quarta-feira, 4 de agosto de 2010

APRENDENDO A SER HUMANO NA ESCOLA

Por Lúcio Alves de Barros*

Uma criança, de aproximadamente 10 anos, amiga do garoto Wesley Guilber de Andrade, 11 anos, o qual foi vítima de uma bala perdida que encontrou o seu corpo, afirmou para uma repórter da CBN a maravilhosa lição que aprendeu após o acontecimento como seu amigo. Perguntada o que faria em caso de tiroteio próximo à escola ela disse: “eu devo deitar”. Mas por quê? "Para não perder a vida". Bela lição aprendida em meio à fatalidade, o desconforto e o mal-estar após o enterro do seu amigo. O aprendizado da jovem estudante veio acompanhado da determinação da diretora de fechar as salas que estão voltadas para o aglomerado urbano. Tempos difíceis estes nos quais as escolas parecem trincheiras com pequenos infantes lotados em infantarias desarmadas esperando o combate de uma “guerra” travada entre o Estado e os meliantes associados ao tráfico de drogas.

Perde a infância. Perdem os professores. Perde a cidadania, o direito de ir e vir e da segurança garantida por impostos. Também perdem os policiais, por conseqüência os meliantes e a comunidade, pois não acredito que as partes tenham se beneficiado da morte de um garoto de 11 anos. No campo da criminalidade violenta dificilmente teremos ganhadores. Por natureza, trata-se de uma violência que não se tem controle, medidas, tampouco a possibilidade de previsão. Ela acontece e pronto. E qual o problema de ser na parte da manhã, próximo a uma escola? Para os participantes, nenhuma. Para os que não participaram da famigerada operação, qual o problema morrer uma criança baleada nas costas, uma escola alvejada por projéteis de fuzis 762 e professores e alunos cheios de medo?

Na esfera do tudo ou nada é lamentável o aprendizado da criança que deveria estar em uma instituição de formação, informação, liberdade, segurança, respeito e desenvolvimento de sua alteridade. Infelizmente, na escola ela está encontrando e aprendendo como se comportar em um ambiente de combate, medo, violência sem grandes explicações e na presença do Estado duro e seco que aparece depois com vozes de desculpas e falsa compaixão. Chegará o momento em que vamos perguntar ao estudante o que ele aprendeu de fato em tempos de paz. E ele responderá: “aprendi que é necessário ser humano. Melhorar a cada dia, ser gente, respeitar o outro e que todos somos iguais perante a lei. Não importa se sou negro, pobre ou jovem, mas simplesmente serei respeitado por ser humano: pequeno em estatura, jovem na idade, mas cheio de criatividade, vontade de aprender, brincar, descobrir, contar novidades para meus amigos e amar os meus pais”.


* é professor da Faculdade de Educação da UEMG. Autor do livro, Fordismo: origens e metamorfoses. Piracicaba, SP: Ed. UNIMEP, 2005 e organizador das obras, Polícia em Movimento. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006 e Mulher, política e sociedade. Belo Horizonte / Brumadinho: Ed. ASA, 2009.

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