segunda-feira, 7 de maio de 2012

Brasil está em 7º lugar em homicídios de mulheres

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Agencia Estado - 7/05/2012 - 16:18
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Um estudo divulgado nesta segunda-feira (7) apontou que o Brasil tem o sétimo maior índice de homicídios de mulheres entre 84 países. De acordo com a pesquisa, a taxa de homicídio no Brasil ficou em torno de 4,4 vítimas para cada 100 mil mulheres. A pesquisa, coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, foi batizada de "Mapa da Violência de 2012: Homicídios de Mulheres no Brasil" e foi feita com apoio da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais - FLACSO - e do Instituto Sangari.
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O objetivo do estudo é traçar um panorama da evolução do homicídio de mulheres entre 1980 e 2010, quando foram assassinadas 91.932 mulheres, sendo quase a metade - 43.486 mortes - na última década desse período. Os Estados com maiores taxas, no ano de 2010, foram: Espírito Santo, Alagoas e Paraná, com taxas de 9,4, 8,3 e 6,3 homicídios para cada 100 mil mulheres, respectivamente.
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Um detalhe também significativo é o local onde aconteceu a agressão: 69% das vítimas femininas atendidas pelo SUS sofreu o ataque em sua própria casa. O relatório completo do estudo pode ser acessado pelo site: http://www.mapadaviolencia.net.br/
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sexta-feira, 4 de maio de 2012

O homem precisa de cuidados, mas quem cuida do cuidador?

Arte de Jia Lu  (in Fada do Mar)
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Por Leonardo Boff (Teólogo e escritor).
As primeiras cuidadoras são nossas mães e avós que, desde o início da humanidade, cuidaram de sua prole.
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Verdadeiros arquétipos do cuidador foram o médico suíço Albert Schweitzer (1875-1965) e a enfermeira inglesa Florence Nightingale (1820-1910).
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Schweitzer foi um dos maiores concertistas de Bach de seu tempo. Aos 30 anos, já com fama em toda a Europa, largou tudo, estudou medicina para cuidar dos mais pobres dos pobres, os hansenianos, em Lambarene, no Gabão. Numa de suas cartas confessa: "o que precisamos não é de missionários que queiram converter os africanos, mas de pessoas dispostas a fazer aos pobres o que deve ser feito, se é que o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuem algum valor ".
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Foi dos primeiros a ganhar o prêmio Nobel da Paz. Formulou assim seu lema: "a ética é a responsabilidade ilimitada por tudo o que existe e vive".
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Humanista e profundamente religiosa, Nightingale decidiu melhorar os padrões da enfermagem em seu país. Em 1854, com outras 28 companheiras, se deslocou para o campo de guerra da Crimeia, na Turquia, onde se empregavam bombas de fragmentação que produziam muitos feridos. Em seis meses, reduziu de 42% para 2% o número de mortos. Esse sucesso granjeou-lhe notoriedade universal. De volta a seu país e, depois, nos Estados Unidos, criou uma rede hospitalar que aplicava o cuidado como eixo norteador da enfermagem e como sua ética natural. Florence Nightingale é uma referência inspiradora. O operador da saúde é, por essência, um curador. Cuida dos outros como missão e como opção de vida. Mas quem cuida do cuidador, título de um belo livro do médico Eugênio Paes Campos (Vozes, 2005)?
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O ser humano é, por sua natureza e essência, um ser de cuidado. Sente a predisposição de cuidar e a necessidade de ser ele também cuidado. Cuidar e ser cuidado são existenciais (estruturas permanentes) e indissociáveis.
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O cuidar é muito exigente e pode levar o cuidador ao estresse. Especialmente se o cuidado constitui, como deve ser, uma atitude permanente e consciente. Somos limitados, sujeitos ao cansaço e à vivência de pequenos fracassos e decepções. Sentimo-nos sós. Precisamos ser cuidados, caso contrário, nossa vontade de cuidar se enfraquece. Que fazer então?
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Logicamente, cada pessoa precisa enfrentar com sentido de resiliência (saber dar a volta por cima) essa situação dolorosa. Mas esse esforço não substitui o desejo de ser cuidado. É então que a comunidade do cuidado deve entrar em ação.
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O enfermeiro ou a enfermeira, o médico e a médica sentem necessidade de serem também cuidados. Precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente, como as mães fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas.
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Cria-se então o que o pediatra R. Winnicott chamava de "holding", quer dizer, aquele conjunto de cuidados e fatores de animação que reforçam o estímulo para continuarem no cuidado para com os pacientes.
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Quando esse espírito de cuidado reina, surgem relações horizontais de confiança e de mútua cooperação, e se superam os constrangimentos, nascidos da necessidade de ser cuidado.
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Feliz é o hospital e mais felizes são, ainda, aqueles pacientes que podem contar com um grupo de cuidadores. A boa energia que se irradia do cuidado corrobora na cura.
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Fonte: O Tempo (MG)               


