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quinta-feira, 24 de março de 2016

Falta Política


Lúcio Alves de Barros*

O momento político que perpassa a alma nacional é de crise. Penso que crises são interessantes e eficientes para se chegar a algum lugar. Elas têm importância quando temos ciência deste lugar e qual é o fim almejado quando lá. O problema no Brasil é que as crises são utilizadas como meios nos quais a vaidade, a medição de falo, a calúnia e a difamação são empregadas ostensivamente. Tais mecanismos de briguinha de rua e de vizinhos invejosos matam a política que, por definição, é campo de negociação, busca de consentimento, de conversa, de objetivos maiores e públicos. Estamos perdendo tempo e ele é grande. Nesse caminho levanto somente alguns pontos na tentativa de elucidar o andar correto da carruagem.

Em primeiro lugar, são inadmissíveis  ações que podem gerar violência. O ódio já está no ar e uma guerra civil verborrágica não leva grupos e ideias a nada. Pelo contrário, ela emperra o debate, cala os atores, empodera os mais fortes e joga um “estado de direito” no chão. O caminho trilhado hoje no Brasil, de calar o outro na pancada e na voz alta, sem o direito à defesa ou ao contraditório não é nem um pouco civilizado. As pessoas já perderam o equilíbrio dos nervos, estão se sentindo injustiçadas, desajustadas, traídas, amedrontadas, confusas, inseguras e sem lugar. No caso em tela existe somente uma saída: a conversa, as negociações, acordos tácitos e manifestos para que o fim seja o equilíbrio institucional e, por ressonância, o social.

Em segundo lugar, é preciso lembrar que a governabilidade é atributo da sociedade e não dos atores que estão entrincheirados no judiciário, no executivo e no legislativo. Em outros termos, cumpre à sociedade – este mundo da vida repleto de relações sociais – a busca do equilíbrio e da normalidade social. Todo processo anômico tem por natureza a falta de regras e normas consensuais. Os acontecimentos mais recentes nos mostram que estamos longe disso. Portanto, não existe outra saída e vou repeti-la: é necessário a conversa, as negociações e um acordo pró-sociedade e pela política. A normalidade social só se fortalece com indivíduos interessados em escutar, entender e levantar possíveis consensos. Não se discute com sangue na boca, nos olhos ou nas mãos. Não há conversa que se sustenta com surdos sem libras e bêbados com estômagos vazios. A sociedade clama por clarividência, seriedade, explicações e valores nobres e aceitáveis capazes de darem rumo a um país que está parado e enfrentando uma séria crise econômica.

Em terceiro e último lugar, faz-se imperativo, na esteira do que pensava o sociólogo alemão Max Weber, chamar os atores à responsabilidade. Dito de outra forma, no campo minado da política, onde se procura um gato preto em um quarto escuro, faz-se primordial a responsabilidade daqueles que operam nas instituições. Considero que existe muita irresponsabilidade no executivo, no judiciário e no legislativo. Não é preciso colocar mais fogo no que está queimando há anos. Às lideranças dos poderes sugiro novamente o que toda política necessita: a arte da conversa, da negociação e dos acordos e consentimentos. A política morre na calúnia passível de destruição do outro, no jogo sujo do roubo, da corrupção, da incerteza social, na vaidade individual e no espetáculo sem rumos que se tornou esta esfera no campo midiático. É mais do que necessário que os atores se sintam responsabilizados pelo estado das coisas e pelo que pode acontecer em casos de desordem sem fim. Que não seja preciso a destruição do oponente ou a produção de um corpo sem vida para legitimar o poder. A política responsável bem como a sua legitimidade, na qual a linguagem é o mecanismo perfeito, está em xeque neste momento. Aqui e acolá estamos à beira de um ataque de nervos, a ansiedade e os hormônios em descontrole arrebentam a tireoide nacional e a insensatez toma força. Portanto, vale um apelo: crianças birrentas no poder parem de brigar, adolescentes machões, beijem logo de língua e acabem com esta bagunça. Adultos, se confessem, busquem o perdão, liguem para o Papa, vale uma ajuda do terapeuta ou mesmo uma simples reunião (sem escutas telefônicas, é claro) como tantas para negociar, para fazer política, conversar, entrar em consenso e equilibrar o que outrora e historicamente já nos levou para cenários constrangedores e perigosos.

* Professor na Faculdade de Educação / FaE - Campus BH / UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerias). 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Humanos em que?

Por Lúcio Alves de Barros*
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A cada dia me convenço de que a humanidade está perdida. Os leitores podem até argumentar que estou sendo fatalista ou que a humanidade por natureza é composta por erros e acertos, “afinal somos humanos”. Pura balela: é justamente por sermos humanos e “racionais” que não tem lugar e nem sentido o que fazemos com o outro. Vamos há alguns fatos.
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Em primeiro lugar, destaco a falta de compaixão que percebo em inúmeras organizações e instituições que vivo. A começar pela família, lugar “sagrado” no qual raras vezes não perdemos a paciência ou que - até inconscientemente - tratamos mal as pessoas que mais amamos. Chega-se ao cúmulo do irmão, da irmã, do pai ou da mãe dizer “que na rua você não faz isso” e que “aqui você trata a gente diferente”. Talvez estes exemplos já sejam suficientes, mas ainda acrescento as fofocas, as festinhas de churrasco cheias de mal entendidos, as divisões de herança que causam o desencaixe das famílias – principalmente quando o patriarca ou matriarca morrem – e as competições entre filhos, sobrinhos, tios etc. A família é o espaço perfeito para sentirmos que o outro, apesar do amor, nos estranha e muitas vezes nos odeia.
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Em segundo lugar, destaco o ambiente de trabalho. Este lugar desprivilegiado de sentimentos nobres aos que se dizem cristãos. A começar pela ação de “ter que trabalhar”. Na realidade posso estar errado, mas penso que o ser humano nasceu para ser feliz e para viver no ócio. Longe do sonho, a verdade é que no trabalho exercitamos o que vem de pior entre nós. É um tal de medição de falo, comparação de poder e vaidade que chega a ser nojenta. E teimo a dizer que tais relações estão presentes em todas as organizações, inclusive nas igrejas, nas escolas, nas universidades e nas organizações governamentais assentadas na onda da fraternidade e da igualdade. E ai daqueles que não são “políticos” e resolvem bater de frente com os “donos do poder” sempre dependurados em ternos, automóveis do ano e na arrogância de serem mais especiais do que os outros. Nesta situação fica clara a falta de respeito, atenção e de capacidade de sofrer com o outro.
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Por último, é claro que o espaço da rua é de troca simbólica e emocional, mas também é de luta, conflito, brigas e destruição da diferença. Se nas organizações uma mulher grávida, um jovem doente e um velho sofrem, imagine na rua. É neste espaço que vamos ver o quanto somos invisíveis e insignificantes. É ali, num simples ponto de ônibus ou mesmo em uma fila de banco que atiramos todas as armas contra estas pessoas as quais estão vulneráveis ou momentaneamente vulneráveis. Como o ser humano é um “ser defeituoso” e que não deu certo a ponto de não usar o cérebro é esperado o sujeito não sair do lugar reservado ao idoso, ao moribundo ou à gestante. Nas filas é perceptível, inclusive, a reclamação daqueles que gozam da saúde ou que não estão em risco. Pior que isso, não é ao acaso que abandonamos os idosos em asilo, tratamos a mulher grávida com indiferença e denunciamos o menor infrator. Somos debochados e potentes e, a despeito dos direitos dos mais frágeis, somos capazes de encher os pulmões e gritar com todos como se deles fôssemos verdadeiros donos.
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A realidade é que os seres humanos desejam a superioridade, se agarram ao poder (por vezes um micro poder) e querem é disputar e ganhar o pão que - na maioria das vezes - já possui. Aos mais fracos na seleção social são direcionados os piores lugares e resevados os piores rótulos e oportunidades. Aos mais fortes e endinheirados são perceptíveis o culto ao corpo, a ostentação, a educação mais sofisticada, os bens e os direitos e privilégios deste Estado que se diz de direito. Não posso acreditar na humanidade que decidiu pela destruição do outro. A alteridade - com a modernidade recente - há tempos foi colocada em xeque, logo não me venham com essa ilusão de sociedade igualitária, fraterna e de compaixão, porque ela não existe. Trata-se de um conto de fadas e prefiro acreditar que em longo prazo a única certeza que temos é a de que estaremos todos mortos.
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* - Professor na UEMG

