quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Estudo revela falta de estrutura em escolas brasileiras
A cada 20 escolas públicas de ensino fundamental no Brasil só uma tem uma estrutura considerada básica para educar. Um levantamento concluiu que faltam bibliotecas, laboratórios e até tratamento de esgoto. Na sala de aula, sem luz, a professora só tem um quadro e giz para alfabetizar crianças ribeirinhas das ilhas de Belém. A escola é precária e está sendo atacada por cupins.
A casa de barro mostrada no vídeo é uma escola na zona rural, em Rondon do Pará. Não tem nada: uma das paredes está quase caindo, faltam portas, as salas são pequenas e muito quentes. E só tem um ventilador. O banheiro assusta. Imagens feitas pelos pais dos estudantes mostram como fica o colégio depois de uma chuva.
“Bastante desestimulante, tanto para nós quanto para os alunos. Falta tudo do básico, tudo”, afirmou Dinarlei Souza, professora. Isso é um exemplo do improviso que se repete na maioria das escolas públicas de ensino fundamental do país. Menos de 5% dos colégios têm infraestrutura adequada. Sem o básico para garantir o conforto de alunos e professores, fica muito mais difícil ensinar e aprender.
“Bastante desestimulante, tanto para nós quanto para os alunos. Falta tudo do básico, tudo”, afirmou Dinarlei Souza, professora. Isso é um exemplo do improviso que se repete na maioria das escolas públicas de ensino fundamental do país. Menos de 5% dos colégios têm infraestrutura adequada. Sem o básico para garantir o conforto de alunos e professores, fica muito mais difícil ensinar e aprender.
“Aqui nada ultimamente está chamando atenção do aluno para a escola”, lamentou Antônia Martins, aposentada.
O Plano Nacional de Educação estabelece sete itens de infraestrutura básica para as escolas, mas um estudo do Movimento Todos pela Educação revelou que só água tratada e energia existem em mais de 80% colégios. Menos da metade das escolas têm bibliotecas, acesso à internet, quadras de esporte, esgoto sanitário. E que só 8% contam com laboratórios de ciências. No Norte, menos de 1% das escolas tem todos os itens.
Essa estrutura das escolas de ensino fundamental é responsabilidade dos municípios. O Ministério da Educação diz que se alguma prefeitura tiver dificuldades pode recorrer ao governo estadual e ao federal.
“A gente pensa a educação não apenas como um lugar onde se aprende diferentes disciplinas, mas aquele lugar onde se formam cidadãos. Como a gente pode pensar isso num local que carece de elementos básicos para a cidadania”, afirmou Alejandra Velasco, coordenadora geral Todos pela Educação.
A secretaria de educação do Pará afirmou que a escola ribeirinha mostrada no início da reportagem vai passar por uma reforma geral. Sobre a escola em Rondon do Pará, a prefeitura declarou que ela foi desativada pra obras.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
O PEDAGOGO DE FACEBOOK
Por Mateus Nikel*
Segundo o site de humor SENSACIONALISTA, 98% dos usuários do facebook são especialistas em tudo. Dentre a gama de especialidades, sinto certo incômodo com os que classifico como PEDAGOGOS DO FACE. Este tipo de intelectual nunca pisou em um escola pública da rede básica municipal ou estadual. Geralmente, vêm da classe média e estudou nas escolas elitistas da rede privada ou federal. Adora ler tudo de educação, tem a bibliografia completa de Paulo Freire, assiste todos os dias o Canal Futura e adora participar de encontros com filósofos que nunca lecionaram fora das “universidades de ponta” onde trabalham.
Para estes pedagogos virtuais, os professores atuantes em sala de aula (principalmente nas escolas públicas) são profissionais mal formados e desatualizados que precisam de reciclagens teóricas. Afinal de contas, já estamos no pós-modernismo e é inadmissível que ainda não saibamos o que é isso. Quem sabe, o pós-modernismo pode nos ajudar a lecionar em salas com 60 alunos, com ventiladores quebrados, sem folhas ou materiais básicos. Características estas, mais do que medievais. Será que existe formação para profissionais em situação tão precária?
