sábado, 5 de novembro de 2011

Agressão contra aluna expõe insegurança em faculdades

                                                                   Fonte: O Tempo (MG)
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Por Karina Alves

A falta de sintonia entre Polícia Militar e faculdades particulares abre espaço para crimes no ambiente acadêmico. Anteontem, uma ocorrência envolvendo a estudante de marketing Camila Rodrigues Araújo, 28, mostrou que algo precisa ser feito. A jovem foi atacada por um colega de instituição no banheiro feminino de um dos prédios da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), no Cruzeiro, região Centro-Sul da capital.


O agressor, Leonardo de Castro Alvares Nogueira, 20, estudante do curso de administração, foi solto depois de se defender da acusação de tentativa de estupro. A soltura foi amparada na falta de provas da acusação. Camila exige providências da instituição e promete acionar a faculdade na Justiça caso o agressor não seja expulso.


Ontem, por meio de nota, a assessoria de imprensa da Fumec informou que não cogita anular a matrícula do aluno até que seja concluída a investigação. A faculdade forneceu à Polícia Civil imagens do circuito de segurança do corredor onde fica o local da agressão e colocou um advogado à disposição da estudante.


Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini, falta aproximação entre as faculdades e a Polícia Militar para garantir que a segurança no ambiente acadêmico melhore. "Nos últimos anos estamos lidando com situações inéditas. Existe um esforço de prevenção com câmeras, detectores de metais e equipes de segurança para evitar, ao máximo, esse tipo de situação, mas pode haver uma aproximação maior entre reitores e a Polícia Militar para coibir a violência".


O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da assessoria de imprensa da PM, explicou, no entanto, que a corporação só pode intervir no espaço privado se for acionada ou caso seja estabelecido algum tipo de convênio. Sem iniciativa da instituição privada, disse ele, a corporação não tem como agir de forma preventiva. "Atualmente, temos convênio com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nossas viaturas fazem patrulhamento na faculdade e podem registrar ocorrências para depois encaminhar à Polícia Federal. Em instituições privadas, há alguns anos tínhamos uma relação mais estreita num trabalho preventivo. Isso é possível, mas depende de ambas as partes".


Em dezembro do ano passado, um aluno do Instituto Metodista Izabela Hendrix, também na capital, matou um professor a facadas dentro da instituição. Dois anos antes, um homem invadiu o campus do Uni BH Estoril, na região Oeste, e atirou contra a ex-namorada.


Na agressão de anteontem à noite na Fumec, segundo a delegada de Mulheres, Elizabeth Freitas, a acusação de estupro não se confirmou. "Ela (Camila) alegou que ele (Leonardo) não chegou a tirar as roupas dela e nenhuma pessoa testemunhou formalmente. Ficou a palavra dela contra a dele".
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Minientrevista
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"Quero que ele seja expulso e a segurança reforçada"
Camila Rodrigues Araújo / 28, estudante de Marketing

O que aconteceu com você?
Fui ao banheiro e percebi que alguém, que já estava lá, entrou correndo em uma das cabines e trancou a porta. Pensei que fosse uma mulher e usei o banheiro normalmente. Quando fui lavar as mãos, ele (Leonardo) saiu da cabine e me agarrou pelos cabelos e me jogou no chão. Com uma mão ele prendeu meu cabelo e com a outra tampou minha boca. Consegui me soltar e gritei. Ele não chegou a tirar a minha roupa. Umas dez pessoas vieram me socorrer e ele ficou sem reação.



Você conhece esse rapaz? Não, nunca o vi antes. O pessoal da minha sala também não o conhece. Soube que ele cursa administração em outro prédio.


Como é o local onde aconteceu a agressão?A minha sala e esse banheiro ficam no subsolo. O corredor é vazio e sem seguranças. Já reclamamos várias vezes desde que mudamos para lá, neste semestre.


O que você vai fazer?Vou manter a queixa de tentativa de estupro e espero uma providência da faculdade. Caso contrário, vou processar a instituição. Afinal, pago mensalidade e a faculdade é responsável pela minha segurança.


O que você espera da universidade?Que o Leonardo seja expulso e a segurança reforçada. (Karina Alves)
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Outro lado - Universitário viaja e não fala sobre acusação
O estudante de administração Leonardo de Castro Alvares Nogueira, 20, mora em um prédio de luxo no mesmo bairro da faculdade. Ontem, ele foi procurado pela reportagem para falar sobre as acusações, mas a pessoa que atendeu o interfone do apartamento informou que o rapaz tinha ido viajar com a família. Nenhum advogado foi indicado para falar sobre o ocorrido em nome dele.


O estudante deve responder pelo crime de lesão corporal. A Delegacia de Mulheres irá investigar se existem elementos para que ele responda por tentativa de estupro, conforme a acusação da colega de instituição Camila Araújo. Em depoimento, ele afirmou que entrou no banheiro feminino por engano. "Vamos verificar o local onde tudo aconteceu e levantar testemunhas sobre o caso", disse a delegada Elizabeth Freitas.


Com a agressão, a universitária ficou machucada no olho e na cabeça. Ela passou por exames. (KA)

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