quinta-feira, 30 de abril de 2015

O infame Beto Richa, governador do Paraná

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Por Luis Nassif
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O governador Beto Richa (PSDB), do Paraná, é o retrato doloroso do que se transformou o principal partido de oposição no país.
 
O partido fundado por Franco Montoro, Mário Covas, que abrigou a generosidade de Sérgio Motta, a sensibilidade social de Bresser-Pereira, e até a temperança de um José Richa, a esperança de uma socialdemocracia moderna, tornou-se um valhacouto do que pior e mais rancoroso a política brasileira exibiu nos últimos anos.
 
A usina de ideias e propostas que parecia brotar do partido no inicio dos anos 90 foi substituída por uma cloaca interminável, um lacerdismo sem talento, um samba de uma nota só desafinado.
 
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Derrotado em Minas Gerais, restaram ao partido dois estados para mostrar, até 2018, um mínimo de políticas inovadoras: São Paulo e Paraná.
 
De São Paulo não se espere nenhuma pró-atividade. Por aqui, definham institutos de pesquisa, aparelho cultural, universidades e, especialmente, as ideias.
 
Hoje haverá audiência pública para a extinção da Fundap (Fundação de Desenvolvimento Administrativo) e da Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal).
 
Hoje em dia, há uma disputa ferrenha para definir o governo mais inerte: se o de Dilma ou de Alckmin.
 
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Mas nada se equipara ao desastre completo que se observa no Paraná.
 
O massacre que a Polícia Militar impôs, ontem, aos professores que manifestavam contra o governo entrará para a história política contemporânea como o dia da infâmia.
 
200 pessoas feridas, 15 em estado grave, uma covardia sem fim, cujo único gesto nobre foi o de 17 policiais que se recusaram a atacar os manifestantes – e foram punidos por isso.
 
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É apenas o desfecho de uma gestão desastrosa, que quebrou o estado. Mas reflete um estado de espírito que se apossou do partido, quando substituiu os intelectuais por pitbulls de baixíssimo nível.
 
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Nos últimos anos, a reboque da mídia, a única bandeira que o partido cultivou foi o antipetismo – como se fosse possível se tornar alternativa de poder sendo apenas anti.
 
Hoje em dia definha o PT e definha o governo Dilma, o país está rachado ao meio, há um ódio permanente no ar. A política econômica procede a aumentos sucessivos da taxa Selic, com a atividade econômica agonizante. E o governo patina sem um projeto de país para oferecer.
 
Seria o momento de se apresentarem os mediadores, os que conseguissem ser a síntese das políticas sociais do PT com a visão de mercado do velho PSDB desenvolvimentista.
 
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Mas a miopia reiterada dos seus gurus, a falta de visão estratégica, o personalismo absurdo de uma geração geriátrica que se aboletou no poder, impediu a renovação do PSDB e permitiu que o infame Beto Richa se tornasse a cara do partido.
 
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O que Richa fez foi apenas externar, com atos, a virulência desmedida da cara do partido, os Aloysios Nunes, Aécios Neves, Carlos Sampaios, Josés Serras.
 
Não foi à toa que, nas últimas eleições, a parcela mais moderna do empresariado paulista saltou fora do bonde do PSDB e tentou fazer alçar voo a candidatura de Marina Silva.
 
O espaço político está vago para aventureiros políticos, porque a geração das diretas acabou.
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Professores resolvem manter greve e voltam a protestar em frente à Assembleia do Paraná

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por
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CURITIBA — O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP) resolveu em assembleia, finalizada na tarde desta quinta-feira, manter a greve no estado e convocou para sexta-feira um ato em protesto ao governador Beto Richa (PSDB). Assim que acabou a reunião, por volta do meio-dia e meia, professores se juntaram a alunos que protestavam em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, onde os manifestantes — muitos vestidos de preto —chegaram a tentar invadir o prédio. O momento foi de tensão. O prédio está sob forte policiamento, um dia depois dos confrontos entre os manifestantes e a polícia, que deixou 213 pessoas feridas na quarta-feira, segundo a prefeitura, e 62, segundo o governo do Estado.
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Os manifestantes convocados pelo APP se reunirão na sexta-feira às 10h na Praça 19 de Dezembro e seguirão para o Centro Cívico, palco do confronto. O presidente do sindicato, Hermes Leão, afirmou que o 1º de maio será um dia de luto em Curitiba e na terça-feira, dia 5 de maio, um dia de mobilização, já convocada pelos professores. Mais cedo, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), maior grupo sindical de Curitiba, havia cancelado o comício de 1º de maio que faria na sexta-feira na cidade em repúdio à violência de quarta-feira. O evento, para o qual Richa havia sido convidado, aconteceria na região do Centro Cívico. A UGT repudiou o ocorrido e se disse solidária ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP).
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— Amanhã, luto. Na terça, luta — afirmou Hermes Leão.
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Confronto entre PM e professores em greve deixa ao menos 50 feridos em Curitiba na quarta-feira - Paulo Lisboa / Brazil Photo Press
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O sindicato estuda entrar com pelo menos duas ações. Eles querem o cancelamento da sessão que aprovou as alterações na previdência do Paraná. De acordo com a entidade, ao proibirem a entrada da população na sessão, a mesa diretora da Assembleia do Paraná feriu o regimento interno da casa. Eles também vão entrar com um pedido de inconstitucionalidade do projeto.
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A CUT manteve suas manifestações do 1º de maio em Curitiba, mas fará eventos menores, em bairros mais afastados do centro — a maioria contrária à terceirização. De acordo com o APP, 25 mil pessoas participaram do protesto que terminou com 213 manifestantes feridos, segundo o SAMU, sendo que 37 foram encaminhadas ao Hospital Cajuru. Todos já foram liberados de acordo com o hospital. Dois pacientes tiveram intoxicação por gás lacrimogêneo, e o restante deu entrada com traumas causados por estilhaços e balas de borracha.
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Além dos manifestantes, 21 policiais ficaram feridos, porém sem gravidade, segundo informações da PM. Os 13 presos durante o protesto foram liberados ainda na quarta-feira.
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O sindicato repudiou as declarações do governador Beto Richa. A entidade classificou o atual momento do estado como o "mais obscuro" da história do Paraná.
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— Vivemos um período negro. O mais obscuro da história do Paraná. Ontem, foi instaurada a ditadura pela força no Paraná — afirmou o presidente do sindicato, Hermes Leão.
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A entidade está orientando aos manifestantes feridos que procurem o Ministério Público Estadual para prestar depoimento. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (PT-RS), informou que vai marcar duas audiências públicas — uma na comissão em Brasília e outra no Paraná — para discutir a ação dos policiais. O parlamentar tinha uma agenda marcada com Richa, mas cancelou o encontro depois de avisado que quem o receberia seria um assessor da Casa Civil do estado.
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Maury de Souza, professor de Ponta Grossa, ficou ferido na perna no confronto de quarta-feira, e voltou ao local nesta quinta-feira. O servidor foi atingido por estilhaços no joelho.
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— Meu joelho já estava machucado. Vim pra cá de muletas. O estilhaço foi bem no joelho machucado. O clima era de guerra.
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Maury fez um boletim ocorrência em Curitiba e vai fazer o exame de corpo de delito na tarde desta quinta em Ponta Grossa. Mesmo machucado, ele tentou invadir a Assembleia Legislativa no começo da tarde desta quinta-feira durante um protesto de alunos que apoiam os professores.
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Fonte: Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sou professora. Estou em greve. E explico o porquê

Tem gente cantando 'o professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo' nas Assembleias. Tem gente discutindo a importância de uma escola pública de qualidade. Por isso, dessa vez estou acreditando firmemente que 'não tem arrego'. (23/04/2015)
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Por Renata Hummel, professora de sociologia na rede estadual paulista
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Sou professora do Estado de SP desde 2009. E já mergulhei na divisão em “categorias”. Entrei como “categoria L”, ou seja, não-concursada, e pegava apenas aulas que “sobravam” dos efetivos. Essa categoria não existe mais, foi substituída pela “categoria O”, onde está a maioria dos contratados. A categoria “O” é o que há de mais precário na rede: só pode ter duas faltas por ano, não tem direito a usar a assistência médica do estado (Iamspe), não tem direito à aposentadoria profissional (SPPrev), após um ano de contrato deve cumprir “geladeira” por 40 dias, e após dois anos de contrato deve cumprir a “duzentena” (200 dias sem poder pegar aula, ou seja, quase um ano forçadamente desempregado). Nessa situação de “O”, estão “só” cerca de 50 mil professores da rede estadual. Como alguns colegas me disseram: para o governo, “somos uma sopa de letrinhas”.
 