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Autofagia e trabalho docente no campo da educação

Por: Lúcio Alves de Barros*
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A massificação, a proletarização, o assalariamento predatório, a diminuição da autoridade e o avanço das relações de mercado no campo da educação têm produzido conturbadas relações sociais entre os professores. Apavorados, desanimados, magoados, cansados e colocados em xeque, a categoria tem compartilhado o sofrimento, as doenças, o desemprego, a ansiedade e o medo. Mas não é para menos: nos últimos anos, uma espécie de “segure-se quem puder” invadiu de vez as escolas, as faculdades e as universidades. Em terra de leão, é claro que são poucas as ovelhas que sairão impunes de relações perversas que colocam em questão a subjetividade do ser que trabalha – por natureza – com a interação. Explico do que se trata.
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Em primeiro, já são notórias as relações de falsidade, deslealdade, maldade e crueldade em meio aos docentes. É certo que na maioria das relações de trabalho tais fenômenos também se fazem presentes, mas no caso dos professores eles vêm tomando efeitos dramáticos, principalmente porque a categoria há anos vem sendo desmotivada pelas más condições de trabalho, pelo aumento da carga laboral e pela perda da autoridade em sala de aula e fora dela. Vulnerável, a categoria se rende ao sadismo/masoquismo próprios da cultura da violência e da exclusão. O caminho é claro: o “segure-se quem puder” não é para todos, e logo são excluídos os “mais sensíveis” – que vão caindo em meio às batalhas emocionais com os “mais fortes”.
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Em segundo, é preciso apontar para a “seleção social” produzida no mercado laboral dos docentes. A lógica do mercado educacional nos últimos tempos tem se baseado no número de publicações, artigos, textos, livros, orientações e apresentações em congressos, seminários e outros eventos. Nessa esfera, o corporativismo ganha vida, pequenos e grandes núcleos se formam, se reproduzem, se protegem e se distribuem em “pesquisas” recheadas de bolsas e investimentos públicos. Tais pesquisas, em geral, se transformam em artigos escritos por muitas mãos, as quais não deixam de labutar no intuito de conchavos para o credenciamento em órgãos governamentais. E, diga-se de passagem, não se procura mais qualquer revista: o operariado do saber quer um “B1”, um “B2” e, se possível, para tirar onda no ar, um “A”. O curioso é que a luta acaba sendo por um artigo lido pelos próprios pares e citado pelos próprios companheiros e que raramente chega a um público maior e talvez interessado. Na verdade, tudo é produzido para a reprodução do “homo academicus”, de Bourdieu, que goza ao ver o nome estampado na internet ou no último evento de cartaz colado na parede. E tudo funciona para que o famoso Curriculum Lattes se transforme em capital simbólico, que, na maioria das instituições, aparece como garantia de credenciamento como “instituição de respeito”. Aos docentes que não conseguem se enquadrar restam a dura realidade da fofoca e dos apelidos maldosos que rondam as salas e os cargos menos significantes de direção.
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Acrescentam-se às condições colocadas o esvaziamento dos sindicatos e das associações especialmente no quesito mobilização coletiva. É bem verdade que em todo o país assistimos ao desenrolar de algumas greves, principalmente em relação à questão salarial e ao piso dificilmente legitimado pelas autoridades que gerenciam muitos estados da Federação. Todavia, os trabalhadores da educação não parecem animados, tampouco disponíveis para participar de ações coletivas. O “segure-se quem puder” e a seleção social no interior da categoria garantiu lugar privilegiado para aqueles que conseguiram entrar e fazer parte da onda de privilégios, bolsas e grupos que podem possuir mais ou menos condições de conseguir determinados direitos nos sindicatos da categoria. Na realidade, os trabalhadores da educação sofrem com a desvalorização e o reduzido valor-trabalho, a ponto de o individualismo fazer parte da vida pública e da vida privada, próprias da natureza das sociedades do mercado e do espetáculo.
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Oprimidos e calados pelo tempo, é preocupante a autofagia docente. Obviamente, na lida diária os mais fracos e vulneráveis à temperatura institucional dos ambientes escolares vão se queimando aos poucos. Os mais fortes viram celebridades, chegando mesmo a alimentar a mídia e as notícias da organização. As relações tornam-se mais complexas e tensas quando os docentes não estão mais entre iguais ou não compartilham o mesmo corpo. Adoentado, o corpo docente vai se alimentando de sua própria carne. Rapidamente a autofagia ganha espaço e alguns ficam no caminho: aposentados são mal vistos, especialistas são denegridos, mestres precisam estudar e o doutor deve publicar para elevar o nome da instituição. É a destruição perfeita das pessoas por meio do “conhecimento”, da informação, dos títulos e da famigerada objetividade. O processo autofágico é violento e os órgãos não têm a ciência dele, até o momento em que começam a ser devorados pelos próprios pares.
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* - Professor da Faculdade de Educação da UEMG
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Publicado em 1º de outubro de 2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sinfonia de gritos indignados


 
 
