sábado, 16 de março de 2013

15 de março – Dia da Escola: há o que comemorar?

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Paulla Helena Silva de Carvalho* 
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Estamos, mais uma vez, atrelando uma data comemorativa a um espaço ou acontecimento social. Isso já faz parte da cultura dos diferentes povos. Porém, cabe lembrar a intencionalidade de uma comemoração. É verdade que, no presente momento, a maioria das datas comemorativas levam ao consumo. Ou seja, cada vez mais datas são criadas não somente para comemorar mas para comprar, movimentar o mercado. 
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Comemorar o Dia da Escola, decididamente, não dialoga com esta visão. Se bem que não seria má ideia, ao menos neste dia, que ela recebesse “presentes materiais” — ou seja, todo investimento público que falta no ano aparecesse ao menos neste dia. Mas, ironias à parte, podemos rapidamente analisar que a escola de hoje não pode ser analisada nem de forma generalizada nem tão pouco individualmente, pois esta instituição é social e, portanto, coletiva. Assim sendo, seus avanços e retrocessos não podem ser vistos como ganhos individuais — ou seja, a educação de todo o povo brasileiro pouco ganha ao se provar que um exemplo de escola deu certo, pois os demais por vezes vão mal. Na mesma lógica, dizemos que em um determinado município as escolas vão bem, mas no seu vizinho não!  
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Tal exemplo leva-nos a afirmar que o movimento da escola hoje é fragmentado. As políticas e programas colocados para a educação não são pensados e, muito menos, implementados na maioria das escolas.  O pior de tudo isso é saber que, embora haja avanços em algumas instituições e regiões, este salto não pode ser visto como reflexo da totalidade brasileira. E grave é saber que a educação é um direito social básico e, por isso, deve alcançar a totalidade da população! Assim, comemoraríamos o Dia da Escola sem qualquer sombra de dúvidas. 
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Comemoração também nos remete a festejar. Ou seja, comemora-se alegremente e, por esse motivo – e utilizando o título de uma obra de Snyders – pergunto: onde está a “alegria da escola”, para que possamos comemorar?  Uma coisa podemos saber: a alegria da escola não está somente em paredes coloridas, cadernos novos, bolas e parquinhos com areia. A alegria da escola está em ensinar! Ou seja, cumprir sua função social: a socialização dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, como forma de formação e elevação cultural das massas. No dia em que tal função seja reconhecida socialmente como importante, para além da informação fragmentada e técnica do aluno ou da redução de seu papel a um mero espaço de convivência, poderemos comemorar muito. 
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Para que isto ocorra, existe um processo de conquistas muito grande. Entre os pontos mais comentados está a melhoria da condição concreta do trabalho do professor, no que tange desde sua formação com qualidade, até seu salário, o número de alunos por turma. Por isso, não devemos tampar os olhos diante do fato de que verdadeiramente a educação nunca foi prioridade no Brasil, como já afirmava Faoro, embora esteja sempre presente nos discursos dos políticos. Pois, para enfrentar um problema, temos que reconhecê-lo como tal e não só comemorar sem entender sobre quais circunstâncias a festa se dá!  
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Por isso é que no dia 15 de março dou parabéns aos que compreendem esses elementos que envolvem a educação e a escola brasileira – e mais ainda aos que corroboram em defesa de uma educação de qualidade para todos! 
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* Paulla Helena Silva do Carvalho, professora e coordenadora do curso de Pedagogia da UniBrasil, é mestre em educação.
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Fonte: Jornal do Brasil on line

