por Pedro Dantas - 5 maio 2011
Às vésperas de o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, completar um mês, mães de alunos reclamam da falta de aulas e do precário atendimento psicológico oferecido pela prefeitura. "Os assistentes sociais e psicólogos sumiram. Os pais que não podem pedir transferência já aceitam que o ano letivo foi perdido. Até agora nada de aulas. Levaram as crianças para passear e até trouxeram equipe de funk, mas não falaram nada sobre a retomada do estudo", disse Eliane Ferreira, de 26 anos, mãe de dois adolescentes que presenciaram o ataque. Seus dois filhos foram atendidos por psicólogos apenas uma vez e já foram dispensados de sessões futuras.
A demanda é grande. Segundo psicólogos de uma das clínicas credenciadas para acompanhar os alunos, 200 pessoas, entre alunos e parentes, aguardam o agendamento para as consultas. A prioridade agora é o atendimento de 50 casos de transtorno do estresse pós-traumático, depressão e picos de pressão envolvendo os feridos e parentes das crianças mortas. Alguns destes atendimentos são feitos a domicílio.
Mesmo entre os feridos, o atendimento não foi tão rápido. Carlos Matheus, de 13 anos, ferido no braço e de raspão no peito, só teve sua primeira consulta com uma psicóloga hoje. A sessão durou uma hora e meia. "Acho vai funcionar", disse a mãe, Carla Vilhena. "Ele sempre foi alegre, agitado. Agora quer ficar deitado, não quer muita conversa." Mesmo traumatizado, Carlos pediu à mãe para continuar na escola. Durante toda esta semana, os alunos da Tasso da Silveira assistiram gratuitamente ao filme Rio, em uma promoção do shopping Sulacap, na zona oeste. A sessão de cinema foi tranquila, mas nem sempre os planos de diversão funcionam. Na terça-feira, o som da equipe de funk Furacão 2000 assustou uma aluna. "A menina chegava na escola com o pai e saiu correndo quando ouviu as batidas da música e a gritaria das crianças", contou Eliane.
As mães também reclamaram de outro passeio. Os 50 alunos das salas onde o atirador matou 12 estudantes visitaram o Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, na zona sul. Os alunos do 7º e 8º ano foram ao museu de armas utilizadas pelos soldados na 2ª Guerra Mundial. "Ela já passou por um trauma e ainda levam a menina para ver uma coisa desta?", questionou a empregada doméstica Maria Valéria Barbosa de Faria, de 38 anos. Outras mães são ponderadas nas críticas. "Tudo ainda é muito recente. Algumas mães não entendem que devem procurar os psicólogos na escola e, se for o caso, levar os filhos para as clínicas. Os psicólogos recomendaram os passeios para que as crianças esqueçam, mas algumas mães reclamam. Elas acham que estudar é o melhor para superar", afirmou a vendedora Elizabete Gomes do Nascimento, de 32 anos. Ela diz que o filho Matheus, de 10 anos, tornou-se mais agressivo depois do massacre, mas está sob atendimento psicológico e vem melhorando.
Secretaria
A secretária municipal de Educação, Claudia Costin, esteve hoje na escola para uma reunião com pais e psicólogos. Segundo ela, os passeios com os alunos foram recomendados pelos psicólogos para que as crianças superassem a tragédia e já acabaram. Hoje, algumas turmas, inclusive a 1803, onde três crianças foram mortas, saíram mais cedo. A justificativa foi de que a professora de português acompanhou os alunos na sessão do filme Rio.
Segundo a Secretaria, desde o dia da tragédia, 15 psicólogos já atenderam mais de 380 pessoas, entre elas alunos, professores e familiares envolvidos. Cento e dez atendimentos foram individuais de alunos. Ainda de acordo com a Secretaria, toda a comunidade escolar que solicitar atendimento psicológico será atendida.
Fonte: O Estadão.com
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