quinta-feira, 8 de julho de 2010

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Apesar das dificuldades, eles querem aprender

Por Clarissa Carvalhaes, 08 jun. 2010

Enquanto apenas 2% de cerca de 2 mil estudantes do 3º ano do Ensino Médio querem seguir a carreira do magistério, conforme pesquisa da Fundação Carlos Chagas em 18 escolas de oito cidades do país, nas pequenas Jaboticatubas e Santana do Riacho, a menos de 100 quilômetros de Belo Horizonte, crianças vivem um verdadeiro martírio diário em busca da realização do sonho de estudar. A pé, de balsa ou ônibus, meninos e meninas que vivem na zona rural atravessam quilômetros em estradas de terra e asfalto até a escola. Mas, para esses estudantes, ainda que a educação conte hoje com escassos recursos, não há outra opção para tentar mudar o destino. É preciso seguir adiante.

Ser professora, jogador de futebol, advogada ou comprar um carro para levar os avós ao médico. Ninguém passa pela escola sem pensar num futuro melhor ou pelo menos diferente. É por isso que todos os dias os irmãos Ramon e Victor, de 10 e 8 anos, acordam às 7 da manhã. Eles vivem em Cardeal Mota, distrito de Santana do Riacho. Não existem, no momento, planos para a construção de escolas na região. Em função disso, Ramon e Victor saem de casa às 9 horas porque precisam chegar à escola às 12h30. São 112 quilômetros percorridos diariamente pelos meninos. Dentro do veículo, eles dormem, acordam, enjoam e até brincam, mas, ao contrário do que muitos possam supor, os irmãos garantem: nunca pensaram em deixar de frequentar a escola, nem mesmo quando as atividades escolares precisavam ser feitas à luz de velas – uma mudança que só aconteceu a pouco mais de cinco meses.

Ali, a infância parece ficar de lado – eles não têm muito tempo para isso. Nos cadernos, as letras e os números dos filhos (que só chegam em casa às 19 horas) representam a esperança dos pais que conseguiram estudar até a 3ª série do Ensino Fundamental. “Eles passam a maior parte do dia dentro do ônibus porque moramos muito longe. Às vezes eles almoçam na escola, mas há dias em que a merenda é canjica ou mingau, então eles ficam sem comer de verdade”, conta a mãe dos meninos, a dona de casa Maria Arlete dos Santos, 38 anos.

Para Genilson dos Santos, 35, pai de Ramon e Victor, a escola é a saída, uma alternativa para quem não quer ver os filhos trabalhando na roça a vida inteira. Além dos pequenos, o casal também tem Romário, 14 anos, e Jéssica, 12. Para os adolescentes, a rotina começa mais cedo, precisamente às 4 horas. “Nossa aula é às 7, por isso levantamos tão cedo. Somos sempre os primeiros a entrar e os últimos a sair da van”, conta Romário, que depois de deixar a escola, às 11 horas, só chega em casa com a irmã às 14. Para ela, o estuda começa abrir as portas para a profissão que tanto deseja seguir: ser professora.

Sem ponte, muitos estudantes ficam ilhados

Se ir ao colégio em dias de sol é difícil, imagine quando o tempo não coopera. “Todos os anos é a mesma história: eles ficam completamente ilhados porque quando chove o Rio Paraúna sobe muito e é impossível chegar até a casa deles. Deixo meu celular sempre ligado; fico pensando: ‘E se alguém passar mal por lá? Quem vai socorrer essa gente?’. Já não sei quantas vezes fui para a margem do rio e fiquei arremessando remédio ou comida pra eles. Só Deus pra nos proteger”, diz o motorista da van escolar que faz o percurso até a casa de Maria e Genilson quatro vezes por dia (ou 224 quilômetros), João Fernando da Silva, 47 anos.

O motorista também fica impressionado com o persistência dos quatro irmãos em irem para a escola. “Outras pessoas nessa situação já teriam desistido e ainda com uma boa desculpa, mas, com exceção dos dias chuvosos, eles não faltam um dia sequer”, afirma. Os irmãos são alunos da Escola Estadual Dona Francisca Josina, em Cardeal Mota, distrito de Santana do Riacho. Assim como eles, muitos outros estudantes vivem situação semelhante.

Para os professores, os percalços chegam até a sala de aula como incentivo. “A dedicação deles é o que mais nos motiva. Mesmo com todos os problemas que a educação enfrenta é preciso acreditar que o futuro está nas mãos dessas crianças. Não podemos desestimulá-las jamais”, afirma o professor de Ciências e Química, Gílson de Souza Moreira. A longa jornada e a má alimentação não apenas abatem fisicamente, como prejudicam a aprendizagem dos estudantes, o que não impede, entretanto, que eles tenham um bom rendimento escolar ou, ao menos, se esforcem bastante para isso. “Eles vivem um sacrifício imenso para chegar até a sala de aula e talvez por isso valorizam mais o estudo do que aqueles que moram ao lado da escola.