Está bom ou quer mais? Tem mais.
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Mídia Ninja 
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A gente leva um susto quando entra na rede. Na licenciatura, muito professor (que está sem entrar na sala de aula de ensino fundamental e médio há uns 15 anos) nos diz que o problema da escola pública são as aulas “tradicionais”, sem imaginação, sem criatividade. Que o problema está na forma de ensinar, “conteudista” (com “decoreba”) e não “construtivista” e por aí vai.
 
Não é que essas coisas não sejam problemas, porém o buraco é mais embaixo. Vou explicar melhor: é certo que é difícil falar de Revolução Francesa para jovens que estão mais interessados em outras coisas (em muitas outras coisas), e que não veem como saber algo que aconteceu em 1789 possa fazer alguma diferença em 2015, por exemplo. Mas mais difícil ainda é conseguir falar 5 minutos em uma sala lotada com 40 jovens ou mais, em um dia de verão, com um ventilador apenas funcionando e sem água nas torneiras.
 
É complicado explicar como funcionam os “três poderes” no Brasil enquanto grande parte dos estudantes insiste que “político é tudo ladrão” e que por isso não interessa nem saber como funciona o sistema, “pois só o que eles fazem é roubar”. Mas mais complicado ainda é lidar com bombas que explodem nos banheiros, brigas por motivos fúteis (escapei algumas vezes, e por pouco, de cadeiradas e de um soco na cara), fogo quase diário nas lixeiras, xingamentos variados (muitas vezes vindos dos pais dos alunos e não dos alunos), reclamações da coordenação e da direção de que você “não consegue controlar a sala”, como se esse fosse o único objetivo da nossa formação e trabalho.
 
O buraco é mais embaixo quando você tem que lidar com alunos especiais em sala sem qualquer formação ou material próprio para isso (e junto com outros 40 jovens pedindo atenção); quando não tem como imprimir textos para leitura, imagens, ou mesmo provas, porque não tem toner nem folha de papel, e aí você imprime com seu salário; quando você tem que disputar a tapa com outros professores a única sala de vídeo que há na escola; quando você quer trabalhar em conjunto com outras disciplinas, mas não há tempo para conversar com os outros professores; quando o mato da escola está altíssimo e não tem verba para cortar; quando não tem papel higiênico; quando ninguém limpou as salas porque as moças da limpeza são terceirizadas, a empresa declarou falência e elas não recebem salário há dois meses; quando a cozinha foi terceirizada e enquanto não chegam as novas trabalhadoras precarizadas os alunos têm que comer bolachas com manteiga; quando mais da metade de seus colegas toma estimulante ou fluoxetina para aguentar o tranco de dar aulas em duas ou três escolas diferentes, das 7h da matina às 23h; quando seu salário, mesmo trabalhando em duas escolas diferentes, cerca de 40 horas por semana (40 horas por semana são as cumpridas na escola, não as de preparação e planejamento de aulas, correção de trabalhos – essas, me arrisco a dizer, ultrapassam esse tempo em umas 15 horas a mais), com cerca de 700 alunos, não chega a R$ 2.600.
Está bom ou quer mais? Tem mais.
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Mídia Ninja
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Este ano, a situação que já era essa que contei acima, piorou. O governador Geraldo Alckmin, dando continuidade ao cuidadoso processo de destruição da escola pública iniciado nos governos anteriores, fechou cerca de 3.000 salas de aula (qualquer sala com menos de 30 alunos inscritos no começo do ano foi fechada e seus alunos redistribuídos em outras), extinguiu cargos de coordenação, remanejou funcionários que tinham mais de 20 anos de escola (na minha escola, a “Tia Cris“, funcionária de gerações e gerações na escola, foi remanejada para outra, e a choradeira que assisti, entre alunos e professores, foi de cortar o coração), cortou verbas (de pintura, jardinagem, folhas de sulfite, papel higiênico, sabonete, toner, consertos em geral, infraestrutura das salas, etc), forçou a duzentena na “categoria O” e decretou “reajuste zero” para os professores, sem cobrir sequer a inflação do período.
Quer mais ou está bom?
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Ah, não tem como esquecer o famigerado “bônus”, cópia bizarra de uma política norte-americana de premiação de professores conforme resultados de alunos, resultado esse medido em uma prova apenas (ora, mas não éramos construtivistas?). Um bônus que pune escolas com problemas sérios (culpa dos professores?), e premia apenas parte da rede, como se apenas alguns colegas tivessem trabalhado e outros não. Dito isso, que solução temos nós, profissionais da educação, a não ser entrar em greve?
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Entrar em greve significa ter desconto de salário, ter faltas no prontuário, ter que repor as aulas em sábados, contraturnos ou recesso, ouvir de pais e alunos que “professor ganha bem, tem férias de 30 dias e reclama de barriga cheia”, ouvir de colegas de trabalho que “professor grevista gosta é de ficar dormindo em casa enquanto os outros trabalham”, visitar escolas com comando de greve e ter que explicar o que está fazendo para os policiais que a diretora chamou (não aconteceu comigo, mas com vários colegas), acompanhar as negociações na Assembleia Legislativa e na Secretaria de Educação, aguardando horas na chuva para ver o que o governo ofereceu e sair de lá chateado porque não querem nem conversar, ir a todas as Assembleias na sexta, com mais de 60 mil professores, e nenhuma TV ou jornal dar sequer uma linha (e quando dá, não escuta nenhum professor, apenas reproduz a pauta do governo).
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Entrar em greve é receber também apoio de muita gente, inclusive alunos, que quando resolvem entrar na briga também (faltando no dia das Assembleias, criando debates e discussão de ideias, acompanhando os passos dos professores) sofrem repressão nas escolas (alguns colegas marcam provas justamente nesse dia, algumas direções recusam os pedidos de debate dos alunos, alguns chegam a receber advertências e telefonemas para os pais), com direções e supervisões (que em maioria são cargos indicados) que nos acusam de “fazer a cabeça” dos estudantes ou de “atrapalhar” o aprendizado.
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Entrar em greve é ter que lidar com a desconfiança no principal sindicato (enquanto os outros sindicatos se reúnem secretamente com o governo no meio da greve), pois a sua presidente terminou uma greve em 2013 contra a vontade de grande parte dos professores, aceitando migalhas do governo: o fim da quarentena, um concurso público e a inclusão do “categoria O” no Iamspe, dos quais o governo só cumpriu um (e mesmo assim, precariamente, pois grande parte dos professores que iriam ser chamados ainda não foram e estão trabalhando como contratados). É ter que estar com um olho no governo e outro no sindicato. E, mesmo assim, com tudo isso e apesar de tudo isso: estamos em greve. Estou em greve.
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Mídia Ninja 
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Dessa vez, tudo parece diferente das outras: tem muita gente nas redes sociais nos ouvindo (embora na imprensa tradicional tudo continue como sempre foi), nos apoiando, tem muito aluno participando, tem muito colega que disse que nunca mais parava por causa do sindicato, parado.
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Tem muita gente exigindo uma postura firme do sindicato, da presidente, dos partidos. Tem gente cantando “o professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” nas Assembleias. Tem gente discutindo a importância de uma escola pública de qualidade. Por isso, dessa vez estou acreditando firmemente que “não tem arrego”.
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Escrevo este texto na véspera da negociação com o governo (que se encerrou no início da tarde de quinta-feira 23 de abril e não resultou em nenhum avanço) e da nossa importante assembleia de sexta. As definições dessa semana não apenas podem decidir o futuro da categoria de professores, mas o futuro da escola pública. Aguardemos.
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Governo do Paraná volta a reprimir e não dialogar com servidores em greve

