sexta-feira, 11 de março de 2011

Educação, caminho para a cidadania plena

Por: CLARICE NAVARRO DIÓRIO e MARIANA NAVARRO DIÓRIO*

O número cada vez maior de novos complexos penitenciários construídos em todo o país mostra, na mesma proporção, o descaso de seus governantes para com a Educação. Uma Educação pública de qualidade –começando por professores com salários dignos- formaria profissionais capazes e éticos. Daria ao cidadão o seu bem maior: a sua identidade, a sua cidadania. Consequentemente diminuiria, e muito, os índices de criminalidade. Na mesma proporção, não seria mais necessário construir tantas prisões. Para que serviriam?

Mas, no sentido inverso do que foi citado acima, o que acontece no Brasil é o emprego de verbas cada vez maiores com a “segurança”. Trancafiam os transgressores da lei vigente em prisões que são, na verdade, Escolas de criminalidade. Dessas prisões eles saem muito mais “bandidos”, saem criminosos profissionais. Mas não são só as prisões que personificam no país os mecanismos punitivos. A falta da atenção para com a Educação de nossas crianças e jovens causa muitos outros males. O subemprego, a mão - de - obra barata, o trabalho escravo também são frutos deste descaso.

A Educação promovendo a Cultura, o cidadão tendo acesso total e irrestrito através de tantos meios hoje existentes, mudaria a cara do Brasil. Mas por que isto não acontece? Porque a Educação não é prioridade da classe política que dirige os destinos do país? Talvez seja, porque, em curto prazo, não rende votos.

O que dá votos é o assistencialismo, a falsa sensação de segurança repassada à população com a construção de presídios. A mudança da mentalidade do povo brasileiro seria um processo lento, pois se a maioria não tem acesso a uma Educação de qualidade, não consegue captar sua importância e nem sentir falta dela. Não culpa o governo. Culpa o destino. Mas a Educação deve ser direito de todos. Se continuar sendo privilégio de poucos, continuará a proporcionar “toda a tristeza e falta de humanidade de homens que torturam seus semelhantes e gostam disso se sentindo superiores...”, como cita Michel Foucault em seu livro “Vigiar e Punir”.

Por que existe o cárcere? Apesar da existência milenar das prisões, o uso delas como forma de corrigir criminosos é recente. O quadro antigo era tétrico. As prisões costumavam ser lugares onde epidemias dizimavam presos e carcereiros, onde a tortura e as execuções eram comuns. A partir do século 18 as autoridades começaram a mudar esse quadro e a usar as prisões como locais para a regeneração dos criminosos.

Mas, na prática, as prisões, mesmo sob esse novo prisma, começaram a gerar problemas tão logo surgiram. Um desses problemas, apontados por Foucault, é a evolução do sistema prisional gerando uma outra categoria: a do delinqüente. Para se mudar uma pessoa, não basta castiga-la. É preciso conhecer sua história e as motivações que o levaram a praticar o crime. E esse conhecimento faz com que o crime se torne ainda maior, pois se descobre um indivíduo perigoso, com impulsos bizarros, que precisa ser corrigido por completo.

Se viver em prisões é sempre ruim, no Brasil é ainda pior. Há superlotação, excesso de violência, falta de cuidados médicos e de condições sanitárias. O indivíduo responde da mesma forma como é tratado. Se como ser humano, reponde como tal. Se como animal, responderá como animal. Mas melhorar prisões implica em gastar ainda mais do que para construí-las. Se já custa caro manter um preso, muito mais oneroso seria transformá-lo em um cidadão capaz de voltar ao convívio da sociedade, preparado para tal.

E assim voltamos ao início, lembrando a importância da Educação, do emprego, da cidadania. Mas, como isso ainda é utopia, a prisão continua a ser a principal forma de punição para quem enfrenta a lei. Mas qual lei?

- Artigo escrito a quatro mãos, com um pedido às autoridades competentes: para que coloquem em prática a oratória que tanto praticam. Nosso filho (e irmão) passou para o curso de Educação Física na Unemat. Foi o único reeducando aprovado.

Já se vão três semanas de aula e, apesar de nossa luta, não conseguimos ainda autorização judicial para que ele inicie a faculdade. Falta estrutura no sistema carcerário. Falta escolta. Falta atitude. Falta que o governo exercite a sua função.
.
*CLARICE NAVARRO DIÓRIO, jornalista e mãe de um reeducando da Cadeia Pública de Cáceres; MARIANA NAVARRO DIÓRIO, aluna de Enfermagem da Unemat

Fonte: Diário de Cuiabá (MT) - In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/13978/opiniao-educacao-caminho-para-a-cidadania-plena

quinta-feira, 10 de março de 2011

Não dá para esperar o fim do carnaval para 'começar' o ano

Por Ana Cássia Maturano*

Especial para o G1, em São Paulo

A relação que as pessoas estabelecem com o tempo é bastante peculiar. Algumas parecem senti-lo escorrer pelos dedos, aproveitando-o a cada segundo. Estão sempre fazendo algo e não deixam para amanhã o que já pode ser concluído. Para outras, a sensação é de que o tempo não acaba. Vão protelando a realização do que deve ser feito. Perdem prazos ou vivem períodos de muita angústia – passam madrugadas para concluírem algo cujo limite de entrega expira em poucas horas.

