21 set. 2010
Pesquisa em 11 capitais brasileiras revela que o conceito homofobia ainda é pouco conhecido entre professores e alunos e que falta uma política oficial mais eficiente para para tratar o tema nas escolas
A decisão não foi nada fácil, mas Abraão Ferreira da Silva, de 18 anos, encarou o papel. Vestiu-se de drag queen na feira de ciências da Escola estadual onde cursa o terceiro ano do ensino médio. Tratava-se de uma encenação com um objetivo nobre: ensinar, entre outras coisas, o respeito às diferenças. Aquelas que estão postas todos os dias ao nosso lado, seja nas bancas da Escola, no trabalho, ao longo da vida. Abraão é homossexual e por isso conta que sofre diversas agressões verbais na Escola. Nada que o faça desistir de concluir o ensino médio. Nada que o impeça de tentar o curso de medicina.
A criatividade de Abraão posta em prática em plena feira de ciências infelizmente ainda é uma ação isolada nas unidades de ensino da capital pernambucana. A pesquisa Estudo qualitativo sobre a homofobia no ambiente Escolar em 11 capitais brasileiras revela que, na realidade, o conceito homofobia ainda é pouco conhecido entre professores e alunos recifenses e que falta uma política oficial mais eficiente para tratar o tema nas Escolas. Abraão Ferreira fez papel de drag queen na feira de ciências e diz sofrer agressões verbais na Escola por ser homossexual. Foto: Cecília de Sá Pereira/DP/D.A PressQuatro Escolas públicas do Recife foram visitadas pelos pesquisadores da ONG Reprolatina, de São Paulo, sendo três estaduais e uma municipal. Em todas elas, disseram os pesquisadores, era como se os professores e alunos estivessem ouvindo falar sobre o tema pela primeira vez. "Um estudante até confundiu homofobia com claustrofobia. Outro comparou com uma espécie de travesseiro. Apesar disso, quase todas as pessoas entrevistadas reconheceram que os homossexuais sofrem discriminação e violência, embora não soubessem que isso é homofobia", disse o pesquisador Juan Diaz. Foram 109 entrevistados, entre professores,alunos e funcionários das Escolas Apolônio Sales, José Maria, Governador Barbosa Lima e Nadir Colaço.
A falta de uma política oficial mais eficiente de Educação sexual nas Escolas termina levando alguns professores, principalmente os de ciências, a tratar o assunto de forma independente, mas limitada, na opinião dos pesquisadores. Isso porque a questão muitas vezes é vista somente sobo ponto de vista biológico e reprodutivo. Outro problema apontado pelos entrevistados é o pequeno número de educadores capacitados pelos programas existentes e a baixa qualidade dos livros didáticos, que abordam o assunto de forma superficial. Além disso, faltam outros materiais educativos apropriados. Diante das agressões verbais ou físicas, os homossexuais terminam tomando o caminho contrário ao de Abraão e abandonam a Escola. "Embora professores ou estudantes não expressem que os homossexuais têm mais chances de abandonar a Escola por serem discriminados, na discussão dos grupos focais apareceram exemplos de meninos e meninas que abandonaram os estudos por causa dos maus tratos", disse Juan Diaz.
Desde que foi implantada, em 2007, a política de combate à homofobia da Secretaria Estadual de Educação promoveu três capacitações para professores da rede sobre o tema. Segundo Luciano Freitas, da gerência de Direitos Humanos da Secretaria, alunos de várias cidades, inclusive do interior, também participaram derodas de diálogo sobre saúde, prevenção e combate à homofobia. Já Rivânia Rodrigues, da Gerência da Livre Orientação Sexual (Glos), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, disse que trabalha o tema junto com outras secretarias do Recife e que este ano visitou cincoEscolas para tratar sobre o assunto com professores ou com alunos.
Pesquisa revela escola despreparada
Quatro unidades de Cuiabá foram analisadas, onde se percebeu que educadores não estão preparados para coibir atitudes contra gays. A adolescente Y., 15 anos, costuma policiar seu próprio comportamento mais do que a maioria dos colegas de sua idade na Escola. Por ser homossexual, embora poucos já a tenham ouvido admitir isso, ela sabe que qualquer coisa que disser ou fizer poderá ser mal interpretada ou distorcida por maldade, tornando-a objeto de chacota. Diariamente, Y. “pisa em ovos” nos corredores de um colégio cuiabano porque, em pleno século XXI, nem o ambiente das Escolas brasileiras tem conseguido ainda se livrar de condutas homofóbicas.
Esta é uma das conclusões preliminares até agora da pesquisa qualitativa nacional “Escola sem homofobia”, divulgada ontem pela Educação estadual (Seduc). Apoiada pelo governo federal e conduzida em 11 capitais por entidades como a ONG Reprolatina, a pesquisa ouviu estudantes, professores, funcionários e autoridades envolvidas com a Educaçãopromovida em quatro Escolas públicas de Cuiabá. A pesquisa tem o objetivo de fornecer ao governo federal conhecimento para implementar ações para enfrentar a homofobia e assegurar direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).
