sábado, 5 de novembro de 2011

Agressões de alunos geram medo e revolta em professores de MG


Por NEY RUBENS
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Direto de Belo Horizonte - 04 de novembro de 2011
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"Só não larguei a sala de aula porque é o que eu sei fazer. Eu preciso do dinheiro". Essa foi a reação descrita por um professor da rede particular de Educação em Belo Horizonte (MG) ao comentar sobre o seu estado psicológico após receber uma ameça de morte feita por um aluno da escola em que trabalha.

Ameaças, intimidações e agressões viraram rotina em algumas escolas mineiras, impulsionando a sensação de medo entre os educadores. O professor, que não quis ser identificado, contou que a agressão que sofreu aconteceu em um colégio particular da região centro-sul da capital mineira, no final do ano passado.

Segundo ele, um estudante do segundo ano do ensino médio não atingiu a média para ser aprovado e precisou fazer uma prova de recuperação. Indignado, o aluno, que já teria histórico de indisciplina na escola, "falou alto para os colegas que iria dar facadas no professor da matéria que pegou recuperação", recordou.

"Ele falou alto porque havia outros professores perto. Foi quando eu fiquei sabendo", disse. O caso aconteceu pouco tempo após um professor universitário ser morto a facadas em uma faculdade particular de Belo Horizonte.

O responsável foi um aluno que havia ficado descontente com uma nota aplicada pela vítima. "Os dois casos foram muito próximos, por isso fiquei com medo. Nesse dia eu dei aula sem virar as costas para a turma enquanto escrevia no quadro", contou o professor. O homem disse que a situação na escola ficou muito ruim depois das ameaças. "Os professores ficaram sabendo do caso e foram até a sala de aula repreender o aluno", relatou. O caso foi levado para a direção do colégio e eles começaram a discutir várias medidas punitivas que poderiam ser tomadas.

Suspender o aluno e impedir que ele realizasse a matrícula no ano seguinte foram só algumas das medidas pensadas. "Mas no final o colégio não fez nada. Eu encontrei com o aluno esse ano e ele me olhou com um sorriso sarcástico. Não lembro nem se eu o cumprimentei", afirmou. O professor lamentou a falta de punição, já que segundo ele, uma das piores consequências disso "é que os alunos agora sabem que podem fazer qualquer coisa que não serão punidos. Se ele ameaçou um professor e não foi punido, uma punição por algo menor pode gerar indignação neles", disse.

Esse caso não é único dentro das escolas de Minas Gerais. Em agosto deste ano, um aluno do sexto ano chutou e ameaçou de morte a diretora de uma escola pública em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a diretora, ela havia repreendido o aluno por mau comportamento no corredor e ele não gostou da atitude e foi tirar satisfações. A ação foi gravada por outro aluno e postada na internet.

Outro caso aconteceu no começo de outubro, quando outra diretora foi ameaçada e teve a cabeça arremessada contra a parede por também chamar à atenção de um estudante. Uma professora da escola, que fica no bairro São Lucas, na região leste de Belo Horizonte, informou que a diretora reclamou do adolescente de 15 anos que estaria tentando tomar à força o algodão doce de alunos mais novos. O menino não gostou e agrediu a diretora.

Rotina
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Entre fevereiro e setembro de 2011, o disque-denúncia do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (SinproMinas) registrou 83 ligações de educadores denunciando algum tipo de agressão, o que corresponde a uma média de uma denúncia a cada três dias. São casos de ameaças, intimidações, agressões verbais e físicas, assédio moral e até mesmo tráfico de drogas. Das 83 ligações, 43 são provenientes de escolas públicas, a maioria localizada na periferia da capital mineira e cidades da região metropolitana, nas quais a realidade é muitas vezes pior do que a apresentada pelo levantamento do Sinpro. Em alguns casos, até as famílias dos estudantes se envolvem nas agressões. Foi o que aconteceu com uma professora de uma escola estadual da região oeste de Belo Horizonte. Ela contou que foi agredida pela mãe de uma aluna que apresentava mau comportamento em sala de aula.
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A menina tinha 10 anos e "a situação ficou problemática quando ela passou a gritar com os professores, agredir verbalmente os colegas e a fazer caretas em sala de aula", contou a educadora. Segundo a professora, a mãe da criança precisou ser chamada à escola porque chegou ao ponto da menina agredir fisicamente outra professora. "A mãe chegou alterada, gritando comigo. Ela dizia o tempo todo que a filha não tinha feito nada errado e apontava o dedo na minha cara", contou a professora. Ela convidou a mãe a entrar na diretoria para as duas conversarem. Foi quando começaram as agressões físicas. A professora contou que foi prensada na grade e recebeu puxões de cabelo e tapas na cara. "E eu nem podia reagir, porque era o meu emprego que estava em jogo". Depois da agressão, ela pensou seriamente em abandonar a escola. "Fiz dois dias de curso para tentar voltar, mas eu não via sentido no que eles falavam. Voltei porque acredito que não é um caso de uma aluna que vai me tirar de sala de aula. Quando você é professor você quer resolver a situação dos alunos, fazer a diferença para eles", disse.
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A escola em que ela leciona funciona no período integral e os alunos passam oito horas no dia em sala. "A família deixa a parte da educação toda para a escola e não faz a sua parte. Por mais que você faça e trabalhe pelo aluno, a família não entende aquilo. Uma hora as crianças vão para casa e lá também é preciso de disciplina", afirmou.
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"Os alunos repetem os padrões dos pais. Eles gritam em sala de aula, falam muitos palavrões e mandam bilhetes ameaçando os professores. A gente não pode punir os alunos em sala e a família não ajuda. Eles sabem que não vai acontecer nada com eles", lamentou.
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Fonte: Terra

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