domingo, 1 de agosto de 2010

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Nas escolas municipais

Quase 200 professores afastados por doença

Jacqueline Silva, repórter / Juiz de Fora - 01 ago. 2010

A cada oito dias, em média, um professor da rede municipal de ensino deixa a sala de aula em caráter definitivo ou por períodos longos - acima de dois anos -, devido a problemas físicos ou psicológicos. A conta é baseada em dados da Secretaria de Educação, apontando que, somente no primeiro semestre deste ano, 23 profissionais foram encaminhados para a chamada readaptação funcional, que corresponde a deixar a regência e assumir cargos administrativos. A readaptação pode acontecer dentro da mesma escola, em outros setores da Secretaria de Educação ou mesmo em outras pastas. Em 2009, foram 38 readaptações e, no somatório geral, há 198 docentes da rede afastados das classes. O número, considerado expressivo, pode aumentar ainda mais nos próximos meses, já que o município está incentivando a readaptação de professores com pedidos longos e recorrentes de licenças para tratamento médico. “Queremos dar a eles a oportunidade de seguir a carreira em outras funções, respeitando as restrições de saúde de cada um”, argumenta a secretária de Educação, Eleuza Barboza. Segundo ela, o objetivo é reduzir os pedidos de licença médica (afastamento por quatro dias ou mais), considerados excessivos e que impactam as atividades escolares.

Levantamento da unidade aponta que, desde o início do período letivo, em fevereiro passado, foram concedidas 1.503 licenças, número que corresponde a mais de um terço do total de 4.500 professores da rede. Embora dados da Secretaria de Administração e Recursos Humanos (SARH) apontem que o tempo médio de afastamento dos servidores da área de educação é de sete dias, 430 das 1.503 licenças concedidas este ano para professores tiveram duração superior a 30 dias, sem incluir os pedidos de licença maternidade, que somam 48 no primeiro semestre. O adoecimento da categoria reflete também no elevado índice de afastamento por períodos de até três dias, através de atestados médicos. No ano passado, a secretaria recebeu 3.622 atestados e, nos seis primeiros meses deste ano, 1.934. Outra situação que tira o professor da sala de aula é a licença para acompanhamento de pessoa da família, que somaram 513, em 2009, e 288 entre fevereiro e junho de 2010.

Para Fátima Barcellos, uma das coordenadoras do Sindicato dos Professores (Sinpro) de Juiz de Fora, a readaptação tanto pode resolver situações específicas, como agravar o quadro de docentes acometidos por moléstias. “Esse é um assunto delicado, que merece uma discussão aprofundada. A Prefeitura baixou um decreto (nº 10.163, publicado em março passado) regulamentando a readaptação. O sindicato está estudando o documento, enquanto aguarda o agendamento de reunião com as secretarias de Educação e de Administração e Recursos Humanos para esclarecer alguns pontos e questionar outros, como a manutenção de benefícios e rendimentos. O encontro deve acontecer quando as aulas forem retomadas.” O segundo semestre letivo da rede municipal começa amanhã.

Indisciplina e violência são fatores de estresse

Na análise do quadro de moléstias que mais frequentemente acometem os professores da rede municipal, chama a atenção a incidência de transtornos mentais e comportamentais. Conforme dados da Subsecretaria de Pessoas, ligada à Secretaria de Administração e Recursos Humanos, 12,28% do total de professores afastados contraíram moléstias desta natureza. Comprometimentos no sistema nervoso e doenças traumáticas somam 8,06% dos afastamentos. Já as doenças do aparelho respiratório chegam a 13,43%.

“Estresse e depressão por causas variadas, relacionadas à escola e à vida pessoal do docente, estão entre os problemas mais comuns”, observa a secretária de Educação, Eleuza Barboza. Segundo ela, a indisciplina, a violência e o fracasso escolar dos alunos, que, muitas vezes, são percebidos como fracasso do próprio profissional, figuram entre os fatores mais recorrentes quando se trata de adoecimento psíquico. “Também recebemos muitos relatos de conflitos no ambiente escolar. São desentendimentos do professor com diretores, outros docentes, alunos, funcionários e família de estudantes. Nestes casos, colocamos os envolvidos na mesa e tentamos mediar as situações. Se não há acordo, podemos transferir o docente de escola.” Já na análise das causas físicas de adoecimento, destacam-se problemas relacionados ao aparelho respiratório e doenças osteomusculares. “O sindicato defende a avaliação ergométrica de todas as escolas da rede para verificarmos as condições de barulho, ventilação e iluminação, entre outros itens. A partir desta análise, será possível estudar intervenções que melhorem as condições de trabalho do professor, reduzindo o adoecimento”, informa Fátima.

Docentes reclamam de funções adicionais

Aos 42 anos, 25 dos quais dedicados à educação, a professora R. está aposentada precocemente. Formada em letras e matemática, ela iniciou a carreira lecionando para turmas de pré-escola, dedicando-se, em seguida, às séries finais do ensino médio. Em dezembro de 2005, foi submetida a uma cirurgia para retirada de nódulo nas cordas vocais e recebeu a informação de que não poderia mais lecionar. “Fui encaminhada para readaptação em 2006. Recebi uma função administrativa na sede da Secretaria de Educação. Questionei, não queria ficar lá. Foi inútil. Tive dificuldade de adaptação e acabei desenvolvendo problemas na coluna. Por fim, entrei em depressão. Meu sentimento era de que não servia mais para nada.”

Atualmente, R. dedica parte de seu tempo à fisioterapia, já que as dores continuam. Ao mesmo tempo, ela questiona o não reconhecimento de nexo causal do segundo adoecimento com sua readaptação, o que inviabilizou a aposentadoria integral. A docente observa que a categoria vê crescer suas responsabilidades, porém, sente falta de mais respeito e de apoio. “Com o passar dos anos, o professor vem assumindo papéis que extrapolam os seus. Não somos mais só professores, somos pais, psicólogos, assistentes sociais e, muitas vezes, até mesmo assistentes financeiros.” R. se queixa de que o sobreesforço não nem sempre é reconhecido e quase nunca é remunerado. “Se as escolas tivessem equipes multidisciplinares com psicólogos, assistentes sociais e outros haveria redução na sobrecarga dos professores”, defende a coordenadora do Sinpro, Fátima Barcellos.

Fonte: http://www.tribunademinas.com.br/geral/geral10.php

Um comentário:

  1. Isso é chocante. A sociedade precisa saber das condições de trabalho a que somos submetidos. Muitos professores se eximem da responsabilidade da luta por melhores condições de trabalho e salário porque pensam que nada disso acontecerá com eles. São inexperientes demais para perceber que as condições a que somos expostos são desgastantes demais para o físico e para o mental.

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