domingo, 27 de junho de 2010

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Primeiro porre chega cada vez mais cedo para adolescentes

Depois de uma festa regada a doses de bebidas alcoólicas, mesmo muito embriagado, ele decidiu ir embora a pé. No caminho, tentou chutar uma placa e caiu. Aos 15 anos, o garoto de Belo Horizonte voltava da festa de aniversário de uma amiga, da mesma idade. Os porres de adolescentes tornaram-se cenas comuns. E, hoje, ganharam um agravante: começam a partir dos 12 anos. Foi o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicoterápicas (Cebrid) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O levantamento comprovou que os jovens estão bebendo cada vez mais: 33% dos 5.226 estudantes entrevistados praticaram o "binge drinking". O termo caracteriza o consumo, na mesma ocasião, de 14 g de etanol - o correspondente a cinco doses de bebida.

"O álcool mostrou ser um problema maior para a saúde pública do que o crack. Porque, enquanto nos preocupamos com as drogas ilícitas, as bebidas alcoólicas são as mais consumidas", disse a coordenadora do estudo do Cebrid, Ana Regina Noto. Apesar de o levantamento ter sido feito em São Paulo, a pesquisadora explica que pode-se aplicar esses resultados em Minas Gerais. "Realizamos pesquisa nesse sentido desde a década de 80. Em 2004, fizemos um estudo que incluía as 27 capitais brasileiras e os resultados mineiros foram idênticos aos de São Paulo".

Prática. Mesmo sem pesquisa, é possível confirmar que os adolescentes mineiros estão ficando bons de copo cada vez mais cedo. "Todo mundo bebe. Mesmo quem não gosta acaba bebendo para não ficar para trás", contou um adolescente de 12 anos. Como os pais não sabem que ele se embriaga, o menino já tem algumas técnicas para evitar problemas em casa: "Eu paro de beber meia hora antes de ir embora, chupo várias balas de hortelã e pulo muito para o álcool passar o efeito", contou, como se desse dicas.

Quando algum amigo não consegue controlar e acaba dando o que eles chamam de "PT" ou "Perda Total" a palavra de ordem é solidariedade. "Em uma festa de 50 pessoas pelo menos três dão PT. Aí, a gente cuida delas para os pais não descobrirem. Damos doces e até banho se precisar", afirma outro adolescente de 13 anos. O garçom Gilmar Alves da Silva, 35, confirma as estatísticas. "Festa de 15 anos é lei: pelo menos três ou quatro meninos passam mal. A gente não serve para menores, mas amigos maiores e os próprios pais pegam a bebida e eles acabam consumindo", explica.

Repercussão. O psicanalista e professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais Guilherme Massara Rocha acredita que esse aumento do uso de álcool entre os jovens é reflexo da forma com que a sociedade lida com essa droga. "Como o álcool é uma droga considerada lícita, ele não é tratado como deveria pelas autoridades e educadores. Nós, profissinais da saúde mental, concordamos que a orientação que é dada ao jovem é muito deficitária, o que leva a essa disseminação de bebidas alcoólicas", afirma.

Consumo precoce traz sérios riscos. O consumo precoce de bebidas alcoólicas tem reflexos negativos na vida dos adolescentes."Quanto mais cedo exposto à bebida maior a possibilidade de se tornar alcoólatra", afirma o professor de psicologia da UFMG Orestes Diniz Neto. O membro da comissão de controle de tabagismo, alcoolismo e uso de outras drogas da Associação Médica de Minas, Valdir Ribeiro, vai além: "Eles podem criar tolerância ao álcool e buscarem outros estimulantes para trazer a sensação de bem-estar". (TL)

Alerta - É importante educar os filhos - Para combater a influência negativa que as bebidas alcoólicas têm sobre crianças e adolescentes, o ideal não é tentar vencer o álcool, mas aprender a lidar com a bebida. “A bebida é parte da sociedade, usada como forma de congregação social. É impossível evitar que os jovens tenham contato com ela. A melhor maneira de se lidar com isso é dando educação para beber”, explica o professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Orestes Diniz Neto.

A representante comercial Daniela Mansur, 33, utilizou essa técnica com o filho de 14 anos. “Aos 13 anos, meu filho me disse que iria em uma festa e que os amiguinhos dele iriam beber. Ele me pediu que tomasse uma cerveja com ele, porque nunca havia tido contato com bebida alcoólica. Eu disse que só toparia se ele pegasse a cerveja mais gelada que tivesse na geladeira”, conta a mãe.

Sem chance. O engenheiro Ivan Antunes age diferente com a filha de 17 anos. “Eu sou contrário a bebida para adolescente. Meu método de educação é falar com meu filho até convencê-lo. E está funcionando”. (TL)

Dados nacionais
Álcool. Estudo da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) mostrou que 80% dos menores de 18 anos entrevistados afirmaram já ter consumido bebida alcoólica.

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