Joka Madruga
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Professores e servidores voltam às ruas contra tentativa de aprovação de alterações na previdência do funcionalismo.
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Foto: Joka Madruga
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Por Pedro Carrano, De Curitiba (PR)
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Uma vez mais, os rumos da ParanaPrevidência estão sendo decididos a portas fechadas pelo governador Beto Richa (PSDB), sem ouvir as considerações de servidores, atingidos diretamente pelas mudanças. Com isso, professores estaduais e trabalhadores do Judiciário, estão em greve, desde a segunda-feira (27). Além disso, o Centro Cívico, em frente ao governo estadual, transformou-se em uma praça de guerra. Já no início da paralisação, o governo do estado sitiou o entorno da Assembleia Legislativa com o efetivo de milhares de policiais, que desde a madrugada da terça-feira hostilizam e reprimem os manifestantes.
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Isso ocorre menos de dois meses depois que os projetos que fazem ajustes na Previdência dos servidores terem sido retirados do regime de urgência, com o compromisso do Governo Richa de debater o tema com as entidades sindicais, antes de enviá-lo à votação. No entanto, o projeto, aprovado em primeira instância, foi à Comissão de Constituição e Justiça, e volta para votação.
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Violência
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Durante a madrugada e parte da manhã da terça-feira, caminhões de água, sprays de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha foram utilizados pela polícia contra os manifestantes. Também ocorreram tentativas de retirar o caminhão de som dos sindicatos por parte do governo.
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 Foto: Joka Madruga
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A oposição ao governo estadual, ao menos, conseguiu liminar garantindo o acesso dos servidores às galerias para a votação desta quarta-feira (29). Além disso, uma comissão de cinco senadores acompanhará a decisão dos deputados estaduais para minimizar conflitos. “O governador tem feito uma fala de que foram os servidores que desrespeitaram o compromisso. Isso é uma inverdade. (...) Ilegal é o comportamento antidemocrático do governo do Paraná”, afirmou, em vídeo, o professor Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, entidade que representa os professores estaduais.
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Rombo
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A avaliação de Marlei Fernandes, dirigente da APP-Sindicato, é de que o governo não pode fazer manobras fiscais a partir da aposentadoria pública.
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“Fizemos todos os estudos. Hoje, o governo investe na previdência do servidor R$ 6 bilhões anuais. O fundo de Previdência, o fundo Militar e o fundo Financeiro. Ele vai resolver o seu problema de caixa. Vai aliviar o seu caixa em R$ 142 bilhões. Mas o governo não está resolvendo o problema de previdência dos servidores. O governo tem que encontrar suas próprias saídas e não querer confiscar os recursos da previdência”, critica Marlei, em entrevista à Imprensa do Sismuc. 
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Madrugada tensa
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Na madrugada desta quarta-feira (29), o clima narrado por quem está no acampamento dos grevistas é de tensão, bem como de expectativa de que o governo mobilize tropas para tentar retirar o caminhão de som do movimento, como ocorreu na noite anterior. Caminhões com mais grades de isolamento e carros da polícia circularam durante a madrugada. Pela manhã, ocorre uma manifestação convocada por professores e servidores , na tentativa de barrar a aprovação do projeto pela Assembleia Legislativa.
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Educação e humor em seriedade


Educação em arte


Onda conservadora: nem tsunami, nem marolinha

Marcus Ianoni*

A mudança social pode ser progressiva ou regressiva. É progressiva quando a revolução democrática avança, criando e ampliando direitos e conquistas da cidadania em várias esferas, como a civil, a política, a social, a econômica, a cultural, a ambiental, a de gênero, a racial etc. E é regressiva quando a roda da conjuntura – que pode abranger um tempo histórico menor ou maior –, movida pela ação das forças sociais contextualmente determinadas, que se relacionam politicamente através de lutas, disputas, acordos, alianças, composições e oposições, gira para contrapor-se às tendências igualitárias. Mas, além das forças sociopolíticas, o Estado, a elas articulado, também desempenha um papel-chave na mudança social.

A conjuntura brasileira atual caracteriza-se pela emergência do conservadorismo, que surge como uma reação de classes, frações e estratos sociais às transformações progressistas implementadas no país a partir da vitória eleitoral de Lula, em 2003. A conquista do governo pelo principal líder do PT, em contexto de crise das políticas neoliberais na América Latina, alterou a relação de forças e propiciou a conformação, ainda que limitada, de um bloco sociopolítico e político-institucional de corte social-desenvolvimentista, que impactou na emergência de uma nova safra de políticas públicas. Seguiram-se uma série de mudanças institucionais e socioeconômicas, que produziram inclusão social, através do mercado e das políticas sociais, ampliação de direitos e o fortalecimento de mecanismos de interação democrática entre Estado e sociedade.

No governo Dilma 1, houve um relativo desarranjo dos nexos democrático-institucionais que suportavam a aliança social-desenvolvimentista. Além disso, outros três problemas ocorreram: os escândalos de corrupção (julgamento da Ação Penal 470 no STF e Operação Lava Jato), o baixo crescimento e o acirramento do conflito distributivo, cujas primeiras expressões públicas mais claras foram as manifestações de junho de 2013 e os rolezinhos de janeiro de 2014. Apesar das quatro vitórias sucessivas nas eleições presidenciais, o PT e o governo da presidenta Dilma, mandatária reeleita em um contexto de acirrada disputa contra a coalizão neoliberal liderada pela grande mídia, foram acossados pela direita liberal-conservadora, que, como não é novidade, possui bases sociopolíticas e político-institucionais na sociedade brasileira. Apesar da reeleição de Dilma, o Congresso eleito em outubro de 2014 e empossado em fevereiro desse ano tem, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), o perfil mais conservador de todo o período pós-1964. Aumentou o número de parlamentares militares, religiosos e ruralistas, por exemplo, grupos com perfil político predominantemente conservador. No caso dos religiosos, o conservadorismo abriga-se, sobretudo, na bancada evangélica. E o número de deputados federais comprometidos com as causas sociais caiu.

Os conservadores têm apego às instituições sociais e políticas tradicionais e resistem às mudanças. Na história contemporânea, ocorreram várias reações conservadoras, como, por exemplo, na Europa, a partir do fim das Guerras Napoleônicas, com um conteúdo monárquico, antiliberal e antinacionalista e nos EUA, no século XX, contra as reformas progressistas e o New Deal. O referido conservadorismo europeu, aberto pelo Congresso de Viena, foi um tsunami continental.

No Brasil, a onda conservadora, que tem no presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma importante alavanca institucional, entre outras façanhas, se opôs à Política Nacional de Participação Social e está dando asas a projetos de lei como o Estatuto da Família, que vai de encontro aos direitos dos casais homossexuais, o Estatuto do Nascituro, que questiona pesquisas com células tronco, quer incluir o aborto na categoria de crime hediondo e aprovar a proposta do Dia do Orgulho Hetero, reduzir a maioridade penal, constitucionalizar o financiamento empresarial eleitoral e instituir o chamado distritão, um sistema eleitoral ainda mais personalista e nocivo ao fortalecimento dos partidos que o atual. Uma agressiva frente conservadora se observa no modo como a grande mídia e setores da oposição estão abordando os problemas de corrupção, especialmente a Operação Lava Jato. Enquanto os holofotes deixam em segundo plano a Operação Zelotes, que envolve bilionárias quantias de sonegação e fraude feitas por empresas e elites da burocracia pública, toda uma ofensiva é feita para associar a corrupção ao partido e aos governos que introduziram as mudanças progressistas que hoje estão em risco, ou seja, ao PT, Lula e Dilma. Como se não bastasse, o conservadorismo avança em duas frentes estratégicas, de grande impacto na economia: por um lado, na macroeconomia, com a retomada das altas na taxa básica de juros e o ajuste fiscal na gestão pública, por outro, na terceirização nas relações de trabalho.

