitas das operações de sucesso do governo são sustentadas por milagres contábeis? As tão faladas e necessárias reformas não saíram do papel e os escândalos se sucedem, como no caso da compra do banco PanAmericano pela CEF e nos títulos da dívida pública, de pouco ou nenhum valor, vendidos por preços acima do mercado graças a um “erro” no sistema de informações da Caixa Econômica Federal. São valores acima de R$ 5,5 bilhões, desviados por “supostos” participantes de partidos políticos, ligados à base de sustentação do governo, sendo que não há economia no mundo que resista a essas sangrias sucessivas e impunes.
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Eutanásia seletiva
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Não está na hora de a mídia acordar para estes fatos, exigindo, ao lado da sociedade a quem ela presta serviço, punição exemplar e planejamento integrado em todas as esferas para que os “políticos” passem apenas a gerir metas com transparência e assumam responsabilidades legais por seus atos? Como, aliás, acontece no setor privado e em todos os países que tem economias sérias.
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A Assembleia Legislativa do Rio é notoriamente um enfeite caríssimo, porque os “nobres” vereadores só se preocupam em homenagear eleitores, não produzem leis de relevância, não defendem os interesses dos cidadãos porque aprovam tudo que a prefeitura empurra, porque seu objetivo é o de se perpetuar no poder através de políticas sociais estimuladas pelo poder público. Como se não bastasse, se concederam um aumento de indecentes 62%, apesar de a lei estabelecer que tal reajuste só pode entrar em vigor na legislatura seguinte. Mas como estamos vendo eles estão acima das leis. Na Câmara dos Deputados o esquema é muito parecido e o governador tem maioria confortável, aprovando tudo o que quer. Você, leitor, acredita mesmo que em um cenário desses poderemos produzir as tão necessárias mudanças e correções de rumo?
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Passaremos a falar agora dos serviços prestados à população para entendermos melhor a situação. Analisaremos rapidamente o Rio, entrementes, como sabemos, o quadro é praticamente o mesmo por todo o país. Na área da saúde, temos as UPASs, que são só midiáticas, não atendendo às reais necessidades da população, como de vez em quando é noticiado, mesmo assim quando alguém da imprensa sente na pele. Na da Ilha do Governador, por exemplo, segundo denúncia, não há um mísero aparelho de raio X. Poucos dias atrás me pediram para publicar no meu perfil do Facebook um pedido de ajuda para a senhora de um coronel do Corpo de Bombeiros que tinha tido um aneurisma cerebral e precisava com urgência de vaga num CTI. Foi o suficiente para começar a ocorrer um apavorante desfile de problemas semelhantes, pessoas revoltadas e casos e mais casos de mortes provocadas por falta de vagas em CTIs. O estado pratica uma eutanásia seletiva em seus pacientes, provocando uma situação que uma hora dessas terminará muito mal com um médico sendo justiçado como se tivesse culpa, pois hoje o melhor remédio é uma liminar, mas a crise na área está tão absurda que nem mandando prender o diretor do hospital se consegue uma internação. E o número de vagas? Diminui ano após ano, ao invés de aumentar; por que será?
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Dificuldades em matricular uma criança
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Os depoimentos que nos chegam são de cortar o coração e vão de desvios, falta de materiais necessários a procedimentos rotineiros, manipulação de vagas por políticos, degradação proposital de hospitais para poder alegar emergencialidade e desta forma conseguir liberação de licitação visando entregar a obra a um patrocinador de campanha, fraudes em compras, enfim, o corolário conhecido que inexplicavelmente a imprensa, especialmente a carioca, não denuncia, mesmo apresentando elevado número de falecimentos diários causados por falta de atendimento adequado. Mesmo no setor privado a situação não é boa, como atesta o elevado índice de reclamações na defesa do consumidor, sendo hoje a melhor opção para quem pode a ponte aérea para São Paulo.
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A dengue está voltando, indecentemente, ao Rio, onde a Secretaria de Saúde registrou um aumento de 475% em relação a 2010, com 149 mortes. Aquela mídia do Rio publica um número menor (450%) e não divulga o número de mortes. Na contramão de todo o país, em que diminuiu em 25%, segundo os dados oficiais. Parece que combatê-la não dá um percentual, então ela cresce ao invés de diminuir; porque ao se tornar emergencial verbas vultosas são liberadas sem controle. Que Rio de Janeiro é este?
