segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carlos

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Em homenagem a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
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E agora, Senhor Carlos Drummond de Andrade?
Pa-ra-ty acabou,
o pessoal foi embora
os escritores pegaram o caminho da roça
os falsos escritores também
os leitores foram lá fingir
os falsos leitores também
Você que tem nome:
O maior poeta de Minas Gerais e do Brasil
um bom homem,
que amava e protestava com e sem palavras?
E agora, Drummond?
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Está no céu
com os seus
cheio de amor
sem dor,
pernas cruzadas,
não precisa de nós aqui
tampouco destes palhaços da burguesia
és a eternidade
Está com tudo.
E agora, Drummond?
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Durma com essa:
aqui ainda roubam sem dó
os políticos são os mesmos
os delinquentes ficaram mais jovens
a cocaína virou crack
a polícia é milícia
a Constituição é um mito
tem muita gente dormindo pelas ruas
passando muita fome
sem a chave de casa
também não existem tantas portas
os rios estão secando
o mar não está para peixe
e as mineradoras já acabaram com a sua e com as outras Itabiras
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E agora, Drummond?
Se o senhor voltasse,
gritasse?
Gemesse como mandou
tocasse em algo
cantasse
fizesse mais poesia
lançasse mais livros
utilizasse sua biblioteca
.
Mas o senhor morreu.
Virou estátua
está sozinho na praia
só no dia
também no escuro.
sem sala
lugar para encostar.
Sentado apenas...
Até roubarem seus óculos
Fique quieto por aí.
certamente está muito bem acompanhado
Não se preocupe para onde ir.
Numa boa, senhor Drummond:
nós jamais lhe merecemos.
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Lúcio Alves de Barros

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