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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Educadores apontam riscos da reforma paulista

Por Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
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Resgatar boas ideias e introduzir novidades. Essa foi uma das formas com que o prefeito Fernando Haddad (PT) resumiu o programa de reforma da educação municipal, anunciado este mês. Entretanto, mais do que resgatar e inovar, o plano terá de ser capaz de fazer funcionar medidas conhecidas e até existentes na rede, mas que encontraram dificuldades para se tornarem efetivas para a melhoria do aprendizado.
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A linha geral do programa é aumentar a exigência para os alunos do ensino fundamental, acompanhando desempenho, oferecendo recuperação e, caso não haja jeito, reprovando quem não progrediu. A reforma aumenta de dois para cinco anos as chances de retenção - medida criticada pela maioria dos especialistas, que receiam aumento nos índices de reprovação, que só puniria quem tem mais dificuldades e que pode refletir em abandono da escola. Nas estratégias para o acompanhamento surgem as boas ideias a resgatar, citadas por Haddad. Provas e boletins bimestrais e lição de casa obrigatória. Atualmente, a aplicação de provas e lição de casa ficam a critério de cada professor.
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Para a pesquisadora em Educação Paula Louzano, doutora pela Universidade de Harvard, a maioria das ações propostas tem grande risco de não se consolidar porque não deve resolver o problema de aprendizado. "Pesquisas internacionais mostram que, geralmente, as melhores medidas para a educação são as mais complexas. Porque a educação é complexa. Ter prova bimestral, por exemplo, depende do tipo de avaliação, do que se faz com ela", diz.
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Paula afirma ainda duvidar da forma como a Secretaria de Educação vai acompanhar as iniciativas e completa: "A sensação ao se lançar uma reforma é a de que nada estava acontecendo antes na rede, o que não é verdade". A recuperação também será um desafio no novo plano. A implementação de reforço no contraturno na rede já esbarrou em problemas de estrutura e de falta de educadores.
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Professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, Maria José Nóbrega participou como consultora de um dos programas de reforço em leitura da rede nos últimos três anos. "Além da falta de professores, as escolas não tinham como acomodar os alunos, não havia sala nem transporte. A gente não conseguia fidelizar os alunos. A família não deixava ficar porque não tinha como voltar para casa", diz ela, que atua como assessora em programas de formação do Ministério da Educação.
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Ciclos. Maria José elogia a organização da proposta, mas aponta algumas lacunas. O ponto principal é na divisão dos ciclos - antes separados em dois, passaram a ser divididos em três: Alfabetização (1.º ao 3.º ano), Interdisciplinar (4.º ao 6.º ano) e Autoral (7.º ao 9.º ano).
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"O único que a gente consegue ver o que será é o de alfabetização, porque os outros dois ciclos são uma caixa-preta", diz. Ela aponta também o risco de abandono de currículos. "A educação tem de apostar a longo prazo. Ao desmontar uma proposta e colocar outra, isso passa para o professor que ele não precisa se aplicar com aquilo, porque logo vai mudar de novo."
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O professor de Artes Fabiano Chrisostomo, de 29 anos, afirma ver o projeto de reforma do ensino municipal com otimismo. "A possibilidade de retenção em mais anos vai aumentar o comprometimento do aluno e do professor com o aprendizado. Ajuda a entender melhor o papel da escola", diz ele, que leciona em uma escola de São Mateus, zona leste de São Paulo.
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A pesquisadora Vanda Ribeiro, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), ressalta que o processo de implementação é essencial. "Depende muito do arranjo dos processos de ensino, aprendizado, relação com currículo e planejamento. O tiro no pé será se a secretaria não tiver estratégia bem delineada de como vai evitar o aumento da reprovação", diz. "Será necessário mexer no jeito de fazer e vai depender muito do diálogo com a rede."
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Segundo o secretário de Educação, Cesar Callegari, o trabalho para ouvir as propostas dos educadores está se intensificando. "Estamos olhando todas as contribuições, alertas e vários pontos serão retocados. Mas a secretaria tem convicção forte no que anunciamos", diz.
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Fonte: O Estado de Sâo Paulo (SP)

sábado, 29 de junho de 2013

"A classe média descobriu a brutalidade policial, que os pobres e negros nunca ignoraram"