 
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Fonte: O Tempo (MG)
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Lúcio Alves de Barros*
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Os protestos que ocorreram em muitas cidades e capitais do Brasil não podem ser entendidos como acontecimentos espontâneos. Não existem mobilizações sociais nascidas do nada. Elas são produto de histórias e configurações múltiplas que marcaram os indivíduos que antes permeavam o tecido social.
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Os movimentos tiveram início logo na parte da manhã. Jovens, adultos, mulheres, homens e crianças paulatinamente foram se reunindo em locais “estratégicos” das cidades. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, Curitiba e Salvador foram algumas das cidades que receberam milhares de pessoas que resolveram reivindicar por tudo e por nada ao mesmo tempo e agora.
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O movimento já vinha tomando corpo tanto em Porto Alegre como em São Paulo. Nestas cidades, principalmente a última, o movimento já vinha tomado proporções já esperadas, mas que não foram democraticamente aceitas. A polícia de lá reprimiu com força os manifestantes e acabou sobrando para muitos que foram parar em hospitais, páginas de jornais e nas redes sociais com marcas que ficarão por um bom tempo na memória.
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O grito dos muitos em São Paulo acordou outros os quais indignados organizaram e saíram às ruas no dia 17 de maio que inegavelmente ficará na história deste país. Os meios de comunicação oscilaram entre o apoio e a denúncia. A polícia, batendo cabeça em tempos de polícia comunitária, direitos humanos e respeito ao paisano, atuou à deriva e desproporcionalmente se refugiou na violência em detrimento do tão propalado uso da força física comedida. Em Porto Alegre e em Belo Horizonte a brutalidade correu solta. O Rio de Janeiro foi marcado por um início cordial e terminou no vandalismo puro e simples de alguns. Em Brasília o povo resolveu ocupar, mas não destruir. Interessante nossa jovem democracia, balança, mas não cai. De todo modo, a sinfonia de gritos quer dizer alguma coisa. Aposto em algumas:
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É claro o mal-estar da população. A insatisfação com a categoria política composta por autoridades que dormem há anos no poder é manifesta. Um vazio político aponta para o descrédito da representatividade que invade a alma da população descontente com os rumos do transporte público, da educação, da saúde, da política, da justiça, da economia e da segurança pública. Estas são algumas das reivindicações reveladas em cartazes, narrativas e faixas carregadas por vários manifestantes. É bom esperar que vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores saibam ler.
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Não é possível subestimar o poder das redes sociais. No Brasil, onde a TV demorou a chegar, o celular e outros instrumentos eletrônicos tornaram-se moeda corrente e a internet já caiu nas graças da juventude desde a década de 1990. Entre curtidas, textos e imagens sem fim um acordo tácito foi forjado. Bastou em seguida um convite, a marcação do horário e o pedido de presença para que pelo menos as pessoas fossem às ruas em apoio às reivindicações. Trata-se de um movimento sem cor, cheiro, raízes partidárias e credo religioso. Já por aí ele merece o maior cuidado e respeito. Sem lideranças, mas com reivindicações as pessoas se uniram ao vivo e ao mesmo tempo se organizaram em três ou quatro lugares. Em determinados localidades a polícia agiu com perfeição esperando os ânimos se acalmarem. Em outros tanto a polícia como os manifestantes caminharam rápido para o desespero, o medo, a brutalidade e a crueldade.
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Toda mobilização é simbólica e como tal resulta em ações esperadas e não esperadas. Tenho sérias dúvidas de que alguém poderia esperar aquela multidão que tomou as ruas do Rio de Janeiro, de Brasília, Belo Horizonte, Belém e Salvador. Dificilmente se esperava tanta gente. Muito menos a ação da polícia em Porto Alegre. Ao contrário do que se pensa, não é muito bom mobilizações sem lideranças ou instituições que possam responder por elas. Na perda do controle o movimento social não sabe para onde ir e raramente não resulta em vandalismo, quebradeira, muita gente machucada e morte. A inexistência de uma liderança clara pode, por outro lado, levar mais pessoas às ruas, principalmente diante do estado da arte que revela nossa categoria política. Se a Copa das Confederações e o aumento abusivo das passagens do transporte público foram os sinais para que aflorassem a indignação é possível esperar mais pessoas nas ruas. Os gastos para o empreendimento internacional foram vergonhosos. Sem o mínimo de transparência governos aumentaram as passagens urbanas (que estão abaixando). Dois acontecimentos e muitos tapas na cara da população que indignada gritou. Toda ação irresponsável tem início, meios e fim. O começo todos sabem como é, o final é inesperado e para poucos.
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Finalmente, foi louvável a fala da presidente Dilma Rousseff que rapidamente resgatou e deu legitimidade às mobilizações. Ela tem falado que prefere o grito das ruas que o silêncio dos porões. Obviamente, ela sabe da importância e da envergadura de atos coletivos que clamam por direitos há muito vandalizados pelo próprio governo. Por outro lado, os governadores não parecem tão preparados como a presidente. Vaiada ela se encolheu. Diante dos holofotes, os donos da polícia, especialmente a militar, gritaram alto. Exigiram ordem. Bateram em adolescentes e demoraram a negociar limites e possibilidades de ordem e paz. Em Belo Horizonte, por exemplo, em plena negociação foram utilizadas balas de borracha, bombas de “efeito moral”, cassetetes e a Polícia Militar não descansou. Um jovem (Gustavo Magalhães Justino, de 19 anos) caiu de um viaduto quando corria das bombas. Quando avisada, a polícia cidadã foi clara: “não tava rezando não”, “ tava na confusão”.
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*Professor da FAE (Faculdade de Educação) - Campus BH / UEMG
 

sábado, 15 de junho de 2013

Povo, polícia e repressão em uma jovem democracia

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Lúcio Alves de Barros*
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São inaceitáveis as ações dos policiais militares contra os manifestantes de São Paulo, Rio de Janeiro e outras que certamente estão por vir. Tudo ficou claro diante da fumaça porca e fedorenta das bombas jogadas aqui e ali que vitimaram, inclusive, idosos e crianças.
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A coisa ficou mais feia porque agora atingiu em cheios os olhos da imprensa. Imagens revelaram que a polícia literalmente atirou nos jornalistas que estavam trabalhando. Penso que tudo reforça o retrocesso de uma democracia ainda jovem. São perigosas as ações que revelam o total despreparo das polícias em ordem democrática. Não podemos esquecer que esta polícia é fruto e imagem do seu governador, gerente e chefe maior deste exército de policiais militares que há muito já deveria ter deixado de ser militar.
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É óbvio que todos são contra a quebra de coletivos, órgãos públicos, equipamentos urbanos, etc. Mas não foi por isso que a polícia militar estava por lá. Não foi pela manutenção da ordem. Ela já existia antes que ela chegasse. A mobilização tornou-se perigosa com a presença do Estado armado e cheio de adrenalina. Ações violentas geram mais violência e desrespeito. E há tempos já sabemos que a polícia é violenta e mata mesmo.
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Os episódios, contudo, podem servir pedagogicamente para que tais acontecimentos não ocorram. Sei do romantismo das palavras e tenho certeza que elas de nada valem para as autoridades. A polícia militar, na esteira da Constituição de 1988, é força de manobra política, de repressão e violência do que se entende no Brasil por “Estado de Direito”. Neste caso, podemos esperar mais episódios. Aos poucos, os acontecimentos em favor do “passe livre” vão ficar na memória, histórias vão ser contadas e as versões vão tomar conta dos fatos.
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É triste saber que nossa democracia é manca e nos tempos modernos anda beijando os fundamentalistas, os autoritários e os que não suportam a diferença. Contra a oposição nada como o policial armado, com dentes para fora e apavorado para “mostrar serviço”.
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A questão é muito mais séria do que o aumento das tarifas dos coletivos que vivem do atraso, da precariedade, da bagunça das cidades, da intolerância dos seus donos e de boa parte do dinheiro público. A cultura brasileira é casada com a violência, armada com a repressão e amante do autoritarismo. Não por acaso, muitos aparecem nestes instantes para condenar os “vândalos”, mas se esquecem de que somos resultado de muita desorganização política, social e econômica. Não podemos esquecer um passado no qual o ataque aos direitos humanos era moeda corrente e fonte de desespero de pais e mães que perderam filhos e filhas que estão aparecendo na Comissão da Verdade.
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Também não podemos esquecer o casamento quase perfeito entre os órgãos policiais, as universidades e outras instituições que vem “mudando” a polícia com dinheiro público e fazendo experiências com a “polícia comunitária”, as UPPs, programas de fortalecimento da “população de risco” e assim por diante.
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Finalmente, penso que os episódios merecem o seu lugar porque mostram que muitos ainda estão de olhos abertos e, apesar da ingenuidade, tem a coragem de ir para as ruas. A polícia ganharia mais com ações pedagógicas voltadas para a configuração da cultura da paz e da tolerância. Ganharíamos todos inclusive as autoridades governamentais da ocasião que não cansam de investir em uma segurança pública bélica cuja tônica é a faxina social dos excluídos sob a batuta do gás de pimenta, de balas de borracha, pancada em manifestantes e cassetetes em mulheres, homens, crianças e idosos.
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*Professor na FAE (Faculdade de Educação) na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais).