Se hoje ainda não há um tsunami por aqui, também não se trata de mera marolinha. O conservadorismo representa uma coalizão de diversos interesses, incluindo o rentismo e a financeirização, nacional e internacional, a ofensiva do capital globalizado contra a força de trabalho regulamentada, a cobiça pela gestão neoliberal da Petrobras, à qual o modelo de partilha se opõe, a manutenção do status quo da desigualdade que alguns estratos das classes médias tradicionais não querem contribuir para alterar, certa fé obscurantista de lideranças religiosas etc. O que fazer para enfrentar essa onda conservadora é a grande questão a ser debatida e respondida pelas forças progressistas, que alavancam a revolução democrática.

* Marcus Ianoni é cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador das relações entre Política e Economia.
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Fonte: Jornal do Brasil

Alunos promovem quebra-quebra em escola de Goiás

RIO - Um grupo de alunos da escola Caic Tancredo de Almeida Neves, em Goiás, realizou um quebra-quebra no colégio, na última sexta-feira. A ação dos jovens foi filmada e divulgada na internet. De acordo com a secretaria municipal de Valparaíso de Goiás, os estudantes que participaram do motim já estão sendo identificados e “representam uma minoria entre os quase 600 alunos de 6º ao 9º ano que estudam no período vespertino”.
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Durante a ação, o grupo revirou carteiras escolares e quebrou janelas e portas. A secretaria informou que todos os objetos danificados já começaram a ser substituídos. Segundo relatos, o motivo da ira dos alunos seria a postura mais rígida da nova direção.
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O governo local admitiu que a escola enfrenta “historicamente” problemas de indisciplina e garantiu que a questão vem sendo tratada com “projetos que envolvem o fortalecimento do conceito de cidadania e maior participação dos pais e da sociedade no ambiente escolar”.
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A secretaria de educação informou ainda que irá estender o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), desenvolvido pela Polícia Militar, aos estudantes do 6º ao 9º anos. Atualmente, o projeto, que é visto pelo órgão como uma das ações de fortalecimento da cidadania, é feito apenas com os alunos de 1º a 5º ano.
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Fonte: O Globo (29/04/2015)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

'É cuspe e giz'

Relato de professor que voltou à sala de aula após 20 anos revela realidade nua e crua de uma escola estadual
Por Antônio Gois (jornalista)
 
"Sou formado em Física, com licenciatura, mas trabalho em outra área. Sempre estudei em colégios e universidades públicas. Percebendo a carência de professores no estado, me inscrevi no cadastro de contratações temporárias. Ano passado tive a oportunidade de lecionar em dois colégios estaduais. Tenho observações a fazer que representam o olhar de um cidadão que deseja cooperar."

Assim começava um e-mail recebido pela coluna, enviado por um professor que ficou mais de 20 anos afastado da sala de aula. Ele queria contar mais de sua experiência, e marcamos um encontro. Pediu que seu nome, bem como o das escolas onde atuou, não fosse divulgado. O objetivo da publicação de seu relato pessoal aqui não é generalizá-lo, pois é certo que há muitas realidades no ensino público. Mas é uma história, como tantas outras, que merece ser ouvida:

"De início, senti muito entusiasmo. O salário era baixo, mas não estava ali por isso. Já no primeiro encontro com o diretor, me assustei com uma pergunta: 'o senhor vai mesmo aparecer, não é'? Ele explicou que o último que veio para dar aulas de Física se apresentou no primeiro dia e nunca mais voltou.

"No primeiro contato com o outro professor de Física da escola, perguntei qual o livro utilizado. 'Nenhum', respondeu ele, explicando que as obras ficavam guardadas num armário porque os alunos 'não queriam carregar os livros para casa e não havia como distribuí-los e recolhê-los a cada aula'. Comentei que pretendia preparar uma aula no Power Point, para deixá-la mais dinâmica. Com certa incredulidade, meu colega respondeu: "Se quiser, pode fazer". Mas o diretor me incentivou. A escola possuía um excelente equipamento de data show, que não era preciso reservar com antecedência, porque poucos usavam.

"Tentei fazer algo diferente, mas fui percebendo que não seria fácil. Vi que, mesmo no ensino médio, os alunos não haviam aprendido conteúdos que já deveriam ter sido ensinados no fundamental. O problema era comum aos colegas de outras matérias. Pedi ao diretor para ver as provas do último professor. As notas, com poucas exceções, variavam de zero a um.

"Ao longo do ano, vi vários alunos em sala usando fones de ouvido, celulares, interrompendo constantemente a lição. Testemunhei até agressões físicas. Sentia que os jovens não me viam como aliado para aprender, mas como um obstáculo a ser superado na obtenção do diploma. Mas como seriam aprovados se nada sabiam e, principalmente, não faziam nenhum esforço para aprender? Se as provas apresentavam resultados tão ruins, os índices de reprovação deveriam ser enormes. Disse ao diretor que não teria condições de aprovar a maior parte da turma. "Pelo amor de Deus, professor, o que será desses alunos?", respondeu ele.

"Fui percebendo como todos davam um jeitinho de driblar a falta de conhecimento. Notas em trabalhos de pesquisa feitos em poucos dias... Projetos sérios nem pensar, pois eles não queriam se engajar em nada. Os próprios estudantes apontavam a solução: 'Professor, quando o senhor vai dar um trabalho? Uma coisa pra gente fazer em casa...'

"Aprovação sem mérito desqualifica o diploma. Por outro lado, o diretor tinha razão, reprovar em massa parecia um desastre. Assim, ante a inevitável incapacidade de despertar o interesse dos alunos em aprender com o crivo dos testes, sucumbimos todos.

"Ao entrar, no fim do ano, na sala de professores com um calhamaço de pesquisas sob o braço, encontrei o mesmo professor que me recebera com desconfiança. Sem conseguir disfarçar o sorriso irônico, ele comentou: 'Viu, professor? Com esta clientela, não adianta: é cuspe e giz!'
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Fonte: Globo (27/04/2015) - http://oglobo.globo.com/pais/moreno/

