sexta-feira, 21 de maio de 2010

A(DEUS) PROFESSOR


A(Deus) professor
por Lúcio Alves de Barros

Ele já andava assim, meio de lado, parecia cansado.
Só na aparência, mas diariamente lá ia ele com os livros na mão.
Por vezes lia andando e esbarrava nos outros
Começaram a chamá-lo de louco
Mas ele sabia o que fazia e dizia que era para acordar as pessoas para a leitura
Havia se fechado em meio aos livros
Lecionava na escola suja e também em casa limpa numa sala improvisada
Poucos iam, mas é isso mesmo.
Muitos são chamados, poucos escolhidos e persistentes.
Soube do seu falecimento faz tempo
Estava em sala de aula com o giz branco
Escrevia sobre literatura, Lima Barreto...
Ao escrever Lim..., um risco foi cravado duramente no quadro:
____________________,
Primeiro em linha reta,
Depois uma curva até o local no qual se encontrava o apagador de pau
Repousando o corpo no quadro o impotente docente calou
O silêncio verde do quadro negro tomou a sala antes agitada
Ele se foi abraçado às linhas brancas sobre Lima Barreto
Não deixou o giz cair, sempre defendeu a economia escolar.
Faleceu em pleno amor com o trabalho
e em meio aos alunos
em meio aos livros
e ao que mais gostava de fazer.


Nota: Foto de João Luís de Almeida Machado,

Um comentário:

  1. Penso no assassino do Professor; eis que possibilidades invadem minha mente; A escola? O aluno? A utopia latente do docente? O discente cada dia mais displicente? Triste pensar que resumimos tudo, e quando busca-se culpados, o sistema é o único alvo deficiente!

    ResponderExcluir