Para se ter uma ideia, tento poupá-los dos trabalhos em grupo exatamente porque sei a dificuldade que eles terão em fazê-los, mas eles protestam, fazem questão de participar, interagir, estarem presentes e por perto. Alguns acreditam que eles estão ilhados em casa, mas mentalmente estão mais livres do que muita gente”, diz o professor. Quando lembra desses meninos e de tantos outros em situação semelhante, a diretora Josefina de Freitas conta que retoma as forças e joga o desânimo por terra. “Assumi o compromisso de educar essas crianças quando decidi ser professora, não posso fazer diferente”, diz. “Peço pra que eles deixem todas as dificuldades do portão da escola pra fora. É preciso esquecer os desafios e pensar nas expectativas de melhora. É isso que queremos para eles”, diz a supervisora Lana Carvalho de Andrade.

O árduo percurso da roça até a escola

Viviane Ferreira tem 18 anos e estuda das 16 às 21h30 na Escola Estadual Doutor Eduardo Góes Filho, em São José do Almeida (distrito de Jaboticatubas). Prestes a concluir o 3º ano do Ensino Médio, ela garante que está bem longe de pensar em parar de estudar. “Minha avó sempre diz que tenho que ir até o fim e sempre em frente. Nós não temos uma vida fácil, mas isso não me impede de sonhar, de querer comprar um carro para levá-la ao médico e ter uma vida diferente”, diz.

A estudante mora com a mãe, os avós, dois irmãos e uma prima de 3 anos. E é na família que ela encontra apoio para continuar os estudos. Junto com os irmãos Fabrício, 16 anos, e Rosiane, de 15, ela derrubou um pé de palmito e outros de bambu numa tentativa de improvisar uma passagem e conseguir atravessar o Rio Paraúna. Em dias de chuva, além dos cadernos, as mochilas também levam chinelos que asseguram não encharcar os tênis e atrapalhar o percurso de casa/escola, escola/casa. De um ponto ao outro, Viviane e os irmãos caminham no escuro por quatro km de uma estrada de terra até o ponto de ônibus. Já dentro do escolar, eles percorrem outros 25.

Como não há postes de energia elétrica, eles improvisam a iluminação dos trechos com uma lanterna e contam com a ajuda da luz da lua para diminuir os tropeços e enxergar os perigos da escuridão. “Quando chove depois que já estamos na escola, não conseguimos voltar para casa porque o rio está muito cheio, não dá pra atravessar nem sobre as árvores que colocamos. A sorte é que, quando isso acontece, um homem que mora próximo ao rio deixa a gente dormir na casa dele”. A diretora Márcia Duarte conta que os professores do turno da noite faltam com frequência sem aviso à direção da escola, por isso não há tempo de repor a aula no mesmo dia. “Vejo o tamanho do sacrifício dos meninos e o quanto eles querem aprender. Imagine a frustração, depois de tantos percalços, chegar aqui e não ter aula”, disse, sublinhando que a evasão escolar aumentou na medida que os professores começaram a faltar ou simplesmente demonstraram frustração com o trabalho.

A estudante Kariny Silva, 16 anos, resume a sensação de chegar na sala e encontrar os professores insatisfeitos. “Nos sentimos esquecidos e sem importância para eles. Muitos descontam toda raiva na gente. Nós não temos culpa se o salário deles é ruim. Só queremos estudar”, diz.

A Secretaria da Educação de Jaboticatubas não se pronunciou sobre a questão.

Travessia feita por balsa

A mãe de Janete, Julieta Teixeira dos Santos, acorda às 4 da manhã para fazer o café da filha de 12 anos. É hora de levar a menina para a escola. O percurso é feito em duas horas, mas para chegar até lá, além de caminhar por três quilômetros e andar por mais 16 no ônibus escolar, mãe e filha precisam atravessar o Rio Paraúna numa balsa. Ela foi construída pelos moradores locais com tambores de plástico sob pedaços de madeira. “Não tenho coragem de deixá-la atravessar o rio sozinha, mesmo porque ela não teria força para empurrar a balsa”. Mas, quando é tempo de chuva, a menina não vai para a escola porque a correnteza é forte e não há braço que consiga vencê-la.

Além de Janete, Julieta e o marido João Roberto têm outros quatro filhos – todos já formados. “Cada um foi para um canto porque por aqui não tem jeito de ficar e vencer na vida. Sei que daqui a alguns anos a Janete estará indo embora. Não posso prever o futuro, mas daqui ela não sai sem antes terminar os estudos. Quero vê-la feliz nessa vida e sem a escola, não tem jeito, não”.