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Um ministro com luz própria

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Por Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br)
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Num governo marcado por ministros inexpressivos, surge enfim uma estrela de primeira grandeza. Na última semana, tomou posse como novo ministro da Educação o filósofo e professor de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro. Ele ascende ao comando da pasta saudado por integrantes do governo, oposição, universo acadêmico e meio intelectual imbuído de um dos maiores desafios impostos ao segundo mandato da presidente Dilma: proporcionar o salto necessário para uma educação de qualidade. Até agora, o propalado “Brasil, pátria educadora” permanece circunscrito à retórica da presidente. O próprio ministro, antes de ser convidado, vinha tecendo críticas a Dilma Rousseff e a sua maneira de conduzir o País. Disse que ela não fazia política, tinha uma concepção de governo “autoritária” e não dava autonomia aos ministros, sendo “uma decepção do ponto de vista econômico”.
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Em entrevista à ISTOÉ, ele reconhece que virou vitrine do governo. “Altas expectativas sempre deixam a gente vulnerável ao risco de decepção”, pondera. Mas, ao acentuar que os projetos de sua pasta são de longo prazo, sugere que as cobranças também deveriam ser. Nascido em Araçatuba, no interior de São Paulo, e vivendo na capital, Janine, 65 anos, é separado e tem dois filhos. Doutor pela Universidade de Sorbonne, na França, é autor de 18 livros publicados, 78 capítulos de livros editados, além de um grande número de artigos veiculados nos principais jornais do País. A este relevante currículo, ele agora acrescenta mais um item: tornou-se quase uma unanimidade na política brasileira.
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ISTOÉ – Como se sente sendo alvo de tanta expectativa agora?
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Renato Janine Ribeiro – Sinto que não é uma coisa pessoal. Há, no Brasil, um espaço de muita esperança na educação. Só que isso é muito vago, quase uma panaceia. Mas educação é muito ampla mesmo, não é só formal, ela abrange muitas coisas. Por eu ser um educador, não ter ligação com partido político, cria uma expectativa de que alguém da área tenha maior preocupação com a pasta. Mas é claro que não precisa ser assim. Veja que trocas engraçadas deram certo: o (Antonio) Palocci, que é médico, foi bom ministro na Fazenda (governo Lula) e o (José) Serra, que é economista, foi bom ministro na Saúde (governo Fernando Henrique Cardoso).
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.ISTOÉ – Mas é o sr. que passa a ser vitrine. Está preparado para levar pedradas?
Janine – Espero que esteja... Altas expectativas sempre deixam a gente vulnerável ao risco de decepção. Agora, a gente tem que pensar isso tudo a longo prazo. Podemos ter, este ano, dificuldade orçamentária, mas isso vai passar. Temos um projeto de 10 anos, o Plano Nacional de Educação (PNE), que mostra um caminho, e dá segurança de longo voo. O fato de a presidente Dilma (Rousseff) ter escolhido Pátria Educadora como tema é muito significativo porque coloca as ações do governo sob a inspiração da educação. No plano simbólico, é um reforço. No financeiro também deve ser.
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ISTOÉ – Que tipo de ministro ou educador o sr. pretende ser?
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Janine – Eu gostaria de fazer três coisas principais: expansão quantitativa, que é uma questão de justiça social porque ainda temos muita gente longe dos benefícios da educação; qualidade que acompanhe essa expansão numérica e, em terceiro, tentar dar espaço para experiências criativas. Hoje, a educação está extremamente associada, no mundo inteiro, à criatividade. E isso não é só uma questão de dinheiro, é de postura. Na internet tem uma enorme quantidade de conteúdo de qualidade; se souber fazer bom uso, se consegue resultados muito positivos. Conseguimos tornar as pessoas mais educadas e mais cultas.
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ISTOÉ – Acha que ética é um tema que deveria constar de todo o ciclo educacional? Em que idade as escolas deveriam começar a ensinar ética?
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Janine – Durante os últimos anos, atuei como consultor para a Unesco na elaboração de um programa de ética para escolas de ensino médio do Sesi. Não integro mais o programa, mas ele está sendo implantado em Salvador, na Bahia. Os pontos principais são: não se trata de dizer o que é certo ou errado, mas capacitar a pessoa para ser um sujeito autônomo. A palavra-chave na ética é autonomia – ou seja, aquele que dita a lei, o “nomos”, a si próprio, “autos”. O sujeito autônomo é aquele que encontra seu próprio caminho e responde por isso. Outro ponto é o aprofundamento dos valores. Por exemplo, as pessoas entendem o valor ‘não matar’ de uma maneira muito preguiçosa, como sendo não tirar vidas. Mas inclui também acudir pessoas em estado de risco, em situação de vulnerabilidade, de fome, de doença. Então, se você passa por essas pessoas e as deixa nessa situação, está conivente com a morte delas. A ideia central, neste caso, é fazer pensar o que ‘não matar’ quer dizer, e fazer os alunos explorarem as significações adicionais.
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ISTOÉ – Em sentido mais amplo...
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Janine –  A ética pode substituir a violência por uma cultura de paz, o que é muito importante. Há em certas escolas um ambiente de violência que precisa ser revertido. Também pode desenvolver um pouco do sentimento de responsabilidade do estudante pelo País e a sociedade que o proporcionou estudar. Às vezes, esses estudantes estão em boas universidades, ótimas, sem pagar nada, mas não se sentem responsáveis pela sociedade que os educaram. Isso é ruim.
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ISTOÉ – O sr. tem ideia do montante dos recursos do pre-sal? Como pretende usá-lo?
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Janine – Não tenho. Nem como pretendo usar. Mas será muito bem usado, isso eu posso garantir.
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ISTOÉ – O sr. disse:“Não poderemos promover mudanças sem uma constante valorização do professor, em todos os níveis de ensino.” Inclui aumento dos salários?
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Janine – Com certeza. A valorização do professor de educação básica é paga pelo estado e município. A situação orçamentária da União não é muito afetada por isso. Algumas das metas até 2020, contidas PNE, são fazer com que o salário de quem dá aula na rede pública fique no mesmo nível de uma pessoa com igual escolaridade, quatro anos de faculdade, que trabalhe fora do ensino. Hoje, o salário médio do professor de ensino básico estadual ou municipal é 72,7% do salário de quem está atua em outros segmentos.
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Fotos: Paulo Quintas/Editora Globo; Roberto Stuckert Filho/PR.

Educação básica terá prioridade do MEC, diz Renato Janine

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A educação básica, que vai da creche até o ensino médio, será prioridade do Ministério da Educação (MEC), no que diz respeito a preservação de recursos, segundo o novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. "Todos os ministros dizem que o foco principal é a educação básica. Com certeza é e com certeza tem que ser e isso é mais ou menos óbvio, as crianças são as mais vulneráveis", disse em coletiva de imprensa logo após receber do ministro interino, Luiz Cláudio Costa, o comando da pasta. O novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro disse que o MEC vai colaborar com o ajuste fiscal, que ainda será anunciado pela presidenta Dilma Rousseff (Valter Campanato/Agência Brasil)
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Ribeiro disse que o MEC vai colaborar com o ajuste fiscal, que ainda será anunciado pela presidenta Dilma Rousseff. Hoje (6), na posse do novo ministro, a presidenta garantiu a manutenção dos recursos para os programas essenciais da pasta. O MEC agora avalia quais gastos podem ser adiados e como pode colaborar com o ajuste. "Ainda não sabemos qual a dimensão do corte", disse o ministro. "Vamos escalonar os desembolsos caso haja uma redução significativa". O MEC foi a pasta que mais sofreu com a redução do fluxo do Orçamento estabelecido pelo governo no início do ano, por ser a pasta com o maior orçamento. Ribeiro pretende engajar universidades e institutos federais no ensino básico, para "aumentar a produtividade do nosso orçamento". O ministro também destacou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) como um dos programas prioritários, sem especificar se haverá ou não redução de repasses. Em relação ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), também não mostrou previsões. A pasta voltou a garantir a renovação dos 1,9 milhões de contratos já firmados. Até o momento, segundo dados do MEC, 1,5 milhões fizeram o aditamento. Mais 210 mil firmaram novos contratos.
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Na coletiva de imprensa, voltou a enfatizar o Plano Nacional de Educação (PNE), como "um livro guia", que, em dez anos, "trará uma mudança radical na educação brasileira". A lei estabelece 20 metas desde a educação infantil até a pós-graduação para serem cumpridas em uma década. Consta no PNE o investimento de pelo menos 10% do Produto Interno Bruno (PIB) em educação no final desse período. Perguntado sobre as críticas que fez ao atual governo antes de ser convidado a ser ministro, ele disse que se sente confortável a assumir a pasta. "Quando [Dilma] me fez o convite disse: 'professor sabemos tudo sobre o senhor'. Entendi justamente que a presidenta estava me dispensando de dar qualquer explição, considerei sinal de grandeza, de que aceita críticas", disse.
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Segundo o próprio ministro, ele disse em entrevista que o PT, antes de governar, tinha um discurso essencialmente ético e que, após assumir o país, parou de proferir esse discurso. "Justamente quando faz críticas, se responsabiliza a resolver os problemas", acrescentou.
Renato Janine Ribeiro é o quarto nome à frente do Ministério da Educação em menos de dois anos. No início de fevereiro de 2014, o então secretário executivo, Henrique Paim recebeu o cargo do ministro Aloizio Mercadante, que assumiu por sua vez a Casa Civil. Após Paim, a pasta foi comandada por Cid Gomes, que se envolveu em discussão com parlamentares.
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Gomes não compareceu à cerimônia de transmissão de cargo. Ribeiro recebeu a pasta do ministro interino Luiz Cláudio Costa, que comanda o MEC desde março..
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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Lembranças.... das veias abertas da América Latina

Faleceu o escritor uruguaio Eduardo Galeano nesta segunda-feira (13), aos 74 anos. Ele é o autor do consagrado livro "As veias abertas da América Latina" que, nos dias atuais ainda revela o caldo de dependência econômica, cultural e política que assola a América Latina.
 
