segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Dobra o número de agressões a professores nas escolas de BH

Nayara Menezes - Estado de Minas, 28 nov. 2010

Há 20 anos, quando começou a lecionar matemática para os alunos da rede pública de Belo Horizonte, Helena*, de 45 anos, pensava que sua maior dificuldade seria desvendar para os alunos as equações complicadas das ciências exatas. Hoje, ao relembrar o drama vivido no ano passado em sala de aula, ela sente saudades do tempo em que explicar fórmulas elaboradas era o maior desafio. Em um dia de aula como outro qualquer, Helena passou a integrar um contingente que cresce a cada dia, em um drama que a falta de números oficiais mal disfarça: o dos professores vítimas de violência. Apesar da escassez de dados, um dos poucos levantamentos feitos em Minas, pela Secretaria de Estado de Defesa Social com base em boletins de ocorrência gerados em Belo Horizonte, mostra que os episódios de agressão dobraram desde o ano passado em unidades da capital, qualquer que seja o ambiente escolar considerado. Apesar de assustador, o indicador não reflete a realidade, pois na maior parte dos casos os ataques não são denunciados à polícia.

Helena foi uma das vítimas dessa escalada. A educadora passava a matéria para os estudantes, quando foi surpreendida pela fúria de um aluno sob efeito de drogas. “Ele entrou na sala visivelmente alterado, gritando e derrubando tudo. Pedi calma e perguntei o que estava acontecendo e ele me respondeu com um chute. Caí no chão, bati a cabeça e me machuquei toda”, relembra. Colegas ainda tentaram conter o garoto, mas também foram agredidos. “Ele estava completamente fora de si; bateu também em três companheiros de classe”, recorda a professora, que ainda hoje guarda traumas do episódio. “Fiquei afastada por seis meses, tomando medicamento controlado.”


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Professora denuncia ataque de estudante em sala de aula

Helena é mais uma entre centenas de vítimas de um problema cada vez mais comum. Apesar disso, faltam estatísticas oficiais sobre o número de educadores agredidos no país. Nem mesmo o Ministério da Educação tem pesquisas sobre o assunto, situação que se repete na Secretaria de Estado de Educação de Minas (SEE-MG). Para os profissionais, falta interesse em resolver a questão. A presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE / MG), Beatriz da Silva Cerqueira, sustenta que a entidade é frequentemente acionada por vítimas de ameaça ou agressão, mas reclama que o poder público prefere “abafar os casos e tratá-los individualmente”.

“O que acontece, na maioria das vezes, é apenas uma suspensão do aluno, que posteriormente continua na escola, ameaçando aquele ou outro professor”, afirma Beatriz. Com Helena foi assim. Após seis meses de licença médica, ela foi transferida de escola. Já o estudante agressor, depois de uma semana suspenso, voltou às aulas. “A gente perde a saúde, o local onde gostamos de trabalhar, o convívio com os colegas, mas ele continua lá, dando problemas para outros professores”, queixa-se Helena. A mesma reclamação tem Antônia Alexandre Nogueira, professora do município de Cláudio, no Centro-Oeste mineiro, agredida este mês por um aluno. Depois de ter uma costela partida após um empurrão de um adolescente de 15 anos, a professora teme ser obrigada a encará-lo novamente. “A direção da escola quer que eu volte a dar aulas para ele, mas não tenho a menor condição”, desabafa.

Causas

Os motivos que levam a tanta violência em um ambiente onde, a princípio, deveriam imperar a paz e a harmonia são fonte de preocupações para especialistas. Para a pesquisadora Miriam Abramovay, coordenadora da área de juventude e políticas públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e autora de diversos livros sobre a violência nas escolas, situações como essas refletem o clima hostil entre alunos e professores que vigora em muitas escolas país afora. “Constatamos em nossos estudos que as relações interpessoais no ambiente acadêmico são muito tensas e conflituosas. Falta comunicação entre educadores e estudantes”, avalia . Já a socióloga Maria Helena Barbosa acredita que a escola é apenas o reflexo da sociedade. “Ao contrário do que as pessoas pensam, não somos um povo pacífico. A violência está a cada dia mais presente em todas as esferas da nossa sociedade. E a escola é só mais um dos espaços onde ela se manifesta”, avalia.