Segundo o intelectual pós-modernista-facebookiniano, os professores poderiam largar as salas de aula (consideradas prisões institucionais) e lecionar em ambientes alternativos: um professor de biologia pode dar aula no jardim da escola, por exemplo, ou quem sabe ir à um parque. Infelizmente, nosso “Deus” da verdade pedagógica não sabe que a maioria das escolas públicas não tem verba nem para manter um prédio, o que dirá um jardim. Muitas delas, tiveram todas as árvores derrubadas ou o jardim gradeado, já que representava perigo e custos “altíssimos” de manutenção. Árvores frutíferas são consideradas problemas em potencial: afinal de contas, um moleque pode se machucar tentando pegar um fruta, assim, melhor não tê-las. Uma outra alternativa seria o professor de educação musical trabalhar com instrumentos alternativos ou reciclados. Pena que nosso pensador nunca estudou percussão, ele não tem noção do que são 30, 40 ou 50 desses instrumentos; assim como gerenciar estes objetos em prédios sem isolamento acústicos e sem local para armazenar tudo isso. Afinal de contas, são raras as escolas que disponibilizam salas temáticas: muitos docentes chegam a trocar de sala por mais de 10 vezes ao dia. Qual profissional têm pique para várias aulas dessas durante a semana?
Já que não há jardim na escola, podemos levar a escola para o jardim. Seria ótimo se a secretaria disponibilizasse o ônibus. Seria, mas muitos professores desistiram de brigar por eles, já que têm tanto trabalho com solicitações vazias. Agora, se o prefeito aparece no evento, as verbas para o transporte surgem com uma imensa facilidade.
A inter/mega/hiper/transdisciplinaridade é a solução para as matérias arcaicas dos professores mal formados. Entretanto, como um profissional que chega a dar mais de trinta aulas por semana, trabalha em 3 escolas (assim como nos 3 turnos para ter uma condição financeira melhor) e que mal lembra do nome dos alunos (já que são mais de mil), pode encontrar tempo e condições para reunir-se com outros professores e pensar nas estratégias em conjunto? A coordenação pedagogica poderia intermediar, é claro!!! Contudo, em muitos estados e municípios este cargo praticamente não existe, a coordenadoria acaba se tornando um espaço para “encostar” o professor reabilitado, aquele mestre que perdeu a voz de tanto gritar, que desenvolveu algum problema mental, que se acidentou tentando “fugir”/separar brigas entre alunos ou tudo isso junto.
Ele adora ler as séries, pedagogia segundo: Deleuze, Derrida, Hegel, Foucault, Marx, Hanna Arendt, Rousseau, Gramsci, entre outros. O que o pedagogo de facebook não consegue entender, porque não vive na realidade educacional, é que a teoria pode abrandar, mas nunca irá solucionar problemas de ordem estrutural: condições de trabalho dignas, salários decentes, redução das dezenas de alunos por turmas, entre outros. O professor pode até aplicar a pedagogia segundo Jesus Cristo, mas caso o mesmo Jesus não faça um milagre na estrutura escolar, pouca coisa irá mudar.
A palavra mais proclamada por este pensador é VIOLÊNCIA. A escola é violenta, as aulas são violências simbólicas, o currículo é um imposição. Nosso filósofo adora citar Foucault, só esquece de lembrar que este tema é uma via de mão dupla: o escola e o educador também são violentados (por vários motivos). Inspetores escolares? Nunca! Mesmo que só exista um para dar conta de uma prédio com 3 andares e mil crianças. Isso é VIGIAR E PUNIR, algo abominável, é uma imposição ditatorial: o docente deve trabalhar a autogestão. Muitos acreditam que crianças que são mal tratadas diariamente, pelos pais e sociedade, irão (de uma hora para outras) se organizar e manter a ordem e a paz: mesmo que sejam 60 delas dentro de uma sala de aula caindo aos pedaços e com poucas ferramentas pedagógicas disponíveis.
Sala de aula? Isso é desculpa, pois: segundo pesquisas “internacionais” a infraestrutura conta pouco quando tratamos de eficiência escolar. Mais uma vez, nosso pensador esquece que a maioria destes experimentos acontecem nos EUA ou na Inglaterra onde a variabilidade de recursos é bem menor do que no Brasil. Aqui, ainda encontramos muitas escolas com paredes sem reboco, com goteiras e onde o banheiro é o matagal mais próximo. Crer que estas condições sub-humanas não interferem nos estudos é de uma pureza mais do que intelectual.