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Na área da educação, em que o Rio ficou em 26º lugar no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), entre 27 unidades da federação, é preciso falar mais alguma coisa? Os professores vivem em greve, há denúncias de desvios de verba da merenda, os salários e as condições são péssimas, vários funcionários se demitem diariamente, as políticas públicas não tem continuidade, sendo que os professores, a população e a mídia ainda não acordaram para o fato de que sem planejamento e participação ativa de toda a sociedade não há nada que dê jeito. Claro que obras que supostamente dão comissão continuam sendo executadas e aquelas compras “tradicionais” também. A mais recente é, para breve, a aquisição de iPads. Enquanto isso, pais e mães têm dificuldades absurdas em matricular uma criança numa escola de, ao menos, um mediano padrão.
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Cachoeiras de esgoto
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No setor de transportes públicos, que são utilizados por apenas 16% da população, a situação é criminosa. Latas de sardinha são mais confortáveis e funcionais, pessoas perdem até 5 horas diárias em deslocamentos, sujeitas aos mais diversos acidentes de percurso. Engarrafamentos pioram a cada dia, as soluções bilionárias apontadas são paliativas e, segundo os especialistas, estarão obsoletas ao serem inauguradas, pois escandalosamente aprovaram um corredor de ônibus claramente arcaico, porque somos reféns dos empresários do setor. Agora querem demagogicamente, sem anunciar a fonte de recursos, implementar um sistema de trens de superfície, que seria o ideal, mas apenas para beneficiar um projeto que privilegia alguns empresários, em detrimento de toda a cidade, no famigerado Porto Maravilha, onde Certificados de Potencial Adicional de Construção, os Cepacs, uma ideia que não deu certo em São Paulo, foi acintosamente piorada. Ao invés de usar os bilhões arrecadados para melhorar a malha viária de uma zona central que hoje está ao descaso e que mesmo assim já vive permanentemente engarrafada, autorizaram construções de milhares de espigões com até 50 andares no local, o que trará um aumento de centenas de milhares de pessoas circulando, sem apresentar as devidas soluções viárias.
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Imagine o que acontecerá, ainda mais sabendo que mais de 40 mil veículos por ano são acrescentados a este caótico trânsito e que não há previsão de alternativas viárias, menos ainda de estudos. O dinheiro das Cepacs está sendo aplicado sem fiscalização numa reforma estética onde se destruirá um viaduto funcional para refazê-lo subterraneamente, sem criar condições para um aumento de fluxo. Curiosamente, aquela mesma mídia carioca publicou reportagens endossando tal descalabro. Na contramão disso, já existem até propostas de uma ação popular ou uma ação civil pública para inibir este crime contra a população.
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No setor de saneamento básico, com a atual especulação imobiliária desenfreada, a situação caminha para uma catástrofe ambiental anunciada que a mídia ignora. Nada de despoluição da Baía da Guanabara e das bacias da Barra, promessas olímpicas; os interceptores oceânicos são tecnicamente inviáveis e irão acabar com as praias da Zona Sul em breve, como já morreram as praias do interior da Baía de Guanabara. Desafiamos alguém a nos relatar a saída de um mísero caminhão de lama produzido pelas usinas de tratamento de esgoto. Enquanto isso, em Nova York, para cada dólar investido no sistema de abastecimento de águas da cidade, são economizados sete em produtos químicos. No Rio, descobriram “casualmente” que em algumas comunidades existem há décadas verdadeiras cachoeiras de esgoto que espalham detritos e doenças nessas comunidades. Como obra enterrada no chão não dá voto, se compromete cada vez mais o depauperado sistema de saúde ao se eternizarem estes problemas. Compromisso com o IDH? Só no horário eleitoral.
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A criminalidade está se reorganizando