 
 
 
 

Entre professores e pesquisadores

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Lúcio Alves de Barros*
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Uma professora foi chamada atenção por ter publicado em uma revista de Qualis C da CAPES. Transtornada, achou que “o mundo caiu”. Lágrimas foram soltas, buscas no inconsciente de algo que teria feito duraram dias e a leitura dos clássicos foi necessária para perceber ou legitimar o que ainda anda fazendo. A professora em crise leciona há 20 anos e não me parece prudente sua preocupação, a não ser o de dar maior relevância para aquilo que não tem. Acredito que professores e também pesquisadores fazem mais.
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É óbvio que nem todo professor é necessariamente um pesquisador. Pode até ser que pensemos que o ato de lecionar é uma pesquisa em potencial, mas isso não conta para as contas do governo e dos programas de pós-graduação. O que vale é o nível “A”, talvez um “B1”, índices de revistas (http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam) que somente os pares vão ler. O professor, lotado de aulas e que segura as pontas em sala é somente uma pequena peça nas universidades e nas faculdades, especialmente as particulares que vivem do dinheiro público e das mensalidades. Apesar de garantir o pão nosso de cada dia no ensino superior esses professores carregam o desconhecimento dos pares, possuem dificuldades em entrar nos grupos já formados “de pesquisa” e ainda são obrigados a ouvir asneiras em salas de reunião.
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Problemático tudo isso, haja vista que o docente em sala de aula me parece crucial em tempos líquidos onde a juventude é hedonista, a velhice esquecida e a criança rejeitada. Mais que isso, em tempos que valores em torno da vida e dos mais fracos se fazem importantes, as universidades e faculdades estão preocupadas em atender a CAPES e ver professores se transformarem em “celebridades de minutos”. É uma piada, pois essa representação de um mundo que funciona somente na cabeça dos que estão no curso superior pouco tem de serventia para a maioria das pessoas que pegam ônibus, ganham salário, limpam suas casas e ficam mais de 16 horas fora do domicílio.
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Nada contra a pesquisa, mas antes de tudo é preciso perguntar qual é a sua serventia. Há anos vejo dissertações, teses e mais teses sendo defendidas. Todas tem o mesmo caminho: a biblioteca e citações em um “currículo lattes” (http://lattes.cnpq.br/). Dali, o antes aluno, publica a tese em artigos e depois se esquece de todos os achados que fez. O mesmo faz os órgãos governamentais da educação que, como tudo indica, preferem as experiências estrangeiras. Na realidade, a maioria do que se faz nas universidades não chega ao público. Mantemos uma universidade para a elite, as faculdades, notadamente as particulares, para a ralé e no meio é possível encontrar alguns professores e pesquisadores que conseguem algumas bolsas, uma razoável condição de trabalho e artigos publicados, mas nada que se transforme em política pública ou que modifique tanto as instituições como as pessoas.
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É o cúmulo do absurdo e falando ninguém acredita, porque tanto professores como pesquisadores são frágeis e suas ideias efêmeras. Em uma tacada só, órgãos governamentais arrancam bolsas, acabam com trajetórias, inviabilizam carreiras e esquecem as pessoas. O mundo acadêmico é um teatro onde se encontram um monte de gente que cita outro monte de gente, e é melhor citar os conhecidos, pois ai do professor/pesquisador que não leu o “fulano de tal”. A chamada é, “Oh! Você não leu?”. Daí vem um silêncio, um acordo tácito de “incompetência”, a sensação de que algo está faltando e de um desconhecimento do que realmente é importante para a vida. Quem leu o famigerado autor sai como pavão, pois conhece os poleiros e abre bem sua calda quando se faz necessário.
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Finalizo homenageando a professora que leciona e que também pesquisa. Admiro sua franqueza e capacidade de lecionar. Admiro sua fortaleza e garra para segurar e arrancar de alunos a atenção que hoje é dada ao celular. Na realidade é desta professora que precisamos, pois é ela que atinge um mundo incrível de desconhecimento e de pessoas que não sabem nem ler o que o colega pesquisador escreveu. O professor é muito mais reconhecido pelos alunos em sala do que pelas letras que escreve em artigos científicos, teses e dissertações que ficam a acumular poeiras em estantes de bibliotecas. A verdade é essa, salvemos os professores, vamos garantir melhores condições de trabalho para que todos virem bons pesquisadores, mas não tenhamos dúvida, que ambos virem escritores e poetas, talvez amantes da literatura e da vida, tudo para garantir dias melhores para as universidades que andam penando diante de todo descaso com aqueles que vivem labutando nas salas de aula ou escrevendo para um público que ainda anda cego e surdo.
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* Professor da FAE/UEMG/BH, Doutor em Ciências Humanas pela UFMG.

Escola está fora da rota de 172 mil jovens

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por Joana Suarez
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Com a morte do pai, Lorraine Stephanie, na época com 15 anos, precisou sair da escola para trabalhar e ajudar a mãe em casa. Luiz Eduardo Costa, 19, largou a sala de aula há dois anos para complementar a renda da família, que está reformando a casa. Com apenas 13 anos, Eduarda Stefany Gonçalves vê alguns jovens conquistando a independência financeira e planeja fazer o mesmo para juntar dinheiro para sua festa de 15 anos. Histórias diferentes mostram a mesma realidade: 27,5% dos mineiros de 15 a 17 anos não conseguem conciliar trabalho e estudo.

Ao todo, 172 mil adolescentes mineiros estão longe das salas de aula. Em todo o país, o número chega a 1,7 milhão. Eles são os “invisíveis” na demanda por uma vaga no ensino médio – e nesse universo a necessidade de trabalhar está entre as principais causas da evasão escolar. A redução das vagas no período noturno é mais uma das formas de exclusão.

“A relação com o trabalho diz respeito à sobrevivência e à possibilidade de menino viver sua juventude, porque ele quer comprar uma roupa, sair com a namorada. É a escola que tem que se adaptar à realidade dele, e não o contrário”, destaca o doutor em Educação Juarez Dayrell. 

Segundo ele, em 2008, uma grande pesquisa sobre os motivos de evasão escolar constatou a falta de interesse como fator de desistência do aluno à época. “Quando falamos isso, parece que o problema é o aluno, mas quando a gente se aproxima do cotidiano escolar, nós vemos que há um conjunto de fatores que produzem essa falta de interesse: a aula chata, o professor, a dificuldade, o cansaço do aluno que trabalha”, diz Dayrell.

“Cheguei à 8ª série com 13 anos e tomei três bombas por causa das amizades na rua. Aí, desisti da escola. Eu não escutava ninguém. Quando olho para trás, penso quanto tempo perdi. Já podia ter formado há cinco anos”, desabafa Cláudio Vinicius Santos, 21, que hoje tenta concluir o ensino médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Há que frisar que a responsabilidade pela evasão não é apenas da escola. Professores em instituições inseridas em comunidades carentes e violentas perdem muitos alunos para o crime – aí incluído o tráfico de drogas – e para a prostituição. “Ele quer ter renda, mas não consegue emprego. Daí ele procura o dinheiro fácil”, conta um docente.
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Fonte: Jornal O TEMPO (MG)

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Estado Mascarado



Por 
 
Sábado fui no Rio de Janeiro, no protesto contra as mortes no Morro do Alemão. Querendo falar e desisto. Desesperança completa. A sensação mais viva é de que nada disso vai ter fim.
 
Política de drogas hipócrita, mas não só hipócrita, afinal é exatíssima no intento porque lucrativa demais pra gente poderosa demais e morte de quem não tem dinheiro tá tudo certo pra esse esquema aterrador. O Estado mata, a imprensa diz ok, a sociedade diz amém e seguimos como se nada. E, ironias da vida, nunca se falou tanto em Deus.
 
Uma criança leva um tiro de fuzil na nuca, disparado por um policial, na porta de casa. Como dizia um cartaz na caminhada “tiro na cabeça não é despreparo”. Minha cabeça rodando, o corpo dói de tristeza, nojo da forma como a gente se organiza pra viver, pra que uns vivam e outros não.
 