Para o nosso especialista, todos estes problemas podem ser solucionados com um pedido formal à secretaria de educação. Ele só não sabe que “em muitos casos”, o profissional que chefia este setor está lá por indicação política, assim como nem é professor ou pedagogo (muito menos de facebook): geralmente um economista, administrador ou braço direito do gestor de plantão. Ministério público? Prefiro nem comentar…
Mesmo repetindo isso inúmeras vezes, não adianta conversar com este nosso amigo. Ele sempre classifica isso como REACIONARISMO, até mesmo com professores filiados à partidos de esquerda. Estas críticas à teoria educacional só “atrapalham o desenvolvimento” da pedagogia. Existem respostas piores: professores não são reaças, na verdade, agem com “vitimismo”.
O que mais me intriga é que este profissional mais do que preparado, poderia estar dentro de uma sala de aula (principalmente das escolas públicas), mostrando a nós, simples e mortais professores, como ensinar de uma forma correta e mais atual, como não sermos reacionários ou deixar de agir como “vítimas”. Entretanto, o pedagogo de facebook apenas filosofa. Prefere investigar a pedagogia sem ser interferido por questões emocionais. Quem sabe ele possa terminar o doutorado e ingressar numa faculdade, e assim, dar aulas sem nunca ter pisado numa sala de aula da rede pública de ensino básico. Atitude interessante?
Segundo o site de humor SENSACIONALISTA, 98% dos usuários do facebook são especialistas em tudo. Dentre a gama de especialidades, sinto certo incômodo com os que classifico como PEDAGOGOS DO FACE. Este tipo de intelectual nunca pisou em um escola pública da rede básica municipal ou estadual. Geralmente, vêm da classe média e estudou nas escolas elitistas da rede privada ou federal. Adora ler tudo de educação, tem a bibliografia completa de Paulo Freire, assiste todos os dias o Canal Futura e adora participar de encontros com filósofos que nunca lecionaram fora das “universidades de ponta” onde trabalham.
Para estes pedagogos virtuais, os professores atuantes em sala de aula (principalmente nas escolas públicas) são profissionais mal formados e desatualizados que precisam de reciclagens teóricas. Afinal de contas, já estamos no pós-modernismo e é inadmissível que ainda não saibamos o que é isso. Quem sabe, o pós-modernismo pode nos ajudar a lecionar em salas com 60 alunos, com ventiladores quebrados, sem folhas ou materiais básicos. Características estas, mais do que medievais. Será que existe formação para profissionais em situação tão precária?
Segundo o intelectual pós-modernista-facebookiniano, os professores poderiam largar as salas de aula (consideradas prisões institucionais) e lecionar em ambientes alternativos: um professor de biologia pode dar aula no jardim da escola, por exemplo, ou quem sabe ir à um parque. Infelizmente, nosso “Deus” da verdade pedagógica não sabe que a maioria das escolas públicas não tem verba nem para manter um prédio, o que dirá um jardim. Muitas delas, tiveram todas as árvores derrubadas ou o jardim gradeado, já que representava perigo e custos “altíssimos” de manutenção. Árvores frutíferas são consideradas problemas em potencial: afinal de contas, um moleque pode se machucar tentando pegar um fruta, assim, melhor não tê-las. Uma outra alternativa seria o professor de educação musical trabalhar com instrumentos alternativos ou reciclados. Pena que nosso pensador nunca estudou percussão, ele não tem noção do que são 30, 40 ou 50 desses instrumentos; assim como gerenciar estes objetos em prédios sem isolamento acústicos e sem local para armazenar tudo isso. Afinal de contas, são raras as escolas que disponibilizam salas temáticas: muitos docentes chegam a trocar de sala por mais de 10 vezes ao dia. Qual profissional têm pique para várias aulas dessas durante a semana?
Já que não há jardim na escola, podemos levar a escola para o jardim. Seria ótimo se a secretaria disponibilizasse o ônibus. Seria, mas muitos professores desistiram de brigar por eles, já que têm tanto trabalho com solicitações vazias. Agora, se o prefeito aparece no evento, as verbas para o transporte surgem com uma imensa facilidade.
A inter/mega/hiper/transdisciplinaridade é a solução para as matérias arcaicas dos professores mal formados. Entretanto, como um profissional que chega a dar mais de trinta aulas por semana, trabalha em 3 escolas (assim como nos 3 turnos para ter uma condição financeira melhor) e que mal lembra do nome dos alunos (já que são mais de mil), pode encontrar tempo e condições para reunir-se com outros professores e pensar nas estratégias em conjunto? A coordenação pedagogica poderia intermediar, é claro!!! Contudo, em muitos estados e municípios este cargo praticamente não existe, a coordenadoria acaba se tornando um espaço para “encostar” o professor reabilitado, aquele mestre que perdeu a voz de tanto gritar, que desenvolveu algum problema mental, que se acidentou tentando “fugir”/separar brigas entre alunos ou tudo isso junto.
