domingo, 25 de julho de 2010

PESQUISA [Notícias]

62% das crianças correm risco online

ANDRÉA CASTELLO BRANCO, Jornal OTEMPO em 25 jul. 2010

Laura Gontijo, 12, estava no MSN quando um desconhecido a chamou no bate-papo. Perguntou como ela era, onde morava e outras informações bastante pessoais. Já prevenida pela mãe, a garota chamou um tio e contou o que estava acontecendo. Bastou o adulto intervir e ameaçar chamar a polícia para que o intruso desaparecesse imediatamente. O que Laura viveu é semelhante ao que acontece com 62% das crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos, como aponta o Norton Online Family Report 2010.

O estudo foi realizado com 2.800 crianças em 14 países, incluindo o Brasil, e abordou os hábitos e riscos que crianças e adolescentes têm na vida online. Também foram ouvidos 7.066 adultos para uma avaliação sobre o comportamento dos pais, levando em conta o controle, os temores e o nível de acompanhamento dos filhos. Sobre esse aspecto, a pesquisa trouxe uma boa notícia: os pais estão mais bem informados sobre o tempo que os filhos passam diante do computador. No levantamento feito em 2008, as crianças reportaram ficar dez vezes mais tempo online do que os pais supunham. Neste ano, pais e filhos estimaram o mesmo tempo de permanência na internet - no Brasil, uma média de 18 horas por semana. Em outros países, de 11,4 horas semanais.

Apesar de ter uma melhor noção do tempo, ainda é difícil para pais e mães controlarem o conteúdo a que os filhos têm acesso e perceberem quando algo ruim está acontecendo. Cinquenta e cinco por cento dos entrevistados afirmaram não saber se as experiências que os filhos têm na web são positivas ou negativas. Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependentes da Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), explica que, à medida que os casos de pedofilia e bullying eletrônico são divulgados, é natural os pais ficarem mais atentos ao computador. Contudo, o limite ainda está longe do ideal. "É grande o número de pais que trabalham fora, e o computador acaba virando uma grande babá. Quando pedimos aos pais para reduzirem o tempo do filho no computador, eles respondem da mesma forma: `se eu retirar a internet, o que ele vai fazer?´. Isso ainda não conseguimos resolver".

Controlar o tempo também não basta para proteger crianças e adolescentes, diz Nabuco. Para ele, o principal problema é a desinformação sobre os riscos a que crianças e adolescentes estão expostos. "Os pais até têm consciência, mas não sabem como lidar". E aconselha: "Eles deveriam ser mais presentes e, da mesma forma que perguntam com quem o filho vai sair, quem são seus amigos na escola, se interessarem, genuinamente, em saber com quem a filha está teclando. Não com o espírito de vigiar, mas porque a maior parte das relações se estabelece primeiro no ambiente virtual. Isso diminuiria a vulnerabilidade".

Preocupação: Cristina Muradas é mãe de Daniela, 16, e Felipe, 12, e tenta acompanhar a vida online dos filhos. Para conseguir isso, definiu a sala como local para instalar o computador. "Ele fica com a tela virada para quem entra, então, todo mundo vê o que está sendo acessado", conta.

Cristina também aproveita os momentos que está por perto para conhecer os amigos virtuais e conversar sobre segurança. "Às vezes, quando entro na sala, eles mudam de página. Mas aí eu peço para eles voltarem. Quero ver. Quero saber de onde eles conhecem aquela pessoa com quem estão conversando", diz. Fabiana Gontijo é mãe de Laura, a garota do início da matéria, e diz que, mesmo antes de a filha ter tido o MSN invadido por uma pessoa que ela não adicionou como amigo, ela se preocupa com riscos inerentes ao ambiente virtual. Ela tem filtros instalados no seu computador, mas acredita mesmo é no diálogo como a melhor forma de proteger a filha de abusos virtuais. "O que vem em primeiro lugar é conversar muito. Toda vez que ela está no MSN, chego e pergunto quem é. E não é para controlar, mas porque realmente quero saber com quem ela se relaciona", diz. Sobre a reação de Laura quando um estranho tentou se aproximar, ela diz que a filha sempre foi bem orientada. "Curiosidade toda criança, todo adolescente tem, mas a Laura é uma menina comedida. Sempre orientei muito sobre os riscos e os cuidados que ela deve ter. Por isso, ela percebeu a ameaça e chamou meu irmão", diz Fabiana.

No topo - Brasileiros são os que ficam mais tempo conectados

O tempo que crianças e adolescentes passam conectados aumentou no mundo todo, 10% em comparação com os dados da mesma pesquisa realizada em 2009, chegando a um total de 11.4 horas por semana. Mas são as crianças brasileiras as que mais ficam online, passando em média 18,3 horas por semana na internet. Para se ter ideia, no Japão, os jovens gastam 5,6 horas por semana na rede. Para o psicanalista Cristiano Nabuco, coordenador do grupo de viciados em internet do HC/USP, é difícil discernir quando o uso é recreativo e quando está beirando o abusivo. "Esse é o ponto complicado porque essa geração que nasceu entre 1990 e 2000 é a geração digital, são jovens que nasceram sob a realidade de estarem conectados o tempo todo. A perspectiva tecnológica dá a eles características muito distintas", diz.

Mas o especialista afirma que é preciso reduzir o número de horas porque, do ponto de vista neurológico, é importante ter experiências na vida real. "No virtual, os jovens criam uma personalidade que não coaduna com o que eles são na vida real. E nosso cérebro tem dificuldade de discernir a experiência vivida e aquela imaginada. Quando o adolescente passa cronicamente a viver a vida imaginada, temos um problema, o elemento perigoso, o grande ópio". Segundo o especialista, a criança ou adolescente nessa situação deixa de desenvolver a tolerância à frustração, a capacidade de mudar o que não está bem no entorno. "O exercício do ser social fica muito capenga porque as bases de relacionamento são inexistentes", diz Cristiano Nabuco. (ACB)

Entre os entrevistados, 68% disseram que não são adeptos do assédio e do bullying na rede.

Assédio e bullying não são comuns entre jovens usuários

Um dos dados mais positivos do Norton Online Family Report 2010 revela que a maioria das crianças tem se comportado bem no mundo online. Seis em dez entrevistados (68%) afirmam que não assediam ou perseguem outras pessoas online e evitam transmitir fotos ou posts embaraçosos de outras pessoas. Mais da metade não faria ou diria algo online que não faria ou diria off-line, isto é, na vida real. E 67% contariam aos pais se estivessem sendo intimidados. Para o psicanalista Cristiano Nabuco, o dado reflete bem o que acontece no mundo real. "As pessoas que cometem bullying na vida real serão as mesmas que vão constranger as pessoas na internet. Não acredito que a internet aumente o potencial de agressão. Claro que a rede é um espaço que permite uma liberdade muito maior, mas ela não é culpada pelos crimes virtuais cometidos ali", opina. (ACB)

Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=146793,OTE

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