Indicação de leitura

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"Aquele por Quem o Escândalo Vem"
Autor: René Girard
Editora: Editora É Realizações
Páginas: 228
Quanto: R$ 37,40 (preço promocional*)
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No presente livro o filósofo René Girard analisa a origem e a profusão da violência na sociedade moderna no livro "Aquele por Quem o Escândalo Vem" (É Realizações, 2012). O título faz menção ao versículo bíblico que diz "Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem!" Mateus (18,7). Ao comentar as manifestações de violência da atualidade, o autor compara este processo a um fogo que se espalha. "A violência parece estar presa num processo de escalada que lembra a propagação do fogo, ou a de uma epidemia.". Para ele, o comportamento violento no humano nasce e se sustenta a partir de uma questão de imitação ou mimese. De acordo com Girard, seria o desejo de nos adequarmos a um modelo admirado, seja uma pessoa ou uma sociedade, que nos levaria aos atos de violência. No livro, o filosofo sustenta esta ideia e faz uma contraposição à teoria de que o homem seria bom por natureza e a opressão das classes populares pelas classes dirigentes é que daria origem aos comportamentos violentos e ao conceito oposto de que o homem já é biologicamente violento e teria até genes de "agressividade".
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O lançamento faz parte da iniciativa da editora É Realizações de popularizar o trabalho de René Girard no país. Do mesmo pensador, ela já lançou "Deus: Uma Invenção?", "Anorexia e Desejo Mimético" e "Violência e o Sagrado".
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quinta-feira, 3 de maio de 2012

UFMG vai apurar pichação contra cotas em campus

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O Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) irá investigar um protesto em repúdio às cotas raciais em faculdades públicas. Com a frase "A UFMG vai ficar preta", a pichação foi feita nas portas de ferro de uma revendedora de motocicletas em frente ao campus da Pampulha, em Belo Horizonte.
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O ato de vandalismo foi feito na última sexta-feira e teria sido cometido como protesto à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada na última quinta-feira, que julgou ser constitucional o sistema de cotas para afrodescendentes.
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A assessoria de imprensa da UFMG informou que "repudia qualquer tipo de manifestação racista". Ontem, a instituição fez um registro fotográfico da pichação e encaminhou para a avaliação e apuração do conselho, que deverá oficializar hoje a abertura da investigação para tentar identificar os suspeitos de terem pichado o comércio. A porta de ferro foi pintada ontem. Apesar do protesto, a UFMG disse que, desde o vestibular de 2009, já adota o sistema de bônus para estudantes provenientes de escolas públicas - para conseguir o benefício, eles precisam ter estudado pelo menos sete anos em instituições públicas. Esses estudantes contam com um adicional automático de 10% sobre a nota dos concorrentes nos exames de seleção. Segundo a universidade, caso esses alunos se declarem negros ou pardos, eles ganham um acréscimo de 5% na pontuação.
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Ainda de acordo com a assessoria da UFMG, o que vale na instituição é o preparo do candidato, independentemente da raça. (GS)
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Fonte: O Tempo (MG)