Ele adora ler as séries, pedagogia segundo: Deleuze, Derrida, Hegel, Foucault, Marx, Hanna Arendt, Rousseau, Gramsci, entre outros. O que o pedagogo de facebook não consegue entender, porque não vive na realidade educacional, é que a teoria pode abrandar, mas nunca irá solucionar problemas de ordem estrutural: condições de trabalho dignas, salários decentes, redução das dezenas de alunos por turmas, entre outros. O professor pode até aplicar a pedagogia segundo Jesus Cristo, mas caso o mesmo Jesus não faça um milagre na estrutura escolar, pouca coisa irá mudar.
A palavra mais proclamada por este pensador é VIOLÊNCIA. A escola é violenta, as aulas são violências simbólicas, o currículo é um imposição. Nosso filósofo adora citar Foucault, só esquece de lembrar que este tema é uma via de mão dupla: o escola e o educador também são violentados (por vários motivos). Inspetores escolares? Nunca! Mesmo que só exista um para dar conta de uma prédio com 3 andares e mil crianças. Isso é VIGIAR E PUNIR, algo abominável, é uma imposição ditatorial: o docente deve trabalhar a autogestão. Muitos acreditam que crianças que são mal tratadas diariamente, pelos pais e sociedade, irão (de uma hora para outras) se organizar e manter a ordem e a paz: mesmo que sejam 60 delas dentro de uma sala de aula caindo aos pedaços e com poucas ferramentas pedagógicas disponíveis.
Sala de aula? Isso é desculpa, pois: segundo pesquisas “internacionais” a infraestrutura conta pouco quando tratamos de eficiência escolar. Mais uma vez, nosso pensador esquece que a maioria destes experimentos acontecem nos EUA ou na Inglaterra onde a variabilidade de recursos é bem menor do que no Brasil. Aqui, ainda encontramos muitas escolas com paredes sem reboco, com goteiras e onde o banheiro é o matagal mais próximo. Crer que estas condições sub-humanas não interferem nos estudos é de uma pureza mais do que intelectual.
Para o nosso especialista, todos estes problemas podem ser solucionados com um pedido formal à secretaria de educação. Ele só não sabe que “em muitos casos”, o profissional que chefia este setor está lá por indicação política, assim como nem é professor ou pedagogo (muito menos de facebook): geralmente um economista, administrador ou braço direito do gestor de plantão. Ministério público? Prefiro nem comentar…
Mesmo repetindo isso inúmeras vezes, não adianta conversar com este nosso amigo. Ele sempre classifica isso como REACIONARISMO, até mesmo com professores filiados à partidos de esquerda. Estas críticas à teoria educacional só “atrapalham o desenvolvimento” da pedagogia. Existem respostas piores: professores não são reaças, na verdade, agem com “vitimismo”.
O que mais me intriga é que este profissional mais do que preparado, poderia estar dentro de uma sala de aula (principalmente das escolas públicas), mostrando a nós, simples e mortais professores, como ensinar de uma forma correta e mais atual, como não sermos reacionários ou deixar de agir como “vítimas”. Entretanto, o pedagogo de facebook apenas filosofa. Prefere investigar a pedagogia sem ser interferido por questões emocionais. Quem sabe ele possa terminar o doutorado e ingressar numa faculdade, e assim, dar aulas sem nunca ter pisado numa sala de aula da rede pública de ensino básico. Atitude interessante?
“Falar é muito fácil, é muito fácil sugerir atos heroicos e maravilhosos. O mais difícil é realizá-los. Esses mesmos espectadores se darão conta de que as coisas são uma pouco mais difíceis do que pensam se tiverem que fazer eles mesmos os atos que preconizam.” (AUGUSTO BOAL)
OBS: todas as histórias aqui contadas são reais. Foram presenciadas por mim desde post selvagens de redes sociais até (pasmem) encontros com professores universitários.
OBS: todas as histórias aqui contadas são reais. Foram presenciadas por mim desde post selvagens de redes sociais até (pasmem) encontros com professores universitários.
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* é professor de educação musical na Prefeitura do Rio de Janeiro, assim como Fiscal da Natureza e Filósofo de Buteco.