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/

QUER SABER ???

Por que explodiram os casos de violência nas escolas municipais do Rio-Capital ?!

1.
Nos últimos 12 meses, somando os casos divulgados e não divulgados (por certo temor) nas escolas públicas municipais, os casos de violência de alunos a professores, entre alunos, de agressões internas e externas ao patrimônio das escolas foi maior que a soma de todos os anos de 2000 a 2008. O número é espantoso: de 5 casos por ano no conjunto das 1060 escolas, ou 45 em nove anos, para pelo menos 390 em um ano, de junho 2009 a junho de 2010.

2. De dois em dois anos a secretaria de educação da prefeitura do Rio realizava pesquisa, escola a escola, sobre violência interna às escolas e violência externa. Internamente, a curva, além de descendente, mostrava apenas casos fortuitos. Por que esse quadro mudou tanto em tão pouco tempo?

3. Há duas explicações básicas. A primeira é a desmontagem do foco em inclusão social. As escolas públicas em países, regiões e locais menos desenvolvidos devem equilibrar dois vetores: a qualidade do ensino e a inclusão social. Isso exige concessões de um e outro lado, sem que nem um nem outro seja afetado em seu núcleo. Assim ensinavam os professores Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro. Na medida em que se impõe às escolas públicas uma lógica de falsa meritocracia, na verdade "notacracia", se estressa os alunos, se derruba a autoestima dos mesmos e o resultado é o aumento e descontrole de casos de violência. Os estudos pelo mundo afora mostram isso nas chamadas escolas de periferia.

4. A segunda explicação é a tentativa de minimizar a importância do magistério, substituindo-o por sistemas impessoais, em nome de uma tecnologia abstrata, aplicável em qualquer lugar. O professor Paulo Freire reagiria duramente a isso. Até seu processo de alfabetização, relacionava a leitura e a escrita à experiência local dos alunos. Os professores municipais, cujo DNA vem das "escolas do Imperador", foram os primeiros servidores estáveis no início da República, e foram orientados nos anos 30 pelo professor Anísio Teixeira, agora são atropelados por institutos privados que se colocam como o monopólio do saber e detentores de pacotes, que são muito mais data-shows do que aplicação da tecnologia à educação, pois esta nunca poderá prescindir da comunicação oral, da interação social, da autoridade do professor e da pedagogia da sala de aula.

5. A escola é pública, está inserida em seu entorno sociocultural e a sala de aula, ela mesma é um universo, onde a professora cumpre funções amplas que vão muito além do ensino. O que está ocorrendo -nesta tentativa de odor privatizante e elitizante - é a minimização do professor e, por isso, a perda de sua autoridade na sala de aula e na escola. E sem essa autoridade, multiplicam-se os casos de agressão aos professores e às escolas. Esse é o segundo vetor deste binômio trágico: desmonte da autoestima do aluno / quebra de autoridade do professor, que explica o porquê da explosão de casos de violência de todos os tipos nas escolas públicas do município do Rio.

Fonte: www.cesarmaia.com.br

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ENTRE A LEI E A ORDEM: por uma polícia pedagógica

Lúcio Alves de Barros*

O debate sobre a emenda à Constituição que torna obrigatório o título de bacharel em direito para oficiais de carreira da Polícia Militar de Minas Gerais tem esquentado os meios policial e político. Há tempos já se sabe que as polícias de alguns estados da federação exigem tal diploma, o que na verdade, não se sabe é se adiantou alguma coisa. O curso de bacharel em direito para oficiais, entretanto, não passa de falácia, de uma guinada em favor de melhores salários ou ganho de campo no jogo contra a Polícia Civil que tem seus delegados formados neste curso.

Não vou discutir a eficácia da medida, tampouco porque ela em si, provavelmente, não vai mudar nada. Neste sentido, minha análise é somente para tatear esse campo repleto de interesses difusos e que, por vezes, é melhor olhar de longe, pois tal como se diz na polícia, “a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco”, “muxiba não deve se meter a ser bola de futebol” e “rio com piranha, jacaré nada de costa”.

Em tempos de “jabulani”, vale tecer pelo menos alguns comentários. Em primeiro, não é possível que depois de tantos avanços na política de segurança pública apareça uma proposta tão sem lugar como esta. A polícia por definição é a força legítima do Estado que atua na discricionariedade. Talvez seja esta uma das mais interessantes artes da polícia. Atuar no “improviso”, na “moral”, no “espírito do momento”, na liberdade de agenda, na “hora” e no “depois”. Trata-se de um poder não mensurável, de um saber técnico que tem por sustentáculo a experiência e a legitimidade estatal. Aprende-se a ser polícia na prática e não na teoria. Logo, é um retrocesso achar que os policiais formados em direito, mesmo os oficiais, vão utilizar o Código Penal, a Constituição, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ou mesmo o Estatuto do Idoso para resolver algum problema. Até porque, já e de conhecimento público que dificilmente vamos ver um coronel dentro de uma viatura em momentos de ação.