Por enquanto, o cenário comportamental desenhado pela pesquisa na Capital mostra que asEscolas ainda não detêm métodos suficientes para tratar de orientação sexual nas salas de aula e os professores têm dificuldades para esclarecer e coibir com argumentos a homofobia. Além disso, os dados preliminares da pesquisa revelam que, para muitos que participam do ambiente Escolar, a homossexualidade ainda não é um fato esclarecido, o que leva muitas vezes à intolerância e à manutenção de um modelo “heteronormativo” que relega os homossexuais à margem da convivência. Tais constatações foram feitas com foco noensino fundamental, mas tudo reverbera no ensino médio, como declara A.M., 16 anos, amiga e colega de Escola de Y., do começo da matéria.
“Infelizmente, isso sempre vai existir, em todo lugar”, prevê A.M., pessimista. Ela diz se relacionar com meninas, mas mantém um namorado de fachada. Os pais nunca aceitaram sua orientação sexual. Tímida, ela conta que é constante a sensação de não fazer parte totalmente do grupo ou de ser vista de forma diferente no colégio. As relações ficam mais restritas, principalmente com a resistência dos meninos. A forma que ela encontrou de se preservar é parecida com a de sua amiga: manter-se na maior discrição possível.
É que, entre os cerca de mil alunos do colégio, A.M. teme se deparar às vezes com colegas intolerantes – e que insistem em argumentos contraditórios para se dizerem “contra” homossexuais. É o caso de L., 18 anos, conhecido pela polêmica que desperta em sala de aula por explicitar repúdio a quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo. Ele argumenta que estas pessoas vão contra as leis da natureza porque não tiveram a devida Educaçãodos pais, mas não explica como isso interfere negativamente em sua própria vida para se manter contra. Embora polêmico, quando expressa suas opiniões L. costuma ser acompanhado por outros alunos, segundo professores, e são opiniões desembasadas como a dele que tornam difícil a conscientização dos demais.
Fonte: Diário de Pernambuco (PE) - In: http://todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/10554/homofobia-tema-e-ignorado-no-ambiente-escolar
Quatro unidades de Cuiabá foram analisadas, onde se percebeu que educadores não estão preparados para coibir atitudes contra gays. A adolescente Y., 15 anos, costuma policiar seu próprio comportamento mais do que a maioria dos colegas de sua idade na Escola. Por ser homossexual, embora poucos já a tenham ouvido admitir isso, ela sabe que qualquer coisa que disser ou fizer poderá ser mal interpretada ou distorcida por maldade, tornando-a objeto de chacota. Diariamente, Y. “pisa em ovos” nos corredores de um colégio cuiabano porque, em pleno século XXI, nem o ambiente das Escolas brasileiras tem conseguido ainda se livrar de condutas homofóbicas.
Esta é uma das conclusões preliminares até agora da pesquisa qualitativa nacional “Escola sem homofobia”, divulgada ontem pela Educação estadual (Seduc). Apoiada pelo governo federal e conduzida em 11 capitais por entidades como a ONG Reprolatina, a pesquisa ouviu estudantes, professores, funcionários e autoridades envolvidas com a Educaçãopromovida em quatro Escolas públicas de Cuiabá. A pesquisa tem o objetivo de fornecer ao governo federal conhecimento para implementar ações para enfrentar a homofobia e assegurar direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).
Por enquanto, o cenário comportamental desenhado pela pesquisa na Capital mostra que asEscolas ainda não detêm métodos suficientes para tratar de orientação sexual nas salas de aula e os professores têm dificuldades para esclarecer e coibir com argumentos a homofobia. Além disso, os dados preliminares da pesquisa revelam que, para muitos que participam do ambiente Escolar, a homossexualidade ainda não é um fato esclarecido, o que leva muitas vezes à intolerância e à manutenção de um modelo “heteronormativo” que relega os homossexuais à margem da convivência. Tais constatações foram feitas com foco noensino fundamental, mas tudo reverbera no ensino médio, como declara A.M., 16 anos, amiga e colega de Escola de Y., do começo da matéria.
“Infelizmente, isso sempre vai existir, em todo lugar”, prevê A.M., pessimista. Ela diz se relacionar com meninas, mas mantém um namorado de fachada. Os pais nunca aceitaram sua orientação sexual. Tímida, ela conta que é constante a sensação de não fazer parte totalmente do grupo ou de ser vista de forma diferente no colégio. As relações ficam mais restritas, principalmente com a resistência dos meninos. A forma que ela encontrou de se preservar é parecida com a de sua amiga: manter-se na maior discrição possível.
É que, entre os cerca de mil alunos do colégio, A.M. teme se deparar às vezes com colegas intolerantes – e que insistem em argumentos contraditórios para se dizerem “contra” homossexuais. É o caso de L., 18 anos, conhecido pela polêmica que desperta em sala de aula por explicitar repúdio a quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo. Ele argumenta que estas pessoas vão contra as leis da natureza porque não tiveram a devida Educaçãodos pais, mas não explica como isso interfere negativamente em sua própria vida para se manter contra. Embora polêmico, quando expressa suas opiniões L. costuma ser acompanhado por outros alunos, segundo professores, e são opiniões desembasadas como a dele que tornam difícil a conscientização dos demais.
Fonte: Diário de Pernambuco (PE) - In: http://todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/10554/homofobia-tema-e-ignorado-no-ambiente-escolar
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