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Luiz Eduardo Soares*
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A sociedade brasileira tomou as ruas e sequestrou para si o título que lhe custara bilhões de reais e, por decisões autocráticas, a excluíra: o grande evento. Centenas de milhares de pessoas deslocaram o campo de futebol para o meio da rua e vestiram a camisa do país, assumindo inaudito protagonismo histórico. Resta ao intérprete calçar as sandálias da humildade e admitir sua ignorância e perplexidade ante o fenômeno radicalmente novo. O interesse público fora confiscado pela tecnocracia, aliada a empreiteiras e subserviente à tutela arrogante (e voraz) da Fifa. Os chamados “grandes eventos” serviram de justificativa para lucros extraordinários e para a festa da especulação imobiliária, sob a retórica do legado social, enquanto a mobilidade urbana tornava-se, crescentemente, uma contradição em termos. A massa rompeu expectativas e a tradição de apatia, inventando um movimento que será, por suas lições e efeitos, o verdadeiro legado às gerações futuras. A narrativa passou a ser escrita, nas ruas e nas redes virtuais, por milhões de mãos e vozes, desejos e protestos, inscrevendo seus autores na cena global, em diálogo com outras praças, outras multidões, outras lutas. A sociedade virou o jogo.
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Aplicar velhos esquemas cognitivos serve apenas para exorcizar o novo, domesticar a diferença e mascarar a insegurança intelectual, confirmando velhas crenças e categorias. O momento exige humildade do intérprete e o reconhecimento de que também as categorias tradicionais com que opera estão em xeque, desestabilizadas pela potência disruptiva e criadora do movimento social. Além disso, é necessário reconhecer que a disputa central agora é pelos significados do que está acontecendo, porque do consenso que se construir sobre o sentido dependerá o desdobramento do processo político. Projetando-se os modelos cognitivos convencionais sobre o que é radicalmente diferente, só se vê o que o movimento não é: “não organizado, sem liderança ou centro, desprovido de ideologia e de objetivos, irracional etc.” Entretanto, ele existe. Como descrever sua positividade? Comecemos por ecoar sua polifonia.
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A terra treme porque o país avançou, e as desigualdades, embora ainda imensas, reduziram-se significativamente. As manifestações não são sintoma de declínio, mas afirmação de força e fé no futuro, ainda que pelo avesso, isto é, sob a forma de protesto indignado contra o que, contrastando com os avanços – e mesmo tendo sido por décadas naturalizado – agora tornou-se inaceitável. O pensador francês do século 19 Tocqueville nos ensinou que a miséria e a vulnerabilidade social só conduzem à reiteração da impotência. Rebelam-se os que têm a perder, conquistaram avanços, sentem-se potentes e sob ameaça. A sociedade brasileira aprendeu a valorizar a cidadania e despertou da inércia.
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Os atores reunidos nas ruas, na maioria jovens, são os mais diversos, têm diferentes origens sociais, falam todas as línguas ideológicas e vocalizam as mais variadas denúncias e reivindicações. Seria artificial e contrário ao espírito das manifestações submeter o coro de contrários a uma univocidade ortopédica. Entretanto, uma certeza é consensual: a representação política ruiu. Não é de hoje, mas somente agora o escárnio das esquinas, a repulsa ao mundo político que se limitava às conversas cotidianas ganhou corpo e visibilidade, tanto quanto ganharam visibilidade e reconhecimento milhões de cidadãos antes unidos pelo ressentimento, sentindo-se diariamente desrespeitados pelas autoridades, pelas instituições, pelo transporte público, pelas condições da saúde e da educação. O colapso da representação vinha sendo coberto pela competência do executivo federal, por políticas públicas exitosas, pelo carisma de Lula. Na atual conjuntura, o executivo não é mais escudo protetor para a ilegitimidade do Parlamento, em razão de inúmeros tropeços: repique inflacionário, retrocesso na proteção ao meio ambiente, passividade ante assassinato de indígenas, alianças com impostores venais que tornaram “governabilidade” sinônimo de vale tudo, passividade ante chantagens obscurantistas e regressivas de religiosos fundamentalistas, e tantas hesitações e contradições de um governo claudicante, que recorre ao BNDES para selecionar vencedores, não tem capacidade de investimento, convive com uma infraestrutura sucateada, é insensível ao desafio da competitividade industrial e mantém-se fiel a um modelo econômico insustentável, voltado para o consumo e a proliferação epidêmica de automóveis. Observe-se que nesta lista de problemas há munição ampla o suficiente para atingir a todos, à direita e à esquerda. O colapso da representação política significa o divórcio entre o Estado e a sociedade.