Em segundo, a PEC 59/2010 (em pauta para votação em primeiro turno na Assembleia Legislativa) peca em outro sentido. Nada contra o curso de direito, até porque há anos frequento as salas de aula de graduação e pós-graduação e tenho a ciência de como os estudantes são formados, mas seria bom a instituição e as autoridades, por exemplo, sugerirem o curso superior em pedagogia, em psicologia ou mesmo em antropologia. Mais de uma vez já disse que a maioria das ações que a polícia faz é de cunho social, um trabalho terapêutico que tenta cuidar de um consciente e inconsciente coletivo, por ver vezes, em anomia. Certa feita, um policial experiente afirmou que “a polícia trabalha como um curativo, haja vista que o Estado não sabe lidar com a vacina”. Estou longe de erro em salientar que já temos uma organização com muitas dificuldades em atuar como tal e, formados ou não em curso de direito, ainda vamos lidar com curativos esperando a vacina do Estado o qual não se preocupa com a causa das doenças e sim com os sintomas e consequências. Acrescenta-se neste tópico a questão do controle dos sintomas, pois se eles ainda não mataram o corpo social é porque ele se mantém vivo independentemente dos remédios oferecidos pelo campo jurídico. Os indivíduos optam pela ordem e não pela constante sensação de perigo, desconfiança e custo. Logo, apostar em um curso que, por definição, se apega ao campo normativo, ainda mais em tempos de “técnica jurídica” em detrimento da jurisprudência, é perigoso. Teríamos, no limite, oficiais em busca de delitos que, guardadas às devidas proporções, não são produtores de desordem, tampouco contrários à justiça que, no Brasil, é privilégio dos estamentos mais abastados e atrelados ao Estado.

Em terceiro, é preciso apontar para a necessidade de quem irá vigiar os futuros “doutores” fardados. A Polícia Civil, de uma forma ou de outra, ainda serve como um poder regulador da Polícia Militar. Até hoje sabemos que elas não falam a mesma língua e não é problema caminhar institucionalmente na diferença. Falar diferentes línguas é saudável para relações de tolerância, respeito e diversidade. No meio jurídico é conhecido os conchavos, os corporativismos e o tecido relacional (para lembrar Roberto DaMatta e Roberto Kant de Lima) que atuam em defesa de recursos, privilégios e distinções. A cultura brasileira, em micro-relações nas subculturas organizacionais se reveste de novo perfil e o resultado pode ser dramático e complicado. Por outro lado, seria interessante delegados e oficiais discutindo os imperativos da lei em um mundo sedento por justiça e paz.

Em quarto, é forçoso argumentar que não é preciso ser bacharel em direito para ser polícia, principalmente uma polícia ostensiva que tem por função a manutenção da ordem e da paz. O poder de justiça está no judiciário e a Polícia Militar, como força armada do executivo não tem porque misturar atribuições. Na verdade, isso nem é preciso, pois a Polícia Militar está mais aparelhada que a Polícia Civil. Ela tem um maior contingente, faz dobradinha com os bombeiros e está avançada no uso de tecnologias e mobilização social. O que falta à Polícia Militar é justamente um curso superior de pedagogia ou de serviço social. Imaginem policiais pedagogos, responsáveis por levar “segurança social” e não somente a famosa segurança objetiva e subjetiva à sociedade. Imaginem policiais críticos e capazes de educar as crianças, os adolescentes e jovens. Pensemos policiais treinados em lidar com adultos recalcitrantes e mulheres apavoradas pelo marido violento e espancador. Certamente teríamos policiais educadores, generosos, com compaixão, sede de justiça, capacitados em defender os oprimidos e capazes de defender o cidadão não somente das forças hostis dos que estão longe da lei, mas da ação penal e dura do Estado de Direito, forjado na hierarquia, colonização, machismo e autoritarismo. Em democracias a função da polícia, inclusive da “polícia comunitária”, é pedagógica e não jurídica ou militar. Os estados que levaram este projeto a contento (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Piauí e Distrito Federal), não aparecem como exemplo. Se existe o interesse em agregar valor à profissão seria adequado à polícia mineira exigir cursos superiores capazes de lidar com a negociação, com a proximidade, com a educação, crítica e “segurança social” dos cidadãos. Obviamente, tais atributos não de uso exclusivo do curso de direito (o qual, historicamente, carrega certas distinções neste país) e estão presentes na psicologia, geografia, história, sociologia, pedagogia, economia, comunicação...

