Policiais suspeitos de agressão a estudante negro são indiciados no Rio Grande do Sul
por Cleide Carvalho (O Globo) - 30 mar. 2011
SÃO PAULO - Quatro policiais de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, foram indiciados por lesão corporal, abuso de autoridade e injúria por suspeita de agressão contra o estudante Helder Santos, aluno de História da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Segundo o corregedor geral interino da Brigada Militar, João Gilberto Fritz, o caso foi encaminhado à Justiça Militar e foi aberto procedimento interno para investigar a ação dos policiais.
O universitário deixou a Unipampa. De acordo com o estudante, a abordagem foi truculenta e racista. "Logo em seguida, eu tomei as providências cabíveis, entrei com um processo judicial na Corregedoria da Polícia Civil. Então, comecei a receber as ameaças, recebi a primeira carta dizendo que eles pretendiam me pegar no carnaval para prática de tortura, com formas racistas. Eles se referiam a mim na carta como 'nego sujo', 'nego bocudo'. Disseram que iam forjar um flagrante para me colocar na cadeia com meus outros amigos crioulos. Eu já recebi outra carta ainda mais agressiva. No mesmo dia, a diretora da nossa universidade também recebeu uma carta com ameaça de morte - relatou o estudante.
Segundo o corregedor, o estudante e outros três amigos foram abordados na madrugada do dia 6 de fevereiro, um domingo, depois de um baile de carnaval em Jaguarão, no clube Ferrujão. De acordo com Fritz, a abordagem ocorreu em decorrência de suspeitas dos policiais em relação ao grupo. - Para acontecer a abordagem não precisa acontecer nada. Basta que a guarnição tenha algum tipo de suspeita. É preciso que se diga que, ficou apurado, houve resistência na abordagem por parte do Helder - afirmou o corregedor. Fritz afirmou que, junto com o estudante, estavam pessoas que já tinham infrações penais, por furto ou porte de entorpecentes.
O corregedor disse que o estudante ofendeu os policiais. Ele não quis citar as palavras usadas pelo universitário. Depois da abordagem, o estudante registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil. No boletim, Helder Santos relatou que os policiais o chamaram de "negão" e bateram nele com cacetete. Fritz afirmou que Helder Santos recebeu duas cartas anônimas após o registro do boletim de ocorrência, mas apenas uma delas continua ofensas e mandava que ele saísse da cidade de Jaguarão. O autor sugeria que poderia ser criado um flagrante para que ele fosse preso por tráfico de drogas.
De acordo com o corregedor, a carta é anônima e não é possível atribuir aos policiais envolvidos no episódio. Para a promotora Cláudia Pegoraro, da 2º Promotoria de Justiça de Jaguarão, o estudante usou o abordagem dos policiais para, ao se dizer vítima de racismo, obter transferência para a Universidade Federal do Reconcâvo Baiano. De acordo com Claudia, Helder dos Santos foi abordado pelos policiais porque estava fazendo arruaça. - Como é da obrigação, os brigadistas pararam e abordaram eles. No momento da abordagem, segundo o boletim de ocorrência que este estudante registrou, um policial teria dito "Vira para a parede, negão", quando estava revistando. Ele disse que apanhou com cacetete. Os policiais dizem que ele desacatou os PMs - diz a promotora.
Segundo ela, a população de Jaguarão está revoltada com a repercussão do caso. - Existem casos de abuso na Brigada Militar, sempre tem alguém que perde a cabeça e apronta alguma. Virem me falar de racismo? Está cheio de policiais negros que fazem o trabalho muito melhor que os brancos. Não temos casos de racismo na Brigada, mas de abuso de autoridade. Eles perdem a cabeça e dão com o cacetete. Está errado, o policial tem de ser treinado para aguentar. Mas milícia? Viadagem e homofobia, dizem que policial é contra. Mas eu não tenho processo por policial ter agido contra gays ou por racismo - afirmou. Perguntada sobre se chamar o universitário de "negão" não é racismo, a promotora explicou que trata-se injúria racial. - É injúria racial. O policial que disse isso deve ser denunciado por injúria - afirmou. A promotora afirmou que não há problemas de homofobia ou racismo dentro da Brigada Militar. As supostas cartas com ameaças, segundo ela, podem ter partido de policiais que querem sujar a imagem da corporação.
Fonte: O Globo.com
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