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O trânsito: nossa casa, nossa rua

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Lúcio Alves de Barros*
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Um problema que já deixou de ser emergente no Brasil é o do trânsito. As pesquisas apontam que no período natalino e nos finais de ano aumentam não somente os acidentes, mas também as mortes e os prejuízos decorrentes delas. É lamentável que o país já saiba que nestes períodos quem está atrás no volante ou nos bancos dos automóveis correm grandes e pequenos perigos. A questão parece simples, mas não é. Vejamos pelo menos três fenômenos.
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O primeiro é o grande número de veículos que andam por aí. A frota de automóveis aumentou a ponto de dificilmente se encontrar estacionamentos ou melhores condições para as ruas e rodovias. O montante de carros, obviamente não pode ser o culpado por tamanha vergonha que são os números das mortes oriundas nos acidentes de trânsito no Brasil. Mais carros significaram mais congestionamentos e neles os proprietários em quatro rodas andam mais devagar. Contudo, é um problema e diversos países já estão levando a efeito a renovação da frota ou o rodizio dos automóveis na cidade.
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O segundo fenômeno é o fetiche que carrega este “patrimônio” superestimado no Brasil. O carro ainda é sinônimo de status e revela, em larga medida, o tamanho do falo do dono. A sociedade falocrática dá valor inclusive à marca, ao modelo e à potência do carro. Chega ao absurdo de chamar de “popular” automóveis que tem o mesmo preço de um apartamento ou de um curso superior em faculdade privada. No Brasil, comprar um carro significa para muitas pessoas “vencer na vida”, até porque vale o aparecer não o ser ou o ter. Aparentar que tem posses dirigindo pela cidade é um fetiche grotesco, principalmente, quando poucos sabem que na verdade o empreendimento de quatro rodas está sendo pago em 60 ou mais prestações.
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O último fenômeno foi bem delineado no livro de Roberto DaMatta, “Fé em Deus e pé na tábua - Ou Como e Por que o Trânsito Enlouquece no Brasil” (Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2011), onde o autor descreve com acuidade como o trânsito brasileiro retrata a configuração de nossa cultura. Uma cultura hierárquica, autoritária, machista e desigual. Na realidade, já sabemos que é de longa data este perfil social que aceitamos sem grandes problemas. O curioso é que é no carro que o sujeito se transforma. De acordo com o autor, é no automóvel e no trânsito que os brasileiros mostram hodiernamente os dentes. Se existe um acidente, provavelmente há mulher no meio. É possível beber um pouquinho de álcool e dirigir. Se a polícia pegar dá-se um jeitinho para sair de fininho e devagarinho. Mais que isso, o brasileiro se revolta quando o automóvel com menos potência lhe ultrapassa. E vale xingar e mostrar dedos para o recalcitrante. No trânsito, é preciso ser "esperto", andar rápido, “furar” filas, dar balão e saber se virar, mesmo tendo que trapacear os impessoais sinais que pululam nas vias mais rápidas e perigosas.
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O argumento de Roberto Da Matta é conhecido: no trânsito os brasileiros fazem da rua a sua casa e a utilizam como se aquele espaço público fosse a extensão da própria moradia. Neste sentido, é claramente aceitável buzinar onde não se deve, ultrapassar onde não é permitido e colocar em perigo a vida dos outros, haja vista que não existe um proprietário de automóvel que não se sinta mais dono da rua do que qualquer outra pessoa. Essa cultura autoritária e hierárquica marca a ferro e fogo as relações sociais no trânsito. O problema é que neste campo o erro pode ser fatal. O Brasil ainda caminha lentamente no campo normativo e as leis ainda são brandas em relação ao errante do volante. Mudanças em longo prazo podem ser viáveis e possíveis. Mas, dificilmente mudaremos uma cultura que nasceu capenga, distribuindo pessoas em camadas, produzindo seres humanos que se sentem mais especiais que outros, tratando as pessoas não na sua diferença, mas na indiferença. É difícil, diante do mencionado, acreditar que podemos ser iguais no trânsito, pois sequer conseguimos ser impessoais e ter em pé de igualdade os recursos disponíveis na sociedade. Pode até ser que muita coisa tenha mudado nos últimos anos, mas quando se percebe a resistência da maioria das pessoas em utilizar o transporte público ou mesmo a existência de políticas públicas favorecendo o indivíduo em detrimento da comunidade é hora de desligar o carro, fechar as portas e desistir, pois o Brasil não é para principiantes, não é para todos e o trânsito nada mais é que uma pequena e grande parte de um problema maior que poucos - muito poucos mesmo - estão comprometidos em solucionar. E a solução é difícil, principalmente quando dirigimos em esferas relacionais configuradas na desigualdade e na hierarquização e, no caso do trânsito, na velocidade, na impunidade, na periculosidade, na diferenciação, na individualização e na corrupção.
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*professor na FAE (Faculdade de Educação – FAE/BH/UEMG)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mídia, violência e medo: o espetáculo perfeito