Finalmente, é impossível deixar de mencionar a perigosa armadura jurídica que pode estar crescendo na instituição. À deriva e longe de debates com a sociedade ela me parece refém ou cúmplice de um estado penal. Refiro-me à busca incansável do Estado pelos já conhecidos suspeitos, os quais andam de lá para cá no mundo das drogas ou nas zonas quentes de criminalidade. O movimento institucional me lembra a ideologia “Lei & Ordem” que criou fama na política criminal dos Estados Unidos da América. Sob a roupagem da igualdade e da liberdade a política em apreço tratou de limpar a cidade com a justificativa ideológica da punição da mendicância, da prostituição e da juventude transviada. Neste caminho, estamos a um passo para marcar - novamente - a ferro e fogo a população pobre, negra e sem direitos que vegeta historicamente nesse país. Apostar na política da lei e na judicialização da polícia que tampouco deveria ser militar é alimentar uma ideologia que, por lógica, é punitiva e segregadora. Mais que isso, é justificar no imperativo da lei o que já se percebe no dia a dia e talvez criminalizar, punir e prender aqueles que, por ingenuidade, desconhecimento, azar, ignorância e diferença estiveram sempre distantes dos órgãos da justiça.

* é professor da Faculdade de Educação da UEMG. Autor do livro, Fordismo: origens e metamorfoses. Piracicaba, SP: Ed. UNIMEP, 2005 e organizador das obras, Polícia em Movimento. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006 e Mulher, política e sociedade. Belo Horizonte / Brumadinho: Ed. ASA, 2009.

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Polícia pede punição para seis agressores de estudante do Caseb

Por Saulo Araújo, Correio Brasileiense – 07 jul. 2010

A Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) encaminha hoje à justiça o pedido de internação provisória dos seis jovens acusados de espancar um aluno de 15 anos, na última quinta-feira. A agressão ocorreu no ponto de ônibus da 710 Sul, a cerca de 300 metros do Centro Educacional Caseb, na 909 Sul, onde a vítima e os autores do linchamento estudam. O rapaz permanece internado no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e, ontem à noite, foi submetido a uma nova cirurgia para drenar um coágulo no cérebro que não foi totalmente extinto na primeira operação, feita no dia da briga. Um primo dele, que também estuda na escola, também foi agredido, mas sofreu apenas ferimentos superficiais.

Na tarde de ontem, mais dois suspeitos de bater nos estudantes foram ouvidos. Eles admitiram que desferiram golpes nos rapazes, mas minimizaram a participação no fato. “Eu só dei uma bicuda (chute) na perna dele. Depois, fiquei só vendo de longe os outros baterem”, afirmou ao Correio um deles. Hoje, a polícia deve colher o depoimento de outros três acusados. Um já havia prestado esclarecimentos na última segunda-feira. O garoto de 16 anos que prestou depoimento ontem é apontado por testemunhas como o principal agressor. Teria sido ele o responsável por atacar as vítimas com um pedaço de madeira cheiode pregos. Outro menor suspeito de cometer o ato infracional, disse que apenas assistiu às cenas de selvageria promovida pelos colegas de escola. “Eu estava no meio, mas não bati em ninguém. Só fiquei vendo, assim como um monte de gente que estava na parada. Pode perguntar para uma menina da minha sala que viu tudo”, defendeu-se.No entanto, uma adolescente que esperava a condução no momento da confusão desmentiu o jovem. “Essa aluna viu todos participarem da agressão. Alguns agiram com mais violência do que outros, mas o fato é que todos os seis se envolveram”, afirmou o delegado-chefe-adjunto da DCA, Yuri Fernandes. No Procedimento de Ato Infracional (Pai), o delegado decidiu que eles responderão por ato infracional de lesão corporal de natureza grave, além de injúria, já que a briga começou após o grupo chamar a prima dos dois agredidos por um apelido que ela não gosta. Apesar dos insultos dirigidos à menina de 12 anos, Yuri Fernandes ressaltou que no episódio não ficou evidenciada a ocorrência de bullying. “Houve o insulto, mas não era uma coisa reiterada, o que caracterizaria o bullying”, explicou.

O pai de um dos acusados condenou a atitude do filho, mas disse que a briga não passou de “coisas da idade”. “Eles são garotos, cheios de energia. Acho que eles não imaginavam que iam machucar tanto o colega. São coisas da idade que todo mundo que é pai sabe como é”, tentou justificar.