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Na área de habitação o negócio é digno de investigação criminal, com a aplicação de bilhões nas favelas com resultados ridículos, nenhum controle das verbas aplicadas em conluio com o Banco Mundial, sendo que as comunidades já beneficiadas se recusaram a deixar de usar o nome pejorativo de favelas porque, mesmo com todas as melhorias anunciadas, ainda se sentem favelizadas. Os índices de tuberculose e outras doenças só aumentam nesses lugares, a conta destes bilhões torrados irá chegar e terá que ser paga, sendo que o único retorno conhecido é o da eleição de administradores dessas verbas para cargos públicos. É interessante que há cerca de um ano admitiu-se que mais da metade dos moradores do Rio vivessem em favelas, na contramão dos números anunciados agora de pouca mais de um milhão, ou seja, houve um milagre e mais de dois milhões de pessoas foram beneficiadas, mas só no papel. Por outro lado, a especulação imobiliária, como foi fartamente anunciado nas páginas de economia, pretende fazer “30 anos em 5”, pois, como qualquer um pode entender, até 2016 o Rio ficará na vitrine e quem fizer e vender lucrará. Depois, com o término dos investimentos bilionários, que são muito discutíveis e apresentarão benefícios nulos, chegará a conta que, por esses mistérios insondáveis midiáticos, é um tabu! Ninguém toca no assunto e nem nas implicações sobre o futuro das contas públicas. O que acontecerá no pós-2016, com um mercado inundado de imóveis, com o término das obras de mobilidade urbana, dos elefantes brancos olímpicos e das obras do PAC é o prenúncio de uma crise sem precedentes na indústria da construção civil e nas milhares de micros, pequenas, médias e grandes empresas periféricas.
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No tocante à segurança pública, as UPPs, Unidades de Propaganda Política, ops!, Unidade de Polícia Pacificadora, a principal ação midiática dos poderes constituídos tem ocupado papel de destaque, até porque a violência era digna de uma guerra civil disfarçada. Não há mais tiroteios nos morros dos corredores dos eventos internacionais, mas nem a violência nem o tráfico desapareceram, havendo inclusive suspeitas confirmadas de manipulação dos dados pela Secretaria de Segurança Pública. Ela migrou para outras ações intimidadoras e está se interiorizando de uma forma geral. Ainda são comuns ataques com mortes, sem a menor explicação, a viaturas policiais ou tiroteios nos subúrbios e periferias, ou seja, a criminalidade está se reorganizando no além túnel Rebouças e interior do estado. O próprio Beltrame já declarou inúmeras vezes que só um policial armado não impede que as quadrilhas continuem agindo e que é necessária a implantação de projetos sociais.
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Que promiscuidade é esta?
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Ora, isso não irá jamais trazer de volta a antiga força econômica do Rio, com seus tão necessários milhares de empregos qualificados, melhores condições salariais e seus efeitos multiplicadores culturais e ambientais. Sem falar que a cidade é muito hostil para seus moradores que reagem como vândalos, com pichações, destruição do patrimônio público e com um desrespeitoso despejo de lixo e dejetos nas ruas.
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É preciso tirar milhares de pessoas de frente da TV e das telenovelas idiotizantes para caminhar na rua e à noite, estimulando novos negócios e humanizando a cidade. Basta de ficar preso dentro de casa, amedrontado com a violência cotidiana. O carioca está sedento de espaço público, de bater perna e de ter liberdade de fazer programas dentro de seu orçamento. Nas Ramblas, na Times Square, na South Way, na Trafalgar Square ou na Rua das Pedras em Búzios isso é normal e viável. Em Barcelona 40% da população economicamente ativa trabalha na noite. Aqui, seria uma mudança bem-vinda. A Lagoa e seu entorno não comportam a multidão que se desloca para lá para ver sua árvore de Natal e não tem o que oferecer aos visitantes. A conquista do espaço público desperta o amor pela cidade no cidadão, faz um tremendo bem à economia e ao turismo e deveria ser estimulada também no centro da cidade, que tem tudo para ser o maior shopping a céu aberto do mundo.
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Afinal, por que o tal famigerado Porto Maravilha, que ainda não decolou e nem vai decolar nesse formato, não é replanejado para revitalizar a economia do Rio, levar empregos às favelas, subúrbios e periferia, como aconteceu com sucesso em todos os lugares onde as Zonas Portuárias foram renovadas? Será que é porque a Fundação que é dona do maior jornal carioca também está no jogo através de um projeto milionário de um museu, de estética duvidosa, que pretende ser o motor da revitalização da área portuária, mas que não tem cacife para isso? Como a imprensa carioca pode prestar serviço à sociedade (o que seria o seu dever capital) se ela presta apenas e exclusivamente aos interesses de seus donos, parceiros do poder público? Que promiscuidade é esta que permitimos? Continuaremos a permitir isto?