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Um fator determinante foi a cooptação do PT e de um grande número de sindicatos e movimentos sociais por parte do governo federal. A história é pródiga em exemplos de desastres provocados pela superposição entre Estado, governo e partido. Resultado: o PT perdeu a rua, e a UNE, devorada pelo aparelhismo do PCdoB, foi a grande ausente. Erro dramático do PT e do governo federal: no começo, um mar de rosas, ruas vazias, aplausos das categorias, paz para governar. Agora, o vazio, a impotência, a impossibilidade para liderar, dirigir e até mesmo disputar. E o país diante da necessidade de reinventar a política.
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E a violência nas ruas?
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Imaginemos a seguinte descrição do despertar da sociedade brasileira:
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O paciente coletivo respirava por instrumentos na UTI. Graças às melhorias socioeconômicas das últimas duas décadas, recuperou a consciência e os movimentos do corpo, ergueu-se, descobriu que sua casa fora ocupada por políticos venais interessados na reprodução de seus mandatos, cúmplices de empreiteiras e do capital financeiro vinculado à especulação imobiliária, vândalos oficiais a serviço do modelo automotivo de desenvolvimento insustentável, arruaceiros do interesse público, baderneiros bem-comportados de paletó e gravata, desordeiros de colarinho branco. Furioso, o paciente, agora impaciente, espana os parasitas com o vigor redescoberto.
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Creio que esse relato traduza o sentimento que flui nas manifestações. O que parecia ser ordem, antes da onda de protestos, correspondia a transgressões continuadas à Constituição e aos princípios mais elementares da moralidade pública.
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Consultemos, agora, imaginariamente, os sentimentos e as percepções difusas dos jovens mais pobres que têm convivido, diariamente, com a brutalidade policial. Tomo como exemplo acontecimentos desta semana, no complexo de favelas cariocas da Maré: policiais do Bope invadiram residências (derrubando portas e sem mandado judicial), quebraram utensílios domésticos, humilharam, agrediram e ameaçaram moradores dentro de suas casas. Na operação, morreram 10 pessoas: um policial, sete considerados suspeitos de participação no tráfico de drogas e dois oficialmente tidos por inocentes. Contemplemos por um instante outros fatos recorrentes no Rio e em vários outros Estados: chacinas são perpetradas por policiais, milicianos tiranizam comunidades, armas e drogas são apreendidas a ferro e fogo, em incursões bélicas que ferem e matam inocentes, mas são devolvidas em seguida, mediante negociações com traficantes locais ou facções rivais, à luz do dia, diante da comunidade. As autoridades prometem investigar com rigor – e não alteram os protocolos da ação policial. O Ministério Público é responsável pelo controle externo da atividade policial, mas tem sido omisso, com plena anuência da Justiça – ressalvadas as honrosas exceções, entre elas a saudosa juíza Patrícia Acioli, assassinada com 21 tiros por policiais. Quantos profissionais das polícias, envolvidos em chacinas, no rastro dos ataques do PCC em São Paulo, em 2006, foram punidos? Quantos foram investigados e punidos no Rio, onde 9.231 mortes foram provocadas por ações policiais entre 2003 e 2012? Esses dados deveriam levar-nos a compreender a fonte da indignação furiosa de quem depreda – deixo de lado, evidentemente, os criminosos que se aproveitam da situação. Não se trata de justificar a violência, mas de entender suas raízes e, sobretudo, de explicar por que a massa considera hipócrita o foco da mídia na ação dos assim chamados “vândalos”. Antes das manifestações, não havia ordem e normalidade, mas vandalismo continuado, praticado por aparelhos do Estado contra muitos, nas periferias, Brasil afora. Falta equidade no tratamento por parte do Estado e da mídia. A ordem tida como natural antes da eclosão das manifestações não era menos destrutiva do que a desordem promovida por alguns manifestantes. Esse é o ponto – o qual, insisto, não justifica a violência, mas a torna inteligível.