Mãe consegue intérprete de libras na Justiça para filho em escola pública

Uma mãe conseguiu na Justiça um intérprete especializado em libras para ajudar o filho com deficiência auditiva em uma escola pública de Alpinópolis (MG).  Vinícius Pinheiro está no 7º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Dom João VI, mas não tem o acompanhamento de um profissional especializado, conforme determina a lei.
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Segundo a Constituição Federal, a lei garante um sistema educacional inclusivo em todo o país, sem discriminação e com igualdade de oportunidades. Um aluno não pode ser excluído por ser portador de qualquer tipo de  deficiência, mas na prática, nem sempre funciona.
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Estudante precisa de intérprete para ter bom aproveitamento escolar (Foto: Reprodução EPTV)
Estudante precisa de intérprete para ter bom aproveitamento escolar
(Foto: Reprodução EPTV)
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Para conseguir o direito garantido na lei, foi necessária a intervenção do Ministério Público. Com isso, ela conseguiu uma intérprete não habilitada que acompanhou o garoto durante o ano letivo de 2012. “Quando ele foi acompanhado, o desempenho dele melhorou bastante. Agora quero conseguir, novamente, que ele tenha essa ajuda”, disse a mãe do garoto, Viviane Pinheiro Leite.
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Enquanto isso, quem ajuda o garoto é a colega de classe, Amanda Gonçalves, que aprendeu a linguagem dos sinais - como é conhecida popularmente – com os primos. Mesmo assim, Vinícius tem dificuldades para acompanhar a turma. “Ele chega em casa e precisa copiar novamente a matéria, porque não consegue prestar atenção sem libras. Ele fica constrangido. A lei é muito bonita no papel, mas quero ver na prática”, contou a mãe do estudante.
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Para a professora de língua portuguesa Lílian Damasceno Cunha, existem dificuldades em ter um aluno deficiente. “As aulas não podem ser específicas, já que prejudica o restante da classe e isso acaba prejudicando a Amanda na hora de prestar atenção nas aulas”, disse.
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Mãe conta que precisou recorrer à Justiça para ter direito garantido (Foto: Reprodução EPTV)
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Mãe conta que precisou recorrer à Justiça para ter direito garantido
(Foto: Reprodução EPTV)
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Questionada, a direção da escola disse que buscou um profissional para atender os dois alunos com deficiência auditiva matriculados na instituição, mas não conseguiu. “Nós abrimos até mesmo um edital para contratação, mas ninguém alcança a nota precisa na prova”, esclareceu a diretora, Rosemeire Cardoso Freire Faria. Na Secretaria Regional de Educação de Passos (MG), a qual pertence o município de Alpinópolis, existem apenas 20 profissionais em libras, divididos em 16 municípios.
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O coordenador do Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e Atendimento  às Pessoas com Surdez (CAS), Roberto dos Santos Pinto, há muitas dificuldades em encontrar profissionais qualificados em libras. “A função do CAS é especializar a pessoa com um curso de 180 horas, mas depois este candidato tem que correr atrás e se especializar cada vez mais”, destacou.
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Fonte: G1

