sexta-feira, 22 de junho de 2012

A política é simples assim



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Lúcio Alves de Barros*
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“Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente, e pela mesma razão.” (Eça de Queiroz)
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Fico pensando na indignação de muitas pessoas com a união, até o momento estável, do PT e do Partido do senhor Maluf. Posso até entender e aceitar, mas convenhamos: o que de novidade existe nesse campo? A esfera do poder - por natureza - não é a de conquistá-lo de qualquer forma e da melhor maneira possível? Sem maiores custos? Independentemente do que possa vir a acontecer após a famigerada união?
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Sinceramente, já não fico surpreso com os acontecimentos políticos. O que me surpreende são as pessoas ainda se surpreenderem e repetir o mesmo do passado no presente nosso de cada dia. A burrice coletiva é demais. Isto sim me parece interessante. Maquiavel já comentava sobre a pouca ou reduzida memória do povo. No Brasil ainda nos assustamos com determinadas combinações políticas que historicamente já fazem parte do nosso tecido cultural. A cultura política brasileira é patrimonial, patriarcal, hierárquica e feita por caciques que continuam há muito no poder e pode-se mesmo pensar se um dia saíram dele. Penso que não.
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Política é resultado de relações de poder. E de tais relações os políticos, os oportunistas e os interessados fazem parte. E é neste campo que não podemos ser infantis. Políticos, interessados e oportunistas vão nesta esfera fazer o que tiver ao alcance para a conquista do poder. A coisa é simples assim. Esta política é composta de acordos, cargos, ilegalidades, venda de votos, corrupção, escassez de princípios, injustiça, troca de favores, compra e venda de pessoas, esquecimentos de outras e dos conflitos que tais relações podem ou não produzir. Numa boa, não me causa nenhum espanto se tais relações produzirem ameaças, violências e mortes.
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Portanto, não me causa nem mal-estar a presença do senhor Lula (PT), do senhor Fernando Haddad (PT) e do senhor deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) em uma fotografia. São farinha do mesmo saco e por mais que tenhamos na memória o senhor Lula ou a senhora deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) denunciando e criticando em plena TV a conduta do senhor Maluf, a verdade é que vamos ter que engolir essa e outras coligações. Já engolimos outros episódios. O senhor Prestes fez acordos com o ditador Getúlio Vargas, Jânio e Jango fizeram às vezes na década de 1960. Vimos políticos beijando os pés dos militares. Tancredo (PMDB) flertou com a turma do Sarney. O senhor Collor (PRN) levou a gosto o senhor Itamar Franco (PMDB). Este abraçou Newton Cardoso e anteriormente o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que, aliado aos latifundiários beijou o Marco Maciel (PFL) e o próprio Lula virou “paz e o amor” a ponto do PT (Partido dos Trabalhadores) jamais ser ele mesmo. Como disse, a política é assim e pronto. E não venham com a ideia de ética, justiça e valores públicos próprios da democracia. Em certa medida, somos coniventes com este cenário. Há muito deixamos as coisas passarem sem serem notadas e uma foto e um encontro causam um reboliço sem tamanho. 

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Não é possível que nada aprendemos nesse tempo de democracia pós Sarney (PFL - PMDB) e Constituição de 1988. A inflação foi controlada, existem mais ou menos instituições confiáveis, organizações não governamentais sérias, mas engatinhamos e feio no cenário da política. A corrupção, apesar de aberta, aparece como fenômeno corriqueiro, banalizado, aceito e normal para aqueles que passam o estado para trás. A maioria quer engolir o bolo sem mastigar. A maioria espera uma boquinha para a sua vez e para às vezes dos seus familiares. 
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Esta república de coronéis pós-modernos já decretaram o fim da política. Inexistem negociações com limites claros, o jogo limpo e com resultados apesar das faltas e das penalidades. Atualmente, a política se rende ao dinheiro bruto das grandes empresas, dos grandes criminosos apelidados com nomes da natureza, com corrupção, caixa dois, três e quatro. Políticos fazem isso porque desejam ganhar as eleições. Se a coisa é ilegal ou imoral, não faz diferença para eles. Os fins justificam os meios. A população não vota em projetos. Ela vota em quem lhe garante tetas e privilégios. Como poucos tem esta noção, preferem o ganho imediato. Assim, vendem o voto, ou porque a mercadoria vale à pena ou porque uma quentinha e um monte de tijolos já são suficientes. Melhor do que nada. A política não se faz em fóruns, assembleias e convenções. Isto é coisa de teoria política. A realidade é que se vendem políticos como se vendem sabonete e papel higiênico. A diferença é que na política é difícil modificar a marca da moda. Todos no fundo da prateleira ou mesmo no canto são iguais. Mostram-se ao público como inimigos, mas são adversários e capazes de trocar de camisa para quem pagar mais.
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A verdade é essa. Pode ser até mentira, tanto faz, pois na política “pós-moderna” para os que se dizem "marqueteiros políticos" vale de tudo. O importante é estar lá. E estar lá significa estar no poder, quatro, oito, doze ou 14 anos. Às vezes até mais. Esquecemo-nos de trocar as autoridades políticas que fizeram da política a arte de quem pode comprar e ter mais e mais. Temos o direito do voto, mas não temos o direito de sermos votados. Ao contrário desse político sem eira nem beira podemos trocar o sabonete, ou mesmo o papel higiênico. Mas, como tudo indica não tempos coragem, vergonha na cara, discernimento e ciência de trocar a mercadoria política que está historicamente por aí.
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*- Doutor em Ciências Humanas (UFMG) e Professor na FAE/BH (Faculdade de Educação) da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais).

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