domingo, 19 de junho de 2011

Marchas e polêmica desfilam pela capital neste sábado

Valquiria Lopes *

Dois movimentos de protesto prometem tomar ruas do Centro de Belo Horizonte neste sábado. Pela manhã, ativistas ligadas a diferentes causas, como a luta contra o racismo, a homofobia e a violência, vão se reunir para o Mutirão Marcha da Liberdade. A concentração será às 9h, debaixo do Viaduto Santa Tereza. Às 13h, a Praça da Rodoviária recebe manifestantes para a Slut Walk ou “Marcha das Vagabundas”, como foi batizada no Brasil. O movimento, que seguirá para a Praça da Estação e depois para a Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, já tinha mais de 3 mil presenças confirmadas, no fim da tarde dessa sexta-feira, na rede social Facebook.

Inspirada no ato realizado em abril deste ano em Toronto, no Canadá, a Marcha das Vagabundas é uma resposta ao depoimento de um policial em uma universidade de direito da cidade canadense. Ele teria afirmado que as estudantes deveriam evitar se vestir como “vadias” para não serem vítimas de assédio sexual. As alunas então resolveram protestar contra a declaração e se reuniram na primeira marcha, com participação de cerca de 3 mil pessoas, em Toronto. A partir daí o movimento se espalhou. Em 4 de junho, ocorreu nas cidades de Boston (EUA), Los Angeles (EUA), Chicago (EUA), Edmonton (Canadá), Edinburgo (Escócia), Estocolmo (Suécia), Amsterdã (Holanda), Copenhagen (Dinamarca) e Camberra (Austrália). No mesmo dia, cerca de 300 pessoas tomaram a Avenida Paulista, em São Paulo, com cartazes com frases como “Meu corpo, minhas regras”, “Ensine os homens a respeitar, não as mulheres a temer”.

Em Belo Horizonte, o evento partiu de estudantes e foi apoiado por organizações de proteção às mulheres e movimentos feministas. De acordo com uma das organizadoras da marcha na capital, a advogada e integrante do movimento feminista Marcha Mundial das Mulheres Thaís Ferreira de Souza, de 23 anos, o ato será realizado em solidariedade a todas as mulheres que já foram vítimas de violência. “O movimento pretende tirar a responsabilidade da pessoa que foi vítima de abuso. Não é a roupa que ela usa que gera a violência”, disse.

A marcha, segundo a advogada, abre ainda a discussão para o fato de as mulheres serem frequentemente mostradas em campanhas publicitárias com roupas insinuantes. “É uma oportunidade para denunciar a lógica de mercado, que transforma o corpo da mulher em um produto”, afirma Thaís. Performances estão programadas para o trajeto. De acordo com advogada, as pessoas podem ir vestidas como quiserem. “Não é necessário que usem roupas provocantes”, disse. Na avaliação da professora do curso de comunicação social da UFMG Mirian Chrystus, militante da causa feminista há quase 40 anos, “o movimento vem a calhar nos dias de hoje, em que ainda são registrados muitos casos de violência contra a mulher. “É uma espécie de ato suplementar, que causa impacto, incompreensão, mas que, ao longo do tempo, tende a provocar um rearranjo para mudança de postura e de maior respeito à condição feminina”, analisa. Segundo ela, é preciso dissociar da violência contra a mulher o frequente questionamento sobre o lugar onde a vítima estava, a roupa que usava, se ela provocou o homem. “Isso gera uma mudança de foco. De vítima, ela vira culpada”, afirma.

Marcha da liberdade


Depois de sair da Praça da Rodoviária, a Marcha das Vagabundas vai se unir à Marcha da Liberdade. Para esse evento, foram convidadas pessoas de vários setores da sociedade que lutam em defesa de alguma causa. No Facebook, o movimento convoca artistas, atores, circenses, músicos, artesãos, grafiteiros, produtores, advogados, arquitetos, médicos, astrólogos, professores, estudantes, garçons, moradores de rua e desocupados, entre outros grupos.

* Publicado no EM.com em 18/06/2011

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