quinta-feira, 14 de março de 2013

Paciência Senhor Aedes aegypti

 
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Para Sandra Durães com paciência
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Lúcio Alves de Barros*
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Gostaria de utilizar este espaço para falar um pouco de minha condição como portador do vírus da dengue. Quem já passou por ele certamente não vai ver muitas coisas novas por aqui, mas quem não passou, torço para não passar. O mosquito Aedes aegypti é um veneno, um tormento, um destruidor de lares, bares e atividades mil. A praga é invejável em força e capacidade de destruição. Todo cuidado com ele é pouco. E vou me ater aqui a somente algumas considerações que acho relevantes, pois são tantas que não exagero em dizer que o tronco comum de sintomas não chega perto do que o mosquito é capaz.
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Primeiramente, é difícil acreditar que pode se estar com a dengue. Os médicos gostam de dizer que se trata de uma infecção assintomática, mas quando aparecem as mudanças no corpo e no espírito variam de febre alta (39° a 40°), dor de cabeça à prostração, dores musculares nos braços, pernas e no pescoço. Além disso, é insuportável a dor nos olhos, principalmente quando movimentamos as retinas para o lado direito ou esquerdo. Dentro da cabeça algumas coisas parecem soltas e pelo corpo uma vermelhidão (exantema) que somente o outro tem a capacidade de enxergar. Um calor insuportável sobe pelas pernas e toma todo o resto e as diarreias são fortes e não aparecem sem dores abdominais. Uma sonolência sem fim e uma apatia de morte arrebenta o corpo já debilitado. E tudo indica que um “Alien” vai sair de sua barriga a qualquer momento. Esses são alguns dos sintomas que me tomaram de jeito e passo para o segundo ponto.
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É incrível a falta de paciência que nos toma. Um espirro, um telefone que toca, uma conversa ao lado, um lápis que cai, um zumbido, um chamado já são o bastante para você desejar a morte. Não estou exagerando. Uma amiga reclamou e acertou em cheio quando se referiu à “coceira de arrebentar”. Vejam o que ela disse: “sinceramente é inacreditável como um mosquitinho tão pequenininho consegue derrubar a gente dessa forma. Fiquei internada dois dias no BIOCOR e falo com todos (que) foi um pterodátilo que me atacou (risos)”. Longe do humor, vaticinou: “Sem querer te desanimar quando você pensar que esta melhorando irá começar a coçar... aí sim, você pede para morrer. Coça da cabeça ao dedinho do pé, 24 horas (principalmente à noite), nada nessa vida alivia a coceira (os primeiros cinco dias são piores depois vai aliviando). Coça em cima da unha, coça o fio de cabelo, até o dente coça (é algo inacreditável, de perder a paciência)”. A verdade nua e crua de minha amiga, entretanto, me trouxe até conforto porque achava que a doença só agia desta forma em mim. Não, ela é violenta, amarga, terrível e mata. Os médicos apontam para a existência de 4 tipos diferentes do vírus da doença e todos podem aparecer de diferentes formas, inclusive, como dengue hemorrágica que pode levar à morte.
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Um terceiro ponto que vale tocar é a prostração física e psíquica que aparece de uma hora para outra. No início é só cama, depois você ainda levanta para algumas coisas, mas o que arrebenta o doente é a potente sensação de fragilidade. A dengue nos lembra da humanidade. O Aedes aegypti nos reduz à insignificância. Sua força e capacidade de jogar o outro para qualquer canto é desproporcional ao seu tamanho. A dor psíquica é latente e a corporal é manifesta que, inclusive, valeu alguns conselhos de minha amiga: “Três conselhos: 1) - Peça a namorada, sobrinho, amigos para manterem uma distância razoável. (A gente não consegue sequer ouvir vozes); 2) - Não fique longe de um banheiro. Quando achar que está melhorando a dor de barriga volta com força total e ai... (risos); 3 - Quando entrava em desespero devido à coceira e não conseguia dormir colocava uma cadeira de plástico debaixo do chuveiro e ficava sentada lá esperando um milagre divino (risos)”. Esta verdade ainda recebe novas tinturas porque o paracetamol é paliativo. Tomar muita água ajuda, mas não tem outro jeito, pois a coisa lhe toma por mais de 10 dias. Desconheço a literatura médica, mas os médicos me falaram em 05 e 07 dias. Não é verdade, a coisa tem maiores proporções. São no mínimo 15 dias de sofrimento que você não consegue decifrar. Por vezes se tem vontade de chorar. Dói tudo e tudo está meio tenso, desorganizado, desengonçado. Creio que até este texto esteja também. Ele é fruto do desabado e das dores que invadem minha alma. A dengue te deixa desinteressado do mundo. Perdem-se as referências: você quer ler e não consegue, as letras tremem e embolam; quer ver filmes e TV, mas é impossível porque não se é capaz de manter a atenção; quer estudar, mas não guarda nem a primeira palavra e o primeiro conceito; quer ir trabalhar e tem medo. Não se sabe o que fazer. E como a paciência é pouca vou terminando por aqui.
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Finalizo pedindo paciência para os patrões que perdem os seus funcionários. A coisa é feia mesmo e ninguém inventa sintomas nessa doença. Não tem saída, o mosquito contaminado derruba mesmo. Também peço paciência aos amigos e colegas que não tiveram a doença porque inimigos se fazem neste período. Atendentes e médicos tenham mais paciência porque a fragilidade é tanta que deveria existir camas de espera em ambulatórios, clínicas e hospitais. Por último, paciência ao Aedes aegypti que sabe que é no mínimo vergonhoso que uma doença como esta tenha lugar em um país que se diz desenvolvido. Sabemos que os Aedes aegypti se propaga rapidamente em água parada, por vezes dentro de casa e em locais nos quais o descuido é a regra. Paciência senhor mosquito porque o nosso povo é doente, inconsequente e mal educado e lhe favorece no transporte da dengue e outras doenças de arrepiar até o novo Papa. Ah, obrigado por mostrar minha fragilidade e por ser democrático, pois ao contrário de nossa economia o senhor está bem distribuído.
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*Professor na FAE (Faculdade de Educação) na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)

