terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os humanistas: contextualização e enfoques


Por: Ediléia Vieira, Lucília Santos, Luíza Mundim, Renatha Maia, Sandra Abreu e Salomão Ferreira de Souza*
Falar sobre os humanistas é se arriscar pelos dilemas humanos, dos mais contextualizados aos mais universais, em busca da compreensão de nossas próprias angústias. Considerando o contexto histórico, econômico e cultural de cada pensador podemos entender a leitura que faz o psicanalista ao observar esse objeto tão complexo e ler os sinais de seus mais variados dilemas.
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Carl Gustav Jung, na sua leitura, aponta os rígidos padrões suíços de beleza, consumo e administração do tempo que impõe hora certa para tudo. Essa rigidez, muitas vezes, leva os sujeitos a uma espécie de robotização pela automação do plano consciente, o que conduz à redução da acuidade restringindo-a a escolhas de ações dentro do estrito cumprimento dos modelos e valores propostos para o alcance de metas de vida como trabalho, família, lazer e outras poucas. Arriscamos afirmar, na nossa rasa leitura de outros contextos, que a rigidez e robotização a que se refere Jung, embora mais visível em seu contexto, se fazem universais em grupos menores ou maiores, cujo comum interesse e rigor econômico se assemelham ao modelo suíço e no qual o padrão de beleza e as tradições suplantam os valores subjetivos dos indivíduos. Assim pensamos por acreditar que, na sua análise, Jung leva em consideração o self, ou seja, os processos desenvolvidos pelos indivíduos em interação com seus semelhantes e através do qual se torna capaz de tratar a si mesmo como objeto, isto é, observar-se considerando seu próprio comportamento do ponto de vista alheio.
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Tal qual Jung, Rollo May fala da perspectiva americana das costuras capitalistas de muitas sutilezas onde o verniz precisa suplantar a essência. Na sua análise as pessoas são avaliadas por sua aparência superficial construída pela “consciência criativa” onde a ética é a consciência de si mesmo e essa depende do contexto e das negociações de interesses capitalistas em jogo. Relativamente à religião, May fala do erro de Freud, que a considera uma neurose compulsiva; relativiza essa máxima freudiana e estende suas considerações sobre a filosofia e as ciências que, assim como as religiões da consideração de Freud, são instrumento de fuga da realidade. Dentre os tantos dilemas humanos que colocam o objeto de estudo de May frente aos múltiplos espelhos, clamando por uma projeção no outro, da imagem que esse faz de si mesmo, perpassa o abismo da verdade que deve ser escondida para garantir a referida fuga da realidade. Se para Nietzsche “errar é covardia!”, devemos pensar o relativismo de sua filosofia em comparação ao humanismo de May e em relação às omissões desse com respeito às religiões que tanto tem a dizer de seus objetos de estudo. Quando Nietzsche fala dessa verdade ele mesmo tem dúvidas de sua existência real assim como às vezes duvidamos da religião que professamos. Percebe-se em May certa aversão às impressões dos signos culturais nascidos da alteridade, daqueles que nomeiam as coisas antes que delas tenhamos conhecimento. Essa escrita tem múltiplas impressões: filosofia, ciências, religiões... Essas imprimem em nós a relatividade da construção pessoal de identidade. O presente é o estreito fio construído pela lógica da nomeação escrita em nosso passado e que o liga ao futuro pela projeção que fazemos a partir de nossas experiências com tal escrita. Não somos o presente ou aquilo que projetamos para o futuro. Somos uma construção de muitos pilares edificados na cultura onde a filosofia, as ciências e as religiões são componentes essenciais. Assim, considerando a universalidade do pensamento de May, devemos considerar as inumeráveis correntes culturais onde a Ciência, a filosofia e a religião ganham significados e valores igualmente diversos.
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Carl Rogers, também americano, diferentemente do behaviorismo, pensava numa psicanálise centrada na pessoa, pensamento esse tão influente nos filósofos existencialistas e femenólogos que pensavam na autorrealização da pessoa. Pensando o homem como essencialmente bom, pensava a educação do indivíduo para o meio e não o meio para o indivíduo. Para Rogers é necessário que o homem descubra, por si mesmo, as respostas para suas inquietações e, com o uso de suas próprias habilidades, construam segurança para tomar as decisões necessárias nos momentos de conflitos existenciais ou não. Rogers propunha uma escola onde o clima afetuoso, teria o aluno como centro e o professor como um facilitador. Considera, também, que todas as pessoas são naturalmente capazes e suficientemente aptas a realizar tudo que lhe for apresentado. Tendo no outro um facilitador para a realização da aprendizagem, propunha uma educação que considere a totalidade cognitiva e afetiva de seus sujeitos. Assim, alunos e professores, ao construir e desconstruir, dariam sentido e forma a sua existência. Tomando a escola como um lugar por onde todos deviam passar, o humanismo de Rogers se faz universal dentro da realidade daqueles que atendem a essa condição. Nas suas considerações humanistas fica evidente a construção da autonomia dos sujeitos, a interação harmoniosa entre professores e alunos e a formação continuada construída nas relações de respeito, solidariedade e ausência do exercício de poder. Se essa perspectiva é utópica pouco interessa, importa que ela seja uma possibilidade que leva em conta a própria proposta de Rogers, que seria essa de cada um usar suas habilidades para o enfrentamento de si, numa construção de si para o outro e não do outro para si. Nele, o outro seria apenas um intermediador das relações na perspectiva da desconstrução e reconstrução necessária à existência de todos, o que daria sentido à vida.