Fardas lado a alado com uniformes

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Em casos extremos, PMs que trabalharão armados em escolas nos dias de folga poderão revistar alunos

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Fonte: O Globo (RJ)
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Policiais militares fardados e armados começaram ontem a fazer a segurança, nos seus horários de folga, de 90 Escolas da rede estadual. Além da arma dentro dos colégios, a novidade, formalizada ontem pelo governador Sérgio Cabral, envolve outra polêmica: a revista de estudantes, recurso que poderá ser aplicado pelos agentes quando necessário, de acordo com as secretarias estaduais de Segurança e de Educação. Coordenador do Programa Estadual de Integração da Segurança (Proeis), no qual os policiais estão inseridos, o coronel Odair de Almeida Lopes afirma que alunos só poderão ser revistados em casos extremos e a pedido da direção do colégio. Fazem parte desta primeira etapa 423 militares, identificados pela braçadeira do Proeis.
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- Se nós precisarmos agir numa situação extrema com uma revista, nos só a faremos mediante solicitação do diretor da Escola e com acompanhamento também - diz o coordenador.
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O convênio entre as secretarias de Educação e Segurança foi assinado ontem, em solenidade no Palácio Guanabara, pelo governador e pelos secretários José Mariano Beltrame, de Segurança, e Wilson Risolia, de Educação. As 90 unidades estão localizadas em 21 municípios. A maioria, 37, fica na capital. Um dos critérios para a escolha foi a ocorrência de casos de violência recente, como o Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, no Complexo do Alemão, invadido mais de uma vez no ano passado. Risolia adiantou que pretende estender a inciativa para toda a rede num prazo de um ano.
A notícia de que a segurança de algumas Escolas será reforçada pela PM foi bem recebida por professores e alunos, que, por outro lado, manifestaram preocupação com a presença de armas.
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- A gente espera segurança com os policiais. Só da arma que tenho medo - confessou Gabrielle Barbosa, de 18 anos, aluna do 4 ano do ensino médio do Colégio Estadual Júlia Kubitschek, no Centro.
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- Arma sempre preocupa - disse Eliza Sousa, de 18 anos, colega de turma de Gabrielle.
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A Escola recebeu na manhã de ontem, pela primeira vez, um policial do programa, que chegou ao serviço às 6h30m. Para a diretora do colégio, Sheila Guimarães, a presença constante da PM levará mais tranquilidade para funcionários, alunos e pais. Ela diz que no entorno da Escola ocorrem muitos assaltos. A diretora, que diz não gostar de arma, não considera problema a realização de revistas e ressalta que os limites da atuação policial serão estabelecidos.
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Segundo Beltrame, os policiais receberão um treinamento especial na semana que vem. Os PMs integrantes do Proeis, que oferece policiais para a segurança de instituições e empresas, por meio de convênio com a Secretaria de Segurança, recebem R$ 200 por cada turno de oito horas, no caso dos oficiais, e R$ 150 se forem praças. O segundo-sargento João Carlos Oliveira vai receber R$ 150 pelo turno de trabalho no Júlia Kubitschek, onde começou ontem. Ele diz que a oportunidade "caiu do céu":
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- É como se eu estivesse fazendo meu trabalho normal de policial - afirmou o PM, que passou o dia mais dentro da Escola do que fora: - Fico mais lá dentro. Aqui fora fico mais no horário de entrada e saída. A orientação é vigiar internamente e vou atuar de acordo com a necessidade.
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Fonte (O Globo)



