quarta-feira, 2 de junho de 2010

PESQUISA [Notícias]

Violência e deterioração no Ensino Público

Escola chega a situação limite
MARIANA NICODEMUS - Repórter

Cerca de um quarto dos professores da rede pública de ensino da cidade foi agredido ou ameaçado de agressão dentro da escola no ano passado. O dado é da pesquisa “Fala, Juiz de Fora”, cujos resultados, divulgados ontem, pelo Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF, evidenciam a situação limite enfrentada por quem está inserido nos espaços de educação gratuita oferecidos no município. Mais de 12% desses profissionais foram vítimas de furto no local de trabalho em 2009, enquanto 27% sofreram ataques morais. Quase metade dos educadores (47,2%) serviu de alvo para xingamentos de alunos, em clara expressão daquele que seria o grande problema da escola na opinião da maioria dos docentes (62,7%): a falta de respeito. Para o diretor do CPS, Carlos Alberto Botti, os números refletem “a explosão do caos social no ambiente escolar”.

A presença marcante da violência dentro da escola mostra a banalização e a quebra da hierarquia na educação, segundo Botti. “A deterioração dentro do ambiente escolar não é culpa da escola, que é apenas um dos muitos agentes responsáveis pelo processo de socialização.” Ele aponta a falta de preparo da sociedade frente à nova família - sem o pai provedor do lar e a mãe educadora dos filhos - como responsável pela ausência de parâmetros entre os jovens. “O modelo de escola que existe hoje é o mesmo que nossos avós cursaram, mas a sociedade mudou. O tempo que esses meninos passam no colégio é muito curto e, quando saem, a referência é a rua, é a sociedade que os associa a conceitos de irresponsabilidade e criminalidade. A própria juventude se enxerga dessa forma”, afirma Botti.

De acordo com o professor, a situação é mais acentuada entre estudantes da rede pública porque grande parte desses adolescentes veem suas mães deixarem o lar para cumprir o papel materno em casas de classe média, como empregadas domésticas. “Além disso, o dia dos alunos das escolas particulares tem outra estrutura, sendo preenchido por atividade extraclasse, como curso de línguas e esportes.” Para Botti, os resultados da pesquisa indicam a escola integral como “horizonte para a reversão do problema, embora ainda não seja essa a solução”.

Violência entre alunos - A exposição à violência se repete entre os alunos. Dos 569 estudantes que responderam à pesquisa, em novembro passado, mais de 58% relataram já ter presenciado algum caso de agressão física na escola que frequenta, e quase 12% desses adolescentes foram vítimas de agressão. Embora afirmem ver o colégio como ambiente agradável e acolhedor, apontam a má gestão e a deficiência dos professores (33,6%) e a falta de infraestrutura (24,9%) como preocupações. Alguns - 23,3% - indicam os próprios alunos como problema para a escola.

Mais de 30% dos docentes trocariam de profissão - Embora cerca de 90% dos 502 professores da rede pública ouvidos pela pesquisa “Fala, Juiz de Fora”, em setembro e outubro de 2009, sintam-se pelo menos parcialmente realizados com a carreira, mais de 30% revelaram que trocariam de profissão caso tivessem a oportunidade. A desvalorização dos profissionais da área e a relação com os alunos - marcada por indisciplina, desinteresse, desrespeito e violência - foram citadas por mais de 80% dos entrevistados como maiores problemas enfrentados pelos educadores do município, estado e União.O relatório aponta que mais da metade dos docentes é exposta a mais de 30 horas-aula por semana, intensidade que, aliada à ausência de atividades de lazer, pode comprometer o desempenho. Além disso, quase 40% dos docentes relataram ter passado por problemas de saúde relacionados ao trabalho em 2009, sendo a maioria ligados a desgaste emocional, como estresse e depressão.

Os relatórios e a massa de dados produzidos pelo conjunto de pesquisas de opinião coletadas pelo projeto serão encaminhados à Secretaria de Educação do município e à Superintendência Regional de Ensino. O objetivo, segundo o diretor do Centro de Pesquisas Sociais da UFJF, Carlos Alberto Botti, é abastecer a sociedade de dados capazes de provocar uma reflexão sobre o papel social da escola, contribuindo, assim, para a formatação de políticas públicas para a educação.

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