segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Trabalho tira jovem da escola

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Foi a necessidade de trabalhar para se manter e alcançar a estabilidade financeira que fez o jovem Fábio Figueiredo Almeida, de 17 anos, abandonar a sala de aula no 1º ano do Ensino médio e ocupar uma vaga na indústria da construção civil, em um canteiro de obras no Bairro Sagrada Família, Região Leste de Belo Horizonte. A troca ocorreu nos últimos seis meses. O ajudante de pedreiro pegou as malas, deixou o Norte de Minas, onde morava com o pai, e veio “vencer na vida”. “Vim em busca de emprego. Sinto falta de estudar e pretendo retomar os estudos no futuro, mas agora não tenho condições”, conta. Fábio não foi o único a tomar essa decisão. Tanto que a taxa de Escolarização em Minas caiu na faixa etária dele. Enquanto em 2009, 84,8% dos jovens com idades entre 15 e 17 anos estavam estudando, esse universo se reduziu para 82,8% em 2011.
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A queda deixou Minas nas piores colocações do país. O estado passou de 11º lugar para 18º entre as unidades da federação com mais pessoas nessa idade a ocupar uma cadeira na sala de aula. Minas está ainda abaixo da média nacional de 83,7% e distante do primeiro lugar ocupado pelo Distrito Federal (89%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O quadro fica pior entre os que são um pouco mais velhos. Dos jovens com 18 a 24 anos, apenas 27,6% frenquentam a Escola, menos que os 29,2% registrados na Pnad de 2009. A evasão Escolar fez Minas perder posições no nível geral de Escolaridade no país. Da 20ª colocação caiu para a 23ª, ganhando apenas do Espírito Santo (26,5%), Rondônia (25,3%), Maranhão (25%) e São Paulo (24,8%). Para esse grupo, as taxas de Escolarização de Minas se apresentaram menores que as do Brasil, mesmo com queda também registrada na média nacional de 30,3% em 2009 para 28,9% em 2011. “Cada caso deve ser analisado com cuidado. Algum estado pode apresentar uma taxa mais alta porque registrou maior número de pessoas entrando mais tarde na Escola ou sendo repetente”, afirma Luciene Longo, demógrafa do IBGE.
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SOBRAM VAGAS
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O exemplo de Fábio, explica a especialista, pode ser a principal razão para as quedas na Escolaridade nas duas faixas etárias. “Essa redução mostra que a população pode estar entrando mais no mercado de trabalho. Para de trabalhar e, no futuro, retorna para a Escola.” A baixa taxa de desemprego em patamares históricos ajuda a explicar o comportamento dos jovens, principalmente na Grande BH. O índice de 4,3% de desocupados em agosto é o menor para o mês nos últimos 10 anos, segundo Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. O considerado “pleno emprego”, cenário em que praticamente toda entrada de mão de obra na População Economicamente Ativa (PEA) é absorvida pelo mercado, anima a busca pela carteira assinada. Esse fenômeno é observado especialmente na capital e redondezas, onde há vagas sobrando no comércio e setor de serviços. Para o empresariado, porém, a busca precoce dos jovens por trabalho não é animadora diante da baixa qualificação constatada pela Pnad.
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Os Alunos com idades entre 15 e 24 anos, explica Luciene, não têm incentivos para permanecer na Escola assim como as crianças beneficiadas pelos programas sociais do governo de incentivo financeiro. “Nas faixas mais baixas de idade os pais precisam manter a frequência Escolar para receber o auxílio. Os jovens não têm essas condicionantes e por isso param de estudar e entram no mercado de trabalho”, afirma.
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Essa é uma das razões para que os índices de Escolaridade em Minas nos grupos mais jovens esteja indo bem. A frequencia dos Alunos de quatro e cinco anos na Escola passou de 73,3%, em 2009, para 73,8%, em 2011, o que deixa Minas no meio da tabela entre as 27 unidades da federação, mas com o menor percentual da Região Sudeste. Entre a população de seis a 14 anos, o aumento foi de 97,9% para 98,7%, no mesmo período. Nessa faixa, os mineiros ficam na quinta colocação entre os melhores, distante do posto de 10º lugar de 2009.
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NATURALIDADE
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Ao contrário do destino traçado por Fábio Almeida, que deixou a cidade natal em busca de uma oportunidade em terras distantes, os dados do IBGE mostram que a população mineira está cada vez mais enraizada com suas origens. Conforme os números, Minas ocupa a 7ª posição entre os estados com o menor percentual de não naturais (8,1%), apesar de ter perdido uma colocação em relação a 2009 quando 7,6% dos residentes em Minas eram de fora do estado. O posto de primeiro lugar foi ocupado em 2011 pelo Rio Grande do Sul, que tem menos imigrantes (3,09%), enquanto o Distrito Federal, com o último lugar, tem metade de sua gente vinda de outras regiões. Por município, Minas mantém firme suas raízes. Com 35,7%, o estado fica com o 10º menor percentual de não naturais, índice maior do que em 2009, quando a taxa foi de 35,5%.
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MELHORIAS NECESSÁRIAS
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Com a exceção da coleta de esgoto, Minas Gerais deixa a desejar quando o assunto são os serviços básicos oferecidos a população. O mais preocupante deles é o acesso a fossa séptica – responsável pelo tratamento primário do esgoto – nas residências. O dispositivo é muito utilizado na zona rural ou em locais em que ainda não há saneamento básico público. Em 2009, Minas ocupava a penúltima colocação entre os estados que garantiam oferta extensiva do serviço. Melhorou, mas ainda está na 24ª posição e bem abaixo da média nacional, de 7,7%.
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Fonte: Estado de Minas (MG)

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