Por Carlos 
Castilho 
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A imprensa brasileira, e em especial a paulista, está perdendo uma 
oportunidade de ouro para criar uma nova relação com seus 
leitores, ouvintes e espectadores ao não entrar de cabeça na investigação do que 
está por trás da guerra entre crime organizado e polícia.
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Este talvez possa ser considerado o principal problema 
político do momento porque está afetando as bases da convivência social 
em metrópoles brasileiras, muito mais do que o próprio mensalão. 
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A omissão dos governantes e encarregados da segurança 
pública deixou a população órfã e abre para a imprensa a possibilidade de 
oferecer informações capazes de dar à sociedade elementos para buscar soluções 
para a crise, com ou sem participação dos poderes estabelecidos.
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Foi justamente a falta de informações que gerou o ambiente favorável ao 
desenvolvimento das chamadas milícias e esquadrões da morte 
dentro dos órgãos de segurança. O silêncio e a tolerância das autoridades sobre 
as ilegalidades cometidas pela policia acabaram contagiando a própria imprensa, 
que também cedeu ao medo de desafiar um esquema sinistro montado em nome da 
lei.
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Até agora havia um consenso entre imprensa e governo de que o avanço da 
violência urbana era apenas uma questão de repressão ao crime 
organizado. Hoje está mais do que claro que a policia faz parte deste 
contexto e que ela precisa ser depurada como condição prévia para que o combate 
à delinquência seja efetivo.
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O tema é muito delicado e os riscos são muitos, até mesmo 
para a segurança pessoal de governantes e jornalistas. Mas não temos mais 
escolhas. O problema é que os governos, o judiciário e o legislativo tendem a se 
enredar em questões processuais, conveniências políticas e egos, fatores que 
acabam retardando qualquer decisão ou iniciativa muito além dos prazos que a 
realidade da matança diária está impondo.
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A imprensa tem mais agilidade e capacidade de mobilização da opinião 
pública. O problema é que ela se especializou em cobrar soluções dos 
poderes estabelecidos, transferindo responsabilidades para não meter as mãos na 
pocilga da segurança publica. Agora ela pode, sim, fazer algo propositivo. Basta 
usar a sua experiência investigativa para identificar responsáveis, levantar 
dados, localizar conflitos de interesses e, principalmente, mostrar como a 
população pode participar da busca de soluções.
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Com informação, a sociedade tem meios para agir. A mobilização dos grupos 
sociais deixa de ser apenas uma questão política para ser um problema vital, em 
se tratando de um problema em que a sobrevivência física das pessoas está 
ameaçada por uma guerra declarada entre bandidos uniformizados e não 
uniformizados.
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A imprensa não precisa de autorização oficial para investigar o submundo da 
segurança pública, em São Paulo e noutros estados onde o problema existe mas 
ainda não é tão grave. Há toda uma área de jornalismo 
investigativo que poderia ganhar uma real relevância social num momento 
em que os moradores de São Paulo estão assustados e desorientados.
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As grandes metrópoles e capitais brasileiras convivem há pelos menos 40 anos 
com o aumento da violência criminal. Em todo esse tempo a única estratégia usada 
era a da repressão, quando qualquer estudioso da segurança pública sabe que 
a principal arma da polícia contra o crime organizado é a 
informação. Na força bruta ela tende a perder sempre porque não pode 
estar em todos os lugares e, consequentemente, atrai críticas da população.
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Na hora em que a polícia perdeu o rumo por falta de 
orientação clara, com exceção talvez do Rio de Janeiro,  os soldados e agentes 
não tiveram outra alternativa senão partir para o olho por olho — já não mais 
pensando na sociedade, mas na própria pele. Descobriram também que o poder de 
intimidação poderia ser usado em benefício próprio, de forma muito superior ao 
soldo recebido da corporação.
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Infelizmente chegamos ao ponto onde as últimas esperanças da 
população acabam sendo depositadas na imprensa. Ela não vai resolver 
diretamente o problema das matanças em cidades como São Paulo, mas pode fornecer 
dados para que a população saia do estado de choque provocado pela  ausência de 
informações e tome iniciativas para, pelo menos, atenuar a crise da segurança 
pública no país.
.Fonte: Observatório da imprensa
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