quarta-feira, 13 de março de 2013

Indicação de leitura

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Formato: Livro
Tradutor: MARQUES, CLOVIS
Assunto: FILOSOFIA
 
Sinopse:
 
O autor defende que esta é uma época em que quase tudo pode ser comprado e vendido. Tudo é uma questão de quanto se quer pagar para obter determinada coisa. Por exemplo - Direito de ser imigrante nos Estados Unidos - US$ 500.000; Alugar espaço na testa (ou em outra parte do corpo) para publicidade comercial - US$ 777; Servir de cobaia humana em testes de laboratórios farmacêuticos para novas medicações - US$ 7.500; Direito de abater um rinoceronte negro ameaçado de extinção - US$ 150.000; O celular do seu médico - US$ 1.500 ou mais por ano; Direito de lançar uma tonelada métrica de gás carbônico na atmosfera - € 13 (aproximadamente US$ 18). O autor acredita que os motivos da preocupação de uma sociedade que caminha para deixar tudo à venda tem a ver com desigualdade e corrupção. Que papel os mercados devem desempenhar na vida pública e nas relações pessoais? Como decidir que bens podem ser postos à venda e quais deles devem ser governados por outros valores que não os de mercado? Onde não pode prevalecer a lei do dinheiro? Estas são algumas das questões que este livro procurará tratar e debater.