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A violência cometida nas ruas por grupos sempre atuantes, embora francamente minoritários, têm sido o maior obstáculo ao sucesso do movimento. Quem pratica saques e quebra-quebras põe-se como inimigo da massa que se manifesta nas ruas e contribui para a estigmatização do movimento e seu esvaziamento. Essa prática coloca para qualquer polícia, mesmo a melhor do mundo e a mais democrática, um desafio trágico, um problema insolúvel. Uma polícia para a democracia tem o dever de garantir direitos. É este seu mandato constitucional. Há os direitos dos cidadãos à livre manifestação e também aqueles que estão sendo violados por quem age com violência destrutiva. Está em jogo o interesse público seja na plena liberdade do movimento, seja na proteção ao patrimônio público. Quando manifestantes depredam, criam um dilema incontornável para o poder público e a polícia – e por isso o fazem: projetam seu ódio e buscam um cadáver, geram as condições para o surgimento do mártir, diante do qual as manifestações seriam empurradas para o abismo das retaliações recíprocas intermináveis. O que deve fazer uma polícia comprometida com a legalidade constitucional? Reduzir danos, atuar no limite superior da tolerância e inferior do uso da força, buscar o diálogo, apostar na compreensão da imensa maioria sobre os impasses. O que uma polícia que serve à cidadania, cumprindo o mandato constitucional democrático, não deve fazer? Aquilo que tem sido a rotina no Rio e tem ocorrido em outras cidades e Estados: investir na vingança, provocar manifestantes, prender discricionariamente, agredir indivíduos desarmados e isolados, acuar grupos em vez de suscitar condições para que dispersem, atacar arbitrariamente, ostentar o sorriso de escárnio como bandeira de seu ressentimento, reafirmando pela prepotência a profundidade de sua própria insegurança e de seu descompromisso com a legalidade. Tampouco deve usar armas menos letais como se fossem não letais. Pior: como se fossem brinquedos inofensivos de uso ilimitado. De sua parte, cabe ao movimento, mesmo mantendo-se descentralizado e apartidário, organizar-se minimamente para inibir as práticas que, de fato, tentam desqualificá-lo, politicamente.
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Duas questões me parecem decisivas:
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(1) A classe média descobriu a brutalidade policial, que os pobres e negros nunca ignoraram. Polícia tornou-se um dos temas chave, nas ruas. Por que a presidente omitiu o debate em torno da mudança do modelo policial, que envolve a desmilitarização, e que vem sendo adiada desde a transição democrática? É urgente estender a transição à segurança pública. O silêncio oficial tem sido cúmplice de milhares de execuções extrajudiciais, de torturas, violações cotidianas, inclusive contra os próprios policiais. Até quando reinará a negligência? Nada mais desconectado das ruas e da realidade do que a proposta patética das oposições: “mais verbas para a segurança pública”. Como alimentar essa máquina de morte, essa fonte de violações? Nenhum centavo deveria ser concedido antes que se refundassem as polícias.
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(2) A proposta presidencial sobre reforma política sem dúvida dialoga com o eixo dos protestos, isto é, focaliza o colapso da representação. Entretanto, só fará sentido se mostrar-se capaz de quebrar os mecanismos em curso. Isso não guarda relação clara para a maioria dos manifestantes com sistema eleitoral – distrital, simples ou misto, ou proporcional –, voto em lista, financiamento de campanha etc. O que poderia conversar com as ruas seria uma proposição radical, que sepultasse a representação política como carreira e negócio. Eis um exemplo: para o parlamento, eleições a cada dois anos com apenas uma reeleição, candidaturas avulsas da sociedade seriam possíveis, salários dos deputados seriam iguais aos dos professores, cada um teria três assessores, nada de carro oficial, verba de gabinete ou aposentadoria por oito anos de trabalho, dinheiro para campanha apenas aquele doado por cidadãos (tendo 500 reais como teto – sobre os recursos deveria haver plena transparência com informação em tempo real via internet), nada de tempo na TV, que virou moeda (utilize a internet quem quiser e puder mobilizar sua rede). Eleitos seriam os mais votados, sem os coeficientes partidários e as coligações. Para o Senado, não haveria suplente, os mandatos seriam de quatro anos sem reeleição e as condições seriam as mesmas dos deputados. Para o executivo, apenas um mandato de cinco anos e regras específicas. Enfim, uma transformação realmente profunda poderia sensibilizar a maioria da sociedade e reconectá-la à representação.
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*Antropólogo, cientista político, escritor, professor da UERJ
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Fonte:http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/06/a-classe-media-descobriu-a-brutalidade-policial-que-os-pobres-e-negros-nunca-ignoraram-4185349.html

