Do Bloger do Euler Quem se der ao trabalho de visitar o site da SEE-MG ou do MEC terá a impressão de que estamos vivendo em outro estado e em outro país. No site da SEE-MG as notícias dão enfoque a um universo que procura esconder a realidade da paralisação, estampada nas ruas, nas escolas, na mídia (mesmo quando nos criticam), no dia-a-dia de milhares de mineiros. A única referência de destaque que faz à paralisação em curso é através de uma notícia vergonhosa, com este título: "Mestres a caminho das salas de aula do 3º ano do ensino médio".
É como se estivessem apresentando para a sociedade verdadeiros mestres que estariam ingressando no ensino público. A realidade, contudo, é outra: são pessoas, até mesmo sem habilitação, convocadas para substituir os verdadeiros mestres que estão em greve. Ou seja, professores-tampão, o oposto do mestre, na sua verdadeira essência.
Aliás, o governo de Minas prima por essas práticas abomináveis. Entre elas, a de explorar a situação de desemprego no país para recrutar, entre jovens sem perspectiva imediata de emprego, aqueles que contribuirão, conscientemente ou não, com a destruição da carreira dos educadores, a qual talvez eles nem pretendam pertencer. Afinal, é apenas um bico - e a atitude do governo reforça esta concepção da profissão do professor enquanto bico, algo passageiro, e que por isso mesmo pode ser mal remunerado, já que não se pretende permanecer naquela atividade por muito tempo.
A atitude do governo mineiro guarda semelhanças também com as piores práticas da época da ditadura militar (1964-1985). Era muito comum ao então regime ditatorial estimular o egoísmo, o levar vantagem em tudo, mesmo que em prejuízo de outrem, a delação (dedo-duro) como forma de se dar bem na vida, e outras práticas voltadas para a destruição de um ambiente social solidário e participativo.
Estamos assistindo a tudo isso aqui em Minas Gerais. Diretoras das SREs convocando os diretores de escola e os tratando como se fossem pau-mandados, capitães do mato, que devessem caçar os escravos fugidos - no caso, os professores e professoras em greve. O calote realizado através do subsídio, obrigando os servidores a permanecerem nesse sistema, sob a pena de terem como castigo seus salários reduzidos, como aconteceu de fato com todos nós que tivemos coragem e sabedoria de optar pelo antigo regime remuneratório, é outro exemplo de ato despótico.
Mas, nada disso aparece no site da SEE-MG, pois ele reflete um recorte da realidade que procura esconder as outras realidades, sobretudo aquilo que de fato é decisivo para a vida dos profissionais da Educação: a carreira ameaçada e o piso salarial nacional. Também nisso o governo mineiro reproduz o período ditatorial, que reproduzia, com a ajuda de uma mídia censurada e dócil (hoje comprada), notícias de sucesso na economia, no esporte, enquanto mantinha escondidos os porões, onde centenas de valentes lutadores sociais eram presos, barbaramente torturados e executados.
Nós, educadores em greve, somos um pouco a encarnação viva desses lutadores. Já sofremos cortes e redução dos nossos salários, de forma vergonhosa; já tivemos que enfrentar a polícia de choque do governo, com gás de pimenta e cassetete; estamos sendo substituídos ilegalmente por contratados que pensam estar levando vantagem nesse novo bico oferecido pelo governo; e somos apresentados para a sociedade como culpados pela ausência das aulas que prejudica aos alunos. Não é o governo, que não cumpre uma lei federal e que e se recusa a pagar o piso salarial nacional a que temos direito, que é o culpado, não. Somos nós, educadores, que somos apresentados como os vilões da história, tal como acontecia com os lutadores sociais no tempo da ditadura militar.
Outro dia mesmo esteve em Minas uma diretora norte-americana, visitando algumas escolas e reunindo-se com os agentes da secretaria da Educação. Será que ela soube que os educadores de Minas estão em greve? E que esta paralisação se deve ao não pagamento de um piso salarial miserável? Muito provavelmente ela não tomou conhecimento desses dados. Mas, algum dia certamente ficará sabendo dos fatos, ainda mais considerando a realidade da Internet e da internacionalização instantânea das notícias. Não sei que juízo de valor ela fará das pessoas que a receberam aqui, caso não tenham tido (o que é mais provável) a coragem de expor o cenário real da Educação mineira.
Tal como os dias sombrios da ditadura militar, em Minas procura-se a todo custo apagar a memória das lutas, das conquistas, dos direitos. Um novo sistema remuneratório - o subsídio - é imposto como se a carreira dos educadores mineiros tivesse começado hoje.
Mas, essa distância entre o mundo oficial e a realidade fática verificada aqui em Minas, acontece também na esfera federal. Se visitarem o site do MEC não encontrarão uma única referência com destaque, na página inicial, à obrigatoriedade do pagamento do piso salarial nacional. Enquanto milhares de educadores cruzaram os braços por toda parte do Brasil no primeiro semestre deste ano, o Ministério que deveria ser da Educação manteve-se calado, omisso, como se nada daquilo tivesse algo a ver com ele.
