segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Para educadores, mudar sistema não garante qualidade

14 de fevereiro de 2011

A maneira como a recomendação do CNE será implementada em todo o Brasil preocupa educadores. Coordenadora do mestrado em Educação da UniRio, Claudia Fernandes acredita que o sistema de ciclo é um avanço do ponto de vista pedagógico, mas que só mudar o sistema não garante qualidade na Educação:

- A Escola seriada ainda é a dos séculos XVIII e XIX, quando se acreditava que todos aprendiam no mesmo tempo; então, mudar é importante. No entanto, o sistema de ciclos tem sido usado para melhorar o fluxo, para que as crianças deixem de ocupar vagas nas séries, quando deveria garantir ensino de qualidade.

De acordo com Claudia, não basta que o CNE recomende a não reprovação:

- Tem que dar contrapartida. Os professores, por exemplo, deviam ter a chance de ser mais bem formados e as Escolas teriam que se reorganizar para trabalhar com o novo modelo. Do jeito que é feito, o aluno vai contar com a sorte, quando a qualidade devia ser para todos. Se nada mudar, ficará como está. As crianças que não aprendem com o sistema seriado, também não aprenderão no sistema de ciclo. É uma perversidade deixar ir para a Escola e não ensinar.

Sistema de ciclos não pode encobrir problemas

Para Andrea Fetzner, também professora de pós-graduação em Educação na UniRio, o sistema de ciclos pode ser considerado ruim quando usado como solução para o que o governo não consegue resolver:

- O gestor público não oferece recursos, não reformula o currículo, mesmo com a velocidade com que as coisas mudam no mundo contemporâneo, não dá espaço para o professorplanejar aulas coletivamente e aí o problema vira a não reprovação. O sistema de ciclos é problemático quando encobre falta de gestão, quando é usado para não melhorar aEducação. Falta de qualidade é responsabilidade dos gestores. No entanto, não podemos esquecer que reprovar os alunos nas condições oferecidas não é justo.

Presidente do Sindicato dos professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeosp), Maria Izabel Azevedo Noronha teme que a "exclusão seja apenas postergada" com a implantação do ciclo de alfabetização:

- A sociedade avalia as pessoas. Se o ciclo for aplicado em todo o país e não houver avaliação continuada para rever o projeto pedagógico, se as Escolas não oferecerem aulas extras para quem tem mais dificuldade, a chance de o estudante ser reprovado no quarto ano é grande. É uma exclusão postergada, uma passagem vã pela sala de aula.
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Fonte: O Globo (RJ)

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