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Câmara aprova 75% dos royalties para Educação e 25% para Saúde

Contrariando a intenção manifestada pela presidente Dilma Rousseff de destinar 100% dos recursos dos royalties do petróleo para a Educação, a Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada de hoje, proposta que obriga a destinação de 75% destas receitas à Educação e os outros 25% para a Saúde. Além disso, o projeto aprovado criou um gatilho que vincula a aplicação de 50% dos recursos do Fundo Social (criado com as novas regras de exploração do pré-sal) ao cumprimento da meta de investir 10% do PIB em Educação, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O projeto agora terá de ser aprovado pelo Senado.
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A proposta original da presidente Dilma destinava à Educação apenas os "rendimentos" de 50% do Fundo Social. Com a mudança do texto na Câmara, os valores vão subir consideravelmente. O autor do novo texto é o líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE). Ele disse acreditar que as mudanças trarão mais cerca de R$ 280 bilhões para as áreas de Educação e Saúde. A proposta original do governo previa mais R$ 25,8 bilhões em dez anos.
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Apesar de o projeto ter sido aprovado em votação simbólica, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), avisou que o governo não tem compromisso com as mudanças no texto, sinalizando que Dilma poderá vetar alguns trechos.
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- O governo não tem nenhum compromisso. Queremos 100% para a Educação - disse Chinaglia.
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Os novos percentuais de destinação dos royalties foram negociados entre os partidos governistas e a oposição.
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No caso do Fundo Social, a proposta prevê que serão destinados à Educação 50% dos recursos do fundo, que foi criado com as regras de exploração do pré-sal. Esta é uma mudança substancial no texto da presidente Dilma, que previa a destinação apenas dos rendimentos do Fundo Social, ou seja, um valor bem menor.
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Pelo novo texto, os 50% dos recursos do Fundo Social serão destinados à Educação até o cumprimento da meta de investimentos de 7% do PIB em Educação, em cinco anos, e de 10% do PIB, em dez anos. Estas metas estão no Plano Nacional da Educação, que foi aprovado na Câmara e que está tramitando no Senado. O governo é contra essas metas.
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Outra mudança aprovada na Câmara foi no tipo de contrato. No primeiro artigo, o projeto prevê que serão destinadas a Educação e Saúde as receitas provenientes dos royalties relativas a áreas cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012, relativas a contratos celebrados sob os regimes de concessão e de partilha de produção.
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O projeto sobre a destinação dos recursos dos royalties foi enviado ao Congresso pela presidente Dilma Rousseff com urgência constitucional, e anunciado com pompa pelo governo.
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Os parlamentares sustentaram que a Saúde também precisa se recursos e não apenas a área da Educação. Nos bastidores, os líderes governistas concordaram com a nova divisão dos percentuais, já que havia o risco de o projeto do governo ser derrotado, e de ser aprovado um substitutivo que daria mais problemas ao governo.
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A proposta de investimentos também em Saúde foi apresentada formalmente pelo líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), mas teve o apoio de líderes da base aliada, como o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ). A bancada da Saúde tem até mais peso na Câmara que a da Educação.
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Assessores do Ministério da Educação criticaram o acordo feito em torno do novo texto. A avaliação é de que o item que mais preocupa é justamente a mudança na destinação do Fundo Social, ao fazer a vinculação com as metas do PNE. O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), chegou a negociar o cancelamento da votação, com a retirada da urgência constitucional, para votar primeiro projeto sobre critérios de repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Mas o próprio PT fez um acordo em torno do novo texto, derrubando a estratégia de Alves.
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Fonte: O Globo (RJ) 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