1 – Humilhação


Bullying é uma discriminação dirigida contra uma única pessoa. Não é uma agressão simples, que termina na hora. Chamar o colega por apelidos como “rolha de poço”, “gordo”, “magricela” e adotar um comportamento violento, desferindo chutes, empurrões e puxões de cabelo pode ser caracterizada como bullying. A agressão, seja física ou verbal, acontece de forma reiterada e pode gerar sérios traumas nas vítimas.

Ameaça denunciada

Um dos adolescentes suspeitos de participar do espancamento ainda terá que responder por outro ato infracional. Na segunda-feira, quando familiares das vítimas foram ao Caseb conversar com a direção da escola, ele teria feito com as mãos um gesto simulando uma arma na direção à mãe do aluno que se encontra internado, Ana Lúcia das Chagas Lessa. Ontem, ela registrou uma ocorrência de ameaça na DCA e um novo procedimento foi aberto. “Essa ameaça será considerada, mas abrimos um novo procedimento para apurar esse fato. Temos que saber se alguém mais viu o jovem fazendo esse gesto”, ponderou o delegado-chefe-adjunto da DCA, Yuri Fernandes.

Diante do clima de medo, os pais dos dois garotos agredidos decidiram tirá-los do Caseb. O mesmo destino deve seguir a menina de 12 anos, pivô da discussão que culminou na pancadaria. Ontem, enquanto os acusados da agressão no Caseb eram ouvidos, dois casos também envolvendo estudantes chegaram à DCA. No primeiro deles, um adolescente de apenas 14 anos foi apreendido em cima do muro da Escola Classe 8 do Setor Residencial Leste de Planaltina com um revólver calibre .22. Segundo funcionários do estabelecimento de ensino, ele apontava a arma para um adolescente.

Quando a Polícia Militar chegou ao local, o menor tentou fugir, mas foi alcançado. Em outra ocorrência, a PM apreendeu seis menores que brigavam na 213 Sul. Eles participavam de uma briga entre alunos de duas escolas da região. De acordo com os policiais, pelo menos 15 alunos uniformizados estariam envolvidos na pancadaria, mas a maioria conseguiu escapar com a chegada da viatura. Como o Correio publicou na edição de ontem, esse tipo de situação não é atípica no DF. Do total de ocorrências registradas na unidade, 27% acontecem dentro ou nos perímetros dos colégios. O Batalhão Escolar, que é o responsável pela segurança nos estabelecimento de ensino, faz rotineiramente palestras para promover a cultura de paz no ambiente escolar.

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Menino de 9 anos é flagrado com droga na escola


Da Sucursal, 06 jul. 2010

IPATINGA – Uma criança de apenas 9 anos foi flagrada com buchas de maconha dentro de uma escola pública desta cidade do Vale do Aço. O garoto estava com três porções da droga que seriam vendidas a outros estudantes. Descoberto após uma denúncia anônima, ele entregou outro menor, de 13 anos, que revelou ter conseguido o entorpecente com dois adolescentes de 17 anos. Segundo parentes da criança, ela é tímida, nunca apresentou problemas escolares ou com a polícia e teria sido coagida a entrar para o tráfico, sob ameaça de ter o irmão mais velho espancado.

O flagrante foi no final da tarde da última segunda-feira (5), na Escola Municipal Terezinha Nívia Lopes, no Bairro Nova Esperança. Após a denúncia, a viatura do primeiro-tenente da Polícia Militar Wesley Flávio Soares foi até a escola e, na sala da diretoria, encontrou o entorpecente escondido na mochila do garoto. Ele mora com os pais, dois irmãos e uma tia em uma casa com quatro cômodos, próxima ao colégio. Segundo os policiais, após uma conversa com o menino, ele afirmou que tinha recebido a droga de outro menor, de 13 anos, que estuda no Bairro Esperança. Os militares foram atrás do adolescente e descobriram que ele havia comprado a maconha de outros dois jovens de 17 anos. Depois, repassou para a criança de 9 anos para que ela revendesse pelo preço de R$ 10.

Após fazer uma busca nas casas dos rapazes de 17 anos, a PM localizou, embaixo do colchão de um deles, 60 buchas de maconha. Escondido dentro de uma poltrona, estava um revólver calibre 38, com cinco cartuchos intactos. Carla Camila Rodrigues, 22 anos, que mantinha vida conjugal com um dos menores, foi detida durante a ação. Os três envolvidos de 13 e 17 anos e o material apreendido foram levados para a 1ª Delegacia Regional de Ipatinga. Os menores prestaram depoimento e foram liberados em seguida. Já o menino de 9 anos não chegou a ser levado para a delegacia, segundo o Conselho Tutelar, porque foi entregue aos pais. Conforme uma moradora vizinha da escola do garoto, que preferiu não se identificar, a criança foi chantageado para revender a drogas. “Parentes levam e buscam o menino, todos os dias, na escola. Ele é muito tímido e nunca houve problemas desse tipo antes. O que eu sei é que forçaram esse garoto a pegar as drogas, senão iriam bater em um irmão dele”, afirma.