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Lúcio Alves de Barros*
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Alunos e alunas, amigos e amigas e até jornalistas se meteram a me perguntar sobre a “onda” de criminalidade que assola São Paulo. De imediato pensei em falar alguma coisa, mostrar o que ando lendo ou tecer teorias e teorias próprias do meu ofício. A infeliz ideia lembrou-me os meios de comunicação: eles inventam ali, corroboram dados aqui e chutam qualquer coisa para alimentar outra coisa que pode ser ainda pior. Desta vez optei por outro caminho. Disse que estava acompanhando de longe os fatos e pouco sabia a não ser o que todos já sabem.
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O fato é que perdi a credibilidade tanto de alunos e alunas como de amigos e amigas. Jornalistas me telefonaram, porque os grandões da temática falam o mesmo de sempre, mas não fiz nada diferente, somente respondi o óbvio. Tudo para o funcionamento deste mundo fantástico, mágico e de representações da mídia. E para não dizer que não falei o que já havia falado, as palavras são claras e de próprio punho.
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Em primeiro, são óbvias as afirmações de que algo está errado no sistema penitenciário brasileiro. Até o ministro da justiça afirmou que prefere a morte do que se sujeitar ao sistema. Logo, não é preciso mestrado, doutorado ou um ministério para saber que os celulares entram de tudo quanto é forma nas penitenciárias do Brasil. Sabemos que é difícil este empreendimento, os visitantes usam o corpo, a alimentação, as roupas e tudo mais para que os celulares continuem a entrar nos estabelecimentos. De duas uma: ou (1) alguém não está fazendo o devido trabalho de revista e averiguação ou (2) existe a conivência de profissionais da instituição. A questão é simples: se o celular não entrar na cela, não é preciso gastar com bloqueadores. A matemática é para infante: 01 + 01 = 02. Nas penitenciárias, aparentemente, ela pode ser 03, 04, 05, 06 ou mais.
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Em segundo, é muito curioso o dispêndio de energia e recursos de uma facção denominada PCC (Primeiro Comando da Capital) que agora pode estar operando em três ou quatro estados. Para início de conversa não acredito muito na balela da mídia de que são “organizados” a ponto de criar uma desordem tão grande que pode atingir toda a federação. Seria necessário muito bandido para isso e bandido dos bons. Até os criminosos sabem “quem faz” e “quem não faz” parte do enredo. Também seriam necessárias uma logística e uma administração invejável para controlar ações em um estado que, sabemos, é o mais rico da federação. O crime “organizado”, na realidade, torna-se “organizado” quando o Estado permite que ele faça parte dele e, por consequência, utilize determinados mecanismos oferecidos pelo próprio Estado. Este é o caso do Jogo do Bicho e que não necessita ser bacharel ou ministro para entender.
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Por último, não é possível a compra da mercadoria oferecida pela mídia sem o mínimo de crítica e compreensão. Os recursos hoje disponíveis para a segurança pública são de grande monta. Policiais Militares e Civis ganham razoavelmente bem. Muitas polícias estão equipadas, não fazem feio frente às polícias de outros países e existe a tentativa de pelo menos de se aproximar da população. Paradoxalmente, convivemos com a violência policial, práticas de tortura, corrupção e tudo mais. Os ataques atribuídos ao PCC, neste contexto, é um pedaço insignificante de um iceberg no caminho de um Titanic chamado mídia que não bate de frente com a realidade da segurança pública. A mídia não é investigativa e oferece ao público míope e ignorante as versões reproduzidas pela própria polícia, e pelo próprio Estado. Os meios de comunicação, neste sentido, não deixam de produzir mal-estar, medo e insegurança. E o medo, tal como o tiro no pé, é paralisante. Faz doer o corpo e engana o cérebro por exigir dele atenção e cuidado.
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Os meios de comunicação estão na verdade é perdendo uma ótima oportunidade para mostrar os fatos, notadamente, as condições objetivas do problema, coisa que o governo paulista não trata de mostrar. Seria, inclusive, um bom momento para recuperar a credibilidade que há tempos vem deixando a desejar. Não há dúvida quanto à importância dos meios de comunicação para a democracia, mas eles são perversos ao atirar pedras em instituições, pessoas e vítimas de acontecimentos que são históricos, que tem raízes profundas na cultura brasileira e por anos vem necessitando de politicas públicas contundentes. Que a verdade dos acontecimentos de São Paulo venha à luz e que a população possa saber a envergadura do problema que perpassa algumas regiões da cidade e do Estado. Se o imbróglio for tão grande, como quer os meios de comunicação, especialmente a TV, que possamos ajudar sem prejuízos ao erário público, sem insegurança, sensacionalismo barato e medo do amanhã.
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* Professor da Faculdade de Educação (FAE) /BH/ UEMG