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Não há desenvolvimento sem planejamento
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Com relação às finanças públicas, que estão sendo endossadas pelas mesmas agências que não previram a crise de 2007 e suas funestas consequências, que também apoiaram a Grécia, que na época vivia o mesmo cenário atual e que estão concedendo upgrade para que a capacidade de endividamento do Rio seja aumentada, de olho nos bilhões em investimentos dos eventos mundiais. Isto não seria nada de mais se houvesse um plano diretor, com planejamento em curto, médio e longo prazos, com metas factíveis, apoiado em uma âncora crível que permitisse o retorno do capital investido nos prazos determinados. Se o Canadá levou mais de 30 anos para pagar sua Olimpíada, imagine o Rio!
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Claro que não existe nada disso e o dinheiro é gasto em projetos sociais que não têm a menor preocupação em apresentar retorno e que no pós-2016 nos atirarão numa dívida impagável, trazendo inúmeros problemas socioeconômicos. Outro aspecto interessante é o crédito ao consumidor, já que graças à ele houve um crescimento ímpar da atividade econômica, porque se passou a vender de tudo em parcelamento que já estiveram em mais de oitenta meses no cartão de crédito. Só que embutido nisto está uma escorchante taxa de juros de 237,9% ao ano. Só para comparação, na Venezuela o rotativo custa 29% ao ano e na Argentina, 50%. Pense o que acontecerá no mercado se houver uma crise, o tamanho do buraco que irá surgir e a quebradeira que irá se espalhar.
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São Paulo tentou resolver seus problemas via a implantação de um plano de metas, cultura e acesso à cidadania plena. A sociedade se uniu e exigiu que os candidatos à prefeitura assinassem este compromisso. Só que o prefeito das 223 metas acordadas cumpriu apenas 60, enquanto 160 se encontram “em andamento” e a qualidade de vida piorou muito. Com o detalhe que a administração lá é do mesmo partido há mais de 20 anos. Ou seja, mesmo com uma continuidade de duas décadas, não há cidadania e nem desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental sem um planejamento sério de curto, médio e longos prazos que envolva toda a sociedade de forma ativa, apoiado por metas críveis e sustentado com transparência por uma âncora claramente definida.
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Instrumento de transformação
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Como ficou demonstrado na análise acima do cenário atual do Rio, resultante de mais de meio século de administrações calamitosas, aquela mídia hoje está vendendo “gato por lebre”, como se costuma dizer, uma imagem de otimismo exacerbada sem ter suporte de realidade e, se alguma coisa não for feita imediatamente, o pós-2016 será uma tragédia anunciada, como está acontecendo nas regiões serranas e do norte do estado, com as chuvas que todos sabíamos que iriam voltar a cair e que mesmo assim as providências não foram tomadas e as verbas investidas escorreram por água abaixo, no já tradicional mar de lama que envolve a administração pública. O Crea, inclusive, ao constatar em inspeção que nenhuma prevenção foi feita em Friburgo, recomendou à população rezar!
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A sociedade e a mídia estão precisando acordar para o fato de que no pé em que as coisas estão como foi detalhado acima, só nos unindo teremos força para exigir (como foi feito em SP) que seja implementado não um sistema de metas que, como visto, não foi suficiente e sim um master plan que traga desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, incluindo as favelas, periferia e o estado, aproveitando o momento único de revitalização da área portuária para levar desenvolvimento e qualidade de vida em todos os sentidos à população, apoiado por um planejamento transparente que demonstre a todos um futuro promissor, com uma economia revitalizada, suportado por uma âncora que utilize a nossa decantada vocação natural, que é a maior indústria do mundo, exatamente por movimentar toda a sociedade simultaneamente, proporcionando aumento da renda per capita e a união da coletividade ao mesmo propósito. Sabendo que, comprovadamente, em todos os lugares do mundo onde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação, obteve-se sucesso total e que o retorno do capital investido se deu no curto prazo, existe outra opção melhor para o Rio?
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José Paulo Grasso é engenheiro e coordenador do Acorda Rio] - In:
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terça-feira, 19 de julho de 2011

