Mariana Nicodemus - Repórter
Cerca de 450 alunos dos ensinos fundamental e médio da Escola Estadual Cândido Motta Filho, no Bairro São Benedito, estão sem aulas desde ontem, por tempo indeterminado. Duas semanas após o início do ano letivo, professores e funcionários da unidade decidiram que não é possível manter as atividades diante do quadro que, segundo eles, está instalado pela falta de direção e de materiais básicos, como papel, caneta para quadro e gás para o preparo da merenda. Com a diretora afastada por licença médica pelo menos até a segunda quinzena de março, a Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora alega que existem impedimentos ao gerenciamento da verba destinada à unidade, que não possui vice-diretor.
Na tarde de ontem, uma denúncia assinada por 180 integrantes da comunidade escolar, entre professores, funcionários e pais de alunos, foi entregue à diretora da SRE em exercício, Maura Couto Gaio. O documento, que será anexado a um relatório de organização e funcionamento da escola encaminhado à Secretaria de Estado de Educação, pede o afastamento da atual direção, a contratação imediata de servidores para recomposição de quadro, o detalhamento da situação financeira da unidade, a constituição de um colegiado escolar e a garantia de recursos mínimos para que a Cândido Motta Filho possa funcionar. Os professores garantem que não voltarão a lecionar até que os problemas sejam resolvidos. "Não há condições mínimas para que as aulas aconteçam, então só retornaremos quando nos for apresentada uma solução", enfatiza a professora Priscilla Menegati Vaccarini.
A supervisora pedagógica da escola, Ciléia Helena Campos, afirma que os funcionários estariam contribuindo com o próprio dinheiro para a compra de insumos básicos, em uma tentativa de manter as atividades da escola. "Mas a situação chegou ao limite." Segundo os servidores afirmam no documento, a escola não possui computadores e máquina de xerox ou mimeógrafo para a confecção de avaliações, as instalações elétricas das salas de aula são precárias, a biblioteca está fechada e a quadra esportiva e os banheiros não têm condições mínimas para o uso. Ontem a Tribuna esteve na escola e constatou que os sanitários não possuem portas nas cabines individuais, descargas e nem torneiras. Também a arquibancada do pátio de esportes está tomada pelo mato, e a quadra acumula enormes poças de água, propícias ao desenvolvimento do mosquito transmissor da dengue.
A educadora social Fátima Leandra da Silva, mãe de um menino de 11 anos que frequenta o sexto ano do ensino fundamental, afirma que o filho está há duas semanas sem aulas. "É um absurdo. A escola é suja e não tem estrutura. Meu medo é que, sem aulas, essas crianças fiquem na rua." Pai de quatro filhos, entre 8 e 16 anos, matriculados na Cândido Motta Filho, o vidraceiro Luís Carlos Gomes teme que os problemas levem ao fechamento do colégio. "A solução não pode ser tirarmos nossos filhos daqui, mas lutar para que a escola permaneça em condições de oferecer educação adequada."
SRE busca insumos em outras escolas
Depois de quase duas horas de reunião com uma comissão formada por representantes dos professores, funcionários e pais de alunos, a diretora da SRE em exercício, Maura Couto Gaio, informou que encaminhará a denúncia entregue pelo grupo à Secretaria de Estado de Educação e aguardará orientações da pasta sobre as providências a serem tomadas quanto à falta de direção temporária na escola. Até que seja nomeado um vice-diretor, quem responde pela unidade é a supervisora pedagógica, Ciléia Helena Campos.
Quanto à estrutura deficiente e à falta de recursos, a diretora afirma que os problemas são administrativos. "A escola recebeu o termo de compromisso para manutenção e custeio no início do ano letivo, mas a aquisição e gerência dos materiais depende da assinatura da diretora", explica. "Existe verba. Mas, nesse momento, não há quem a gerencie." A lista de insumos necessários foi entregue à SRE, que tentará redistribuir o material estocado por outras escolas em benefício da Cândido Motta Filho, na tentativa de antecipar o reinício das atividades no colégio. Maura garante, ainda, que as aulas perdidas terão que ser repostas, sem prejuízo aos estudantes.
A diretora da subsede de Juiz de Fora do Sindicato Únicos dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE JF), Victória de Fátima, afirma que a entidade, junto à comunidade escolar do São Benedito, exigirá que a SRE tome as devidas providências para que a escola tenha condições de funcionar o quanto antes. "Essa cobrança acontece desde o ano passado. Já oficiamos a superintendência, solicitando esclarecimentos sobre os problemas, mas não recebemos resposta."
Fonte: http://www.tribunademinas.com.br/geral/geral30.php
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