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Lúcio Alves de Barros*
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São inaceitáveis as ações dos policiais militares contra os
manifestantes de São Paulo, Rio de Janeiro e outras que certamente estão por vir.
Tudo ficou claro diante da fumaça porca e fedorenta das bombas jogadas aqui e
ali que vitimaram, inclusive, idosos e crianças.
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A coisa ficou mais feia porque agora atingiu em cheios os
olhos da imprensa. Imagens revelaram que a polícia literalmente atirou nos
jornalistas que estavam trabalhando. Penso que tudo reforça o retrocesso de uma
democracia ainda jovem. São perigosas as ações que revelam o total despreparo
das polícias em ordem democrática. Não podemos esquecer que esta polícia é
fruto e imagem do seu governador, gerente e chefe maior deste exército de
policiais militares que há muito já deveria ter deixado de ser militar.
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É óbvio que todos são contra a quebra de coletivos, órgãos
públicos, equipamentos urbanos, etc. Mas não foi por isso que a polícia militar
estava por lá. Não foi pela manutenção da ordem. Ela já existia antes que ela chegasse.
A mobilização tornou-se perigosa com a presença do Estado armado e cheio de
adrenalina. Ações violentas geram mais violência e desrespeito. E há tempos já
sabemos que a polícia é violenta e mata mesmo.
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Os episódios, contudo, podem servir pedagogicamente para que
tais acontecimentos não ocorram. Sei do romantismo das palavras e tenho certeza
que elas de nada valem para as autoridades. A polícia militar, na esteira da
Constituição de 1988, é força de manobra política, de repressão e violência do que
se entende no Brasil por “Estado de Direito”. Neste caso, podemos esperar mais
episódios. Aos poucos, os acontecimentos em favor do “passe livre” vão ficar na
memória, histórias vão ser contadas e as versões vão tomar conta dos fatos.
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É triste saber que nossa democracia é manca e nos tempos
modernos anda beijando os fundamentalistas, os autoritários e os que não
suportam a diferença. Contra a oposição nada como o policial armado, com dentes
para fora e apavorado para “mostrar serviço”.
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A questão é muito mais séria do que o aumento das tarifas dos
coletivos que vivem do atraso, da precariedade, da bagunça das cidades, da intolerância
dos seus donos e de boa parte do dinheiro público. A cultura brasileira é casada
com a violência, armada com a repressão e amante do autoritarismo. Não por
acaso, muitos aparecem nestes instantes para condenar os “vândalos”, mas se esquecem
de que somos resultado de muita desorganização política, social e econômica. Não
podemos esquecer um passado no qual o ataque aos direitos humanos era moeda
corrente e fonte de desespero de pais e mães que perderam filhos e filhas que
estão aparecendo na Comissão da Verdade.
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Também não podemos esquecer o casamento quase perfeito entre
os órgãos policiais, as universidades e outras instituições que vem “mudando” a
polícia com dinheiro público e fazendo experiências com a “polícia comunitária”,
as UPPs, programas de fortalecimento da “população de risco” e assim por diante.
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Finalmente, penso que os episódios merecem o seu lugar porque
mostram que muitos ainda estão de olhos abertos e, apesar da ingenuidade, tem a
coragem de ir para as ruas. A polícia ganharia mais com ações pedagógicas
voltadas para a configuração da cultura da paz e da tolerância. Ganharíamos todos
inclusive as autoridades governamentais da ocasião que não cansam de investir
em uma segurança pública bélica cuja tônica é a faxina social dos excluídos sob
a batuta do gás de pimenta, de balas de borracha, pancada em manifestantes e cassetetes
em mulheres, homens, crianças e idosos.
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*Professor
na FAE (Faculdade de Educação) na UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais).
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