Por telefone, uma tia do garoto, E.P.P., 32 anos, reforçou a versão de que seu sobrinho foi manipulado. “Ele foi obrigado a colocar as drogas na mochila. Falaram que se não obedecesse, iriam bater no irmão mais velho dele. Eu sempre acompanho meu sobrinho até a porta da escola, pois os pais dele trabalham fora. É um menino normal e não teve culpa de nada, tanto que nem chegou a ir para a delegacia”, afirmou.

Já a mãe do menor de 13 anos, C.M.V., 55 anos, afirma que recebeu a notícia da apreensão do filho quando chegava em casa do trabalho, no início da noite de segunda. “Fiquei surpresa. Tenho mais outros três filhos e ele me ajuda a tomar conta deles. É um bom menino. Agora vou ter que orientar mais o meu menino. Ele não tinha contato com os dois adolescentes de 17 anos”. O delegado da Infância e Juventude de Ipatinga, Rodrigo Manhães, vai acompanhar o caso e afirma que será instaurado um procedimento para apurar a conduta dos menores.

A presidente da Regional 1 do Conselho Tutelar do município, Nair Dias Rodrigues, afirma que a criança de nove anos não passagem pelo órgão. “O conselho vai monitorar estes adolescentes e fazer visitas às famílias para orientá-las”, informou. Procurada pela reportagem do HOJE EM DIA, a diretora da Escola Municipal Terezinha Nívia Lopes não quis dar declarações, sob orientação da assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal.

terça-feira, 6 de julho de 2010

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Polícia identifica seis dos jovens que agrediram aluno do Caseb

Distrito Federal - Publicação: 06 jul. 2010

A Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) espera concluir, ainda nesta terça-feira (6/7), as investigações sobre a agressão de um jovem de 15 anos em uma parada de ônibus na 710 Sul, a 300 metros do Centro Educacional Caseb, na última quinta (1º/7). A polícia já identificou seis dos oito agressores que, de acordo com o delegado-adjunto Yury Pereira Fernandes, são estudantes do colégio. Não está descartado um pedido de internação provisória dos envolvidos.

Até ontem (5/7), a mãe do adolescente, alguns agressores, uma das vítimas e a prima, que teria sido o motivo da desavença, já tinham prestado depoimento na DCA. O delegado disse que a lesão não pode ser considerada simples porque o jovem, como foi atingido na cabeça, ainda pode ter sequelas e, também, só pelo fato de ele ficar 30 dias afastados de suas atividades, o fato já é considerado grave. "A princípio, será tratado como lesão corporal de natureza grave, no entanto, vai depender do laudo final, já que uma das vítimas está hospitalizada", explica Yury Pereira.

Sobre uma possível mudança na acusação para uma tentativa de homicídio, o delegado-adjunto explica que isso não deverá acontecer. "Para considerar tentativa de homicídio é preciso ter a intenção de matar. Foi esclarecido que eles queriam agredir. A acusação só mudaria se o adolescente viesse a falecer", informa.Para a polícia, o motivo da agressão foi considerado fútil e banal, já que a briga aconteceu depois da prima dos dois jovens agredidos relatar que teria sido apelidada pelos colegas do Caseb. De acordo com o delegado Yury Fernandes, os primos, então, resolveram tirar satisfação e uma primeira desavença aconteceu ainda na escola, como foi relatado por um dos vigilantes do Caseb.

Punição
- De acordo com a investigação, os seis jovens podem responder por lesão corporal grave, ameaça e ainda bullying. A polícia não descarta um pedido de internação provisória no Caje, que pode ser de até 45 dias, dependendo da decisão da Justiça. "A polícia irá tomar todas as medidas cabíveis para resolver o mais rápido possível a situação", explica.Em relação à possível internação, para o delegado, além de ser uma forma de punição pode ser um jeito de evitar um futuro linchamento dos jovens pela sociedade. "A comunidade está muito envolvida, a internação pode ser uma forma de protegê-los também", afirma.

O delegado-adjunto da DCA disse também que, após a agressão de quinta-feira, ficou constatado que os adolescentes ainda ameaçaram as vítimas. Além disso, se ficar claro que a jovem apelidada sofreu bullying, eles podem responder por injúria. "Entretanto, eles negaram terem apelidado a adolescente", diz.Após a conclusão, o caso segue para a Vara da Infância e da Juventude (VIJ), que irá determinar a pena a ser cumprida pelos adolescente. Mas o delegado garante que, provavelmente, a Justiça deve acatar a internação, ao invés, de uma medida socioeducativa.

