domingo, 1 de agosto de 2010

NOTÍCIAS...

Caminho livre para a excelência

Por MARIA LUISA BARROS - 31 jul. 2010

Rio - Poucos se lembram do placar dos jogos no torneio de futsal que reuniu, em maio, pela primeira vez no alto do Morro do Cantagalo, em Ipanema, crianças e jovens de sete favelas recém-pacificadas no Rio, que até há bem pouco tempo eram dominadas por bandidos de facções rivais. Mas todos se lembrarão durante muito tempo da sensação de liberdade que tiveram naquele dia. “A disputa do troféu foi o que menos importou. O maior prêmio que esses meninos levaram para casa foi o direito de ser criança e poder conviver uns com os outros”, avalia a capitã Rosana Alves dos Santos, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Ladeira dos Tabajaras e do Morro dos Cabritos, em Copacabana.

Dominados o terror e a violência outrora impostos pelo tráfico nessas comunidades, escolas e poder público têm agora longo caminho a percorrer para garantir a formação de qualidade e a inserção de milhares de jovens no mercado de trabalho através da pacificação. Para especialistas, o maior desafio é reduzir os índices alarmantes de evasão.No Rio, segundo estado mais rico do País, 53,3% dos jovens desistem dos estudos antes de colocar a mão no diploma. Só 10% aprendem o que deveriam em Matemática no último ano do Ensino Médio, segundo dados do Movimento Todos Pela Educação, que acompanha as cinco metas para educação de qualidade até 2022, ano do Bicentenário da Independência do Brasil.

Para chegar lá, é preciso que todos entre 4 e 17 anos estejam na escola; que as crianças sejam alfabetizadas aos 8 anos; que cada aluno aprenda o conteúdo da sua série; que todos concluam o Ensino Médio aos 19 anos; e que os investimentos em Educação sejam ampliados e bem geridos. Na opinião de Mozart Neves Ramos, presidente do Todos Pela Educação, a mudança só se dará pela valorização do processo pedagógico e da gestão da escola. “Você pode colocar excelentes jogadores, mas, se o campo estiver ruim, não vai ter jogo. Com a pacificação, você dá um gramado verdinho para bons atletas. O jogo vai ser bonito”, compara Mozart.

O bom resultado das escolas em áreas pacificadas provou que melhorar é possível. A superação e o desempenho apontam, no entanto, para nova batalha: não basta mais alfabetizar, é preciso agora oferecer o futuro. Secretária municipal de Educação, Cláudia Costin diz que será preciso ampliar as escolas em horário integral e oferecer rede de proteção aos alunos com assistentes sociais, médicos e fonoaudiólogos, como já é feito nas 150 Escolas do Amanhã, aquelas localizadas em áreas conflagradas. “Assim é possível identificar deficiências no aprendizado”, diz. Os alunos de 10 escolas municipais em favelas pacificadas já fizeram sua lista de exigências, através do questionário aplicado por O DIA: escolas técnicas, Internet gratuita, pré-vestibular, faculdades, quartel dos bombeiros e até uma fábrica de chocolate. O futebol, em maio, foi vencido pelo time do Pavão-Pavãozinho-Cantagalo. Mas, no torneio da Educação, já são mais de 41 mil alunos que estão ganhando.

Depoimento

"Todas essas crianças viviam sob o jugo de facções criminosas. Com a pacificação das comunidades onde moram, o círculo perverso do tráfico de drogas foi rompido. A disputa de troféu em torneio de futebol como esse é o que menos importa. O maior prêmio é a liberdade de voltar a ser criança, ganhando, perdendo, mas respeitando os outros. Podemos criar uma Olimpíada das UPPs, que sirva de intercâmbio sem fronteiras pela paz." Capitã Rosana, comandante de UPP.

5 minutos: Ângela Paiva, socióloga da PUC-Rio

"A cidade precisa entrar na favela"

Vencido o desafio de garantir segurança, a socióloga Ângela Paiva fala sobre os próximos passos que família, escola e Estado devem dar.

1- Que investimentos devem ser feitos?

O Estado tem que estar presente com programas de saúde, lazer e cultura para que as crianças possam crescer e se descobrir como cidadãs.

2- Qual o papel da escola?

A escola tem que ter uma relação de confiança e afeto, mas não podem substituir os pais nem abrir mão do ensino de qualidade.

3- E da família?

Precisam ser parceiros da escola. Quando a família ajuda, o desempenho é bem melhor.

4- Como evitar o abandono?

A evasão passa pela falta de sentido da escola, que precisa despertar o interesse do aluno.

5- E qual a maior dificuldade?

É fazer a inclusão social entre favela e asfalto. O resto da cidade precisa entrar na favela e as crianças de lá têm que ultrapassar a linha invisível que separa os dois mundos. Tem estudantes em escolas na Barra da Tijuca que não vão à praia ou ao shopping, como se fosse proibido.

Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/educacao/

Nenhum comentário:

Postar um comentário