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Fonte: https://blogdonikel.wordpress.com/2015/09/26/o-pedagogo-de-facebook/
Neste Blog estão algumas coisas que lhe prendem a atenção
Neste Blog estão algumas coisas que lhe prendem a atenção
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Relatório critica cortes no orçamento, privatização e militarização na educação brasileira
Por Caio Zinet (16/09/2015)
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O ajuste fiscal e os cortes no orçamento da educação colocam em grande risco o cumprimento das metas estipuladas pelo Plano Nacional de Educação (PNE). O alerta consta no documento elaborado por diversas entidades e movimentos sociais, entregue ao Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O PNE tramitou por quase 4 anos no Congresso Nacional e foi aprovado em 2014. Um dos principais instrumentos do plano foi a criação de um mecanismo conhecido como Custo Aluno Qualidade (CAQi) que prevê um valor mínimo que o Estado deve investir por aluno em cada etapa do ensino para garantir uma educação de qualidade.
Esse mecanismo é considerado chave para o cumprimento do PNE, pois a partir dele se garante que as escolas em todas as regiões tenham condições mínimas e mais igualitárias para desenvolver um ensino público, gratuito e de qualidade.
Atualmente, os estados e municípios mais ricos têm uma capacidade maior de investimento em educação ante os mais pobres. Com o CAQi, a União seria obrigada a complementar, garantindo condições mais isonômicas para o desenvolvimento da educação nas mais diversas regiões do país.
O PNE prevê que o valor do CAQi tem que ser estipulado até junho de 2016. A Campanha Nacional pela Educação estima em R$ 37 bilhões o valor que a União terá que desembolsar, por ano, para garantir o CAQi.
Para a coordenadora de projetos do movimento, Maria Rehder, os sinais dados pelo governo ao longo do ano vão no sentido de investir menos e não mais, como está previsto no Plano Nacional. “Ao invés de aumentar o orçamento da educação, como pede o PNE, o governo está praticando seguidos cortes de verbas e isso prejudica o direito à educação, especialmente das 3,8 milhões de crianças entre 4 e 17 anos que ainda estão fora da escola”, afirmou.
Do orçamento de R$ 103 bilhões estimados para Ministério da Educação (MEC) em 2015, já foram realizados dois cortes, um primeiro de R$ 9,2 bilhões e um segundo de R$ 1 bilhão, o que representa quase 10% do orçamento total.
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Até o momento, a área mais afetada foi a educação infantil, com uma perda de R$ 3,4 bilhões que seriam destinados para a construção de creches. O cenário para o ano que vem é desalentador. O próprio ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, assumiu que os cortes devem ser ainda maiores em 2016.
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Mais recentemente, o ministro afirmou que não será fácil chegar ao investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação. O documento, que será entregue pela Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced), Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Conectas, serve como base para que o Comitê dos Direitos da Criança da ONU avalie se os direitos das crianças estão sendo cumpridos no Brasil.
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O governo brasileiro também enviou informações ao comitê e será representado pela Secretario de Direitos Humanos, Pepe Vargas, durante sabatina que será realizada entre os dias 21 e 22 de setembro, em Genebra, na Suíça. Lideranças dos movimentos também acompanharão o debate.
Privatização
O documento também chamará atenção para a crescente privatização do ensino no Brasil. Cerca de 1,4 milhão de crianças entre 4 e 17 anos migraram do sistema público de ensino para o privado entre 2010 e 2013, segundo dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
As entidades também chamam atenção para o aumento no número de convênios entre instituições públicas e particulares, sobretudo na educação infantil não obrigatória (0 a 3 anos). Segundo o documento, houve um aumento de 41,9% no número de matrículas no setor privado em grande parte por meio de convênios com o poder público.
Para além da migração direta dos alunos de um sistema para outro, também está ocorrendo uma outra forma de privatização, por meio de convênios entre grandes empresas e estados e municípios, para o fornecimento de materiais didáticos para os estudantes das redes públicas. De acordo com o coordenador jurídico da ONG Ação Educativa, Salomão Ximenes, existem atualmente pelo menos 500 cidades no país que compram sistemas apostilados oferecidos por 5 grandes empresas: Pearson, Objetivo, Positivo, Santillana e Abril (vendida no início do ano para o fundo de investimentos da gestora Tarpon).
“O sistema apostilado é uma invenção brasileira, tanto que as empresas, a partir da sua experiência aqui, decidiram replicar esse modelo em outros países do mundo porque esse é um negócio altamente rentável. Na prática, o Estado está repassando recursos para grandes empresas e garantindo o lucro delas”, afirmou.