Outro registro - Na manhã de ontem (5/7), a mãe do jovem agredido esteve no colégio para uma reunião com pais, alunos envolvidos, diretoria, funcionários da instituição e um representante do Conselho Tutelar. O objetivo era pedir a transferência do aluno e, ainda, saber quais medidas seriam tomadas pelo Caseb.A mãe relatou que havia sido ameaçada por um dos agressores, que simulou, em um gesto, uma arma de fogo. A ameaça foi registrada também na DCA, que irá apurar o caso. O delegado-adjunto Yury Fernandes disse que essa situação será investigada separadamente, entretanto, isso pode complicar bastante a situação do jovem. "São fatos distintos, mas vai pesar muito no pedido de internação desse adolescente.

Dois deles, em particular, estão extrapolando e até desacreditando da autoridade da polícia", informa.EntendaO adolescente de 15 anos e o primo dele foram espancados por estudantes do Caseb na última quinta-feira (1º/7) na parada de ônibus da 710 Sul, próximo ao Colégio Caseb, na 909 Sul. Os agressores utilizaram paus e pedras para bater nas vítimas, o que resultou em um coágulo no cérebro do jovem de 15 anos. O adolescente foi encaminhado ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), onde permanece internado, mas já passa bem.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

FALA EDUCADOR (A) !

Violência na escola: a culpa é de quem?

Segunda- feira, 21 de Dezembro de 2009


Depoimento de Lia Kayano - professora de história da rede municipal de São Paulo*

Sou professora da rede municipal de São Paulo. Na minha escola, há uma turma em que os alunos cultivaram entre si uma relação muito violenta, e se tornou motivo de queixas e sofrimento para todos os professores desde o começo do ano. Certo dia, eu chego à escola e fico sabendo que, ao que parece durante a minha aula, dois alunos teriam forçado um terceiro a ingerir gotas de um medicamento (analgésico). Se foi mesmo durante a minha aula não sei dizer, já que nesta sala, quando consigo fazer com que dois parem de se bater, atrás de mim já estão outros quatro se agredindo. A mãe do aluno abriu uma denúncia junto à Diretoria de Ensino. A medida administrativa foi me notificar por violar artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Estatuto do Funcionalismo Público.

A responsabilização individual do professor quando este tipo de situação acontece não é resposta, tanto porque não resolve a questão (há crianças se agredindo e desacatando professores), quanto pela injustiça. Uma escola recebe diariamente uma grande diversidade de crianças com suas cargas de experiências sociais e familiares. Somos educadores e assumimos a difícil tarefa de fornecer educação básica como direito elementar e constitucional.

Como medida que protege a todos profissionais da educação, devemos repudiar nos obrigarem a responder penalmente por infrações praticadas pelos alunos. Não se trata de negar e não assumir o problema. Devemos encarar a questão da violência com toda a seriedade que ela encerra. Assumimos, sim, a tarefa de debater coletivamente estas situações e o compromisso de apontar e adotar medidas que garantam segurança aos educadores e às crianças. Os profissionais que engendram a rede de ensino assumem os problemas de violência que se manifestam dentro da escola pelo seu comprometimento com sua profissão, que se traduz na forma de comprometimento com as crianças que são nossas beneficiárias diretas.

Reconhecendo a necessidade de chamar as crianças e toda a comunidade escolar à responsabilidade pela qualidade do processo educativo, a imputação penal do professor não deve caber enquanto medida administrativa. No meu caso específico, o que deveria ser considerado como um problema que diz respeito a toda comunidade escolar, foi encarado como uma infração que eu teria cometido individualmente. Isso não é política pedagógica séria. Esta não pode ser a resposta administrativa e institucional a esse tipo de demanda. Reconheço a importância da elaboração de manuais e legislações que orientam os profissionais de educação diante de conflitos na escola. Estes expedientes nos orientam sobre procedimentos a serem adotados após as situações consideradas violentas terem acontecido, mas são insuficientes para pensar uma prática que leve as escolas a refletirem, autonomamente, sobre as origens e possíveis soluções para esses conflitos.

Não basta sabermos que podemos encaminhar alunos a tal ou qual instituição (polícia, conselhos tutelares, varas de infância), ou que podemos responder penalmente por infrações cometidas pelos alunos. Trata-se de estarmos preparados para encarar os problemas vivenciados nas escolas, sejam eles considerados violentos ou não, de forma coletiva, envolvendo a todos (pais, vizinhança, educadores, equipe administrativa e alunos) na busca de soluções.