MEC planeja mudanças no currículo do ensino médio

Brasília. O governo federal pretende mudar a grade curricular do ensino médio público e diminuir o número de disciplinas na grade das escolas. O plano de mudança foi desenhado pelo Ministério da Educação após a divulgação dos resultados do Índice Básico de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede o desempenho da educação básica nacional.
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Segundo os dados referentes ao ano passado divulgados anteontem, o ensino médio estagnou no país. A nota, que vai de zero a dez, considera o desempenho em português e matemática e também a taxa de aprovação dos estudantes (quantos passaram de ano). Divulgado a cada dois anos, o índice estagnou em 3,4 no ensino médio público, o mesmo indicador de 2009, dentro da meta de 2011, mas muito abaixo dos dez pontos, a nota máxima.
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Na rede privada, por exemplo, a nota média nessa etapa de ensino foi de 5,7. A meta estipulada é de 5,8.
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O Ideb mostra também que o desempenho de estudantes do ensino médio público em português e matemática foi inferior ao atingido por alunos do último ano do fundamental particular. Em matemática, a nota foi 265 pontos na rede pública contra 298 na particular, por exemplo. Durante a divulgação do Ideb, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reclamou que é grande o número de matérias obrigatórias no ensino médio - atualmente são 13.
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"É uma sobrecarga muito grande. Não contribui para formar melhor o aluno", afirmou. A proposta de redução do currículo nessa etapa do ensino público será apreciada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
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"O ensino médio atingiu a meta, mas não superou. Esse é o grande desafio do sistema educacional brasileiro. É um problema que temos de enfrentar com prioridade", afirmou o ministro.
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Docentes. Para Mercadante, além dos currículos, as redes responsáveis pela oferta do ensino médio precisam avaliar as dificuldades do ensino noturno (que possui muitos alunos dessa fase, segundo ele) e a falta de investimento na formação continuada dos professores. "Ainda temos muitos docentes que não têm formação das disciplinas que lecionam. Temos de investir na educação integral e no Pronatec (programa que dá cursos técnicos a jovens)", ponderou.
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Análise - Ideb revela crise do modelo atual
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Brasília. O desempenho das escolas de ensino médio no Ideb foi classificado pelo movimento Todos pela Educação como "uma verdadeira crise do modelo de ensino atual". "Temos uma crise por duas razões: primeiro, porque essa etapa acaba recebendo o acúmulo das deficiências das etapas anteriores, ou seja, o aluno chega com muitas lacunas de aprendizagem. Em segundo lugar, ocorre um problema de estrutura. Temos um ensino médio com 13 disciplinas obrigatórias, não se consegue aprofundar em tema nenhum, a fragmentação é enorme", afirmou a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
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Segundo ela, somam-se a esses fatores o desinteresse de boa parte dos estudantes nessa etapa e a falta de professores para todas as disciplinas. "Sabemos das dificuldades, mas termos um retrocesso em nove Estados é simplesmente inadmissível", disse. Fonte: O Tempo (MG)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

