Por Tatiana Serra
A falta de qualidade na Educação, a precária situação da Saúde, a desigualdade social, o desemprego e a impunidade são algumas das formas de violência muito conhecidas pelos brasileiros, infelizmente. E infelizes talvez sejam os que já se acostumaram com isso e sentem que a violência está banalizada.
E “aceitar que a violência possa ser naturalizada pode ser uma tentativa de diluir o terror que ela provoca, de se submeter aos seus efeitos, e de não se implicar com as possibilidades, mesmo pequenas, de sua transformação”; é o que afirma a psicanalista Maria Laurinda Ribeiro de Souza em seu artigo Banalização da violência: efeitos sobre o psiquismo.
Ela lembra que Freud, em seu artigo Pulsões e seus destinos, diz que “inicialmente o mundo se apresenta para a criança sem diferenciação mas logo ganha matizes diferentes, dependendo das qualidades de prazer implicadas nas experiências... O mundo exterior fica assim dividido em uma parte prazerosa que se incorpora e um resto que é estranho e hostil. O sentido primitivo do ódio é o da relação contra o mundo exterior, alheio ao ego... O ego odeia, perturba e persegue com propósitos destrutivos a todos os objetos que chega a supor como fonte de sensações de desprazer”.
Ainda baseada no pensamento de Freud, Maria Laurinda ressalta que “a verdadeira oposição ao amor não é o ódio, mas a indiferença. Isso pode nos ajudar a pensar no sentido e nos efeitos da exclusão indiferente que atinge grande parte de nossa sociedade e, também, nos custos da nossa própria indiferença às cenas de violência. Indiferença e exclusão alimentam-se mutuamente, mantendo a impossibilidade de laços sociais e a dificuldade de construção de um outro discurso”.
O que fazemos com o que fazem conosco?
Em seu programa no canal por assinatura GNT, a jornalista Marília Gabriela entrevistou a pesquisadora Maria Tereza Maldonado, autora de Bullying e cyberbullying - o que fazemos com o que fazem conosco? E de dezenas de outros livros de psicologia e de relacionamento humano. Referindo-se ao massacre ocorrido na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2011, a jornalista quis saber se as crianças que passaram por tudo aquilo ficariam traumatizadas pelo resto da vida ou se a violência teria sido banalizada.
Na opinião da pesquisadora, “a violência realmente banalizou-se, mas a reação a essa violência vai depender de cada pessoa. Eu coloquei isso no título do meu livro: o que fazemos com o que fazem conosco? Eu trabalho com comunidades carentes que vivem em sinais de intensa violência. Já trabalhei com equipes da Associação Brasileira da Terra dos Homens e com a Cruzada do Menor. São crianças e adolescentes que vivem em contextos de extrema violência no cotidiano. Para muitos deles, isso representa traumas difíceis de serem superados; para outros, eles vão crescendo e têm o que a gente chama de resiliência, que é a capacidade de superar as adversidades”.
Talvez não consigamos acabar com a violência, por ser inerente ao ser humano. Talvez seja possível diminuí-la ou transformá-la. Pode ser que o mesmo ato violento tenha um peso para mim e nenhum para você. Sendo subjetiva ou não, o que faremos com o que a violência causa em nós? Seremos vítimas ou vencedores? Fica a reflexão.
Publicado em 09/08/2011.
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