domingo, 13 de junho de 2010

INDISCIPLINA EM SALA DE AULA: aluno vilão ou refém “do sistema”?

Por Sarah Aline*

Indisciplina: uma palavra que amedronta o corpo docente. Comportamentos inesperados e inimagináveis, posturas ríspidas e agressivas, indiferença diante da autoridade do professor. Entre outras, estamos falando de relações dentro ou fora da sala de aula, que leva muitos professores a desistirem de sua carreira. A pergunta: De quem é a culpa? Possíveis respostas: “do aluno"; “do professor”, “da escola”, “da família” ou “do sistema”. Enfim, colocar a culpa ou inserir mecanismos para justificar comportamentos, não é o foco do texto em questão. Possíveis causas e métodos auxiliares ao professor são meios a serem observados com cautela, a fim de tratar seres humanos, com o máximo de humanidade.

Nós professores, em nosso ofício, não lidamos com máquinas. Parece óbvio, mas muitos “profissionais” da área agem como se ignorassem esse “detalhe”. Não podemos processar dados no cérebro, ou incutir um comando a ser manipulado por controle remoto. Assim como o alfaiate trata a seda, o pintor a tela, o poeta as palavras e sentimentos, assim devemos tratar nossos alunos. Somos copeiros cuidando de taças de cristal; devemos poli-las sem quebrá-las. Na presente metáfora, polir não é saturar o aluno de conteúdo. Estamos formando seres humanos nos bastidores de um palco nada fácil, o palco da vida. E analisando de forma pragmática, não estamos nos bastidores. Entramos com tudo (ou com nada) em cena, e procurando ou não uma forma de entreter os alunos temos múltiplas funções: ensinar o conteúdo, lidar com temperamentos e humores diferentes, seguir regras de instituições e “gingar” com o tempo que corre sem esperar o silêncio ou a participação necessária para bom rendimento da aula.

“Reféns dos alunos”, “Vários CONTRA um”, “Com ou sem colaboração do corpo discente eu recebo meu salário...”, entre outras frases e expressões, é o que alguns professores dizem diante da indisciplina. A sala de aula vira um campo de batalha, onde o professor não tem direito à trincheira ou qualquer tipo de proteção. No sentido literal, o professor é aquele “soldado” solitário na infantaria. A guerra que pode ser desencadeada por um pedido de silêncio é o retrato da falta de autoridade do docente, o qual em alguns casos usa o autoritarismo como saída ou levanta a bandeira branca aos que não desejam ouvi-lo e se torna um conformado que não diversifica nos métodos e/ou trabalha desmotivado. Mas surge outra pergunta: “Não querem os alunos ouvir?” Difícil a resposta, pois acordar cedo, ou se encaminhar para as aulas em outros horários, deslocar-se de casa muitas vezes em vão, não parece uma atitude muito inteligente para – pelo menos – os que desejam estudar. Obviamente, outros fatores fazem o aluno sair de casa e ir à escola. A casa, na maioria das vezes, apresenta-se como um lugar de clima desagradável, a mãe obriga o filho a estudar ou mesmo trabalhar em busca do conhecimento. Infelizmente, são muitos - e hoje em dia não há mais espanto - os alunos que vão à escola com o único objetivo de se alimentar ou manter uma “ajuda” governamental. Diante de não poucos problemas sociais, o professor não deve se prender apenas ao conteúdo. Claro, não deve pensar que irá mudar o mundo e esquecer do que é cobrado em vestibulares e em outras situações, mas deve buscar o equilíbrio entre conteúdo e diálogo, no sentido de buscar as origens da falta de disciplina.

A indisciplina pode ser causada por problemas familiares, de saúde, afetivos em todos os sentidos possíveis, sociais, e ouso dizer, na maioria dos casos, pala falta de interesse do professor e por falta de conhecimento ou reconhecimento de seu papel social. Um educador é, acima de tudo, um influenciador que deve ter ciência de sua importância para a vida de seus alunos. Em famílias de relacionamento baseado no diálogo, a primeira coisa que o aluno conta para os pais depois do primeiro dia de aula é a recepção do professor. Claro, o docente não é o único a contribuir para o afloramento da indisciplina. A escola, com regras flexíveis e inadequadas às diversas realidades, ou a família mal estruturada são fatores relevantes. Porém, a apatia ou a euforia de uma sala de aula é o resultado dos métodos e práticas executados pelo professor.

Números ou códigos da lista de chamada não são meios de identificar seres humanos que vivem suas idiossincrasias e peculiaridades. Resumi-los numericamente ou em grupo com juízos de valores pré-estabelecidos não é humano, é mecânico e sistematizado. Devemos cuidar das inteligências e das boas qualidades e defeitos de cada um. O reconhecimento dentro e fora da sala de aula, o olhar nos olhos, sem gritos de autoritarismo, demonstrar a autoridade que possuímos, deixando claro que, liberdade é diferente de libertinagem é de capital importância. Porém, se for necessário alterar a voz ou estufar o peito não devemos nos abster de dar um banho de realidade através de expressões peculiares a cada professor.

Mais do que nunca se faz necessário ouvir e ganhar o respeito do aluno devido ao bom trabalho, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto nas relações sociais cotidianas. Diversificar, levar ânimo e a esperança sempre banhada na realidade é bom, principalmente para que as situações posteriores ao incentivo não os surpreendam negativamente. O primeiro dia de aula é crucial: não para imposições, mas para acordos que serão executados e respeitados durante as aulas. Devemos ser firmes para ganhar e manter o respeito, e, ao mesmo tempo flexíveis e sensíveis às mudanças para melhorar o processo de ensino/aprendizagem. Devemos manter a persistência, dando o melhor de nós, sem, contudo, perder a humanidade. Acima de todas as coisas devemos fazer nosso trabalho semeando e o fazendo com amor, pois os frutos serão correspondentes às sementes.

Finalmente, é preciso saber ir além do conteúdo, ter o equilíbrio necessário para falar e agir no meio social que vai além do currículo “conteudista”. Ser humano e prático com as coisas da vida na sala de aula ajuda e, certamente, a educação será mais ampla em termos sociais e menos passarela de desfile de policiais ou palco de guerras de efeitos visíveis ou invisíveis como aparentemente parece ser atualmente.


* Professora de informática e estudante do curso de história da Faculdade ASA de Brumadinho; Jun. 2010.

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