sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ensino médio terá sexta aula, voltada para o mercado

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Por Joana Suarez
A partir de 2013, 133 escolas estaduais mineiras vão ter uma nova grade curricular no ensino médio. Alunos do 1º, 2º e 3º anos terão uma aula a mais por dia, em um sexto horário, voltada para o mercado de trabalho. Estudantes, professores e especialistas se dividem quanto às implicações da mudança, que foi testada em 11 escolas estaduais da região Norte de Belo Horizonte.
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O projeto Reinventando o Ensino Médio, criado pela Secretaria de Estado de Educação (SEE), inclui disciplinas de turismo, comunicação aplicada e tecnologia da informação - o aluno pode escolher uma das áreas. Neste ano, o projeto piloto foi implementado apenas para os alunos do 1º ano. Em 2013, ele será ampliado para outros 122 colégios, se estendendo ao 2º ano. Até 2014, a expectativa é que os estudantes do 3º ano também tenham as novas disciplinas e que as mudanças atinjam todas as 3.700 escolas da rede estadual mineira.
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A socióloga da Universidade Federal de Minas (UFMG) Maria das Mercês Mesquita acredita que a proposta tira a liberdade da escola e não resolve problemas mais urgentes do ensino. "Cada escola deve definir seus projetos, adequando-se à realidade de suas comunidades. Será que sugerir mais conteúdos resolve o problema do ensino médio? Será que o que as escolas do Vale do Mucuri precisam é de aula de turismo?". Já a vice-diretora do Centro Pedagógico da UFMG, Selma Moura, acredita que toda mudança no ensino tem que ser experimentada. "Pensar no mercado de trabalho é uma saída para atrair os jovens, que acabam ficando mais tempo em lan houses que na escola".
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A estudante Miriam Ferreira Vital Ramos, 16, reclama de que é justamente neste período - entre o 1º e 3º ano - que os alunos se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Eu preferia me dedicar às matérias que vão cair no Enem. O sexto horário poderia ser uma aula de reforço, em vez de curso de comunicação", defende a aluna, da Escola Estadual Paschoal Comanducci, que faz parte do projeto piloto. Já Maurício Thadeu Figueiredo, 16, que está tendo aulas de turismo, vê a mudança como uma oportunidade. "É bom aprender sobre como receber as pessoas. Estamos aprendendo uma profissão, quem sabe, para o futuro".
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O objetivo do projeto, segundo o Estado, é tornar o ensino mais atrativo para reduzir a evasão escolar. Na Escola Estadual Paschoal Dominicci, no bairro Jaqueline, na região Norte, segundo o diretor Hermelindo Santana, nenhum aluno do 1º desistiu do colégio neste ano. Em 2011, 28 estudantes abandonaram o ano letivo. "Com o projeto, notamos também um aumento da demanda por vagas. O projeto se tornou um atrativo porque pensa no mercado sem tirar o foco do Enem". (Com Fernanda Viegas)
Professores das escolas vão ministrar disciplinas
A Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que os responsáveis por ministrar as novas aulas serão os próprios professores das escolas. O docente de história, por exemplo, dará aula de turismo; o de física vai ministrar o curso de tecnologia da informação. Para isso, eles vão receber treinamento da SEE em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O problema é que os profissionais que já foram capacitados reclamam da superficialidade do curso, e os especialistas afirmam que o objetivo do projeto só será alcançado se as aulas forem de qualidade.
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Segundo a professora de biologia Márcia Lima, 33, que está dando aula de turismo, a preparação para o projeto foi de apenas uma semana. "Não recebemos uma formação específica. O conteúdo para trabalhar, a gente é que construiu e vai adaptando junto com os alunos". Para a pedagoga e mestre em educação Rosângela Teles, o projeto só é válido se for ministrado por profissionais capacitados. "Toda área de conhecimento tem seu especialista, nem todo professor de história sabe de turismo. Para fazer algo malfeito, é melhor não fazer".
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Coordenadora do projeto na escola Paschoal Comaducci, Cristina Peixoto admite que a capacitação foi uma dificuldade. "Seria melhor serem profissionais com experiência nas áreas específicas. Talvez formandos", disse. A coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, afirma que os projetos implantados não são discutidos com a categoria. "Eles só servem para fazer propaganda para o governo, nunca vão para frente", afirmou. (JS/FV) - Fonte: Jornal O Tempo (BH).

Um comentário:

  1. Não sou da área de Educação, é um comentário 'leigo'! Mas não seria o caso de se estabelecer parcerias com as universidades e universitários das licenciaturas participarem oferecendo um reforço nos conteúdos temáticos, mais específicos, como Turismo e outros? Grupos de extensão de universidades fazerem parcerias? Quanto mais remadores num barco tanto melhor, não? E remadores que saibam remar! Tânia Almeida

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