Violências nas Escolas: Culturas silenciadas

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por Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro [1]
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Os casos de violências nas escolas vitimizando jovens e professores é tema que vem galvanizando atenção em nível mundial e, de fato, merece políticas e debates. Mas sua complexidade não é apreendida mesmo que nos fixemos nas preocupantes estatísticas e notícias, ou seja, não se reduz a uma história em que há vilões e vítimas, cabendo punir aqueles. E vem resistindo a resoluções legais e aparatos de repressão. Também não satisfaz inculpar alguns atores, como a família, os próprios jovens e os professores. Pode transitar por níveis diferentes de análise, quando há que discutir em qual sociedade vem se dando tais casos, em que instituição , – no caso a escola - e o que se conhece sobre juventudes, em especial por suas práticas, vontades e verbos.
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É quando o próprio conceito de violência na escola deve ser ampliado para além daqueles atos que ferem e matam – ameaças, agressões físicas, armas, tráfico de drogas, roubos e furtos.
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As violências nas escolas não se limitam a violências físicas. Pedem o acento na ética e na política e a preocupação em dar visibilidade àquelas que ofendem a identidade e dignidade do outro, como o racismo, o sexismo e a homofobia.
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As violências nas escolas são a antítese da razão, pautando-se por relações em que não há lugar para o diálogo, a comunicação e a negociação, pilares básicos da educação.
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Defendemos que a escola não lida com temas que são básicos e que são sentidos como violências pelos jovens, comprometendo seu bem estar e desempenho escolar, o não reconhecimento das suas identidades ou buscas identitárias e o clima escolar. Tal processo estimula violências que muitas vezes só são reconhecidas quando tomam a forma de “violências duras”[2]. Há que ter mais sensibilidade pedagógica para lidar com a alteridade e a diversidade.
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Há um hiato entre a cultura escolar e a cultura juvenil, o que é pouco destacado quando se discute violências nas escolas. E o não conhecimento e reconhecimento do outro, da outra, é uma violência que propicia violências.
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O descompasso entre a cultura escolar e a cultura juvenil, a falta de sensibilidade pelas formas de ser dos jovens e como esses privilegiam a comunicação, os saberes que decolam do corpo e das artes, seriam também fontes de conflitos que podem potencializar violências nas escolas.
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O jovem é despido da condição de ser jovem ao se transformar em “aluno”. É visto por uma perspectiva exterior, por uma imposição normativa do sistema de ensino, perdendo-se de vista suas buscas e os parâmetros de comportamento que fazem parte das modelagens de juventudes. Desconsidera-se, portanto, culturas juvenis, que se caracterizam por serem dinâmicas, diversas, gregárias e que privilegiam linguagens performáticas várias.
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A cultura escolar, muitas vezes, se baseia em uma violência de cunho institucional, a qual se fundamenta em diversos aspectos que constituem o cotidiano da escola – como o sistema de normas e regras que pode ser autoritário, as formas de convivência, o projeto político-pedagógico, os recursos didáticos e a qualidade da educação. Tais constituintes dessa cultura não necessariamente respondem às características, expectativas e demandas dos jovens do século XXI, o que gera tensão no relacionamento entre os distintos atores sociais.
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A forma de vestir, por exemplo, é uma marca juvenil que os diferencia dos adultos. Usar piercing não é uma provocação: é ser jovem e os adultos têm dificuldade de “suportar” marcas do “ser diferente”. A escola não apenas questiona a conduta, como quer padronizar as aparências. Em geral é proibida a entrada de jovens com celular, piercing, touca, boné. O uso do boné, no entanto, é uma questão estética e um dos principais traços identitários de muitos jovens e adolescentes.
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A cultura juvenil, entre vários jovens, alimenta-se da chamada cultura de rua e a violência é um componente essencial dessa cultura, tanto para garantir a sobrevivência dos jovens como para que os mesmos sejam respeitados. E, portanto, cometer atos de violência torna-se signo de força, de virilidade, de credibilidade, em um mundo onde eles sentem pouca confiança nas instituições que, em tese, deveriam protegê-los.
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Os jovens vivem em uma “sociedade do espetáculo” cujos valores se pautam pela fama e o poder. Não se trata de apologia da cultura juvenil quando esta se entrelaça com a cultura da violência, mas alertar que há que conhecer a formação de tal entrelace para melhor, junto com os jovens, criticar tal sociedade.
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A escola tende a considerar a juventude como um grupo homogêneo, socialmente vulnerável, desprotegido, sem oportunidades, desinteressado e apático. Desconsidera-se o que é “ser jovem”, inviabilizando a noção do sujeito, perdendo a dimensão do que é a identidade juvenil, a sua diversidade e as diversas desigualdades sociais. O verbo do jovem não é conjugado na escola.
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[1] Miriam Abramovay - Socióloga, Pesquisadora, Coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da FLACSO-Brasil, bolsista da FAPERJ e membro do NPEJI-Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Juventudes, Identidades, Culturas e Cidadanias – CNPq/UCSAL
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Mary Garcia Castro – Professora da UCSAL, Programa de Pós Graduação em Família na Sociedade Contemporânea e Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania; Co-Coordenadora do NPEJI- CNPq/UCSAL; pesquisadora do CNPq; pesquisadora da FLACSO-Brasil e bolsista da FAPERJ
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[2] Entende-se por violências duras aquelas que são reguladas pelo código penal
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Fonte: Carta Capital e Fórum Nacional de Segurança Pública