No tempo da minha infância

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No tempo da minha infância

Ismael Gaião

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No tempo da minha infância
Nossa vida era normal
Nunca me foi proibido
Comer açúcar ou sal
Hoje tudo é diferente
Sempre alguém ensina a gente
Que comer tudo faz mal
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Bebi leite ao natural
Da minha vaca Quitéria
E nunca fiquei de cama
Com uma doença séria
As crianças de hoje em dia
Não bebem como eu bebia
Pra não pegar bactéria
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A barriga da miséria
Tirei com tranquilidade
Do pão com manteiga e queijo
Hoje só resta a saudade
A vida ficou sem graça
Não se pode comer massa
Por causa da obesidade
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Eu comi ovo à vontade
Sem ter contra indicação
Pois o tal colesterol
Pra mim nunca foi vilão
Hoje a vida é uma loucura
Dizem que qualquer gordura
Nos mata do coração
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Com a modernização
Quase tudo é proibido
Pois sempre tem uma Lei
Que nos deixa reprimido
Fazendo tudo que eu fiz
Hoje me sinto feliz
Só por ter sobrevivido
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Eu nunca fui impedido
De poder me divertir
E nas casas dos amigos
Eu entrava sem pedir
Não se temia a galera
E naquele tempo era
Proibido proibir
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Vi o meu pai dirigir
Numa total confiança
Sem apoio, sem air-bag
Sem cinto de segurança
E eu no banco de trás
Solto, igualzinho aos demais
Fazia a maior festança
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No meu tempo de criança
Por ter sido reprovado
Ninguém ia ao psicólogo
Nem se ficava frustrado
Quando isso acontecia
A gente só repetia
Até que fosse aprovado
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Não tinha superdotado
Nem a tal dislexia
E a hiperatividade
É coisa que não se via
Falta de concentração
Se curava com carão
E disso ninguém morria
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Nesse tempo se bebia
Água vinda da torneira
De uma fonte natural
Ou até de uma mangueira
E essa água engarrafada
Que diz-se esterilizada
Nunca entrou na nossa feira
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Para a gente era besteira
Ter perna ou braço engessado
Ter alguns dentes partidos
Ou um joelho arranhado
Papai guardava veneno
Em um armário pequeno
Sem chave e sem cadeado
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Nunca fui envenenado
Com as tintas dos brinquedos
Remédios e detergentes
Se guardavam, sem segredos
E descalço, na areia
Eu joguei bola de meia
Rasgando as pontas dos dedos
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Aboli todos os medos
Apostando umas carreiras
Em carros de rolimã
Sem usar cotoveleiras
Pra correr de bicicleta.
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Nunca usei, feito um atleta,
Capacete e joelheiras
Entre outras brincadeiras
Brinquei de Carrinho de Mão
Estátua, Jogo da Velha
Bola de Gude e Pião
De mocinhos e Cowboys
E até de super-heróis
Que vi na televisão
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Eu cantei Cai, Cai Balão,
Palma é palma, Pé é pé
Gata Pintada, Esta Rua
Pai Francisco e De Marré
Também cantei Tororó
Brinquei de Escravos de Jó
E o Sapo não lava o pé
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Com anzol e jereré
Muitas vezes fui pescar
E só saía do rio
Pra ir pra casa jantar
Peixe nenhum eu pagava
Mas os banhos que eu tomava
Dão prazer em recordar
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Tomava banho de mar
Na estação do verão
Quando papai nos levava
Em cima de um caminhão
Não voltava bronzeado
Mas com o corpo queimado
Parecendo um camarão
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Sem ter tanta evolução
O Playstation não havia
E nenhum jogo de vídeo
Naquele tempo existia
Não tinha vídeo cassete
Muito menos internet
Como se tem hoje em dia
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O meu cachorro comia
O resto do nosso almoço
Não existia ração
Nem brinquedo feito osso
E para as pulgas matar
Nunca vi ninguém botar
Um colar no seu pescoço
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E ele achava um colosso
Tomar banho de mangueira
Ou numa água bem fria
Debaixo duma torneira
E a gente fazia farra
Usando sabão em barra
Pra tirar sua sujeira
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Fui feliz a vida inteira
Sem usar um celular
De manhã ia pra aula
Mas voltava pra almoçar
Mamãe não se preocupava
Pois sabia que eu chegava
Sem precisar avisar
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Comecei a trabalhar
Com oito anos de idade
Pois o meu pai me mostrava
Que pra ter dignidade
O trabalho era importante
Pra não me ver adiante
Ir pra marginalidade
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Mas hoje a sociedade
Essa visão não alcança
E proíbe qualquer pai
Dar trabalho a uma criança
Prefere ver nossos filhos
Vivendo fora dos trilhos
Num mundo sem esperança
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A vida era bem mais mansa,
Com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes
De tudo que a gente fez,
Por isso tenho saudade
E hoje sinto vontade
De ser criança outra vez
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Enviada pela professora Célia Corrêia por email

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Conceito de Educação deve mudar

''Não é possível pensar em sociedade sustentável com uma Educação para os nossos filhos e outra para os filhos dos outros'', diz o filósofo e educador colombiano Bernado Toro
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Fonte: Valor Econômico (SP)
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Educação, para Bernado Toro, filósofo e educador colombiano conhecido pela defesa da escola igual para todos, deve ser fator de aglutinação. "Não é possível pensar em sociedade sustentável com uma educação para os nossos filhos e outra para os filhos dos outros", diz. "Não é possível propor uma sociedade inclusiva com dois tipos de educação."

Em debate sobre a "Educação para a Sustentabilidade", durante a conferência do Ethos realizada esta semana, Toro alertou que a economia sustentável não combina com o critério de ganhar e perder.

"O ganha-ganha é hoje o maior desafio pedagógico de ensinar como lidar com o emocional, político, econômico, social, cultural e até espiritual."

Toro enfatizou também a importância da aprendizagem do cuidado em todo processo educativo - saber cuidar de si, do outro, do intelecto, do planeta e da espiritualidade. E falou ainda da cultura da hospitalidade - "sem ela os grandes países vão fazer matanças contra imigrantes". Para chegar pelo menos perto da educação sustentável a que Toro se refere são necessárias profundas transformações nos currículos escolares. Com isso concordou Antonio Carlos Ronca, representante do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Conselho Nacional de Educação (CNE). Por lei, segundo Ronca, os currículos deveriam ter educação ambiental de forma transversal em todas as disciplinas.

"Os conceitos de educação sustentável passam distante do aluno, que aprende regra de três, raiz quadrada, num currículo amarrado, com conhecimentos ministrados há séculos", disse Ronca. "Incluir novos conceitos é uma questão de sobrevivência", afirmou. Ronca advertiu ainda que a única forma de vencer o analfabetismo é a opção das escolas pela sustentabilidade.

