terça-feira, 2 de agosto de 2011

Estado corta ponto de grevistas



Por Natália Oliveira

O governo estadual ameaçou e cumpriu: cortou o ponto dos professores que estão em greve há 54 dias. O contracheque do mês de junho, que eles receberam ontem, veio com o salário proporcional aos oito dias trabalhados. A punição do Estado não intimidou a categoria, que promete manter a paralisação até que a negociação envolva um reajuste real. Irredutível também está o governo, que afirmou que só restabelece o pagamento se houver um acordo.

A diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute), Beatriz Cerqueira, explicou que a greve é uma consequência da luta pelo aumento do piso salarial. "A secretaria cortou o nosso salário para nos pressionar a encerrar a greve, mas não vamos ceder porque queremos alcançar um piso salarial melhor", explicou Beatriz. Os professores irão discutir, oficialmente, o corte do salário e os rumos da paralisação em uma assembleia na tarde de amanhã.

O Estado informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que está tentando negociar com o sindicato e que acredita na possibilidade de um acordo após a assembleia da categoria. A secretaria anunciou também que estuda colocar professores substitutos nas escolas durante o período da paralisação para não prejudicar ainda mais os alunos. A assessoria afirmou que o período de recesso escolar de julho não será considerado no corte salarial. Prejudicados. Enquanto a queda de braço entre o governo e os professores não chega ao fim, os alunos são os mais prejudicados. Segundo o sindicato, 50% das escolas são afetadas pela paralisação. O percentual do Estado é bem menor, 19%.

A professora Rita Soares argumenta que se preocupa com o efeito que a luta da categoria tem nos estudantes, mas se defende dizendo que não pode abrir mão de seus direitos. "Sabemos que ficar sem aula é muito ruim para todos os estudantes, mas também não vamos ceder às pressões do governo, temos que continuar lutando", disse a professora.
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Números

54 dias é o tempo que os professores de Minas estão em greve
250 mil é o total de servidores da educação no Estado

Opções de salário

Regime salarial. Para tentar solucionar o problema do piso, o governo criou um novo regime salarial, o subsídio. Os professores devem optar, até o próximo dia 10, por ele ou pelo modelo antigo de remuneração com as gratificações.
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Diferenças. No subsídio, há a unificação das gratificações dos servidores e o consequente fim dos benefícios. No sistema de subsídio, adotado desde janeiro, os professores recebem os vencimentos e acumulam benefícios separadamente.
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Contra-ataque

Sindicato ameaça não repor aulas perdidas

O impasse entre o governo e os professores pode prejudicar ainda mais os alunos. A diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, afirma que se o salário de junho não for pago, os professores não irão repor os quase dois meses de aulas perdidas. Já o governo evita a polêmica e diz que tenta costurar um acordo com os servidores para minimizar os prejuízos aos alunos. O Estado promete inclusive pagar o que foi cortado se houver consenso.
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No meio do fogo cruzado, pais e alunos estão cada vez mais preocupados. A vendedora Isabel Alves, 49, teme pelo desempenho da filha no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "O ensino dela está muito prejudicado. As aulas precisam ser retomadas", disse. Ela defende que o Estado encontre uma solução. "O governo precisa resolver isso, os alunos não podem mais ficar sem aulas", disse. (NO)
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Entenda a polêmica do piso salarial:

O que os professores alegam: O reajuste no piso salarial é a principal reivindicação da categoria, que está em greve há 54 dias. Segundo o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas (Sind-UTE), o piso salarial nacional da categoria é estabelecido em R$ 1.597 para profissionais com escolaridade de nível médio e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Em Minas, no entanto, segundo o sindicato, os servidores com nível médio recebem piso de R$ 369 para 24 horas semanais.

O que o governo do Estado alega: A Secretaria de Estado de Educação de Minas contesta os números apresentados pelo sindicato dos professores e afirma que o piso salarial nacional da categoria é fixado em R$ 1.187 para os servidores com nível de escolaridade médio e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Ainda de acordo com informações da secretaria estadual, com a recente criação do regime de subsídio, o menor salário pago a um professor em Minas Gerais supera o índice nacional e é de R$ 1.122, mas para uma jornada de 24 horas semanais.

Fonte: O Tempo (MG)

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