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400 policiais farão "bico oficial" em 90 escolas do Estado do Rio.
Eles receberão até R$ 200 por turno de 8 horas; armados, soldados só revistarão alunos a pedido dos diretores
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Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
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Noventa escolas públicas do Estado do Rio, 37 delas na capital, terão segurança feita por policiais militares armados que trabalharão no horário de folga. Os 400 PMs atuarão na porta e no entorno, mas poderão também entrar nas escolas, em caso de ocorrências graves, desde que haja um pedido da direção.
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Coordenador do Programa Estadual de Integração da Segurança (Proeis), o coronel Odair de Almeida Lopes Júnior disse ontem, na assinatura do convênio entre as Secretarias da Segurança e da Educação do Estado, que revistas de alunos só acontecerão "mediante solicitação bem fundamentada do diretor".  Segundo o PM, os policiais tentarão coibir o aliciamento de alunos e a venda de drogas e poderão agir também em casos de Bullying, além de organizar o trânsito. Durante a noite, trabalharão na vigilância para evitar invasão e roubo. Eles vão receber R$ 200 por turno de oito horas trabalhado nas escolas, durante a folga, com limite de 12 turnos por mês. No caso dos praças, o pagamento será de R$ 150 por turno.
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As escolas começaram ontem a receber os PMs, em caráter experimental. Nas 90 escolas, estudam 115.490 alunos e trabalham 6.279 professores. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, informou que, na semana que vem, os PMs terão três dias de treinamento, focado no trato com crianças e adolescentes.
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O governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou que "as 90 escolas vão ganhar outro nível de valor, os pais, os alunos e os professores terão outro nível de tranquilidade".
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terça-feira, 1 de maio de 2012

Três a cada 10 brasileiros vivem de esmola ou benefício federal

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Publicidade O mais novo retrato dos empregados brasileiros, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - às vésperas do Dia do Trabalho -, mostra uma realidade assustadora: 32,7% das pessoas sobrevivem de benefícios federais ou simplesmente de esmolas. No Nordeste, a situação piora. São 37,5% dos habitantes dependendo de caridade ou de programas como o Bolsa Família.
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Em Alagoas, o terceiro Estado mais pobre do Brasil, atrás de Maranhão e Piauí, são muitos os que tentam a sorte no lixo, catando latas ou garrafas de plástico. Segundo o IBGE, a cada dois alagoanos, um sobrevive dos programas do governo ou à espera de ajuda dos outros.
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Com 63 anos, Eliseu dos Santos caminha até 15 quilômetros por dia atrás de sacos de lixo pelas ruas de Maceió. A rotina é a mesma há 30 anos. Juntando latinhas de alumínio, ele tenta ganhar R$ 5 por dia. Diz que não aguenta mais a vida de pedinte. "Isso é uma vida desgraçada, ninguém merece isso. Quando junto muito é R$ 2. Faço isso porque não quero roubar nem matar ninguém. Posso dizer que isso é o suor do meu rosto", afirma.
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Perto dali, no bairro de Ponta Verde, o metro quadrado mais caro de Alagoas, a 200 m da cobertura do senador Fernando Collor (PTB), Ana Lins dos Santos, 28 anos, descansa antes de retomar a rotina: catar latinhas de refrigerante. Ela deixou a cidade de Paripueira, a 20 km de Maceió, e foi morar com o marido nas ruas da capital. Debaixo de um coqueiro, estende um colchão e coloca roupas para secar no sol de 30°C. Mora ao lado de um posto policial e sobrevive de esmolas ou dos pratos de sopa distribuídos nas madrugadas por grupos religiosos. "A gente vive como pode. Cata latinha, compra uma cachaça, dorme e acorda", declara.
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"Eles sobrevivem como animais"
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Para a cientista política Ana Cláudia Laurindo, as estatísticas não mostram o que existe de real: a destruição simbólica e psicológica do ser humano. "Décadas atrás, a pobreza tinha uma característica diferente de hoje. A história parece ter regredido, o indivíduo nas ruas vive em bandos por coação, quando esse estágio já deveria ter sido abolido desde as eras mais primitivas da humanidade. São gerações que não conhecem vizinhos, a conversa na porta. Só a desposse para além do material, além do simbólico, do cultural, do religioso", avalia.
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"Seria um problema resolvido se houvesse uma pequena desconcentração de renda na elite, e falo deste caso em Alagoas. Não é uma revolução. Mas a inclusão para se eliminar esse fenômeno da nova barbárie, pessoas que apenas comem para manter o corpo de carne vivo, não tão diferente dos animais que perambulam nas ruas", analisa a cientista social.
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No outro extremo deste quadro social, 0,74% dos brasileiros recebem mais de 20 salários mínimos por mês. No Nordeste, essa proporção cai para 0,38%. Em Alagoas, é ainda menor: apenas 0,3% da população pertence à classe dos ricos.
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Fonte - Jornal do Brasil