O presidente do Grupo de Empresas e Fundações (Gife), Fernando Rossetti, foi a voz do investimento social privado em educação. Entre as 130 organizações que compõem o Gife, 20% a 25% dos investimentos são aplicados na educação - 60% das ações são concentradas nas áreas de atuação das empresas.

"O setor privado aplica no setor público para elevar os níveis de educação no país", disse Rossetti. "O Todos Pela Educação[articulado por empresas] é um movimento que nasceu no setor privado para que todos tenham acesso a educação de qualidade", citou como exemplo.

A articulação dos jovens em torno dos temas ambientais foi destacada por Rangel Mohedano, consultor em políticas públicas de juventude e meio ambiente. "O papel da educação para a sustentabilidade é trazer as questões para enfrentar as crises; é olhar para os próprios erros", disse.

Para Rangel, a geração atual é estratégica para a mudança de modelo. "É a mais vulnerável, sem acesso às ferramentas e sem conhecimento necessário para o desafio." Para que a sustentabilidade faça parte da educação é necessário pensar a escola como espaço de construção da cidadania, de construção de um país novo, na opinião de Roberto Leão, da Confederação Nacional dos Professores. "O Brasil precisa de um projeto de política de financiamento que vá além dos 5% que o governo aplica em educação", disse.

O papel da escola é fundamental para a sustentabilidade, na opinião de Leão. "Quando há respeito à diversidade, o resultado é sustentabilidade", disse. Leão advertiu ainda que um novo paradigma para a educação não pode conviver com a tolerância ao analfabetismo, nem com trabalho escravo. "Não se pode admitir que a sétima economia do mundo conviva com trabalho escravo".

Roberto Leão considera fundamental que a Rio + 20, conferência das Nações Unidas sobre economia verde que será realizada ano que vem, inclua a educação entre os temas.  Vera Masagão, diretora da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (Abong), lembrou que na Rio 92 um novo ator político surgiu em cena - justamente as ONGs.

"Surgiu uma nova forma de organizar a sociedade civil para suprir a ausência do Estado", disse ela. "Desse projeto social nasceu uma nova forma de fazer política; e um dos espaços mais apropriados para a juventude é a prática política."  Rangel, que representa a juventude e o meio ambiente, disse que a nova geração está longe de ser passiva. "Estamos fazendo uma revolução silenciosa; é só olhar para a transformação dos jovens e constatar".

Roberto Leão, do Centro do Professorado, ressaltou que a valorização dos professores está na remuneração, mas principalmente numa formação consistente e sólida. "Escola pública tem de valorizar além do português e matemática", disse. "Escola precisa mais dinheiro e gestão de qualidade", disse.

Para ele, o professor precisa conhecer a escola e a história da escola para entender o atual modelo, "até para ter condições de mudar tudo". Leão advertiu que a escola não é nem pode ser espaço para competição. "Competição não faz avançar; o que faz avançar de verdade é a solidariedade, a construção coletiva." Para Vera Masagão, além da solidariedade, a discussão deveria ficar centrada na nova economia, na nova política. "A educação deve ser focada em direitos iguais", afirmou.

Em uma das consultas realizadas junto aos participantes da conferência do Ethos, 96% consideraram que os educadores não têm o papel que deveriam na formulação de propostas para a Rio + 20. Em outra questão, se a sociedade está preparada para pagar aos professores salários condizentes ao que a sociedade exige deles, a plateia ficou dividida: 54% (sim) contra 46% (não).

Em sua fala final, Antonio Carlos Ronca, adiantou que o Conselho Nacional de Educação acaba de lançar as diretrizes para a nova educação infantil e para os ensinos fundamental e médio. "Estamos finalizando as diretrizes para o ensino profissionalizante. "Nosso desafio é lançar as diretrizes para a educação ambiental."

Rossetti, do Gife, criticou as escolas por seguirem os conceitos da revolução industrial. "A linha de montagem que surgiu nas escolas com professores específicos para cada fase emergiu de uma revolução industrial que não está preparada para uma sociedade mais justa e responsável", avaliou.

Toro resumiu o que acredita ser a transformação que todos buscam: "Ter um projeto de vida pessoal, abrir espaço para a possibilidade de dar e receber ajuda e multiplicar a informação acumulada", disse. "O resto está no Google."
Fonte: Valor Econômico - Todos pela Educação