Sol de outono gritando, às 10:30 da manhã de 4 de abril, na entrada da Grota, pé do Morro do Alemão. Um microfone ligado no ponto de táxi. Muita gente vai lá e fala de dores coletivas, em discurso emocionado, poesia, música, enquanto outros grafitam uma parede, outros observam, uns com cartazes, outros não, todos com rostos cúmplices da mesma ideia. Gente do morro e do lado de baixo também. Todo mundo era irmão de algum jeito ali e só ali. Uma força coesa que dava até a ilusão de vitória. São bonitos demais esses momentos. Gente pedindo a mesma coisa, mesmo com pontos de vista diferentes, discursos diferente às vezes: PAZ. Não uma paz subjetiva, mas um pedido muito concreto, pela dor ainda vivíssima das mortes das últimas décadas, últimos anos, meses, dias, mortes sem fim, incluindo a de Eduardo de Jesus.
 
Alguém falava no microfone “bala perdida” e alguém gritava de longe “bala achada!”, alguém gritava “fora rede Globo!” e alguém gritava de volta “é importante todas as TVs estarem aqui!”…
E fomos nós no solão…
 
Às vezes fecho os olhos enquanto vou devagar nessas turbas de andada, em protestos por isso e aquilo, nessa cidade e naquela outra e na outra de lá. Faço isso faz tempo e sempre que abro os olhos me pegam de jeito os olhares dos policiais. Os olhares deles dizem em que parte da cidade você está. Eles olham te dando segurança (ou achando que te dão isso) ou te inspirando medo e apenas medo.
Um carro de apelido Caveirão já é por si uma aberração. E dentro da caveira o Estado mascarado, armado até os dentes, fuzis pra fora das janelas, imponentes, lataria com tinta bonita, preto fosco, pneus robustos e ameaçadores. Pra quem mora ali normal. Não poderia ser. Mas é. Normal.
 
O inimigo é a população numa praça, chorando seus mortos.
 
A última andada que tinha ido por morte foi na Vila Sabrina, São Paulo, a de Douglas, morto por um PM porque ouvia som alto no carro. “Douglinhas”, cantavam os amigos, com foto dele na camiseta e também gritavam “Luciano, assassino! Luciano, assassino!” olhando nos olhos dos policiais que acompanhavam o trajeto. Douglas foi aquele que olhou pro policial que tinha acabado de dar um tiro no peito dele e perguntou “por que o senhor atirou em mim?”.
 
E, do mesmo jeito do Rio, um monte de mães com foto de filho assassinado.
 
Dói o motivo da andada e mais ainda os olhares da grande maioria dos policiais ali naquela quebrada e naquela outra ali também. Em Recife, São Paulo, Rio, Salvador…Nossas favelas, nossas Palestinas. Nosso Quênia.
 
Dias antes moradores já tinham descido, querendo justiça, dizendo não pra essas mortes, querendo liberdade, ir e vir, querendo poder celebrar, nas suas próprias casas, no seu próprio bairro e receberam do Estado bombas de gás .
 
Muitos não vão. Medo justíssimo. Outros querem ir e são impedidos. Alguém no microfone, pouco antes da saída, falou que tinha polícia lá em cima com gás de pimenta, impedindo muita gente de descer.
 
No protesto de Douglas alguém, acho que da Anistia, ou da Secretaria de Direitos Humanos, não lembro bem agora, me falou que Emicida ia falar logo mais e me pediu pra falar também. Não consegui. Digo aqui o que falaria lá se não estivesse com o juízo tão tremido.
 
Emicida falou que estava ali porque aquilo podia ter acontecido com ele. Isso me deu mais certeza de não ir lá falar nada. Mas tive vontade de dizer que estava ali porque não poderia ter acontecido comigo e que isso me doía tão fundo e mais fundo…Os dois motivos nos ligavam e isso era importante. Queria falar que nós todos precisávamos estar juntos, que essa era a minha certeza na vida. Precisamos estar juntos, é a única saída possível. Mas não, eu não falei nada disso ali.
 
O pai de Douglas falava “meu filho estava com documentos! Eu sempre falava, Douglas, levou a identidade? E ele sempre levava. A identidade e o cpf…ele era um menino trabalhador, responsável”.
Eu queria gritar enquanto ouvia aquilo! Gritar que qualquer pessoa podia andar sem documento, ser mal aluno, não ser trabalhador, ser farrista, dormir na rua, ouvir o som mais alto do bairro. Gritaria também, na cara do PM que me olhava feio, que nem fumar ou vender maconha, cheirar ou vender pó (pra gente de bairro rico cheirar tranquilo, pra políticos cheirarem tranquilos…)…que nada disso, absolutamente, poderia servir de argumento pra um policial matar ninguém. Mas, claro, eu não disse. Lógico que eu não disse!! E eu não poderia falar nada depois daquele pai. Nada. Meu grito foi pra dentro mesmo, onde ele deveria ficar. Tudo certo. Tudo errado.
 
Um fotógrafo falou “segura  a faixa ali junto com eles, pra eu registrar?”. Não fui. Só queria andar junto, gritar junto. Que eles aparecessem na foto com a dor deles e só deles, dor que eu apenas projeto, que eu apenas desconfio de como seja e nem me imagino suportando. Eu que já chorei meus mortos de outra guerra, em outros morros, de outro alemão…
 
Com Eduardo de novo a mesma coisa, “ele era um bom aluno, um menino de ouro…estava na porta de casa com um caderninho da escola”. Quero gritar de novo. Mas o que eu posso falar depois dessa mãe? Nada. Engole aí. Nova náusea.
 
Não tem fim. Não tem fim, inclusive, porque não é que estamos estagnados, estamos indo no sentido completamente inverso à solução. Vamos reprimir mais em vez de desmilitarizar. Vamos reduzir a maioridade penal, em vez de transformar essa política de drogas hedionda. Vamos botar mais polícia repressora em vez de escola, saúde e diversão pras crianças.
 
Em protesto na periferia a polícia te olha com fome. A polícia te dá medo, muito mais medo do que daquele lado onde se tem dinheiro. Sem falar nos lugares onde ela mete medo nenhum, muito pelo contrário, onde quem protesta tira selfie com policiais sorridentes, fazendo o legal com o dedão e emoji de coração.
 
Em protesto na perifa, irmão, caso você de lá não seja e lá nunca tenha ido e, logo, disso nunca tenha sabido na pele, a polícia te olha como uma infecção. Sim, tem exceção. Ela só não dá conta dessa demanda. Os que descem o morro pra protestar são heróis e heroínas, corajosos no limite. Olhar nos olhos de quem te rouba a naturalidade do dia a dia, a leveza na vida, no mínimo…ou um parente, amigo, vizinho, quando chega no seu máximo de eficiência é para os fortes, muito fortes (vale lembrar que alguns policiais filmavam tudo com celular). Sua festa você não vai poder fazer, mas alguém vai poder matar seu filho e isso vai gerar uma nota de jornal, ou matérias tratando o assunto como corriqueiro.
 
Parênteses pra lembrar que nesse mesmo dia teve entrega de ovos de Páscoa e de gibis pelos guerreiros do Voz da Comunidade. Coisa linda danada que eles fazem.
 
Um tiro de fuzil na nuca de uma criança no Leblon, em Copacabana…dado por um agente do Estado, geraria jornais inteiros por meses, novelas e longas metragem, leis seriam mudadas, quem sabe a polícia desmilitarizada, a família pararia o trânsito da cidade inteira e seria aplaudida por toda sociedade emocionada e generosa. Seria uma Páscoa lembrada como um 11 de Setembro. Flores, fontes e monumentos. Nome de rua mudado, instituto com o sobrenome da criança, altar monetado na praça, o nome do personagem da nova minissérie.
 
No Morro a família e vizinhos descem pra protestar e levam bomba de gás na cara. Sim, já sabemos. Sim, isso é praxe. O tiro de fuzil tratado como um acidente de percurso, uma fatalidade no combate a o que mesmo? Ao mal?
 