Na visão das entidades que assinam o documento, esse tendência de apostilas reforçar um lógica de comoditificação e oligopolização do sistema educacional brasileiro. O primeiro termo se refere aos alunos serem visto apenas como um consumidor de livros didáticos e o segundo termo se refere ao fato de poucas e grandes empresas estarem se consolidando e dominando esse mercado.
Para Maria Rehder isso é preocupante, pois a educação, nessa perspectiva, é pensada como mercadoria e não como direito.
“Os sistemas apostilados são oferecidos por grupos empresariais que vão ganhando espaço, trazendo uma lógica de mercado para a educação. É preciso tomar muito cuidado com isso porque o estudante é um sujeito de direitos e não um consumidor”, afirmou.
Ela também levantou o fato do sistema de apostilas tirar a autonomia pedagógica do professor e da escola. “As empresas não só vendem materiais como oferecem treinamento para os professores, o que pode tirar a liberdade da escola de escolher o seu currículo de maneira autônoma e em diálogo com a comunidade escolar”, afirmou.
Militarização da gestão
Outro ponto levantado pelo documento como contrário ao pleno desenvolvimento do direito das crianças é o crescente número de escolas cuja gestão foi entregue para a Polícia Militar. Ao todo, 51 escolas estão sendo geridas pela Polícia Militar em Goiás, Minas Gerais e Bahia. Nesse modelo, os diretores civis são substituídos por policiais armados que passam a administrar essas escolas com o objetivo de garantir a ordem e a disciplina escolar. Em Goiás, os alunos são obrigados a comprar fardas que custam entre R$ 500 e R$ 700, e as liberdades de professores e estudantes são restringidas.
“Sob o pretexto de pacificar a escola e melhorar os indicadores educacionais, as escolas estão sendo entregues para gestão da PM e isso é uma violação do dever de formar para a cidadania, é incompatível com a gestão democrática e, na maioria dos casos, restringe o direito de liberdade dos professores e estudantes”, afirmou Maria.
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quinta-feira, 17 de setembro de 2015
O mal-estar na segurança pública
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Por Lúcio Alves de Barros*
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Novamente caem no mundo virtual e real do campo midiático casos de linchamentos, policiais matando e sendo mortos, explosões de caixas eletrônicos, roubos a condomínios, furtos, sequestros e homicídios. A leitura de qualquer jornal já é suficiente para verificar ou sentir certo mal-estar no que se convencionou denominar de segurança subjetiva. Sensacionalizadas e retocadas por recursos midiáticos o problema da segurança se torna público e o mal-estar real aumenta; como se já não bastasse o mal-estar social proveniente da crise econômica. No caso em questão retomo alguns mitos para melhorar o bem estar e todos ou de alguns.
Não é verdade que a pobreza e episódios de crise econômica aumentem os casos de violência e de criminalidade. Países equilibrados economicamente mostram dados muito mais assustadores que países em frangalhos políticos e sociais. O que parece produzir a criminalidade é a riqueza. Dificilmente recalcitrantes racionais roubam ou tiram daquele que nada tem. Podem até retirar o bem mais precioso como quer a polícia, no caso a vida. Mas neste caminho estamos no terreno arenoso dos homicídios que por certo não ocorrem por acaso, tal como as oportunidades que se abrem em crimes contra o patrimônio, especialmente, daqueles que ostentam e claramente possuem mais. O mal-estar aqui é claro: os privilegiados economicamente tentam se assegurar como podem enquanto os que nada têm ficam a esperar o que podem.
É preciso deixar claro que mais polícia nas ruas não diminui a criminalidade e tampouco a violência. Primeiro porque é impossível colocar um policial em todo o lugar com possibilidade de acontecimento delituoso e, em segundo, é impossível que um policial fique 24 horas por conta de uma pessoa ou domicílio. Não por acaso crimes ocorrem, em geral, onde não se tem polícia, mas também ocorrem onde ela está. O fato é que a presença dela não atrapalha o recalcitrante ou evita a violência. O que chamamos de crime é o ato que realmente rasga o acordo social. Este sim: não é visto em todo o momento e não acredito em instituições policiais aptas a evitá-lo. O crime como fato social continua sendo algo normal e, apesar do mal-estar reinante, passível de controle dado que em certos momentos a anomia se faça necessária para a continuidade e fortalecimento dos laços sociais.
