A educação infantil na era da internet, uma reflexão
Por Wagner Bezerra, especial para o JB
Se eu fosse criança, não esconderia de ninguém que o conteúdo que recebemos da mídia ajuda a constituir o que seremos no futuro. Então, eu daria um jeito de contar a todo mundo que, em muitos países, como na Áustria e no Reino Unido, por exemplo, muitos professores já descobriram que é importante mídia-alfabetizar na escola, para que todas as crianças e adolescentes possam aprender a compreender criticamente a mídia. Se lá, as crianças aprendem a selecionar o que vem da TV e da internet, pode ser que aqui também funcione. Eu contaria que, para essas pessoas, liberdade de expressão é um princípio sagrado, liberdade de imprensa é um direito fundamental, mas, o que é oferecido pela mídia às crianças também é responsabilidade do Estado, que deve assegurar a maior de todas as liberdades: a liberdade de escolha.
Se eu fosse criança pensaria em contar ao meu melhor amigo que às vezes eu também me sinto mídia. Tipo mídia-menino com alma digital e segunda vida na web.
Se eu fosse criança diria ao meu professor que eu não quero trocar o livro pelo tablet. Quero os dois. Explicaria que eu quero aprender mais sobre ciberespaço, inteligência coletiva e tudo que me faz gostar tanto de assistir TV, acessar o Second Life, jogar no Facebook, falar no MSN e mandar mensagens pelo celular, tudo ao mesmo tempo, triturado e junto.
Se eu fosse criança, tentaria convencer os adultos que não basta a tecnologia da informação mudar o mundo. É preciso decidir o que fazer com ela. Me esforçaria para fazê-los aceitar que, daqui pra frente, vou estar cada vez mais ligado, antenado, conectado, ciberespacializado. E que eles precisam decidir que tipo de educação vai ser midiatizada para todos nós.
Agora, como não sou mais criança, faço da mídiaeducação uma profissão de fé, para que pais, professores e gestores da educação incluam permanentemente a alfabetização para os meios no cardápio literário do público infanto-juvenil; para que se ampliem os benefícios oriundos do conteúdo positivo da TV e internet; para que o lixo midiático seja reciclado pelos próprios midiacidadãos; para que a tecnologia da informação e os novos recursos digitais estejam, cada vez mais, em comunhão com a formação de cidadãos críticos e esclarecidos. Crianças, sejam famintos, mas, jamais sejam tolos.
Wagner Bezerra é Publicitário, midiaeducador, diretor de programas educativos para TV. Autor do "O Segredo da Caverna - A Fábula da TV e da Internet”; Cortez Editora, 2011 - wagnerbezerra@cienciaearte.com
Fonte: Jornal do Brasil
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