sábado, 26 de novembro de 2011

Socorro! Estou com medo de ficar jovem.



Célia Corrêa*
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novembro de 2011
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Você não entendeu errado, estou com medo de ficar jovem. Tive um pesadelo daqueles de fazer suar forte. Sonhei, que todos os idosos estavam obrigados a tomar o elixir da juventude; um medicamento que recuperaria, em poucos instantes, a juventude perdida.
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Que horror! Tentei fugir das mãos do aplicador, mas não consegui.
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Não estou confusa, nem deveria dizer o contrário. É isto mesmo que quero falar!
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Chegar aos sessenta anos com vontade de continuar trabalhando, com ânimo, determinação, coragem e muita crença na vida parece-me ser algo distante da condição de uma grande parte dos jovens de hoje. Que lástima!
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Como leciono e pretendo continuar nesse mister por muito tempo, não é raro o dia em que me deparo com um grande número de jovens (16 a 25 anos) cansados, morrendo de sono, de fome, de frio, de desânimo, com dor aqui e dor ali.
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Muitos justificam as faltas às aulas ou o não cumprimento das atividades porque estavam doentes. Levam atestados e, tão logo entram em sala de aula, debruçam-se sobre a mochila na carteira e lamentam por tudo. Levam um bom tempo para uma mudança de lugar, para ligar o chip da atenção, para formar grupos de trabalho e para abrir o pesado arsenal que carregam. Os rostos expressam dor, frieza e preguiça. Quando questionados, apontam para as dores de cabeça, cólicas, tonturas e ou outros males.
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Quase sempre se assustam quando cobrados para a apresentação de um trabalho e se justificam com a famosa frase "Eu não sabia".
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Converso com eles, com freqüência, sobre essa condição e quase sempre ouço as suas explicações de que o cansaço é grande. Mesmo que sejam gentis e estejam informados da importância dos estudos para o desenvolvimento pessoal e profissional, não dão conta das obrigações. Subir escadas então, nem pensar!
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Há dias, vi uma estudante dando um "chilique", porque seria obrigada a subir três andares de escada, uma vez que o elevador estava quebrado. Alegou "n" motivos para ficar nervosa, inclusive o direito de uso do elevador porque paga a faculdade, isto é," está pagando!". Nervosismo, outro mal da juventude. Quando será que a serenidade fará parte da sua vida?
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Coitada! Mostrei-lhe a escada que subo e desço todos os dias sem reclamar. O que ouvi? Um claro "você é você e eu sou eu. Não dou conta, porque trabalho o dia todo" .
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Coitada! Eu também trabalho o dia todo. Passo, no mínimo, oito horas por dia em pé nas salas de aula. Saio de uma escola onde leciono durante toda a tarde para, logo em seguida, seguir para mais uma jornada na faculdade .
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Faltar, atrasar ou se esquecer não podem fazer parte do vocabulário de uma professora. Ah, ainda tenho que ouvir aquela jocosa fala: "- mas, você também trabalha ou só dá aula?"
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Meu Deus! Ainda bem que acordei e constatei que estou firme e pronta para mais um dia de estudo, pesquisa, preparo de aulas, correção de provas e trabalhos, lançamentos de registros burocráticos, consultoria, palestra, compras, arrumação da casa, abastecimento do carro, leitura e respostas de e-mails (grande parte originada deles, os alunos) telefonemas, família, participar de algum evento social e, com o sorriso no rosto, partir para mais uma carga de aula com o coração pleno de esperança e felicidade.
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Acordei e corri para o espelho. Constatei, que o branco dos cabelos e as rugas no rosto estão mais evidentes. Graças a Deus estou viva, mais velha e não preciso fugir do elixir!
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Enquanto isto, não desisto de continuar incentivando os jovens para que acreditem na possibilidade de uma velhice mais dinâmica e frutífera. Vou continuar esperando por eles, até que me digam "_ pode descansar, professora, porque agora estamos prontos para fazer um mundo melhor, porque nós podemos!".
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Falei de uma boa parte dos jovens, porque a outra pequena parte está voando para o futuro e desvendando novas tecnologias e mais possibilidades. Um paradoxo?!!!!!!
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Tenho que parar por aqui para conversar com um amigo septuagenário que tem duas aposentadorias, mas continua trabalhando para manter seus jovens filhos, genros, noras e netos. Ele ainda não teve tempo para ficar cansado ou desanimado. Pensa e acredita no futuro dele e de todos. Hoje, vamos discutir os livros de filosofia que estamos lendo e nos deliciando com os temas. Vamos viajar no tempo para renovar as energias.
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*Célia Maria Corrêa Pereira. Professora. Administradora. Mestre em Engenharia de Produção.

Um comentário:

  1. Ótimo texto, expressa a realidade atual perfeitamente! Jovens mais cansados e desanimados do que os idosos. Mão de obra e pensadores faltarão no futuro próximo...

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