sábado, 14 de agosto de 2010

DESAFIO NA EDUCAÇÃO [Notícias]

Professor se prepara para enfrentar violência

Jacqueline Silva, repórter - Juiz de Fora, 14 ago. 2010

Cento e vinte professores de 30 escolas da rede municipal de ensino iniciaram, nesta semana, um treinamento para desenvolver habilidades que os ajudem a lidar com a violência nas escolas. Este é o segundo ciclo do programa, que, diante da demanda crescente, já tem outra turma formada, com previsão de início em 2011. O objetivo é evitar que a situação fuja ao controle, já que a indisciplina, o vandalismo, a agressão física e verbal são apontados como alguns dos principais entraves da educação. O problema está relacionado com o adoecimento e o afastamento de professores das salas de aula e com o agravamento das dificuldades de aprendizagem. Episódios recentes - e recorrentes - de agressão a educadores e de brigas entre estudantes deixam claro que o quadro interfere negativamente na rotina do ensino. Desenvolvido pela ONG ProJuventude, em parceria com a Secretaria de Educação, o programa “Redução de violência na escolas” tem como proposta melhorar a qualidade das relações entre profissionais, estudantes e demais integrantes da comunidade escolar, o que acaba por refletir em benefícios também na convivência familiar e social.

“A escola está assumindo novos papéis; já não é apenas o espaço para transmissão de conhecimentos. Cada vez mais, os educadores são demandados nas áreas de psicologia e de assistência social. O ideal seria que cada colégio tivesse profissionais nestas especialidades, mas, enquanto isso não é possível, este tipo de capacitação nos ajuda a saber como agir em situações de conflito.” avalia Adriana Carapinha, diretora da Escola Municipal Engenheiro André Rebouças, no Milho Branco, Zona Norte. Ela e outros 13 profissionais do colégio participaram do primeiro ciclo do curso no primeiro semestre. Conforme Adriana, uma abordagem desastrada durante um episódio de conflito pode agravar o estresse, e piorar a situação. “Atitudes extremadas são perigosas, mesmo quando a punição é necessária”, diz a diretora, que, nesta semana, precisou suspender um estudante que agrediu fisicamente um colega.

Coordenadora executiva da ONG, a psicóloga Cláudia Stumpf explica que as ferramentas oferecidas no programa, denominado Técnicas de Prevenção e Intervenção em Conflitos, ajudam a evitar novos incidentes. “A metodologia possui componentes sociais, pedagógicos e psicológicos. Além da parte teórica, oferece estudo de casos e simulações. A principal estratégia proposta é a intervenção verbal. Os profissionais se tornam capazes não somente de quebrar situações de estresse, como também de melhorar a autoestima e a autonomia dos estudantes.” Ela observa que quando o docente não tem habilidade para lidar com os conflitos, sente-se fragilizado. “A tendência é pedir desligamento do trabalho ou adoecer.” Em matéria publicada no dia 1º deste mês, a Tribuna destacou que quase 200 docentes da rede municipal de ensino estão afastados das salas de aulas, em caráter definitivo ou por períodos superiores a dois anos, devido ao adoecimento físico ou psicológico. Somente no primeiro semestre deste ano, 23 foram encaminhados para funções administrativas dentro ou fora do colégio.

Síndrome sinaliza exaustão de educadores

As dificuldades enfrentadas diariamente pelos professores dentro das escolas têm refletido no aumento dos casos da Síndrome de Burnout na categoria. A doença se caracteriza pelo esgotamento causado por situações relacionadas às atividades profissionais. O termo, que tem origem inglesa: burn = queimar e out = exterior, sugere que o portador deste tipo de estresse consome-se física e emocionalmente. “Ocorre uma espécie de desistência profissional, a pessoa não aguenta mais manter sua rotina de trabalho”, explica a gestora educacional Laís Gouveia Pires. Em sua pesquisa de doutorado, desenvolvida na Universidad Pablo de Olavide, na Espanha, ela estuda o acometimento dos professores de Juiz de Fora. Em fase inicial, o estudo ainda não aponta números ou detalhes.

No entanto, Laís informa que já identificou fatores que, somados, podem desencadear a síndrome. “A primeira causa é desvalorização profissional, tanto na questão financeira quanto no que se refere ao respeito e reconhecimento. Condições adversas no ambiente de trabalho e falta de recursos para exercer a função também contribuem para o adoecimento. O professor nem sempre tem acesso a computador em casa, nem tem tempo para ir a uma lan house, já que trabalha em período integral. Não dá mais para atingir o aluno apenas com quadro e giz.”

Conforme a pesquisadora, o cansaço físico é o primeiro sintoma e abre caminho para o estresse. “Começa com a frase: ‘ah, não estou com vontade de trabalhar’. Paralelamente, ocorre a somatização. A pessoa sente dores de cabeça, tensão muscular. Há um comprometimento emocional, que deixa o professor mais nervoso ou ‘de cara fechada’. Depois, ele não consegue mais criar, desenvolver seu trabalho, ainda que tenha competência para isso. Por fim, não vê sentido no que faz, fica completamente desmotivado.”

Quadros de tristeza e depressão podem surgir, associados a outras doenças, como a síndrome do pânico. “Logo no início das manifestações, o paciente deve buscar ajuda na área médica, seja com um psiquiatra ou outro especialista, que vai encaminhar o tratamento.” Laís avalia que, para vencer a síndrome, o profissional deve se tratar na parte emocional, cognitiva, física e espiritual.


Fonte: http://www.tribunademinas.com.br/login/logar.php

Um comentário:

  1. Apoio a iniciativa deste curso, entretanto o mesmo deve ser encarado como ação emergencial, e não definitiva para a solução do problema, pois a transferência para os docentes de responsabilidades que cabem a outros profissionais é preocupante. A sobrecarga em cima dos docentes, já atingiu a capacidade máxima e como a violência é mais um fator que agrava o estresse levando à sindrome de Bournout.

    A legislação que regulamenta as instituições de educação, prevê a presença de psicólogos, entretanto a lei nem sempre é cumprida. Essa é mais uma questão a ser incluída na luta dos docentes. Não podemos compactuar com essa medida anti-ética colaborando com a prática mesquinha das autoridades que estão economizando na contratação de profissionais, enquanto gastam milhões com as multinacionais do setor de educação em projetos mirabolantes.

    Lembrem-se que o dinheiro economizado não vai parar no contra-cheque do professor, o trabalho e a responsabilidade aumentam prejudicando o trabalho para o qual fomos contratados.

    Já é tempo de dar um basta na exploração.

    Graça Aguiar

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