Cada pessoa tem um ritmo e um modo de funcionar no tempo. Entre outros fatores, isso tem a ver um pouco com a cultura em que vivem. Para os brasileiros, por exemplo, existe a máxima de que o ano só começa depois do carnaval. Essa idéia está tão arraigada, que a impressão que se tem é que é assim que funciona mesmo.

Não raro, observamos pessoas que mesmo desempregadas há uma boa temporada, não se movimentam para buscar trabalho se está, por exemplo, na época das festas de final de ano. Como se esse período significasse apenas festejar e se divertir, em que as coisas sérias da vida não ocorressem. Mesmo pensando assim, elas acontecem. Inclusive, morre-se ou se nasce nesse período.

E quando o novo ano inicia, estende-se mais uma vez seu começo para depois do carnaval. As tomadas de decisões e atitudes importantes ficam para depois, perdendo-se tempo. Porém, as coisas estão sempre acontecendo. E essas pessoas ficam paradas, impedidas de dar os passos da vida, arranjando um pretexto aqui e outro ali para não encará-la de frente.

Neste ano, a folia carnavalesca aconteceu mais tarde, deixando evidente que essa idéia é um grande engano. Algo que ficou bastante perceptível na escola, que parecia só tomar pé após o carnaval. Aqueles que têm filhos estudando, puderam observar que os compromissos acadêmicos foram cobrados já nesse primeiro mês de aula. Muitos já tiveram que ler livros, fazer provas e trabalhos. Ninguém esperou o carnaval para levar a sério o início do ano letivo.

E nem precisou desse primeiro mês para esquentar os motores. Até porque, esse vai sendo aquecido aos poucos. Sem dúvida, precisamos de um tempo para entrarmos num ritmo pós férias, sejam elas escolares ou não. Para os estudantes, provavelmente a primeira semana de aula é mais lenta e menos produtiva. Aquela que poucas coisas eles deveriam ter para fazer. Aos poucos, elas vão pegando o ritmo. É uma questão natural – após cerca de dois meses de férias, o ritmo das pessoas muda.

Como muitas vezes se tem apenas uma semana de aula antes do carnaval, talvez a impressão que ficou é de que o calendário letivo só comece depois, e consequentemente o ano também. Independente de qualquer marco na folhinha, seja carnaval ou final de ano, a existência do ser humano é contínua. Ele deve atentar para não achar que as coisas estão para acontecer. Em verdade, as coisas estão sempre acontecendo.

E que ninguém se engane pensando que o Brasil só vai começar mesmo depois da semana santa. Até lá, muita água vai rolar.

* - Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga

Fonte: G1

quarta-feira, 9 de março de 2011

OPINIÃO: o desafio da sala de aula

VALMOR BOLAN*, 09 mar. 2011

Menos profissionais estão procurando a sala de aula, segundo pesquisas recentes, especialmente do ensino fundamental e médio. Ser professor está ficando uma profissão cada vez mais desvalorizada socialmente, primeiramente pelos baixos salários, pelo estresse de ter de enfrentar uma sala de aula muitas vezes com um número elevado de alunos, com acústica precária, e problemas constantes de disciplina.

Os especialistas debatem sobre o que fazer para tornar a carreira do magistério atrativa, nos dias atuais. De qualquer forma, apesar dos desafios existentes, há aqueles que mantêm a perseverança e assumem a sala de aula com criatividade, e até entusiasmo, porque ser professor é acima de tudo uma vocação e missão, que, levadas a sério, produz ótimos resultados.

É preciso se espelhar naqueles que vêm encontrando soluções criativas para o exercício da atividade. Mas para isso, primeiramente o bom professor é aquele que prepara bem as suas aulas. Tem conteúdo, proposta, didática, pedagogia, e metodologia de trabalho. Uma boa parte tem dificuldade de superar os inúmeros problemas que vão surgindo no dia-a-dia, mas mesmo assim há sempre uma ou outra liderança que motiva que dá o exemplo, e surpreende até na forma como se dedica para dar o melhor de si em sala de aula.

É certo que os problemas vão se acumulando, situações de impasse que às vezes se tornam agudas. Mas o fato é que, pela experiência própria, um professor que prepara bem a sua aula e procura elevar a sua auto-estima e encontrar uma dosagem adequada de bom humor consegue superar as adversidades e alcançar um desempenho satisfatório. Os alunos não querem super-homens, nem enciclopédias ambulantes, mas profissionais que saibam motivá-los ao conhecimento, que os façam pensar, e que percebam como é importante saber das coisas, saber fazer links com as coisas, enfim, ter uma mente aberta e ágil, com uma sensibilidade que permita discernimento e percepção da realidade.