Roubo contra crianças e doentes


Educação e Saúde respondem por até 70% dos desvios de verba pública, aponta AGU

Irregularidades em reformas de escolas e hospitais, verba de merenda, construção de quadra esportiva, compra de medicamentos, procedimentos do SUS, entre outros, estão entre os principais ralos dos desfalques dados no Erário. O levantamento é do Departamento de Patrimônio e Probidade da Advocacia Geral da União (AGU). O foco da corrupção está nos repasses de valores geralmente inferiores a R$100 mil, mais difíceis de serem identificados e, portanto, menos detectados pela fiscalização. No caso da Saúde, estão incluídas também obras de saneamento. Para o diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade da AGU, André Luiz de Almeida Mendonça, as obras menores dão mais trabalho para fiscalizar e evitar o dano:

- Quando você trata de uma grande obra, naturalmente várias pessoas estão em torno dela. Quando você pulveriza o dinheiro público, dificulta a fiscalização e a percepção de que tem que fiscalizar. Nas pequenas obras e nos pequenos repasses é que encontramos o maior fluxo de casos de desvios.

Um fator que contribui para os desvios nos ministérios da Saúde e da Educação é o tamanho do orçamento das duas pastas. Os dois têm mais recursos que qualquer outro ministério (com exceção da Previdência, que incorpora os gastos com custeio no pagamento aos aposentados). No Orçamento de 2011, são R$77,15 bilhões para a Saúde e R$63,71 bilhões para a Educação.

"O SUS virou balcão de negócios"

Para Francisco Batista Jr., ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde, o grande problema é o SUS: - O SUS hoje virou um grande balcão de negócios com o setor privado do país. Está sem controle.

Na Educação, Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz que é comum o uso de recursos da área para pagar folha de outros setores. Além disso, segundo ele, é comum a contratação de empresas privadas para fornecer serviços que já são prestados pelo poder público.

- Outro problema corrente, bastante grave, é a contratação de serviços de empresas privadas que não deveriam ser contratados. Isso porque as necessidades já são supridas por programas nacionais, caso dos livros didáticos - diz Cara.

André Mendonça diz não ser possível apontar exatamente onde, nos serviços de Saúde, ocorrem mais desvios. Isso porque o volume de recursos para o sistema é muito alto e com várias divisões. Há casos, diz ele, em que médicos atendem pelo SUS e, ainda assim, cobram por fora do paciente, embolsando duas vezes. Mendonça diz ainda que a fiscalização na Educação é mais falha que na Saúde. Em março, O GLOBO revelou que só 5% do dinheiro repassado pelas chamadas transferências fundo a fundo - diretamente aos cofres de estados e prefeituras - caem na rede do controle, pelo programa de sorteio de municípios da Controladoria Geral da União (CGU).

Apenas as tomadas de contas concluídas entre 2007 e 2010 somavam desvios apurados de R$662,2 milhões nas duas áreas. Faltam mecanismos para verificar como o dinheiro federal foi gasto em estados e municípios. O Ministério da Saúde não consegue checar a veracidade dos relatórios dessa prestação de contas. Outro problema é a falta de autonomia dos conselhos municipais de Saúde e Educação para fiscalizar as prefeituras. Relatório da CGU apontou que metade dos conselhos está desestruturada ou não funciona adequadamente.

Há menos de um mês, a presidente Dilma Rousseff fez um decreto para tentar frear as irregularidades na Saúde e na Educação. O principal mecanismo é a restrição dos saques em dinheiro na boca do caixa, com a garantia de que o dinheiro sairá das contas dos fundos municipais e estaduais de Saúde e Educação diretamente para a conta do prestador do serviço ou do fornecedor. Essas medidas foram tomadas após recomendações de CGU, TCU e Ministério Público.

COLABORARAM: Joelma Pereira e Roberto Maltchik

Fonte: O Globo (RJ)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

NOTÍCIAS...

Ano letivo não começa para 1.600 alunos

por DOUGLAS COUTO, Jornal O TEMPO em 02 fev. 2011

Para fiscais da vigilância, não há condição sanitária para que escola receba alunos hoje

O ano letivo começa hoje com 1.600 alunos sem aula em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte. Por causa das condições precárias, a Vigilância Sanitária da cidade interditou ontem a Escola Estadual Manoela Martins de Melo. Os pais apoiam a medida, mas temem prejuízos no calendário letivo dos filhos. Os fiscais reencontraram focos do mosquito da dengue em vários pontos da insituição de ensino. O telhado de um dos prédios se transformou num verdadeiro pombal, com penas e fezes.

Também foram achadas gambiarras na rede elétrica, que podem colocar em risco a vida dos estudantes. Há vazamentos nas salas de aulas e vidros de janelas quebradas. O local havia sido vistoriado no mês passado. Para a chefe da Vigilância Sanitária, Gisele Cristina Alves, a escola não tem condições de receber alunos. "Além dos focos de dengue e do pombal, as salas estão mofadas. Não há a menor condição higiênico-sanitária para funcionar. Enquanto todos os problemas não forem sanados, a instituição de ensino fica interditada", enfatizou.