Por último, é preciso perguntar como foi gasto e como está o estado da arte dos recursos disponíveis na segurança pública. Entre 2001 e 2013, os desembolsos para a área chegaram a R$ 116,9 bilhões. Estados criaram nos anos 1990 a polícia comunitária, inúmeros “projetos” de unificação das polícias, melhoraram os salários, investiram em armamentos, viaturas e unidades operacionais em “áreas de risco”. As universidades entraram no meio e muitas academias de polícia mexeram nos currículos. Falaram que modificaram o “fazer policiamento”, mas o mal-estar continua. A população tem medo da polícia, não confia nas instituições judiciais e vive um clima de inseguridade social que vai muito além do que os administradores de polícia chamam de “segurança objetiva”. A questão é que a polícia continua navegando no pântano sujo e amargo da política pública, a qual é impossível ser desenvolvida sem o auxílio da população. Com a crise econômica as ações devem ficar mais difíceis e complexas, dado que a associação segurança e recursos públicos parece norma. O mal-estar deve ser intensificado e a conjuntura pode ser modificada desde que tenhamos a consciência de que a segurança pública não é de responsabilidade somente da polícia e faz parte das obrigações individuais de cada dia.
Não é verdade que a pobreza e episódios de crise econômica aumentem os casos de violência e de criminalidade. Países equilibrados economicamente mostram dados muito mais assustadores que países em frangalhos políticos e sociais. O que parece produzir a criminalidade é a riqueza. Dificilmente recalcitrantes racionais roubam ou tiram daquele que nada tem. Podem até retirar o bem mais precioso como quer a polícia, no caso a vida. Mas neste caminho estamos no terreno arenoso dos homicídios que por certo não ocorrem por acaso, tal como as oportunidades que se abrem em crimes contra o patrimônio, especialmente, daqueles que ostentam e claramente possuem mais. O mal-estar aqui é claro: os privilegiados economicamente tentam se assegurar como podem enquanto os que nada têm ficam a esperar o que podem.
É preciso deixar claro que mais polícia nas ruas não diminui a criminalidade e tampouco a violência. Primeiro porque é impossível colocar um policial em todo o lugar com possibilidade de acontecimento delituoso e, em segundo, é impossível que um policial fique 24 horas por conta de uma pessoa ou domicílio. Não por acaso crimes ocorrem, em geral, onde não se tem polícia, mas também ocorrem onde ela está. O fato é que a presença dela não atrapalha o recalcitrante ou evita a violência. O que chamamos de crime é o ato que realmente rasga o acordo social. Este sim: não é visto em todo o momento e não acredito em instituições policiais aptas a evitá-lo. O crime como fato social continua sendo algo normal e, apesar do mal-estar reinante, passível de controle dado que em certos momentos a anomia se faça necessária para a continuidade e fortalecimento dos laços sociais.
Por último, é preciso perguntar como foi gasto e como está o estado da arte dos recursos disponíveis na segurança pública. Entre 2001 e 2013, os desembolsos para a área chegaram a R$ 116,9 bilhões. Estados criaram nos anos 1990 a polícia comunitária, inúmeros “projetos” de unificação das polícias, melhoraram os salários, investiram em armamentos, viaturas e unidades operacionais em “áreas de risco”. As universidades entraram no meio e muitas academias de polícia mexeram nos currículos. Falaram que modificaram o “fazer policiamento”, mas o mal-estar continua. A população tem medo da polícia, não confia nas instituições judiciais e vive um clima de inseguridade social que vai muito além do que os administradores de polícia chamam de “segurança objetiva”. A questão é que a polícia continua navegando no pântano sujo e amargo da política pública, a qual é impossível ser desenvolvida sem o auxílio da população. Com a crise econômica as ações devem ficar mais difíceis e complexas, dado que a associação segurança e recursos públicos parece norma. O mal-estar deve ser intensificado e a conjuntura pode ser modificada desde que tenhamos a consciência de que a segurança pública não é de responsabilidade somente da polícia e faz parte das obrigações individuais de cada dia.
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* Professor na Faculdade de Educação / CBH / UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)
Nova base curricular comum já pode receber dicas e opiniões
Fonte: O Estadão
BRASÍLIA. O Ministério da Educação divulgou nesta quarta a primeira versão para o currículo da educação básica no país. Nela, está definido que 60% do conteúdo a ser abordado em sala de aula, da educação infantil ao ensino médio.