Nos discursos oficiais, o ministro-falastrão diz que o governo tem como meta prioritária a valorização dos educadores. Imaginem então se não fosse prioridade? Contudo, esse discurso morre logo após a sua pronúncia; dissipa-se no ar feito areia no deserto. A nova moda do governo federal agora é dizer que a meta é fazer com que a média salarial dos professores não fique abaixo da média salarial de outras carreiras... até 2020. Bilhões serão gastos com a Copa de 2014. Mas, nós, educadores, podemos esperar até 2020... ou quem sabe até 2030, 2040?
Somos sempre lançados para o futuro, porque o presente é para poucos: banqueiros, empreiteiros, agentes políticos do alto escalão, agronegócio, grande mídia, etc. Eles abocanham tudo, deixando para nós, educadores e trabalhadores de baixa renda em geral, a disputa das migalhas e o sonho de um futuro melhor. Se pelo menos pudéssemos pagar as nossas contas com os prometidos salários do futuro, tudo bem. Vou comprar essa casa hoje e assinar um cheque com o salário que o ministro diz que eu vou receber daqui a 10 anos, tudo bem? Quem se dispõe a vender tal imóvel para mim?
Pois é assim que as coisas funcionam para os de cima. Eles se apropriam do nosso presente e vendem promessas para o futuro. Da mesma forma que fazem nos sites que administram: vendem recortes de uma realidade que não existe, enquanto roubam da população as muitas realidades dramáticas vividas na educação.
Neste contraste entre a realidade espetaculosa - inventada, recortada, manipulada -, e a realidade de fato, a nossa greve se impõe como aquela pedra do poeta mineiro que se encontra no caminho. Tão importante quanto a luta por um direito constitucional - o piso salarial nacional - tem sido a possibilidade do diálogo público, da formação crítica, da construção de muitas redes e elos de intercâmbio entre educadores e a comunidade. Muito daquilo que não se consegue realizar em tempos "calmos", marcados pela rotina de trabalho duro, exaustivo, que consome boa parte do nosso tempo, na greve tem acontecido, qual escola aberta em praça pública.
Diferentemente do mundo deslumbrado no qual vivem os agentes da alta esfera do poder, nós, educadores do chão da fábrica vamos abrindo pacientemente os caminhos que podem conduzir à verdadeira valorização dos trabalhadores da Educação e de uma escola pública de qualidade para todos. E como consequência disso, de um mundo melhor para se viver, mais solidário, mais democrático, mais livre.
A nossa luta representa tudo isso: em oposição aberta ao deslumbramento dos de cima, e em contribuição à verdadeira libertação dos de baixo.
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, com o piso implantado no nosso vencimento básico!
É como se estivessem apresentando para a sociedade verdadeiros mestres que estariam ingressando no ensino público. A realidade, contudo, é outra: são pessoas, até mesmo sem habilitação, convocadas para substituir os verdadeiros mestres que estão em greve. Ou seja, professores-tampão, o oposto do mestre, na sua verdadeira essência.
Aliás, o governo de Minas prima por essas práticas abomináveis. Entre elas, a de explorar a situação de desemprego no país para recrutar, entre jovens sem perspectiva imediata de emprego, aqueles que contribuirão, conscientemente ou não, com a destruição da carreira dos educadores, a qual talvez eles nem pretendam pertencer. Afinal, é apenas um bico - e a atitude do governo reforça esta concepção da profissão do professor enquanto bico, algo passageiro, e que por isso mesmo pode ser mal remunerado, já que não se pretende permanecer naquela atividade por muito tempo.
A atitude do governo mineiro guarda semelhanças também com as piores práticas da época da ditadura militar (1964-1985). Era muito comum ao então regime ditatorial estimular o egoísmo, o levar vantagem em tudo, mesmo que em prejuízo de outrem, a delação (dedo-duro) como forma de se dar bem na vida, e outras práticas voltadas para a destruição de um ambiente social solidário e participativo.
Estamos assistindo a tudo isso aqui em Minas Gerais. Diretoras das SREs convocando os diretores de escola e os tratando como se fossem pau-mandados, capitães do mato, que devessem caçar os escravos fugidos - no caso, os professores e professoras em greve. O calote realizado através do subsídio, obrigando os servidores a permanecerem nesse sistema, sob a pena de terem como castigo seus salários reduzidos, como aconteceu de fato com todos nós que tivemos coragem e sabedoria de optar pelo antigo regime remuneratório, é outro exemplo de ato despótico.
Mas, nada disso aparece no site da SEE-MG, pois ele reflete um recorte da realidade que procura esconder as outras realidades, sobretudo aquilo que de fato é decisivo para a vida dos profissionais da Educação: a carreira ameaçada e o piso salarial nacional. Também nisso o governo mineiro reproduz o período ditatorial, que reproduzia, com a ajuda de uma mídia censurada e dócil (hoje comprada), notícias de sucesso na economia, no esporte, enquanto mantinha escondidos os porões, onde centenas de valentes lutadores sociais eram presos, barbaramente torturados e executados.
