sexta-feira, 12 de novembro de 2010

OPINIÃO


Caras (os) Colegas:

O recente episódio envolvendo a obra de Monteiro Lobato deixa patente a lógica de funcionamento da liberdade de imprensa em nosso país. Conforme vocês poderão avaliar a partir da leitura do texto do parecer emitido pelo Conselho Nacional de Educação; em momento algum faz-se menção à censura ou veto ao texto do escritor. A imprensa - leia-se Rede Globo - foi quem interpretou o parecer a partir de seus interesses mais imeditos e difundiu aos quatro cantos que o parecer propõe a censura à obra literária, alardeando que até mesmo haveria o recolhimento da obra das bibliotecas escolares.

A proposta do parecer alerta para a necessidade de recontextualização da obra e enfatiza a necessidade de se trabalhar a formação de professores para que a obra não seja vista como mais um veículo de reprodução e reforço de estereótipos que posicionam as pessoas negras na condição de subalternidade no complexo processo de desenvolvimento das relações raciais em nosso país. O que se sutenta no texto é que, da mesma forma que há na versão da obra analisada pelo Conselho Nacional de Educação alusões quanto à necessidade de preservar a "onça pintada" do extermínio, dado o avanço de nossa consciência ambiental, há que se fazer referência aos avanços trilhados pela sociedade, desde a Constituição até a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, alterada pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, no sentido de condenar a prática do racismo.

Percebe-se que esse exercício da "liberdade de imprensa", ao contrário do que se apregoa, atenta contra a consolidação de valores democráticos e é sintomático que essa interpretação midiática venha a tona justamente no mês em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, mobilizando a sociedade em torno de um fato que, a rigor, resulta de uma ficção cuja intenção está muito distante de reconhecer o valor positivo da diversidade étnico-racial brasileira.

José Eustáquio de Brito - Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação e Relações Étnico-Raciais da FaE/UEMG.

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