domingo, 3 de março de 2013

1ª professora com Down do país defende inclusão em escola regular

Débora Seabra, de 31 anos, com alunos na Escola Doméstica de Natal (Foto: Arquivo pessoal).
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Débora Seabra, de 31 anos, com alunos na Escola Doméstica de Natal (Foto: Arquivo pessoal)
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Seja na aula de spinning, de musculação, nas oficinas de teatro ou no trato com as crianças no trabalho como professora, Débora Araújo Seabra de Moura, de 31 anos, prova que a inclusão é possível. Moradora de Natal (RN), ela estudou exclusivamente na rede regular de ensino, e foi a primeira pessoa com síndrome de Down a se formar no magistério, em nível médio, no Brasil, em 2005. Fez estágio na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e há nove anos trabalha como professora assistente em um colégio particular tradicional de Natal, a Escola Doméstica.
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Débora considera que sua vida escolar teve mais experiências positivas. “A escola regular me fez sentir incluída com as outras crianças. Para mim não existe separação. Superei preconceitos, fiz muitas amizades e mostrei para as pessoas o que era a inclusão”, afirma. Neste ano, a missão da jovem na Escola Doméstica é ajudar a cuidar e alfabetizar uma sala com 28 crianças de 6 a 7 anos do 1º ano do ensino fundamental. “Eu gosto das crianças. Tenho paciência, só alguns são bagunceiros e a maioria é focado. Se eu sou brava? Não, sou normal, trato eles super bem”, diz.
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"Nunca cogitei uma escola especial porque Débora era uma criança comum. A escola especial era discriminatória e ela precisava de desafios. Não sabia muito bem como seria, mas estava aberta para ajudar minha filha a encarar qualquer coisa" (Margarida Seabra, 71 anos, advogada)
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A professora diz que foi muito bem recebida pelos funcionários, professores e alunos da escola que de vez em quando a questionam sobre as diferenças. “Às vezes as crianças me perguntam: ‘Tia por que você fala assim?’. Aí eu respondo: ‘Minha fala é essa, cada um fala de um jeito, de forma diferente’. Aproveito e explico que tenho síndrome Down e eles entendem."
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Desinformação
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Há 31 anos quando Débora nasceu pouco se sabia sobre a síndrome de Down. Na época, as crianças que têm olhos amendoados e podem ter habilidade cognitiva comprometida por conta presença do cromossomo 21 eram chamadas de maneira pejorativa de ‘mongoloides’. Receosos, os pais em sua maioria optavam em matricular os filhos nas escolas especiais. Eles achavam de maneira errônea que ao restringir o contato das crianças aos deficientes as chances de adaptação eram maiores.
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Contrariando esta tendência, o médico psiquiatra José Robério, de 72 anos, e a advogada Margarida, 71, pais de Débora não imaginaram outra escola para a garota, se não a regular. Foi assim por toda a vida escolar, nem sempre fácil. Ainda na educação infantil, Débora lembra de ter sido chamada de 'mongol' por um garoto. Ela chorou, ficou magoada, mas encontrou na professora uma aliada que explicou à classe que 'mongois' eram os habitantes da Mongólia e ainda ensinou as crianças o que era a síndrome de Down.
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Débora faz palestras dentro e fora do país (Foto: Arquivo pessoal).
 