Questionada sobre o assunto, a Secretaria de Estado da Educação informou, por meio da assessoria de imprensa, que as agressões são fatos isolados, não representando a realidade da maioria das escolas do estado. Segundo a SEE, os episódios de violência são encaminhados às Superintendências Regionais de Educação, que têm autonomia para resolvê-los.

* Por medo de ser vítimas de mais violência, parte dos professores ouvidos nesta reportagem pediu para ter a identidade preservada. Por isso, foram usados nomes fictícios.

Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2010/11/17/interna_gerais,192841/professora-denuncia-ataque-de-estudante-em-sala-de-aula.shtml


E Mais...

Professora denuncia ataque de estudante em sala de aula

Paulo Henrique Lobato, 17 nov. 2010

O atrito entre um estudante de 15 anos e uma professora de 51 deixou a sala de aula e virou caso de polícia no município de Cláudio, no Centro-Oeste de Minas, a 183 quilômetros de Belo Horizonte. O adolescente, matriculado na 8ª série de uma escola estadual da cidade, é acusado de agredir Antônia Alexandre Nogueira, que leciona a disciplina de língua inglesa. O boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar informa que ela foi jogada ao chão e teve uma costela trincada, ficando com hematomas pelo corpo. A punição do menor foi uma advertência da instituição de ensino e uma suspensão que termina amanhã. O incidente ocorreu na sexta-feira.

“Aguardava, no fim da aula, junto à porta, o professor que lecionaria a disciplina no horário seguinte ao meu. O estudante tentou entrar na sala e não deixei, dizendo que ele deveria aguardar o educador. Então, ele forçou a entrada, empurrando a porta, que me acertou. Caí e bati em uma cadeira, trincando uma costela. A dor foi tanta que não consegui me levantar. Precisei da ajuda de um colega. Estou tomando remédios para aliviar o sofrimento”, disse a professora. Ela fez exame de corpo de delito na Santa Casa do município e acionou a Polícia Militar, que lavrou o boletim de ocorrência e encaminhou o caso para ser investigado pela Polícia Civil. A professora afirma que o estudante é problemático e que essa não é a primeira vez que ele causa tumulto na escola. Por mais de uma vez, acrescenta, o menor abaixou a calça diante das alunas.

“Ele mostrou a genitália na sala de aula e fora dela. Além do mais, tem o hábito de ridicularizar os colegas de classe por meio de apelidos. O dia em que ele vai à escola não fico sossegada. Não consigo lecionar direito. Sei que a PM já foi à casa do rapaz e conversou com os responsáveis. Quero que ele cumpra, para seu próprio bem, medida socioeducativa”, diz, revoltada, a educadora.

A Polícia Militar confirmou o registro da ocorrência e informou já ter encaminhado o assunto para ser esclarecido pela Civil. Já a diretora da escola, que prefere não se identificar, informou que o caso também chegou ao conhecimento do Conselho Tutelar do município. Ela, porém, prefere não emitir opinião sobre o episódio. Argumenta que o caso será tratado internamente, para preservar a boa imagem que a instituição de ensino conquistou no município.

Dentes quebrados

Esta não é a primeira ocorrência policial envolvendo estudante e professora neste mês. Há uma semana, uma coordenadora pedagógica de Porto Alegre (RS) denunciou um aluno de um curso técnico de enfermagem por tê-la agredido. A mulher teve os dois braços e cinco dentes quebrados.

O motivo da agressão seria a baixa nota tirada pelo aluno numa das disciplinas. Revoltado, o rapaz teria desferido vários socos na educadora, além de atacá-la com uma cadeira. A vítima desmaiou e foi socorrida por outros funcionários da escola, que se assustaram com a gritaria. O estudante poderá responder por tentativa de homicídio, segundo declarou à imprensa gaúcha o delegado que apura o caso.

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