Orkut tem comunidades como 'Quero bater no professor" e 'Bruno, Mata minha professora?'
Letícia Casado e Rafael Sampaio - 15 out. 2010
Professores de escolas públicas e particulares sofrem com agressões feitas via internet. A popularização do Orkut, Twitter e outros sites de relacionamento fez com que também aumentassem os ataques virtuais aos docentes. Protegidos por uma tela e um teclado, estudantes do ensino médio e fundamental sentem-se “livres” para escrever o que querem – incluindo xingamentos e histórias caluniosas, muitas vezes provocadas pela raiva de uma nota baixa na prova ou por uma bronca em meio aos colegas na sala de aula.
Não há dados que comprovem o aumento do cyberbullying em relação aos professores, mas os docentes ouvidos pelo R7disseram sentir na pele as marcas dessa história. Em um dos casos, Ricardo Meca, que dá aulas de física do cursinho Oficina do Estudante, em Campinas, se viu obrigado a apagar o seu perfil na internet devido a mensagens anônimas escritas por alguns de seus pupilos.
- Algumas vezes os alunos fazem esse tipo de violência virtual dos próprios computadores da escola. Pode haver bloqueio ao MSN e eles burlam o bloqueio. Eu já tive Orkut e apaguei por conta de mensagens incômodas que recebi. Eles mandam textos anônimos, se protegem no anonimato. Mas isso não aconteceu com meu atual colégio ou cursinhos que dou aula, que fique claro.
Uma simples ronda no Orkut dá uma ideia de como se comportam essas crianças. É incontável o número de comunidades com ataques, com nomes que vão desde “Minha professora é uma vaca” a até “Bruno, mata a minha professora?”. Esta última, com quase 72 mil participantes, é uma referência ao ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, acusado de esquartejar a amante Eliza Samudio.
Para a psicoterapeuta e orientadora vocacional Celi Piernikarz, brincadeiras como essa do goleiro Bruno passam do limite sobre o que é saudável, mesmo em se tratando de adolescentes. Ela diz que a estrutura familiar é o mais importante na criação do jovem, e que isso interfere em como ele vai lidar com as autoridades.
- Hoje vejo que falta a questão dos valores. Os valores não estão muito presentes na vida dos adolescentes, respeito, valor do professor, profissão dele. O adolescente que faz esse tipo de coisa muitas vezes não tem referência do pai ou da mãe. Quando existe [apoio familiar], dificilmente ele vai tomar esse tipo de atitude [cyberbulling]. Ele vai pensar, refletir e separar o certo do errado.
O professor de Campinas conta o caso de uma professora que abriu um processo na Justiça contra um estudante que divulgou imagens e mensagens ofensivas via Orkut. Ela trabalha em uma escola particular de classe média no Estado de São Paulo.
- O estudante tem certeza da impunidade [quando escreve na internet]. Uma vez vi um grupo de alunos criarem uma comunidade da classe e um colega entrou anonimamente, xingou todo mundo. Ninguém conseguiu descobrir quem era, ficou tudo por isso mesmo.
Excesso de intimidade
Tanto o professor Meca quanto Ricardo Parolo Junior, que dá aulas de literatura no colégio COC, afirmam que o problema está em dar excesso de liberdade para os adolescentes. Eles ressaltam que o professor deve se resguardar quando os alunos extrapolam certos limites de liberdade. Parolo Junior conta nunca ter vivido um caso de violência virtual, mas que soube de colegas que foram humilhados via internet – também nenhum de sua atual escola. Já o professor de física diz acreditar que a superproteção dos pais propicia esse tipo de comportamento em estudantes de escolas particulares.
- Na escola, se o aluno ofender o professor cara a cara, vai ser repreendido na hora, receber uma suspensão. Com a internet é possível ter uma relação mais "covarde", de se esconder em um perfil anônimo. Na minha opinião, quando vejo isso na escola particular, sinto que é efeito de uma classe média emergente, que superprotege e mima os filhos. Eles sentem que não devem responder por seus atos.
Fonte: R7
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