terça-feira, 29 de junho de 2010

O VALOR TRABALHO DO PROFESSOR EM TEMPOS DE REAJUSTE

Por Lúcio Alves de Barros*

Se existe alguma coisa indispensável para um bom trabalho, esta “alguma coisa” se chama bom salário. Com ele, trabalhadores e trabalhadoras encontram a motivação, a boa vontade, a razão de existir e a possibilidade de levar em frente o resultado do que por anos foi estudado. Paguem mal uma categoria e ela não vai fazer por onde o que deve ser, no mínimo, feito.

Este é o caso de várias categorias e, no caso em tela, recebe novas roupagens quando nos referimos aos professores, sejam da rede estadual, municipal ou dos que ensinam no ensino superior. Chega a ser, com todo o respeito, uma violência, já aceita e assimilada no Brasil, a desigualdade social e de renda existente entre algumas categorias. Não é possível salários de 15 a 20 mil reais no judiciário, de 02 a 05 mil na polícia, e professores percebendo menos de mil reais. O que está em questão aqui é o valor trabalho, ou seja, o valor que a sociedade delega a cada profissão. Um promotor não é mais importante que um professor. Um policial civil ou militar também não é. Professores não são mais importantes que pedreiros e faxineiros. O valor trabalho, contudo, é resultado de luta política. E, infelizmente, tal como o padeiro e o faxineiro, os professores estão longe da organização política existente no judiciário e na polícia.

Desculpem meus amigos policiais e aqueles que trabalham na justiça. Muitos deles também são professores e tem a ciência do que estou falando. Mas digo tudo isso porque é de suma importância, apesar das insatisfações, a aprovação na Assembleia Legislativa (ALMG) do Projeto de Lei (PL) 4.689/10. Este projeto, resultado da luta dos professores e dos servidores públicos, trata do reajuste da categoria. Ele foi aprovado na segunda-feira do dia 28 e espera a sanção do Governador de Minas (e candidato a reeleição), Antônio Augusto Anastásia (PSDB). Grosso modo, a categoria conseguiu a garantia de um aumento salarial por ano e um reajuste já no mês de janeiro de 2011.

A despeito do desconforto das lideranças sindicais foi louvável toda a luta dos professores. De todo modo, esta luta não deve parar nos salários. Mais do que nunca, se fazem necessário melhores condições nas escolas para a efetuação de um bom trabalho. Bom trabalho que não pode ser feito em escolas mal cuidadas, inseguras, sujas e sem as mínimas condições de vida humana. Espero que os professores também lutem por isso, pois há anos - para quem se lembra do então Governador Newton Cardoso – as escolas vem sendo deixadas ao tempo e ao vento. Curioso, porque deixar tais instituições em pleno descuido é continuar atirando no próprio pé, haja vista que, são nelas que os professores encontram o espaço por excelência de formação das crianças, adolescentes e jovens.

* Professor da UEMG, licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia, doutor em Ciências Humanas: sociologia e política pela UFMG. Autor do livro, “Fordismo: origens e metamorfoses”. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 2004; organizador da obra “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006, co-autor do livro de poesias, “Das emoções frágeis e efêmeras”. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006 e organizador de “Mulher, política e sociedade”. Brumadinho, MG: Ed. ASA, 2009.

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