Tinha uma criança bebê, no colo da mãe, com um riso tão aceso e que todo mundo ali queria que continuasse a existir sempre, querendo só “é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar…”. E essa música, a mais bonita de todas naquela quentura fastiosa, a poesia maior de todas, o maior fundamento de liberdade.
 
E aquela coisica pequena, tão linda e aquele olharzinho tão olharzão, que eu cruzava hora e outra, no meio da multidão e que me dava gotinhas de alegria nesse dia de Rio tão choro.
 
As crianças ali todas certeiras, completas de vontades, com cartazes fortes e seguros. Olhavam pras câmeras, rostos sérios, encarando qualquer coisa que essas câmeras (às vezes câmeras abutres…) tivessem a dizer, a corresponder, nem que fosse só com dor dividida, nem que fosse só com culpa.
 
Saí de lá me sentindo estranhamente culpada, cabeça abaixada, desmerecedora de qualquer coisa que eu já tenha, até de verdade, merecido. Isso também passa e depois dá até pra fazer música amena.
Com a dúvida se fazemos tão pouco porque somos impotentes no sistema ou se somos impotentes no sistema justamente por fazermos tão pouco.
 
E a vida passa.
 
E o Rio, que semana passada não me deixou dormir de cachaça, no Sábado de Aleluia não me dorme de tristeza.
 
P. S. Depois de tantas mortes, o governador Pezão deu a notícia que a PM vai ~reocupar~ o Alemão. “Vamos entrar mais fortes, fazer uma reocupação. Segurança continua sendo nossa política mãe”.
Segurança de quem, governador?
 
A mãe de quem?
 

Política X Economia

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Por Lúcio Alves de Barros*
 
Início de governo deve ser um inferno para as autoridades que através do voto conquistaram o poder. Inferno também é para aqueles que os colocaram por lá. Digo isto devido ao clima de ansiedade e insegurança social que tomou as pessoas desde as recentes mudanças governamentais. Na “calada da noite” a senhora presidente Dilma levou a efeito as propostas do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o qual - como tecnocrata que é – observa somente os números e não as pessoas.

As propostas governamentais, não discutidas nas eleições, buscam a famigerada austeridade fiscal. Esta nada mais é do que a ação de cortar gastos no intuito de evitar o déficit público. Assim, em uma tacada só o governo decidiu por lotar os bolsos e propôs - dentre outras medidas - o retorno da contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE) sobre os combustíveis, o aumento de impostos sobre as operações financeiras (IOF), o aumento do PIS/Cofins sobre produtos importados, mudanças  no abono salarial, seguro-desemprego, auxílio doença e pensão de morte. As mudanças para uns são necessárias e para outros deve o Estado continuar da forma que está, dado que toda política de austeridade tem como pano de fundo o corte de benefícios e de direitos daqueles que tem menos. Contudo, a questão não é somente econômica e deve muito à política. Três pontos merecem destaque neste contexto:

Em primeiro lugar, é notório que a atual presidente se rendeu aos ditames liberais. Não o liberalismo político, mas o econômico baseado no capital, na meritocracia e na guarda daqueles que tem mais. Logo, a presidente mentiu em plena campanha eleitoral. De fato, ela manteve (até o momento) os programas sociais, mas eles contam muito pouco no PIB e logo se preocupou muito mais com os ventos internacionais do que as nossas fronteiras. Na trincheira de Brasília, a presidente jogou o pacote em nossas costas, explicou pouco, repetiu velhas receitas e agradou empresários locais e o mercado internacional.

Em segundo lugar, é claro que a presidente tinha que seguir este caminho. Depois de quatro anos sem controle nos gastos e com a corrupção à solta, não haveria outra forma senão a de apertar os cintos, seguir as regras do FMI e resguardar o apoio político. Não por acaso ela manteve os 39 ministérios e rifou todo o governo dentre os partidos aliados. Contraditória iniciativa, dado que muitos ministérios demandam mais dinheiro, sem falar da disputa entre eles e do vazio político que se forja diante da compra das lideranças.

Em terceiro e último lugar, é sempre bom tomar cuidado com o hiper-poder do executivo. Deputados e senadores no Brasil sempre esperam o executivo opinar. Somente depois ambas as casas tentam fazer algo que não seja uma CPI que termina arquivada. O fato é que o legislativo é omisso, covarde e longe da representatividade nacional. Podendo se locomover na máquina pública sem constrangimentos o executivo nada de braçada em um lago onde inexiste o tubarão da oposição. Sem controle externo, inclusive do judiciário, o novo e “velho” governo vende a ideia de credibilidade e honestidade tapando o sol com a peneira e tentando não afundar o barco.

O Brasil é isto: um lugar da insegurança generalizada. Entre e sai governo a sensação de que “alguma coisa vai acontecer agora” para tirar o sossego é certa. Os mais velhos passam a sofrer taquicardias, uma espécie de transtorno pós-traumático devido o transtorno Sarney, a síndrome Collor e o vírus FHC. Os jovens, uma geração morta e que vai para rua sem saber para onde ir, andam perdendo tempo, esperando acontecimentos, repetindo os erros dos pais e se entregando ao hedonismo sem medida. Mas está tudo bem, a política é para poucos e a ralé brasileira - apesar de “forte” - sabe que vai sobreviver, apesar dos custos da insegurança social, da saúde em frangalhos e da educação incapaz de conscientizar e auxiliar na emancipação humana.
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* Professor da UEMG / FAE/ campus BH e Doutor em Ciências Humanas pela UFMG.

Escolas em BH têm um caso de agressão por dia

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As escolas públicas (estaduais e municipais) e privadas de Belo Horizonte tiveram, em média, mais de uma ocorrência de agressão por dia em 2014. Entre janeiro e novembro, foram 372 registros, de acordo com o último levantamento da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). A violência nas escolas foi tema de audiência pública, ontem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
 
O secretário-adjunto de Educação do Estado, Antônio Carlos Pereira, diz reconhecer o problema e que uma das metas do governo é aumentar o tempo dos alunos na escola, não somente por meio do reforço escolar, mas também com ações de incentivo à cultura, cidadania e respeito à diversidade. Segundo ele, os projetos de segurança devem abranger todas as escolas para gerarem resultado. “Política pública que não é pensada para o coletivo é marketing”, afirmou.
 
Outra iniciativa contra a violência nas escolas é da Polícia Militar (PM) que, segundo o assessor de policiamento escolar e prevenção às drogas, major Hudson Ferraz, vai passar a direcionar estratégias de prevenção também a estudantes do ensino médio, a partir do segundo semestre. “Era uma preocupação nossa atender não apenas crianças, mas também os jovens”, disse. Atualmente, o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), da PM, se destina à educação infantil e ao ensino fundamental. Segundo o major, cerca de 3% do efetivo da corporação atua no policiamento escolar.
 
Para a presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, cursos e palestras são importantes, mas é preciso mais. Ela sugere, por exemplo, a criação de um protocolo de atendimento aos professores agredidos, para que episódios de violência possam ser investigados. “A violência gera ao professor humilhação, adoecimento e até vontade de desistir da profissão”, disse.
 
É o caso de Rosalina Amaral, diretora da Escola Estadual Bolívar de Freitas, na região Norte da capital, que foi agredida na nuca por um tripé de metal, por um aluno de 15 anos, no último mês. Ela está passando por tratamento psicológico e tomando antidepressivos, além de sentir dor de cabeça com frequência. “Tem dia que não consigo sair da cama”.
 
Patrimônio
 
Ocorrências de agressão em instituições de ensino:
Em 2013 (de agosto a dezembro)*:
1.964 em Minas Gerais (392,8 por mês) e 232 em Belo Horizonte (46,4 por mês).
Em 2014 (de janeiro a novembro):  3.374 em Minas Gerais (281 por mês), e 372 na capital (33,8 por mês).

*A Seds passou a registrar a partir de agosto de 2013.
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Fonte: Jornal O TEMPO