Os problemas que levaram à interdição da escola foram denunciados há duas semanas por O TEMPO. Na época, a superintendente metropolitana da Secretaria de Estado da Educação, Maria Lúcia Martins, acompanhou a vistoria e garantiu recursos para a reforma. O valor de R$ 59,8 mil está empenhado há mais de três meses. Ontem, a diretora da escola, Alexandra Cristina Palmeiras, culpou a empreiteira pelo atraso na execução do serviço. "Sempre há uma desculpa de que está faltando algum material ou documento", reclamou a diretora.

A dona de casa Vera Lúcia de Oliveira, 39, mora no bairro Menezes, próximo à instituição de ensino, onde seus dois filhos, de 7 e 15 anos, estudam. Embora apoie a medida da Vigilância Sanitária, ela está preocupada. "Essa interdição vai pegar muitos pais de surpresa, mas era necessária. Nossos filhos não podem estudar em uma área como essa. A gente quer que as crianças frequentem um local decente. Da forma que está elas correm riscos", reclamou. Com a interdição, não há prazo para início das aulas. A expectativa da direção da escola é que o ano letivo seja iniciado na segunda-feira.Algumas intervenções - como a pintura da parte externa da escola e a limpeza das salas de aulas - começaram a ser executadas ontem.

Promessa

Moradores da Vila Itaú pedem transporte escolar

O início do ano letivo está sendo de indecisão para os pais dos alunos da Escola Municipal Cecília Meireles, na Vila Itaú, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Os pais reclamam falta de transporte para os alunos que tiveram que ser remanejados para outras escolas da região. A vila em que a escola fica será desabitada por causa de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e por isso os alunos foram transferidos. Segundo relatos dos pais, as escolas para as quais os alunos foram transferidos são longe da Vila Itaú e a prefeitura ainda não havia informado se vai fornecer transporte.

O secretário municipal de Educação, Lindomar Diamantino, disse que a prefeitura disponibilizará um ônibus para levar os 92 estudantes até a Escola Municipal Lígia Magalhães. Os alunos devem pegar o ônibus em frente à antiga escola.

(Natália Oliveira/Especial para O TEMPO)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

NOTÍCIAS...

Transtorno mental afasta 10% dos docentes, diz estudo

As demais causas de afastamento são doenças osteomusculares, como lesão por esforço repetitivo, e do aparelho respiratório

Agencia Estado - 12 jul. 2010 – Jornal da tarde

Transtornos mentais e comportamentais foram as principais causas de afastamento por doença dos professores da rede municipal de São Paulo no ano passado. Foram 4,9 mil afastamentos para uma categoria com 55 mil profissionais, o que equivale a quase 10% dos trabalhadores. Os dados são de um levantamento que está sendo feito pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS) da Secretaria Municipal de Gestão e Desburocratização.

O estudo aponta o crescimento de problemas psiquiátricos entre os professores. Em 1999, esses transtornos eram responsáveis por cerca de 16% dos afastamentos. Dez anos depois, a porcentagem subiu para 30% - de um universo aproximado de 16 mil afastados. Outra estimativa, a do Fórum dos Profissionais de Educação Municipal em Readaptação Funcional, aponta que os transtornos psiquiátricos ficam também em torno de 30% do motivo das readaptações. Os professores readaptados são aqueles que não conseguem voltar para as salas de aula e se dedicam a outras atividades na escola. Eles são em torno de 7 mil. As demais causas de afastamento são doenças osteomusculares, como lesão por esforço repetitivo, e do aparelho respiratório.

As secretarias municipais de Educação e Gestão informaram, em nota conjunta, que "é fato que transtornos de origem mental e comportamental vêm aumentando entre os trabalhadores. A tendência na rede municipal de ensino, de acordo com o DSS, acompanha as características gerais de afastamento de todos os servidores municipais, sendo um fenômeno mundial que também ocorre entre os trabalhadores do setor privado".

Sobre as ações que a secretaria de Educação faz para melhorar as condições de trabalho, a nota afirma que os salários foram reajustados em 40,9% e haverá mais 33,79% nos próximos três anos. "As condições físicas das escolas melhoraram nos últimos anos. Além disso, vem crescendo o suporte pedagógico dado ao professor". As informações são do Jornal da Tarde.

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/