Estudo mostra que, após repetência, aluno deixa a escola
Estudo desenvolvido por pesquisadores de três universidades mineiras comprovou que a repetência, além de afetar a autoestima e o aprendizado dos alunos reprovados, acaba resultando no abandono da escola. Dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC), de 2008, mostram que Minas Gerais tem 2,92% de abandono no Ensino Fundamental; e 10,68% na taxa de reprovação. Na pesquisa não constam índices do Ensino Médio.
Se por um lado a repetência pode ser vista como vilã, a promoção automática não está livre dos problemas. "Se o objetivo da escola é ensinar, aprender e formar cidadãos, a promoção automática equivale a tratar da febre e ignorar a doença", afirma o presidente do Instituto Alfa e Beto, o psicólogo e doutor em educação João Batista Araujo e Oliveira. Os pesquisadores Tufi Machado (UFJF), Vânia da Silva (UFMG) e Juliana Ruas (Faculdade de Itaúna), analisaram o desempenho de mais de 40 mil estudantes das escolas das redes estadual e municipal de Minas, que participaram do Programa de Avaliação do Ciclo Inicial de Alfabetização (Proalfa) entre os anos de 2008 e 2009.
O projeto mede o desempenho de alunos do 3º ano do Ensino Fundamental e avalia, anualmente, os conhecimentos de leitura e escrita dos estudantes. Entre os que apresentaram baixo desempenho em 2008, os não repetentes mostraram evolução maior do que os repetentes na prova aplicada em 2009. "Ao que tudo indica, a reprovação tem efeito mais negativo nas crianças do que positivo", ressalta Juliana. O presidente do Alfa e Beto diz que não cabe às escolas e aos professores o direito de reprovar alunos em massa impunemente. "O contrário disso, porém, não é aprovar em massa, automaticamente. É preciso ensinar e o primeiro passo é alfabetizar", diz.
Metodologias são ineficazes
Para ele, a primeira e principal causa da repetência nas séries iniciais se deve ao fato de que as crianças não vêm sendo alfabetizadas. "Isso decorre das nefastas políticas e práticas de alfabetização que continuam sendo promovidas pelo MEC, por vários governos estaduais e municipais. As 19 cartilhas aprovadas pelo MEC em 2009, por exemplo, continuam a usar metodologias de alfabetização comprovadamente ineficazes", diz. O professor Thiago Braga faz coro ao colega: "Os estudantes de hoje são completamente diferentes dos que passaram pelos bancos das escolas há 50 anos. No fim das contas, quem sai prejudicado é o aluno e o professor. O primeiro porque dificilmente aprenderá algo com a metodologia que é aplicada desde a década de 30. Já o professor acaba exaurido e totalmente desestimulado". O MEC não se pronunciou sobre a questão até o fechamento desta edição.
Quem viveu na pele a reprovação escolar conhece bem o desprazer de ter que repetir o ano. O estudante Dimitri Bassalo, hoje com 18 anos, viu, aos 15, os colegas de classe seguirem para o 2º ano do Ensino Médio, "enquanto eu fiquei para trás". Na época, as únicas matérias que Dimitri não foi reprovado foram as de Biologia e Inglês. "A nota mínima para aprovação era de 60 pontos, eu fiquei com menos de 40", recorda. O estudante conta que depois que foi reprovado decidiu estudar como nunca. "Perdi um ano da minha vida. Hoje poderia estar fazendo faculdade, mas a gente aprende com os erros, não é?" Desde então, as notas de Dimitri são sempre acima de 85 pontos. O empenho do estudante depois da reprovação foi tão grande que, hoje, ele é bolsista de um dos colégios particulares mais renomados de BH.
João Oliveira destaca que Dimitri não deixa de ser uma exceção. "Num sistema responsável de ensino, que efetivamente ensina e cuida dos alunos, a reprovação poderia ocorrer ocasionalmente, desde que por uma razão sólida e fundamentada. Mas deve ser algo raro na vida das escolas e dos alunos. Mas, num sistema em que sequer garante que as crianças sejam alfabetizadas no 1º ano do Ensino Fundamental, a reprovação não passa de uma covardia irresponsável". Mas, se a reprovação não é a melhor saída para incentivar os estudantes, a promoção automática seria uma boa saída para elevar os índices de ensino e alfabetização dos estudantes. "Porém, apenas seria. Enquanto não houver um projeto específico, os traumas e a desmotivação continuarão aumentando".
O psicólogo lembra que a escola pode mudar a trajetória de vida das populações, "mas essa é ainda uma realidade para poucos países". Qual o segredo? Segundo ele, nenhum. "Basta copiar o que fazem as boas escolas: programas de ensino claros, professores bem formados antes de entrar para o magistério, gestão escolar eficiente e uso de pedagogias adequadas". "Em vez de realizar audiências públicas, o Conselho Nacional de Educação contribuiria muito mais se estudasse e recomendasse as evidências científicas sobre o que funciona em educação. Também deveria refletir sobre o fato de que todos os países do mundo, com sistemas alfabéticos de escrita, adotam métodos de alfabetização radicalmente opostos aos do Brasil".
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/estudo-mostra-que-apos-repetencia-aluno-deixa-a-escola-1.190154
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