domingo, 14 de outubro de 2012

Educação e (des)motivação

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Por Lúcio Alves der Barros*
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Um comportamento que venho percebendo entre meus amigos professores parece-me ostensivo, repetitivo e complexo. Por onde ando observo professores e professoras bastante desanimados, desmotivados, cansados, atarefados e melancólicos. A percepção não é nova tampouco é privilégio de alguns. Às vezes uma pequena e simples conversa é o bastante para perceber os motivos da não ação dos docentes. Por aqui vou arriscar algumas, mas sei que meus colegas encontrarão muitas outras.
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Em primeiro grande parte da desmotivação dos docentes está na desvalorização que vem sofrendo historicamente a profissão. Há séculos a educação massificada, proletarizada e deteriorada vem sendo questionada como uma possibilidade de trabalho e realização profissional. A ideia do professor ou da professora como uma entidade, um símbolo, uma estrutura de caráter ou mesmo força moral é coisa do passado. E coloque passado nisso. Nestes dias professores somente “dão aulas”, não são dignos de bons salários e é difícil encontrar uma função para eles nesse mundo da velocidade, da prontidão e da informação enlatada. Em geral, esse é o pensamento oficial que anda nas cabeças dos alunos, principalmente daqueles que não gostam de estudar, ler, escrever, observar e frequentar a escola. Esperar motivação em uma conjuntura como esta é o mesmo que nadar e não chegar à praia. Não sei se dias melhores virão.
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Um segundo ponto que claramente revela a desmotivação do professor é a falta de respeito, de responsabilidades e de trabalho dos estudantes. Alunas e alunos, nos dias atuais, e verdade seja dita, não tem a paciência para a leitura. E, se estão lendo como quer os linguistas, estão lendo precariamente e “aos poucos”, “pulando” como disse um dos meus alunos. E como quer a maioria, “porque não ler e estudar pelo facebook, pelo orkut, pela internet ou mesmo pelo twitter?” “Qual é o problema de copiar as coisas da internet?” Convenhamos, perdemos o rumo do certo e do errado, é impossível animar na leitura de plágios e trabalhos que não foram resultado de trabalho. Está difícil a leitura com enfoque. Arrisco a dizer que, em sua grande maioria, os estudantes sequer têm ideia do que é ler um conteúdo com organização, disciplina, tempo, funcionalidade e crítica. Eles estão lendo em pipocas: come-se aos poucos e até empanturrar. Sem leitura eficiente e com tempo - coisa difícil para um estudante da era do "eduentretenimento" - dificilmente se ensina. As atividades são copiadas da internet, um jogo tácito de aceite de plágios já é norma em escolas, faculdades e universidades e não ao acaso as bibliotecas são entendidas como locais de doidos e alergias diversas. É um caos. Trabalhar falando para pombos que voam em meio aos milhos é o mesmo que sentar em frente da TV dominical. A desmotivação me parece total.
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Um terceiro ponto e que não está dissociado do segundo é a empáfia dos pais e das autoridades. A dos responsáveis chega a ser cruel. Normalmente eles tentam seguir o filho que não é um estudante, mas que diz participar e frequentar as aulas.  O atraso do "anjo" que ele colocou no mundo torna-se culpa do docente que ele nem conhece. A tolice das autoridades reside na constante culpabilização dos professores pelo caos que a educação se encontra. O fato é que o discente que não estuda, os pais que não conhecem o trabalho da escola e as autoridades que culpabilizam os docentes pela crise na educação forjam o perigoso e vicioso ciclo da crise na educação. Um ciclo que se repete ao sabor da escassa autoridade do professor e do descrédito que vem tendo suas instituições. Se ela for pública a questão tende a se agravar e se for privada toma tons de fascismo e barganha em torno do mérito em frente aos índices esdrúxulos dos órgãos governamentais. Fato é que a motivação docente já foi a essas alturas para o espaço. É impossível trabalhar em campo minado, onde os professores reclamam ter medo de alunos, pavor das redes sociais, terror das autoridades e angústia em relação ao futuro que não parece nada estabilizador.
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Destaquei três possibilidades do desânimo que pode explicar um pouco a conjuntura na qual os docentes estão inseridos. Costumo brincar com os meus colegas cansados e muitos já doentes, que a coisa não está feia, mas ela é feia. Na verdade somente brinco porque não sei como lidar com uma situação que também vivo. Chego a brincar com a ideia de uma espécie de “pedagogia do espermatozoide”. Ela é muito simples: é bom para o docente pensar que se o aluno chegar tal como chega um espermatozoide é possível que tenhamos grandes mudanças e revoluções. Aquele que chegou, em geral, “é a nossa alegria”, o orgulho, a sensação do dever cumprido e sempre fonte de inspiração e motivação. O problema é que este espermatozoide tem ficado entre os que não conseguem chegar e, quando chega, não sabe ler, não consegue entender as letras, é incapaz de resolver qualquer problema e de responder a uma questão. Ele é quase um analfabeto funcional. Infelizmente, é o momento em que sabemos que o espermatozoide não vingou. Perdemos tudo: a força, a vontade, a vitalidade e um novo estímulo ao corpo social. É o momento em que se matam aos poucos os docentes, pois se espera outro futuro para o aluno que nasceu errado. Foi ele resultado de “masturbações” acadêmicas, políticas e sociais. O desânimo docente aumenta diante da falha de sua escola e de outros mecanismos de socialização. A conjuntura fica mais complexa quando o discente é esperado em outro lugar, como na rua, no campo das drogas ou do crime. É um mundo sem educação e gozo. É um mundo sem sonhos, sem salvação e possibilidades de levar o outro a um outro lugar. É um mundo de ninguém, sem ação, sem motivos para a ação, para educar e ser educado.
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*Professor da Faculdade de educação (FAE) /BH/ UEMG.

sábado, 22 de setembro de 2012

Escolas da violência

                                Mancehte do Jornal Super Notícias de 22 de setembro de 2012
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Por Lúcio Alves de Barros*
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É chegar o final do ano e do segundo semestre escolar que se inicia o ciclo da violência contra os professores. O problema é sério e nada é feito nos campos pedagógico e administrativo. A Constituição de 1988 tratou de deixar clara a importância da gestão democrática. O mesmo fez a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996. Essa democracia de tolos, entretanto, continua uma falácia, pois na maioria das escolas inexiste um Plano Pedagógico de respeito, conselhos de classe, participação e muito menos a observância da comunidade que, sejamos francos, não está nem aí para os rumos da educação.
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Os casos de violência, um fenômeno nada novo e que na verdade já foi banalizado, tem o que revelar neste contexto. Já não existe o escândalo e a vergonha social em relação aos professores que estão levando socos e chutes pelo corpo a fora. Parece aceitável alunos e alunas sabotando professores em sala de aula, em corredores, na rua ou em redes sociais. O mesmo podendo-se dizer de telefonemas anônimos, vinganças e ameaças. Na escola, e nela a educação para a violência nada é latente. Tornou-se manifesto estudantes colocando em xeque a autoridade e a disciplina escolar. Professores já estão lutando contra o medo via o uso de ansiolíticos e da possibilidade de vitimização. Diante do poderoso estudante uma das saídas tem sido o lugar escuro do da covardia. Sem forças físicas e emocionais, os docentes deixam as coisas como estão. Esperam que o aluno passe para outra série ou que mude de escola. O medo é um poderoso mecanismo de paralização das atividades físicas e mentais. Não há economia psíquica que resista.
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Estou para ver conselhos, comunidades, pais e professores discutindo a violência dos estudantes e entre os estudantes em sala de aula. A ideia de uma gestão democrática, normativamente delineada na Constituição e na LDB é uma mentira de mal gosto. E vamos à veracidade dos fatos. Poucos são os pais preocupados com os filhos, principalmente nas escolas públicas que se tornaram creches para marmanjos e locais de “educação integral” para evitar que a criança e o adolescente fiquem em casa ou na rua em contato com possíveis marginais. Outrora a escola era para formar gente que pensa e a palavra do professor era lei. Contava-se com o apoio dos responsáveis em relação a determinados limites e atitudes que fazem parte do adolescer e da juventude repleta de hormônios. Atualmente, os pais são - no mínimo - coniventes com a conjuntura hodierna. Em relação à comunidade e a denominada “comunidade escolar”, a verdade também é clara. Ela não participa das decisões e da solução dos problemas da escola. Na realidade nem se sabe o que é uma comunidade. As famílias estão preocupadas é com o famigerado consumo, o que vale é a roupa da moda, o último computador, a banda larga, o celular que serve para tudo e qual será a novidade que o mercado vai soltar no mês que se aproxima. A educação já não faz parte das noites tranquilas da primavera e do verão. O livro virou peça de museu e a sociabilidade do lar é pouca ou chata para o mundo tirânico da juventude hedonista e sem freios.
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Longe dos limites da família, distantes e recalcitrantes dos limites na escola é claro que pode-se esperar conflito e violência de toda ordem. E esta violência não é gratuita, ela é uma linguagem, não nasce do nada, ela quer dizer alguma coisa. Ainda não sabemos o que, mas é certo que a ideia de uma escola democrática não caminha de mãos atadas com a violência. Para a democracia é inquestionável a negociação. Relações violentas são paradoxais em gestões democráticas. Logo, ela inexiste sem o professor e o apoio dos pais. Escolas são sagradas, são lugares de conhecimento e de relações sociais seguras. Os casos de agressões em fim de semestre, entretanto, revelam o contrário. A educação tornou-se campo minado e conflituoso. Ele se transformou em um acerto tácito de contas que se alimenta de uma pedagogia para a violência e, tal como a polícia, docentes, alunos e pais procuram um inimigo. Um inimigo que está encarcerado em salas lotadas e distante da tal “comunidade”. Soma-se a esta conjuntura as péssimas condições de trabalho, a precariedade da profissão docente, o despreparo dos alunos no que toca aos requisitos mínimos de civilização, os baixos e vergonhosos salários e o desrespeito governamental em relação ao trabalho docente e ao local onde se desenvolve este trabalho. É impossível acreditar em mudanças significativas em curto ou médio prazo, até lá, resta aos professores a “cultura escolar do medo”, da suspeição e da incerteza diária de relações que, devido a uma péssima nota, podem sair do controle.
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* Professor na FAE (Faculdade de Educação) / campus BH / da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais). 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carlos