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Erich Fromm, o mais clássico dos humanistas, construiu suas teorias a partir do materialismo histórico de Marx e Engels. Em suas considerações da psicologia social analítica, o homem está envolto no progresso histórico e social não só da natureza, mas do próprio ser natural do homem, no qual se inscrevem as ideologias do comportamento social onde a influência e determinação econômico-social são os determinantes comportamentais dos sujeitos. Por suas raízes críticas da escola de Frankfurt, Fromm pensa criticamente a psicologia que, conjuntamente ao materialismo histórico, produz os mecanismos produtores de ideologias e a interação dos fatores naturais e sociais como produtores do comportamento humano. Para ele, as forças libidinais, nessa construção social e histórica, são socialmente dirigidas o que a enfraquece até que deixe de constituir uma ameaça à estabilidade social. A essa estrutura libidinal, Fromm dá o nome de caráter social cujo produto resulta das influências das condições sócio-econômicas sobre os impulsos humanos. Em resumo, para Fromm, os impulsos libidinais, além de ser um fator importante no condicionamento da evolução dos vários níveis da sociedade e no conteúdo da superestrutura ideológica, é o meio pelo qual a economia exerce sua influência nas manifestações intelectuais e mentais do homem. Suas considerações se fazem universais na medida em que considerada as relações numa estrutura de acumulação capitalista onde os sujeitos são ajustados aos interesses do mercado ou se faz ator na luta de classes onde o capital, pretensamente, quer ser o determinante histórico em oposição às lutas sociais que se inscrevem como a não aceitação dessa condição de poder. No centro dessas lutas, o homem se ajusta ou resiste, se dobra o luta, recalca ou explode em ações de humanidade que não se conforma com a imposição ideológica desse materialismo. Em ambos os casos ele se faz sujeito da mesma condição.
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A idéia de pirâmide hierárquica das necessidades humanas onde Maslow defende uma espécie de sobreposição sucessiva de necessidades, começando pelas fisiológicas, a segurança, as sociais, a condição de status e estima e, finalmente, a autorrealização, embora equivocada, por acreditar que as etapas são vencidas em um momento e não se constituem problemas a serem enfrentados durante toda a vida, tem sua contribuição na psicologia ao possibilitar as distinções sociais de autorrealização de cada sujeito dentro dos contextos sociais. Mesmo que as necessidades fisiológicas perpassem todas as etapas da vida humana, a idéia de autorrealização, em cada contexto social, tem sua escrita onde podemos ler os níveis de realização individual dos sujeitos. Na perspectiva de Maslow as etapas, ao serem compreendidas, podem favorecer o enfrentamento das angústias e dilemas, lutando para conquistar cada etapa, não sem o devido respeito a suas hierarquias. Assim, a hierarquia é uma forma de organização de nossos objetivos para que não corramos o risco de nos perdermos na tentativa de suprimir etapas, como acontece com as supernovas, ou seja, os astros que explodem na mídia, ganham status e falsa estima, mas não conseguem a segurança necessária para manter essa condição rumo à autorrealização. Por isso se apagam rapidamente nas insaciáveis necessidades fisiológicas de sensações de hierarquias não respeitadas.
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A título de conclusão
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Pensando a educação na perspectiva dos humanistas, acreditamos que nossos dilemas e angústias devem ser pensados dentro da realidade de cada cultura onde, criticamente, o sujeito deve se inscrever com e nas possibilidades de suas múltiplas escolhas. Devemos, na nossa construção subjetiva, considerar as escolhas criticamente, seja dentro da rigidez e tradição de Jung, ou nos múltiplos espelhos de May cujo reflexo e verniz esperamos projetar no outro e cuja finalidade é a aceitação que sanciona nossa realização. Não podemos deixar de considerar, também, as possibilidades de interação, sem a condição hegemônica, tão natural nas relações sociais, que Rogers nos apresenta como possibilidade entre tantas escolhas possíveis, onde a harmonia seja munição para resolução dos problemas pessoais. Da mesma forma há que se considerar Erich Fromm, com sua psicologia social analítica que coloca o homem frente às lutas de classe, onde as relações humanas são ideologicamente construídas. Para esse, a limitação dos impulsos libidinais são conformações cujo objetivo é conter os indivíduos num limite onde não representem ameaças ao sistema. Dessa forma devemos pensar Fromm dentro da realidade de cada grupo examinando, historicamente, as construções subjetivas e objetivas no limite de suas condições materiais e históricas. Por último, a construção da pirâmide hierárquica de Maslow serve, em nossa compreensão, como parâmetros a serem seguidos na busca da realização pessoal. Embora as linhas do pensamento humanista tenham suas particularidades constituem, no seu conjunto, ricas leituras de nossas angústias, o que possibilita melhor compreensão da realidade dentro de cada contexto histórico, econômico e cultural. Acreditamos que seja essa a maior contribuição dos humanistas, principalmente em se tratando de educação de jovens e adultos onde os dilemas apresentam como uma realidade a ser enfrentada.
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BIBLIOGRAFIA
JUNG, Carl Gustav, por MARTINEZ, Sérgio Rodrigo. In: Manual da Educação Jurídica, Editora Juruá, 2003, retirado do portal Jusapiens, www.ensinojuridico.com.br, página Educação e conhecimento jurídico, em 25 de junho de 2011.
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1971. 
FROM, Erich, em REIS, Carlos e CARVALHO, Eurico. em análise da obra. Psicanálise da Sociedade Contemporânea. Rio de Janeiro, 1983.
MASLOW, Abraham H. Maslow no Gerenciamento. Qualitymark, 2001.
ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. São Pauloa: Ed. Martins Fontes, 2009.
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* Estudantes do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação (BH) na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

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