Os demais 40% ficarão a cargo de Estados e municípios. O texto deve servir de base para o conteúdo ensinado na rede pública e privada de todo o país. O documento foi elaborado com a participação de 116 especialistas, distribuídos em 29 comissões, formadas a partir das diferentes disciplinas e séries de ensino. A base foi elaborada a partir de quatro áreas do conhecimento: linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Para o ministro Renato Janine (Educação), a integração entre os diferentes conteúdos é um dos pontos cruciais do documento.
“Um pequeno número de disciplinas desarticulada em seu conteúdo é muito menos produtivo do que um número maior de disciplinas, porém articulada”, disse. Ele destacou que este não é um documento que reflete a posição do MEC. “É um documento de discussão, e é muito importante que cada componente curricular seja amplamente discutido”, completou.
Para o ministro, o documento terá efeito relevante na formação dos professores e elaboração de material didático. O secretário de educação básica da pasta, Manuel Palácios, destacou que este é um primeiro passo, a partir do qual haverá discussão nos Estados e municípios. Neste momento, não foram abordadas, por exemplo, questões como a flexibilização do currículo do ensino médio.
“A base é como o esqueleto do corpo humano, o que vai deixá-lo de pé. O que compõe esse corpo vem depois”, pondera Eduardo Deschamps, presidente do Consed, entidade que reúne secretários estaduais de educação.
“É um primeiro passo importante, um divisor de águas. A base cria a possibilidade de redução das desigualdades entre as escolas”, afirma o secretário de educação do Rio, Antonio Neto. Ele elogia a iniciativa de propor maior interação entre as diferentes áreas de conhecimento, mas aponta também a falta de discussão sobre habilidades sócio-emocionais, como criatividade, responsabilidade e investigação científica.
“É uma discussão muito nova, que ainda não tem um nível de aprofundamento. Mas no século XXI o ideal é que o currículo também seja do século XXI”, afirma.
Entenda
- A definição de uma base nacional comum está prevista no Plano Nacional de Educação, sancionado em 2014. A lei definiu prazo de dois anos para o MEC encaminhar sua sugestão de um currículo.
- Agora, a proposta está aberta para críticas e sugestões no site (www.basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/conheca).
A expectativa é que uma versão final seja encaminhada ao Conselho Nacional de Educação no início do próximo ano.
- Os objetivos de aprendizado serão divididos de acordo com o contexto de experiências do aluno – de abordagem mais lúdica, nos primeiros anos, até conceitos mais abstratos, no fim do ensino médio.
- Além de introdução, em que são listados 12 direitos gerais de aprendizagem, o documento é estruturado em quatro áreas.
- A divisão é por Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas, prevista em leis e usada no Enem. Cada área se desdobra em disciplinas, como Artes ou Química.
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Tecnologia tem sido mal utilizada
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São Paulo. Equipar massivamente os alunos e as salas de aula com dispositivos eletrônicos não basta para melhorar os resultados. É o que diz um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico publicado na última terça-feira.
“Para reduzir as disparidades na capacidade de tirar proveito dos dispositivos tecnológicos, os países devem melhorar antes de tudo a equidade de seus sistemas educacionais”, avaliou a OCDE.
Os resultados dos alunos espanhóis ficaram abaixo da média dos países desenvolvidos, embora sejam “consagrados mais de 30 minutos diários ao ensino digital”, ressaltou Éric Charbonnier, analista de educação da OCDECharbonnier.
Em troca, os alunos franceses se deram melhor com o computador (entre 10º e 14º lugar) do que com o papel (12º a 16º), sobretudo as crianças, “embora o digital não faça mais parte da aprendizagem”.
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São Paulo. Equipar massivamente os alunos e as salas de aula com dispositivos eletrônicos não basta para melhorar os resultados. É o que diz um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico publicado na última terça-feira.
“Para reduzir as disparidades na capacidade de tirar proveito dos dispositivos tecnológicos, os países devem melhorar antes de tudo a equidade de seus sistemas educacionais”, avaliou a OCDE.
Os resultados dos alunos espanhóis ficaram abaixo da média dos países desenvolvidos, embora sejam “consagrados mais de 30 minutos diários ao ensino digital”, ressaltou Éric Charbonnier, analista de educação da OCDECharbonnier.
Em troca, os alunos franceses se deram melhor com o computador (entre 10º e 14º lugar) do que com o papel (12º a 16º), sobretudo as crianças, “embora o digital não faça mais parte da aprendizagem”.
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Fonte: O Tempo (MG)
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