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Em homenagem a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
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E agora, Senhor Carlos Drummond de Andrade?
Pa-ra-ty acabou,
o pessoal foi embora
os escritores pegaram o caminho da roça
os falsos escritores também
os leitores foram lá fingir
os falsos leitores também
Você que tem nome:
O maior poeta de Minas Gerais e do Brasil
um bom homem,
que amava e protestava com e sem palavras?
E agora, Drummond?
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Está no céu
com os seus
cheio de amor
sem dor,
pernas cruzadas,
não precisa de nós aqui
tampouco destes palhaços da burguesia
és a eternidade
Está com tudo.
E agora, Drummond?
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Durma com essa:
aqui ainda roubam sem dó
os políticos são os mesmos
os delinquentes ficaram mais jovens
a cocaína virou crack
a polícia é milícia
a Constituição é um mito
tem muita gente dormindo pelas ruas
passando muita fome
sem a chave de casa
também não existem tantas portas
os rios estão secando
o mar não está para peixe
e as mineradoras já acabaram com a sua e com as outras Itabiras
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E agora, Drummond?
Se o senhor voltasse,
gritasse?
Gemesse como mandou
tocasse em algo
cantasse
fizesse mais poesia
lançasse mais livros
utilizasse sua biblioteca
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Mas o senhor morreu.
Virou estátua
está sozinho na praia
só no dia
também no escuro.
sem sala
lugar para encostar.
Sentado apenas...
Até roubarem seus óculos
Fique quieto por aí.
certamente está muito bem acompanhado
Não se preocupe para onde ir.
Numa boa, senhor Drummond:
nós jamais lhe merecemos.
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Lúcio Alves de Barros

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PESQUISA: VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Educação, escola e paradoxos no campo da violência

Lúcio Alves de Barros - Professor da FAE-UEMG/BH, licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia, doutor em Ciências Humanas: sociologia e política pela UFMG. Autor do livro, “Fordismo: origens e metamorfoses”. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 2004; organizador da obra “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006, co-autor do livro de poesias, “Das emoções frágeis e efêmeras”. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006 e organizador de “Mulher, política e sociedade”. Brumadinho, MG: Ed. ASA, 2009.
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Débora Luiza Chagas de Freitas - graduanda em pedagogia da FAE-UEMG

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Introdução

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Este é o relatório final da pesquisa, apresentado ao Centro de Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), ao Programa Institucional de Apoio à Pesquisa (PAPq/UEMG) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UEMG/Estado).
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A pesquisa analisa as relações sociais produzidas em uma escola estadual de Belo Horizonte. Tais relações tinham como latente a sociabilidade fundamentada nas relações de violência. Partimos da ideia de que a violência é um conceito polissêmico e recebe roupagens de acordo com os interesses dos agentes envolvidos, bem como da localidade da instituição escolar e da posição ou papel social que o agente, por vezes, incorpora.
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Para publicação em Educação Pública, dividimos o relatório em três partes. Nesta primeira, discutimos o polissêmico conceito de violência. Delineamos as violências discutidas no cenário acadêmico e que se manifestam, sem pouca conscientização, entre os professores e alunos. O debate é frutífero, e tanto a temática da educação como a da violência nos fornecem várias formas de leitura e entendimento do real.
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A pesquisa conta hoje com a bolsista Úrsula Mansur e Iara Ferreira
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A seguir:
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Educação, escola e paradoxos no campo da violência – Parte II – Percepção da violência
Educação, escola e paradoxos no campo da violência – Parte III – Das ameaças e armas
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Publicado em 06/12/2011
ISSN: 1984-6290
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Revista Educação Pública. Reflexão e interação de educadores
Edição n° 47 - 06/12/2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A impaciência com as coisas da vida


Arthur Schopenhauer (1788-1860) - filósofo alemão


Em homenagem a Arthur Schopenhauer (1788- 1860)

“Sempre que me misturo aos homens, fico menos humano” (Thomas de Kempis)

Por: Lúcio Alves de Barros*


Já estou ficando velho, pois rabugento já sou. Nasci com mais de 60 e não tenho mais o mínimo de paciência para certas coisas que com o tempo tornaram-se normais e naturais, Sobre algumas é bom falar, pois assim ainda vou ficando mais enjoado e surdo e paro de ouvir essas sandices. Neste espaço vou destacar somente três.

A primeira diz respeito a essa coisa de cota para negros nas instituições de ensino. Já perdi a paciência nestes debates porque é óbvio da necessidade dessas cotas para os negros. Pelo amor de Deus, acho que nem desenhando o povo entende que esse país é resultado da pura, nua (literalmente) cruel escravidão. Por consequência, da violência e da crueldade. Não vou nem me referir aos índios, mas cá entre nós... só de pensar nessa história é difícil não lembrar da literatura que não cansou de revelar como os portugueses, espanhóis e ingleses superlotavam os porões dos seus navios com negros africanos. E estes, longe de suas terras eram vendidos como animais. O Brasil, esse país para poucos e de difícil entendimento, só se deu ao trabalho de libertá-los em 13 de maio de 1888 e isso porque a coisa ficou feia e o negro ficou caro. Logo, são anos e mais anos de escravidão que nem vou contar porque cansei e estou sem paciência. Se isso não for uma boa justificativa para as cotas dos filhos, dos filhos e dos filhos que resistiram por aqui, pelo amor de Deus. E nem vou comentar a "teoria do branqueamento" que passou por aqui. Ela não merece maiores detalhes.

Outra coisa que merece destaque é esse culto exacerbado ao corpo. A ideologia da corpolatria conseguiu pelos meios de comunicação disseminar que temos que ser magros porque ser obeso é doença. Sabemos da obesidade mórbida e patologias associadas a ela. Mas convenhamos, qual o problema em ter uns quilinhos a mais aqui e ali. Ademais, tem gente caindo na anorexia e na busca frenética de mais e mais endorfina. Portanto, cansei de ver a Revista Veja com aqueles corpos belos e maravilhosos cheios de retoques de programas de computador chamando atenção para a fulana que não tem nenhuma gordurinha. E já estou de saco cheio (não mais o esvazio) de ver a capa da revista Playboy que nunca envelhece. Estou ficando velho mesmo, as coisas vão caindo e o mesmo não acontece com as capas que mostram as mesmas posições, caras, pernas, ancas e bocas ginecológicas. Nada é passível de finitude nesse mundo ilusório da mídia. Esse conto de vigário já cansou. É chato e causa mal-estar ver as pessoas caindo de boca na indústria cultural e gastando o pouco que economizaram em revistas recheadas de mentiras e enganações. A alienação é boa quando a crença nas manifestações não tem limites. Acredito que os bípedes humanos acreditam em tudo por duas razões: (1) possuem um medo exagerado da morte e (2) porque são idiotas. Do contrário, aceitariam a finitude do próprio corpo e não deixariam de reclamar no Procon os seus direitos porque, definitivamente, aqueles corpos não existem.

