quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Diário de Classe: escolas reclamam que alunos só relatam lado ruim

Voltado para relatar o dia a dia da Escola, o Diário de Classe criado pela estudante Isadora Faber, 13 anos, de Florianópolis (SC), inspirou diversas outras páginas no Facebook, nas quais os Alunos apontam principalmente as deficiências das instituições onde estudam. Uma breve busca na rede social permite encontrar mais de cem páginas semelhantes. A rede estabelecida entre esses estudantes é organizada de uma forma que há até grupos para compartilhar dicas e debater o que deve ser publicado e de que forma fazê-lo. Algumas Escolas, porém, afirmam que muitas atitudes por parte da direção não são tomadas apenas pelo que foi relatado na página, e que os Alunos não têm se preocupado em mostrar as atividades positivas nas redes sociais.
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O grupo fechado "Dicas diário de classe", administrado pela própria Isadora, conta com cerca de 80 membros, Alunos e criadores de páginas semelhantes. O estudante do 9º ano Guilherme Patrício Araújo, 14 anos, um dos responsáveis pelo diário da Escola Estadual (EE) de São Paulo, explica que os integrantes recorrem ao grupo para debater cuidados que devem ser tomados com as publicações. Entre as precauções, ele cita a não divulgação de nomes, para evitar a exposição de terceiros (recentemente, a casa de Isadora foi apedrejada, e a família desconfia de pessoas citadas na página da garota). Os estudantes também orientam uns aos outros a relerem o texto antes da postagem, a publicar também boas iniciativas da Escola e a abordar assuntos que sejam interessantes para os Alunos. Outro lugar para discussões é a página "Encontros de Diários", acompanhada por mais de 200 usuários da rede social.
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A motivação para a criação de vários diários de classe veio, em grande parte, da aparição de Isadora em reportagens de televisão. Emerson da Silva Mendes, 17 anos, Aluno do 2º ano do Colégio Modelo Luiz Eduardo Magalhães, em Itamaraju (BA), diz que percebeu problemas em comum entre a Escola onde a catarinense estuda e a sua. "A intenção é buscar soluções e melhorias do mesmo jeito que ela conseguiu", comenta. Em Guarulhos (SP), a estudante Giovanna Magalhães Gomes, 13 anos, também reproduziu a iniciativa para apontar deficiências na Escola Estadual Emília Anna Antônio, onde cursa o 8º ano. Com o aval e a assistência dos pais, a menina já conquistou melhorias importantes para a instituição, como a substituição dos armários quebrados. "Quando chegaram os armários, alguns Alunos vieram me abraçar e comemorar", lembra Giovanna.
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Apesar de ainda detectar algumas pendências, Emerson estima que mais da metade dos problemas indicados no seu diário de classe já foram solucionados. Defeitos em banheiros, ventiladores, fechaduras, portas, além de vidros quebrados ou trincados, eram as principais reclamações sobre o Colégio Modelo. Alunos de outras Escolas chegaram a solicitar que a página tratasse também dessas instituições, mas, sem autorização para ingressar nas dependências de cada colégio, ele acabou restringindo a ação apenas ao lugar onde estuda. "Tem Escolas bem piores que a minha", lamenta.
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Os pais de Emerson apoiaram a atitude do filho. No colégio, a vice-diretora, Eliana Sausmickt, assegura que o Aluno não foi reprimido em nenhum momento. "Ele está exercendo o papel de cidadão", diz. "A utilização desse tipo de mídia é irremediável. A gente vai ter que lidar com essa nova realidade", completa. A Educadora, porém, se mostra insatisfeita com o fato de só encontrar pontos negativos salientados na página e por parecer que todos os problemas são resolvidos em decorrência das postagens. "A merenda, por exemplo, já era servida antes, mas estava parada por conta da burocracia, do credenciamento", justifica.
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Direção questiona veracidade das reivindicações
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A direção da EE de São Paulo, na capital paulista, avalia como produtivo o diário feito por Guilherme, em conjunto com o colega Victor Nascimento, mas entende que algumas informações publicadas na página são inverídicas, fantasiosas e manipuladoras. A falta de reconhecimento pelas boas atividades promovidas durante o ano letivo também é uma reclamação da direção, que garante que desconhece reparos que tenham demorado muito tempo para serem feitos. Independentemente de reivindicações, as manutenções são feitas constantemente, de acordo com a direção. Guilherme defende que diversas melhorias foram realizadas após a criação da página, como o preenchimento de um buraco no pátio e o conserto de vidros e canos quebrados. As reclamações atuais são relacionadas a infiltrações nos corredores e nas salas, e ao horário da merenda. "Às 9h30, eles servem comida. Queremos que mude, que em pelo menos três dias por semana seja lanche", protesta o estudante. Segundo o garoto, o diário da EE de São Paulo recebe também dicas de Professores sobre como melhorar a página.
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Com a ajuda dos pais: Giovanna, aluna da Escola Emília Anna Antônio, conta com o apoio redobrado dos pais para manter o diário de classe. A assessoria vale para a decisão sobre o que postar, cuidando para não expor Alunos ou funcionários, e para publicar apenas problemas relacionados à estrutura da instituição. Mas o suporte também é intenso em relação às críticas recebidas. "Meu esposo foi conversar com a coordenação, porque a Giovanna estava começando a ficar coagida dentro da Escola. Alguns Alunos se revoltaram contra o diário", explica a mãe, a microempresária Raquel Gomes.
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Na hora de captar os registros, a estudante conta que procura não ser vista. "Tiro as fotos escondida, porque tenho medo", confessa. Sobre os problemas retratados no diário de classe criado por Giovanna, a estudante diz que já foram substituídas as tampas de vaso sanitário, mesas e cadeiras que estavam quebradas, bem como os armários antigos. A quadra, no entanto, ainda precisa de reformas, segundo a menina, uma vez que o muro está quase caindo. "A gente ficou bem orgulhoso. Com 13 anos e tão preocupada com os direitos dela, com a Escola", destaca a mãe.
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Fonte: Terra on line

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