Nós, educadores em greve, somos um pouco a encarnação viva desses lutadores. Já sofremos cortes e redução dos nossos salários, de forma vergonhosa; já tivemos que enfrentar a polícia de choque do governo, com gás de pimenta e cassetete; estamos sendo substituídos ilegalmente por contratados que pensam estar levando vantagem nesse novo bico oferecido pelo governo; e somos apresentados para a sociedade como culpados pela ausência das aulas que prejudica aos alunos. Não é o governo, que não cumpre uma lei federal e que e se recusa a pagar o piso salarial nacional a que temos direito, que é o culpado, não. Somos nós, educadores, que somos apresentados como os vilões da história, tal como acontecia com os lutadores sociais no tempo da ditadura militar.
Outro dia mesmo esteve em Minas uma diretora norte-americana, visitando algumas escolas e reunindo-se com os agentes da secretaria da Educação. Será que ela soube que os educadores de Minas estão em greve? E que esta paralisação se deve ao não pagamento de um piso salarial miserável? Muito provavelmente ela não tomou conhecimento desses dados. Mas, algum dia certamente ficará sabendo dos fatos, ainda mais considerando a realidade da Internet e da internacionalização instantânea das notícias. Não sei que juízo de valor ela fará das pessoas que a receberam aqui, caso não tenham tido (o que é mais provável) a coragem de expor o cenário real da Educação mineira.
Tal como os dias sombrios da ditadura militar, em Minas procura-se a todo custo apagar a memória das lutas, das conquistas, dos direitos. Um novo sistema remuneratório - o subsídio - é imposto como se a carreira dos educadores mineiros tivesse começado hoje.
Mas, essa distância entre o mundo oficial e a realidade fática verificada aqui em Minas, acontece também na esfera federal. Se visitarem o site do MEC não encontrarão uma única referência com destaque, na página inicial, à obrigatoriedade do pagamento do piso salarial nacional. Enquanto milhares de educadores cruzaram os braços por toda parte do Brasil no primeiro semestre deste ano, o Ministério que deveria ser da Educação manteve-se calado, omisso, como se nada daquilo tivesse algo a ver com ele.
Nos discursos oficiais, o ministro-falastrão diz que o governo tem como meta prioritária a valorização dos educadores. Imaginem então se não fosse prioridade? Contudo, esse discurso morre logo após a sua pronúncia; dissipa-se no ar feito areia no deserto. A nova moda do governo federal agora é dizer que a meta é fazer com que a média salarial dos professores não fique abaixo da média salarial de outras carreiras... até 2020. Bilhões serão gastos com a Copa de 2014. Mas, nós, educadores, podemos esperar até 2020... ou quem sabe até 2030, 2040?
Somos sempre lançados para o futuro, porque o presente é para poucos: banqueiros, empreiteiros, agentes políticos do alto escalão, agronegócio, grande mídia, etc. Eles abocanham tudo, deixando para nós, educadores e trabalhadores de baixa renda em geral, a disputa das migalhas e o sonho de um futuro melhor. Se pelo menos pudéssemos pagar as nossas contas com os prometidos salários do futuro, tudo bem. Vou comprar essa casa hoje e assinar um cheque com o salário que o ministro diz que eu vou receber daqui a 10 anos, tudo bem? Quem se dispõe a vender tal imóvel para mim?
Pois é assim que as coisas funcionam para os de cima. Eles se apropriam do nosso presente e vendem promessas para o futuro. Da mesma forma que fazem nos sites que administram: vendem recortes de uma realidade que não existe, enquanto roubam da população as muitas realidades dramáticas vividas na educação.
Neste contraste entre a realidade espetaculosa - inventada, recortada, manipulada -, e a realidade de fato, a nossa greve se impõe como aquela pedra do poeta mineiro que se encontra no caminho. Tão importante quanto a luta por um direito constitucional - o piso salarial nacional - tem sido a possibilidade do diálogo público, da formação crítica, da construção de muitas redes e elos de intercâmbio entre educadores e a comunidade. Muito daquilo que não se consegue realizar em tempos "calmos", marcados pela rotina de trabalho duro, exaustivo, que consome boa parte do nosso tempo, na greve tem acontecido, qual escola aberta em praça pública.
Diferentemente do mundo deslumbrado no qual vivem os agentes da alta esfera do poder, nós, educadores do chão da fábrica vamos abrindo pacientemente os caminhos que podem conduzir à verdadeira valorização dos trabalhadores da Educação e de uma escola pública de qualidade para todos. E como consequência disso, de um mundo melhor para se viver, mais solidário, mais democrático, mais livre.
A nossa luta representa tudo isso: em oposição aberta ao deslumbramento dos de cima, e em contribuição à verdadeira libertação dos de baixo.
Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, com o piso implantado no nosso vencimento básico!
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