Por último, não é possível aceitar certas elucubrações. Agora vejo na TV que solidão é doença. Não é possível, ficar triste já era doença enganosa, engordar já comentei, ficar só - até por opção - ou é sintoma ou é caso de internação. Se o sujeito não suporta ficar na própria companhia é outra história, mas dar um tiro na solidão não faz o mínimo de sentido. E me poupem desses discursos de psicólogos e psiquiatras que compram essas ideias de indústrias farmacêuticas e se entopem de dinheiro ao ponto de legitimarem essas coisas como verdades absolutas em troca de entrevistas, livros e revistinhas de autoajuda. Seres humanos são socializáveis até na solidão. E se acabarem com essa possibilidade o que fazer dos poetas, dos músicos, dos filósofos, artistas e escritores? E tem mais, agora é um tal de psicopatia para lá, sociopatia para cá que me pergunto qual o problema em encarar o sujeito como um criminoso que merece a privação da liberdade e pronto. Se ele não for doente, nas mãos de um advogado ele ficará, mas conheci gente entre as grades que achou foi bom ter feito isso e aquilo, visto que os benefícios foram muito maiores que os custos. Então creio que basta dessa conversinha ridícula de senso comum que procura benefícios privados em tudo.

O ser humano, chamado carinhosamente de bípede humano por Schopenhauer, já é um problema em potencial. O outro já é o estranho e ele habita em mim. O mínimo que podemos fazer é não produzir mais sofrimento ao outro, nos esforçar para levar algumas coisas mais a sério e um bom começo é buscando informação, deixando de vomitar assuntos, problemas, recalques e sintomas. Se o outro é o problema, nada como falar para ele, estudar, pesquisar, conhecer e perceber que longe da tolerância e do conhecimento não existe salvação.

** professor e Doutor em Ciências Humanas pela UFMG.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A humilhação dos professores em Minas Gerais



Lúcio Alves de Barros*

A greve dos professores de Minas Gerais que se arrasta por mais de 108 dias, além de grave já se tornou inaceitável. A leviandade, a irresponsabilidade e a despolitização do debate levada a efeito pelo Governo Anastasia (PSDB) criaram condições que são no mínimo humilhantes, cansativas, vexatórias e sérias para os professores, estudantes e pais. Digo professores porque estou falando de uma categoria que, por natureza, trabalha com a interação e cujo resultado é a formação do outro, sempre estranho e, por vezes hostil. Levanto, neste caso, três questões que não tarde produzirão efeitos perversos de grandes dimensões.
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Em primeiro vale dizer do “jogo de palavras”: o governo diz que já paga o famoso piso salarial aos docentes. Os professores mais de uma vez, tal como fizeram os policiais em 1997, mostraram (até rasgaram) contracheques, falaram em jornais, televisão, blogs, sentaram-se à mesa e mostraram que não recebiam o piso (Lei 11.738, de 2008, que exige o pagamento do piso de R$ 1.187,97) fixado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O governo Anastasia simplesmente chamou os professores de mentirosos. Se é possível ser um bom professor sendo mentiroso e recebendo mais ou menos dois salários, ou não estamos no Brasil ou muitos acreditam na fala do governo. E é óbvio que não teríamos professores pesquisando nas universidades federais e estaduais. Além de chamar os docentes de mentirosos, o governo simplesmente tratou de deslegitimar, degradar, deteriorar e jogou ao chão a categoria que, para os tucanos, além de pedintes não sabem negociar. Essa humilhação dos mestres não vai sair impune. Todos nós vamos pagar amargamente e, sinceramente, não vejo o por que de toda retórica em torno da “educação como liberdade” ou “direito”, haja vista que o próprio governo já decretou o seu fim.
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A segunda questão diz respeito à truculência, vigilância, crueldade e intransigência governamental. Além do recurso ostensivo de vigiar quem não tem nada a esconder, o governador e seus avatares armaram os policiais e bateram forte nos professores. A situação é e foi humilhante. Presenciei professores correndo como galinhas, gritando como loucos, chorando como irmãs de caridade e apanhando como ladrões em porta de viatura. Não era preciso todo aquele aparato na praça docemente chamada de “Liberdade”. Foi um exagero sem fim. O efeito perverso já é percebido: professores adoecendo, cansados (porque greve é coisa séria), ansiosos, deprimidos, ressentidos e podem esperar um bom tempo de educação em luto e sem significado. O governo foi de encontro a tudo que ensinamos e defendemos junto aos alunos, como a honestidade, a liberdade, o respeito à diferença, à diversidade, ao cuidado com o outro. O governo, definitivamente, esqueceu que a profissão docente é repleta de emoções e que lidamos constantemente com crianças e adolescentes em formação. O governo simplesmente desautorizou os professores e retirou a autoridade política da categoria, tratando-os como “casos de polícia”, marginais em desespero e pobres sofisticados capazes de manter o sacerdócio por mais ou menos dois salários mínimos.
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Em terceiro e último é preciso apontar para outras consequências desse movimento. Alunos atrasados e pais enfurecidos eu acho difícil. Já se sabe que “só se ensina a quem deseja aprender”. Há tempos a comunidade não faz a mínima questão de participar dos rumos da educação e os seus filhos já estão mais do que entupidos de redes de relacionamento na internet e de baladas na calada da noite. Neste sentido, os professores estão solitários em um campo de batalha cujo rei aposta que o “vencedor ficará com as batatas”. Incrível e inacreditável tratar docentes como mecanismos de gestão que podem ser apertados quando as contas começam a ir para obras eleitoreiras. O gastar menos como justificativa não significa apostar os tostões na educação. Não é balela a ideia de que é na educação que se encontra a saída para as pequenas e grandes crises que perpassam, inclusive, países mais civilizados que o nosso. O governo, ao contrário, vem demonstrando com toda sua boniteza que não. Soltou os policiais que ele mesmo forjou nos moldes americanos e decidiu passar por cima do Supremo Tribunal Federal e da organização sindical dos trabalhadores da educação. Na covardia, ainda vem usando o nosso dinheiro na mídia e alardeado que as coisas estão como sempre estiveram. A consequência são professores atônitos, medrosos, enganados, humilhados... Forjamos uma educação com base na violência pura e simples, uma educação que dá vergonha e sem vergonha na cara. E podem esperar como efeito perverso uma categoria triste no trabalho, à deriva nos corredores escolares e, por ressonância, estudantes enfurecidos, pais amargurados e um governo ainda contente.
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*- Professor da FAE/BH/UEMG, do curso de mestrado profissional da FEAD e doutor em Ciências Humanas: sociologia e política pela UFMG.