Um ano depois, martírio dos estudantes do Vale do Rio Doce continua


Foto de Leonardo Morais
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Percorrer vários quilômetros a pé, sob sol e chuva, ou em veículos caindo aos pedaços é uma dura realidade enfrentada por estudantes dos ensinos fundamental e médio em Minas Gerais. Promessas de ampliação e modernização do transporte escolar, sobretudo nas zonas rurais, ficaram no papel. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) anunciou, há exatamente um ano, um diagnóstico do serviço, para traçar metas de melhorias. Mas o estudo não ficou pronto, nem tem data para ser concluído, segundo informa a assessoria de imprensa da SEE.
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Na edição de segunda-feira (30), o Hoje em Dia mostrou o drama de cerca de 1 mil alunos na cidade de Paulistas, no Leste de Minas, que chegam a atravessar um rio com água pela cintura para fazer o trajeto de suas casas para a escola. Os ônibus escolares da prefeitura estão em situação precária, colocando em risco a segurança dos passageiros.
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O MEC também anunciou, no primeiro semestre de 2011, que os veículos do transporte escolar passariam por padronização neste ano, que valeriam tanto para ônibus e vans das prefeituras quanto particulares. Denatran, Inmetro e Ministério da Educação (MEC) estariam estudando as alterações. Mas a realidade mostra que tais melhorias não foram implementadas. Ninguém nesses órgãos foi encontrado, ontem, para falar sobre o assunto, em função do recesso do feriado do Dia do Trabalhador.
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Enquanto as promessas não são cumpridas, os estudantes sofrem para fazer valer um direito básico: acesso à educação. Especialistas afirmam que as dificuldades para se chegar à escola contribuem, decisivamente, para a defasagem no aprendizado e a evasão escolar. Há um atraso na comparação com os alunos que moram perto das escolas.
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O sociólogo e consultor em educação Rudá Ricci diz que a analogia é simples: “Jogador de futebol, quando viaja, precisa descansar antes da partida. Se é cansativo para um atleta, por que para uma criança não seria?”. Para ele, a solução mais prática seria a universalização da escola integral e o aumento do número de unidades de ensino, de forma a encurtar a distância percorrida por milhares de crianças e adolescentes. Mas a resposta esbarra em uma questão ainda mais grave, segundo ele. “Os gestores de educação, no Brasil, são pouco preocupados com a realidade da educação, dão mais importância aos números”, ressalta.
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Ricci lembra que o acesso ao transporte escolar de qualidade é um direito dos estudantes brasileiros, devidamente assegurado pela Justiça. A lei 10.880/2004 instituiu o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate), que prevê assistência financeira, em caráter suplementar, aos estados e municípios. A portaria 1.153 do Detran-MG determina condições para o condutor, que deve ser qualificado para transportar crianças, e para o veículo, que precisa estar em boas condições, oferecendo, principalmente, segurança. “O que a gente pede à administração pública é que, em vez de pensar em políticas massificadas, pense na população que atendem”.
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O educador e ex-secretário de Educação de BH Miguel Arroyo sustenta o argumento de Ricci e acredita que a permanência dos estudantes nas imediações de casa seja fundamental para reforçar a identidade com a cultura local. “Para mim, o transporte escolar do interior é antipedagógico e até desumano. Quando as crianças são tiradas de seu lugar, sua cultura, sua terra, ocorre um processo de desenraizamento. É o mesmo que dizer que o local onde elas vivem não é digno para estudar, para morar. Estamos menosprezando essas pessoas”, pontua.
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Fonte: Hoje em Dia (MG)