Débora faz palestras dentro e fora do país  (Foto: Arquivo pessoal)
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'Amor se sobrepõe'
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A mãe relata: "Nunca cogitei uma escola especial porque Débora era uma criança comum. A escola especial era discriminatória e ela precisava de desafios. Não sabia muito bem como seria, mas estava aberta para ajudar minha filha a encarar qualquer coisa". Engajada na causa, em 1983, Margarida fundou a Associação de Síndrome de Down, em Natal, com o objetivo de conscientizar a população e batalhar pelo fim do preconceito.
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"Quando eu soube que Débora tinha Down foi como seu eu tivesse virado do avesso. A perspectiva era tenebrosa, não havia informação, mas o amor se sobrepõe a qualquer deficiência", afirma Margarida. "Criamos a Débora desprovida de total preconceito, sempre a tratei igual ao meu filho mais velho [Frederico, advogado, de 33 anos], o assunto nunca foi tabu. Ela é uma moça como qualquer outra, sonha, deseja, tem planos, é descolada e bem aceita em qualquer ambiente."
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Por conta de sua experiência com professora, Débora já foi convidada para palestrar em várias partes do país e até fora dele, como Argentina e Portugal. Sempre que pode participa de iniciativas para ajudar a combater o preconceito. “Ainda existe e acho que as palestras ajudam a diminui-lo. Muitos professores foram assistir minhas palestras e fui aplaudida em pé pela plateia.” No dia 21 de março quando se comemora o Dia Internacional da Pessoa com Síndrome de Down, Débora vai apresentar uma peça de teatral junto com outros professores da Escola Doméstica de Natal para explicar o que é a síndrome aos alunos. Ela fez aulas de teatro por três anos. Outro plano é lançar um livro de pequenas fábulas, todas de cunho moral que abordam a inclusão.
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Fonte: G1

sexta-feira, 1 de março de 2013

Educação é segredo para garantir segurança

Pouso alegre. Com um investimento por aluno que é quase o dobro do mínimo exigido no país, o município de Pouso Alegre, no Sul de Minas, foca em Educação para reduzir índices de violência na juventude. Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apontou que a cidade é a mais segura para os jovens entre 12 e 29 anos, no ranking dos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. Os baixos índices de homicídios e mortes no trânsito, além da boa frequência escolar dos adolescentes e inserção no mercado de trabalho, foram os responsáveis pelo bom resultado.
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Para ser a campeã do país, Pouso Alegre também investe em economia, esporte, trânsito, assistência social e segurança pública. Porém, cerca de 30% do orçamento do município é destinado à educação. O aporte anual de R$ 4.049 por aluno é quase o dobro do mínimo exigido pelo Ministério da Educação (MEC), de R$ 2.096. O valor gasto na rede estadual mineira é de R$ 2.400.
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Nas escolas municipais, o programa Escola Sem Fronteiras vem revitalizando a estrutura física das unidades, com a troca de móveis e a modernização do sistema de ensino. Computadores são usados para tornar o ensino mais atraente e proveitoso. "Tivemos um aumento grande da procura por vagas nos últimos dois anos, principalmente de alunos vindos da rede privada", destacou o diretor da Escola Municipal Caic, Antônio Galvão Moreira. A unidade teve um índice de 90% de aprovação nos vestibulares de 2012.
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Fora da sala de aula, a escolinha de futebol do projeto Zico 10 atende a cerca de 1.500 jovens entre 6 e 17 anos da rede municipal. Entre eles, Fabiano (nome fictício), 16, que ainda responde na Justiça por roubo de carro. Há um ano, no entanto, ele treina todos os dias no campo de futebol de um dos bairros mais carentes de Pouso Alegre, o São Geraldo. Fabiano largou as drogas e, agora, sonha alto. "Só quero treinar todos os dias e, quem sabe, ajudar meu irmão que usa drogas." Outro índice considerado pela pesquisa da FBSP é a empregabilidade. Cortada pelas BRs 381 e 459, Pouso Alegre tem atraído grandes investimentos. Nos últimos quatro anos, foram criadas 10 mil vagas. Para este ano, a projeção é de um PIB de R$ 8 bilhões, 173% a mais que os R$ 3 bilhões de 2010. O segurança Wanderson Klaiton, 30, veio do Norte de Minas para trabalhar. "Além de ter emprego, é muito bom morar aqui, você não vê tantos problemas de violência."
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Percepção. As pessoas ouvidas pela reportagem disseram que se sentem seguras na cidade. Algumas contaram que a falta de opções de vida noturna agitada ajuda a deixar o município ainda mais tranquilo. "Quem quer balada, sai da cidade. Aqui há mais bares", disse o gerente Lauir Ferreira, 29.
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Fonte: O Tempo (MG)