Se o governo quiser deixar sua marca, que faça o investimento certo para garantir o melhor atrativo ao magistério, com professores mais preparados e comprometidos com a sua atividade, com as salas de aulas, com os alunos. Os adolescentes e jovens estão ávidos por bons professores. Os que se preparam, passando provações, mas consegue se tornar um profissional de respeito descobre então que o problema não está somente no sistema, mas que cada um pode, dentro do seu próprio dinamismo, encontrar as forças de que precisa para dar conta da sala de aula.

Precisamos resgatar a autoestima dos professores, darem-lhes aquela injeção de ânimo, com melhor remuneração e formação, para que realmente a Educação seja prioridade.

* - é doutor em Sociologia.

Fonte: Gazeta de Alagoas (AL)

terça-feira, 8 de março de 2011

Brasil é o país com maior número absoluto de analfabetos na América Latina

O Brasil aparece como o país com o maior número de analfabetos na América Latina, apesar de alguns progressos, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No total, 14,1 milhões de brasileiros, o que equivale a 10,5% da população maior de 15 anos, não sabem ler nem escrever. No mundo, são 776 milhões de adultos nesta situação.

Na última década, o Brasil reduziu essa taxa em cinco pontos percentuais. Porém, em números absolutos, essa diminuição significa a alfabetização de apenas dois milhões de pessoas. Em 2003, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um programa para promover a alfabetização da população adulta centrado em municípios com taxas de analfabetismo superiores a 25%. A maioria deles fica na região Nordeste. De acordo com os dados cedidos pelos governos latino-americanos e reunidos pela Unesco, a América Latina tem 25 milhões de analfabetos, principalmente no Brasil e México, os países mais populosos. Por outro lado, há nações que avançaram bastante no tema. Hoje, o Equador foi o sexto país latino-americano a anunciar que está livre do analfabetismo. Os outros são Argentina, Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia.

Com a exceção da Argentina, todos esses países conseguiram tal feito por meio da aplicação do reconhecido método cubano "Sim, eu posso" com a ajuda financeira de Caracas. O programa teve sua efetividade reconhecida pela Unesco e já alfabetizou, de acordo com números oficiais cubanos, 3,1 milhões de pessoas em 28 países.

Além disso, nações como Paraguai, Costa Rica e Chile têm feito constantes progressos em termos de alfabetização e estão próximos de serem considerados como livres do analfabetismo. Os países que apresentam taxas de analfabetismo abaixo de 4% da população adulta são considerados como livres do problema. O Dia Internacional da Alfabetização é lembrado a cada 8 de setembro desde 1966, um ano depois de instituída a Unesco.

Fonte. Folha de São Paulo (08/03/2011)

EDUCAÇÃO NO CARNAVAL...


quarta-feira, 2 de março de 2011

A universidade pública e o seu papel no desenvolvimento local

Por Tatiane Alves Baptista*

A universidade pública precisa criar e incentivar mecanismos para ampliar sua capacidade de interação com a sociedade. No entanto, internamente, a extensão é constantemente considerada menor entre as atribuições dos docentes. Ela, muitas vezes, é reduzida a uma mera prestação de serviços, dependendo sempre das demandas externas, já que os recursos são poucos para as pesquisas independentes. Por isso, vivemos num dilema entre o fundamental na universidade e a universidade fundamental para a sociedade. Para superá-lo, teríamos que entender o valor do social e cultural da comunidade que envolve a instituição: gerar conhecimento no contato cotidiano com a realidade. Algo bem diferente ao modelo de aprendizagem baseado em repetição, rotina e burocracia.

Depois da Constituição Federal de 1988, ficou sob a responsabilidade dos municípios elaborar, gerenciar e prestar contas dos projetos existentes na cidade. Mas o elevado processo de emancipação e crescimento dos municípios vem reduzindo a capacidade da prefeitura de enfrentar problemas como na saúde, lixo, violência e educação sozinha. A universidade pode capacitar profissionais em âmbito municipal, colocando-o como ator estratégico para uma melhor gestão pública. A instituição não pode substituir o poder local, mas pode ajudar o município a reconhecer os problemas sociais, auxiliando com a produção do conhecimento e a criação de soluções viáveis e criativas. A universidade poderia capacitar agentes públicos, prestar consultoria à comissões, conselhos, movimentos sociais e ajudar outros grupos de políticas públicas com conhecimento.

Embora já existam ações exemplares em algumas instituições, a maioria raramente corresponde a uma prática bem estruturada. A extensão geralmente acontece como um movimento para atender demandas emergênciais, como epidemias e catástrofes. Se a extenção fosse bem praticada, ela elevaria a universidade pública ao patamar de uma agência do desenvolvimento regional.
-
* Professora Coordenadora de Estudos Estratégicos e Desenvolvimento da UERJ
-
Fonte: O Globo