terça-feira, 9 de outubro de 2012

A geração do atraso

07 de outubro de 2012 - Correio Braziliense (DF)
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Editorial: A geração do atraso
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A incompetência da mão de obra tem assombrado o setor produtivo no Brasil. Sem condições de educar a população, o país obriga as empresas a absorver brasileiros despreparados, um público que tem sido um peso para a competitividade da economia. A Escola, além de não formar gente qualificada, deixou crescer a evasão dos jovens entre 15 e 17 anos — justamente a idade em que se desperta o cérebro para o mercado. Até 2011, 1,6 milhão de brasileiros nessa faixa etária estava longe das salas de aula. Comparado a 2009, houve um avanço de 11,72%. Esse grupo também se distanciou do trabalho: entre 2001 e 2011, a ocupação nessa idade caiu 25,72%. Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e levantam a dúvida: para onde vão os jovens brasileiros? Fora das salas de aula e do mercado de trabalho, as opções se mostram escassas e estão associadas à violência, ociosidade, mercado informal e pobreza.
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O Correio, durante uma semana, percorreu Escolas e locais que reúnem meninos nessa faixa etária. Conversou com gente matriculada e com quem abandonou os estudos. O encontro com essas pessoas, em diferentes regiões do Distrito Federal, revelou um desinteresse crônico pela Escola e o avanço das drogas sobre a população estudantil.
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Esse cenário, segundo especialistas, faz do Brasil um dos piores no ranking da Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): a bandeira verde e amarela aparece em 53ª lugar. No estudo de competitividade elaborado pela Escola de administração suíça IMD, ficamos em 46ª — isso, depois de perder duas posições entre 2010 e 2011 —, um quadro que poderia ser mudado, na visão de Educadores, se houvesse um projeto consistente de Ensino. “O Brasil está jogando nossos meninos e meninas no limbo ao abrir mão de 1,6 milhão de jovens como capital e força de trabalho”, observa Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Itaú Unibanco. “Não é possível que nossa sociedade não entenda o que está em jogo, que ache razoável 16% de seus jovens, no auge da formação, fora da Escola”, afirma.
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Aula desperdiçada
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 Para muitos dos meninos, o Ensino atual é desinteressante. As estatísticas reforçam essa queixa. A Escola não consegue prender a atenção do Aluno e o Professor perde muito tempo com atividades não acadêmicas. No Brasil, apenas 60% do tempo de aula é dedicado unicamente ao aprendizado. Na média dos países da OCDE, esse índice sobe para 85%. Cerca de 30% do dia de aula no país é desperdiçado com a organização da sala e outros 10% com atividades não relacionadas com a disciplina. Nas melhores Escolas, apenas 2h13 são aproveitadas do dia. Nas piores, somente 1h17. “O Brasil tem mania de separar Educação formal da profissional. Ninguém consegue ter boa Educação profissional sem uma boa formal. Enquanto não aprendermos isso, não teremos mão de obra decente do ponto de vista de Educação”, critica José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos.
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Dados da Unesco, a instituição da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para a Educação, a ciência e a cultura, reforçam essa percepção. Dos 41 países que formam a América Latina e o Caribe, o Brasil registra a maior taxa de repetência: quase 19%. Ou seja, a cada turma de 45 Alunos, pelo menos nove vão reprovar. Em algumas Escolas do país, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o indicador pode superar os 60%.

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