SÃO PAULO - O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) decidiu nesta terça-feira encerrar a greve que completou 46 dias sem o reajuste reivindicado. Em assembleia realizada no Estádio de Vila Capanema, em Curitiba, 70% dos cerca de 12 mil educadores presentes votaram pelo encerramento da greve, “em respeito aos pais e aos estudantes, e não ao governador Beto Richa (PSDB), que só fez desrespeitar os profissionais da educação e a população”, disse Luiz Fernando Rodrigues, secretário de Comunicação da entidade. O governador Beto Richa disse ao GLOBO que espera que agora "a paz volte ao Estado". Para ele, a greve foi injustificada e organizada por petistas que estão no comando do APP-Sindicato.
Os servidores decidiram aceitar a última proposta apresentada pelo governo do Paraná: o reajuste inicial será de 3,45%, que será pago em outubro, e 8,5% que serão pagos em janeiro de 2016, já com a recomposição da inflação do período. O acordo ainda prevê um plano de reajuste até 2018. Desde o início, a categoria pedia aumento de 8,17%, por conta da reposição da inflação. O presidente do APP-Sindicato, Hermes Leão, disse que os professores voltam ao trabalho de "cabeça erguida".
- Vamos poder andar em cada rua deste estado podendo olhar para cada cidadão com toda a dignidade. E queremos deixar claro que nós vamos ficar monitorando o governo durante quatro anos, dia e noite. Se atacarem qualquer direito ou descumprir qualquer compromisso, esse formigueiro entrará em movimento novamente - disse Hermes Leão.
Para o secretário de Comunicação da entidade, Luiz Fernando Rodrigues, durante os 46 dias de greve, o governo do Paraná desrespeitou os professores.
— Não fomos atendidos, mas continuaremos a nossa mobilização, continuaremos também pressionando o poder público para investigar e punir os responsáveis pela violência em 29 de abril — disse Rodrigues.
No episódio de abril, 213 pessoas, segundo a prefeitura de Curitiba, ficaram feridas num protesto de professores contra mudanças no sistema da Previdência dos Servidores do Paraná, que terminou em confronto com a polícia, em frente à Assembleia Legislativa do Estado (Alep). Após a ação violenta da polícia, o gabinete de Richa mergulhou em uma crise e levou o governador tucano a demitir os secretários de Educação, Fernando Xavier Ferreira, e o de Segurança, Fernando Francischini, além do comandante da PM, Cesar Vinicius Kogut. As demissões foram antecipadas pelo GLOBO.
O governador disse que no confronto de abril ficaram feridas somente 40 pessoas, mas que o sindicato contabilizou como feridos até os que estavam com os olhos lacrimejando pelo gás pimenta.
- Sou contra a violência. Se houvesse um só ferido já seria de lamentar, mas considero o episódio encerrado. Vamos voltar à vida normal - disse o governador. Richa disse que a crise provocou "arranhões" na sua imagem e na do seu governo.
- Agora vamos tentar recuperar a imagem com trabalho e realização de obras, que serão retomadas. Fizemos um grande ajuste fiscal no Estado. Só com as mudanças na Previdência do Estado, que os professores eram contra, conseguimos uma economia mensal de R$ 125 milhões. Sabíamos que, ao cortar despesas, teríamos consequências negativas para a nossa imagem, mas tínhamos que fazer. Agora, estamos retomando obras e pagando fornecedores - disse Richa.
Ele explicou que não pôde atender os professores antes por absoluta falta de dinheiro.
- Dinheiro não cai do céu. Não temos fábrica de dinheiro. Para dar dinheiro para a educação, estava faltando para obras e pagamento de fornecedores - disse Richa, para quem a greve foi injustificada:
- O piso salarial nacional dos professores é de R$ 1.900 e no Paraná o piso é de R$ 3.200. Quando divulgamos os salários médios dos professores na internet, mostramos que os professores não eram tão coitadinhos assim e que tudo não passava de um jogo político no Paraná - afirmou o governador tucano.
REPOSIÇÃO DAS AULAS PREOCUPA SINDICATO
Com o fim da greve, os quase um milhão de alunos, que estão sem aula desde o dia 25 de abril, retornam às salas de aula nesta quarta-feira. A maior preocupação do sindicato é com a reposição das aulas: os servidores ainda não sabem se conseguirão repor até 23 de dezembro e avaliam a melhor maneira para isso. No entanto, a proposta do governo, que foi aceita pelos professores, prevê o pagamento de 3,45% que é referente à inflação entre os meses de maio, quando vence a data-base da categoria, e dezembro de 2014.
Em janeiro de 2016, os servidores devem receber um novo reajuste, com a inflação acumulada em 2015, mais um ponto percentual de aumento real. A mesma medida deve ser tomada em janeiro de 2017. Em maio de 2017, os servidores ainda devem receber um novo aumento, em relação ao primeiro quadrimestre do ano. Já em 2018, a data-base voltará para o mês de maio, quando será paga a inflação acumulada no último período. Além do reajuste, os servidores também exigiram que os dias de falta durante a greve não sejam descontados. Na última segunda-feira, em reunião entre representantes do APP-Sindicato e da Secretaria de Educação, o governo se comprometeu a não descontar as faltas dos meses de maio e junho, desde que haja reposição das aulas e compensação da carga horária dos funcionários.
Sobre as faltas de abril, que já foram lançadas, o governo afirmou que irá reembolsá-las a partir do momento em que forem entregues os relatórios mensais de frequência, e forem homologados os calendários das unidades escolares. Esta é a segunda paralisação da categoria este ano, a primeira aconteceu em fevereiro. Com o fim da greve, os quase um milhão de alunos, que estão sem aula desde o dia 25 de abril, retornam às salas de aula nesta quarta-feira.
Fonte: O Globo
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